A Criação da Luz escrita por André Tornado


Capítulo 13
Um acontecimento inesperado


Notas iniciais do capítulo

"A ideia de um poder absoluto desprendia-se daquelas massas sólidas sobre as quais parecia que a eternidade iria escorrer como uma gota de água sobre o mármore."
in O Romance da Múmia, Gautier, T., Círculo de Leitores, 1981



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Uma esfera luminosa, pregada no manto escuro do firmamento, tornava-se cada vez maior. À medida que a distância ia sendo encurtada, o planeta Coruscant engrandecia na janela da cabina de pilotagem, com os detalhes da sua superfície cada vez melhor definidos. A nave de Luke Skywalker tinha acabado de deixar o hiperespaço e aproximava-se suavemente do seu destino.

Um solavanco despertou-me. Não fora nada de brusco, mas o suficiente para me fazer sentar no sofá, alarmada, com todos os sentidos em alerta. Olhei estremunhada para o compartimento e não o reconheci de imediato. Aos poucos, recordei-me de que estava a viajar numa nave espacial, que tinha abandonado o deserto vermelho. Apalpei a testa, os dedos ficaram molhados. Estava a suar mas não havia motivo. O compartimento era climatizado e a temperatura ambiente era agradável. Apesar de ter dormitado com a capa vestida e enrolada, à laia de cobertor. Sentia-me esquisita, enjoada…

Ele não tinha vindo. Levantei-me e encaminhei-me para a cabina de pilotagem.

Sentei-me no lugar do copiloto. Luke recostava-se na sua cadeira, a observar distraído a aproximação a Coruscant. Não disse nada quando eu entrei e retribuí-lhe o silêncio. Crispei a testa. Eu tinha visto, em sonhos, a saída do hiperespaço, a chegada ao planeta. Estava novamente a acontecer…

O painel acendeu-se e Luke pareceu sair do seu torpor. Agarrou-se ao comando prateado, ligou alguns monitores.

— Estamos quase a chegar.

Acenei afirmativamente.

— O centro da galáxia… – divaguei.

— O principal planeta do sistema de Coruscant foi sempre o centro político da galáxia, primeiro da Antiga República, depois do Império Galáctico, agora da Nova República – começou ele. – Antigos senadores, que sobreviveram à purga inicial do Imperador, assim como alguns almirantes que se distinguiram na guerra, estão a reconstruir os órgãos de governo para reerguerem uma nova ordem galáctica após o fim do Império. A minha irmã Leia participa como senadora no Novo Senado e com a ajuda de Han tem feito um trabalho muito importante, na reorganização das relações entre os diferentes sistemas planetários e o poder oficial, agora representado pelos senadores… Han, o seu companheiro. Casaram-se logo a seguir ao fim da guerra, mas ela não consegue apresentá-lo como o seu marido. Fá-lo sempre como seu companheiro. Aconteceu durante as apresentações quanto te conheceu, em Tatooine.

O planeta crescia na janela. Como eu já o tinha visto crescer, no meu sonho. Daqui a nada veria a sua superfície, ocultada parcialmente pelas nuvens. Na parte não iluminada pela estrela daquele sistema ver-se-iam milhentas luzes, indicando a densidade urbana dos continentes.

— Han vai-se entretendo com os “jogos de bastidores”, como lhes chama, mas não creio que vá aguentar-se muito tempo nesse papel secundário. Han é um homem de ação. Talvez embarque num desafio diferente e se torne num respeitável homem de negócios, como Lando. Para ter uma estúpida quantidade de dinheiro! E para não ficar parado no mesmo sítio…

— E tu?

— Eu sou um cavaleiro Jedi. – Fixou-me um olhar penetrante. – Tenho de recuperar as antigas tradições…

— O teu caminho.

— Sim, esse é o meu caminho.

— Por que razão não o começaste a trilhar?

— Depois da guerra passei uns tempos em Endor, depois na quarta lua de Yavin, a desmantelar os restos da antiga base rebelde. A pedido da minha irmã… Depois fiz parte de um grupo que recuperou algumas naves da frota do Império, participei em negócios de salvados, de peças e por aí adiante.

— Um cavaleiro Jedi…?

Interrompeu-me a pergunta, erguendo a mão enluvada.

— Precisava de me distanciar do que tinha acontecido no fim da guerra. O conflito acabou por ser estranhamente pessoal para mim. Havia feridas que desejava cicatrizar e não podia simplesmente ignorá-las e fingir que estava tudo bem. Tratou-se de um processo… necessário, aceitar trabalhos pouco dignos para um cavaleiro Jedi. Tarefas simples, sem grandes exigências. Poderás não entender… De qualquer modo, uma vez tudo devidamente curado não tem sentido persistir na fuga ao que me esteve, desde sempre, destinado. Seguir os passos do meu pai, honrar o que ele jurou ser. Infelizmente, os Jedi foram dizimados no tempo dele e do meu primeiro mentor, Ben Kenobi, e agora, só existo eu. Não tenho outra escolha.

— E querias tê-la?

— Não. – E negou com a cabeça, sorrindo tristemente. – Não trocaria aquilo que devo fazer por um lugar no Novo Senado.

O planeta crescia na janela, uma esfera luminosa pregada no manto escuro do firmamento.

— Ali posso encontrar as respostas que quero – disse eu, apontando para Coruscant.

— Estou firmemente convicto de que sim.

— Se não as encontrar ali, não vão estar em mais lado nenhum.

— Não deixes que a desesperança se instale, quando a tarefa ainda nem sequer começou.

A mão enluvada agarrou na minha. Olhei-o atarantada com o gesto. A mão direita de Luke Skywalker era fria e havia uma explicação para isso. Vi com a minha mente, numa sucessão de imagens estáticas, o seu combate contra Darth Vader na Cidade das Nuvens…

— Iremos ter sucesso – completou animado.

O sorriso dissolveu-se num rosto que se petrificou de repente. Quis arrancar a minha mão da dele, mas não consegui porque ele apertou com mais força. Deixou de ser um gesto carinhoso, passou a ser uma agressão. Gemi com a dor que senti na mão esmagada. Ele apertava com, cada vez, mais força. Quando ia exigir que me soltasse, os olhos azuis dele vazaram para um branco leitoso e Luke Skywalker caiu inanimado para cima do painel.

Gritei. A nave começou a girar descontrolada. Levantei-me da cadeira mas, por causa do movimento de centrifugação, voltei ao assento. O painel começou a apitar, multiplicando-se em inúmeros avisos e alertas. Puxei pelo corpo de Luke e o peso dele ajudou-me a sair do assento. Caímos os dois no chão da cabina de pilotagem. Amparei-o nos braços, sacudi-o, chamei por ele.

— Luke! Acorda, por favor! O que foi que te aconteceu?!

A nave andava às cambalhotas no espaço. Na janela, as estrelas passavam, depois aparecia e desaparecia o planeta Coruscant, novamente as estrelas, o planeta e as estrelas.

— Luke!

Um clangor ecoou na cabina, seguido por diversos estalidos. A nave foi sacudida violentamente, parecia que se ia desintegrar. Fechei os olhos e, de súbito, o movimento giratório terminou. O painel soltou um derradeiro silvo e apagou-se. Numa coluna lateral, situada junto ao lugar do piloto, acenderam-se luzes que piscaram sem ritmo.

Já não navegávamos descontroladamente pelo espaço e tive a sensação de que oscilávamos lentamente. Pus-me de pé e a janela mostrou-me o que acontecia. Por cima encontrava-se uma enorme nave espacial negra que ocultava o firmamento por completo, só se vislumbrava a sua estrutura ameaçadora. De um porão iluminado, cuja gigantesca escotilha estava completamente aberta, saía um feixe luminoso de partículas esverdeadas que nos atingiu e nos envolveu totalmente. A janela passou a mostrar uma imagem igualmente esverdeada.

O antigo transportador imperial estava a ser rebocado, aprisionado pelo feixe da nave espacial negra.

Encolhi-me junto a Luke. Ele tocou-me na perna e eu vi que tentava despertar.

— Estamos a ser capturados – sussurrei-lhe.

— Envia… uma mensagem de socorro… a Leia. No computador, botão vermelho.

Fiz o que me indicava, apesar de desconfiar da eficácia do gesto. O painel parecia-me completamente desligado. Voltei para junto dele.

— Diz-me o que posso fazer mais.

Ele volveu para mim um olhar alucinado.

— A Força… abandona-me – sussurrou com a voz rouca.

— Isso é impossível! A Força nunca abandona um cavaleiro Jedi!

— A tua existência… também é impossível.

— Achas que a situação melhora se te puseres com gracejos?

A nave estralejou e todas as luzes no seu interior se apagaram. Os motores também se desligaram e ficou apenas um zumbido metálico enquanto nos aproximávamos da nave desconhecida. Encostei-me a Luke e fechei os olhos.

 A escuridão verde foi conquistada por uma luz branca intensa. Entrávamos no porão, o transportador imperial elevando-se com suavidade, para que pudéssemos sentir cada degrau do cadafalso que tínhamos sido obrigados a subir.

Abri os olhos e o medo abandonou-me.

A resposta estava ali!


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Notas finais do capítulo

Quando a nave de Luke Skywalker procedia à aproximação a Coruscant... foi intercetada por uma misteriosa nave gigante que a capturou com um feixe trator.
O que irá acontecer a seguir? Quem será o agressor? De quem andam atrás? Do cavaleiro Jedi, ou da misteriosa mulher sem memória?
O inimigo vai finalmente revelar-se...

Próximo capítulo:
O encontro com um deus.



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