Dépendance escrita por KarenAC


Capítulo 30
Capítulo 30 - Proximidade




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Feliz aquele que reconhece a tempo que os seus desejos não estão de acordo com as suas faculdades.

Johann Goethe

 

 

Cinco caixas de pizza depois, Marinette, Adrien, Alya e Nino ainda sentavam sobre a grande escadaria postada no meio da mansão Agreste, lambendo dedos e lábios do saboroso molho de tomate remanescente.

"Meu Deus, como eu precisava disso." Alya escorou as costas nos degraus, encostando a lateral da cabeça na perna de Marinette que sentava mais acima.

"Tinha esquecido como era fazer uma refeição decente." Marinette disse, sentindo o estômago cheio.

"Se vocês consideram pizza uma refeição decente..." Adrien deu de ombros.

"Com licença, senhor Agreste, mas pizza é mais do que decente, ok? Não sou eu que como em restaurantes chiques toda semana, tá?" os três gargalharam enquanto Adrien torcia o nariz e fazia uma careta na direção de Alya.

"É, a gente tava mesmo precisando disso." Marinette sorriu satisfeita enquanto se apoiava no cotovelo sobre o carpete azul da escada, se referindo não só à comida, mas também às risadas que há muito tempo não dava.

"Eu não quero ser o estraga-prazeres, mas-" Nino começou, mas não conseguiu terminar.

"Meio difícil, já que quem tá abrindo a boca é você." Alya interrompeu em tom sarcástico.

"Pronto, começou." Nino bufou.

"Comecei sim. Algum problema, querido?" a ruiva ergueu-se dos cotovelos e sentou-se ereta, encarando Nino em um tom agressivo.

"Fora você não tenho nenhum problema não, querida!" Nyno disse entre dentes "Não acredito que achei que você pudesse ser alguém-"

"Alguém o quê? Alguém que ia cair no seu papo furado quando você pusesse os olhos em cima? Eu não sou assim não, viu? Pode tirar o seu cavalinho da chuva que aqui é granizo, meu amor." Alya riu em ironia e pôs-se em pé, movimento que Nino copiou, os dois se encarando como se estivessem prestes a engajar uma luta.

"Dá pra deixar eu terminar uma frase ou tá difícil? Deve ser por isso que você é tão amarga, de tanto ouvir a própria voz falando merda!" Nino deu um passo à frente e Marinette precisou sair de sua posição confortável para apartar a confusão.

"Chega vocês dois! Credo, foi assim a noite toda! Deem uma folga, minha cabeça tá explodindo e o Adrien também tá cansado. Foi uma noite longa pra todo mundo!" Marinette trocava o olhar de Alya para Nino, as sobrancelhas curvadas sobre os olhos em repreensão.

"Desculpa, Mari." Nino e Alya se desculparam em uníssono e voltaram a se sentar obedientemente, cada um olhando para um ponto diferente.

"E você, não vai falar nada, Adrien?" Marinette pressionou.

Quando os três viraram a cabeça para fitar o loiro viram Adrien dormindo profundamente, deitado sobre os degraus em uma posição nada confortável, a cabeça pendendo sobre o peito.

"É, acho que essa é a nossa deixa para terminar a noite." Alya disse, começando a juntar as caixas de pizza vazias enquanto Nino juntava os copos de plástico.

"Já volto pra te ajudar a levar ele lá pra cima." Nino falou para Marinette enquanto seguia atrás de Alya até a cozinha para carregar o lixo.

Marinette voltou a sentar-se sobre os degraus, pousando os olhos sobre a figura adormecida de Adrien. As sobrancelhas dele subiam e desciam em pequenos movimentos e os olhos deslocavam-se sob as pálpebras em uma agitação silenciosa. Ela se perguntou com o quê ele estava sonhando, se seria algo bom ou algo ruim. Levou então a mão até uma mecha loira do cabelo dele que caía sobre os olhos fechados, descobrindo gotas de suor que se acumulavam na têmpora.

 

É um pesadelo, não é?

Você está tendo outro daqueles pesadelos.

 

Viu então Nino se aproximar e abaixar-se para apoiar Adrien sobre o ombro enquanto lançava a Marinette um sorriso compreensivo. Ela colocou-se do outro lado e ignorou as dores no corpo surrado para ajudar a carregar o garoto. Ele merecia o descanso muito mais do que ela. Talvez uma superfície confortável o ajudasse a ter sonhos menos horríveis, e ela desejou com todas as forças que Adrien tivesse uma noite de sono tranquila, por mais improvável que fosse.

Nino fazia praticamente todo o trabalho, e a forma experiente com a qual ele carregava Adrien fez Marinette se perguntar se ele já tinha feito aquilo muitas vezes. O moreno guiava Marinette pelos corredores, indicando o caminho que deveriam seguir.

"Como você conhece tão bem aqui dentro?" Marinette murmurou, fitando Nino sob o queixo de Adrien.

"É uma longa história, mas a versão resumida é que quando eu vim pra França ajudar o Adrien a montar os equipamento na garagem, ele me pediu pra vir buscar umas coisas. Ele não conseguia entrar aqui, então me deu um mapa. Minha memória fotográfica é muito boa." Nino então indicou uma porta à frente "Abre aquela ali." apontou com o queixo na direção da porta azul com detalhes em branco e Marinette empurrou-a com a palma da mão.

Aquele era o maior quarto que ela já havia visto na vida. O lugar era mobiliado como uma casa dentro de outra casa. Televisão, sofás, frigobar, estantes cheias de livro, um computador de última geração, e mais adiante outra grande porta se estendia, provavelmente a abertura para um banheiro tão imenso quanto aquele cômodo. Sem muito mais tempo para reparar ao redor, ela ajudou Nino a posicionar Adrien sobre a grande cama de casal e sentou-se no canto do colchão para recuperar o fôlego.

"Eu nunca vi ele dormir assim." Nino comentou com a voz sussurrada "Pelo menos não sóbrio." e terminou a frase colocando a mão sobre a boca, engolindo uma risada.

"É, eu já vi uma vez." Marinette lembrou-se da noite em que ele foi parar em sua casa com febre, no meio de um temporal de neve. A noite que antecedeu a descoberta que Adrien era Chat Noir.

"É bem raro. Tem muita coisa na cabeça dele." Nino sacudiu a cabeça como se discordasse de algo "Não sei como ele consegue viver essa vida dupla."

"Então você sabe..." Marinette entreabriu os lábios, incerta do que mencionar.

"Sobre o Chat Noir? Sei sim, fui eu que ajudei ele a escolher o nome do alter-ego." Nino estufou o peito parecendo orgulhoso.

"Eu devia saber que isso não era tão a cara dele." ela sorriu de canto e pousou os olhos em Adrien.

"Também sei sobre você. Quer dizer, agora. Antes nenhum de nós dois sabia." Nino suspirou "Se isso tivesse vindo à tona mais cedo, muita coisa tinha sido mais fácil."

"É, pra nós dois." Mari assentiu "Mas talvez isso tenha sido preciso pra que nós dois fôssemos mais fortes. Pra que estivéssemos preparados para o que estava por vir."

Nino pôs-se a olhar para o perfil de Marinette que observava Adrien dormindo. Ela era exatamente como o amigo havia descrito, e Nino sentiu que a conhecia há anos, mesmo a tendo visto pela primeira vez há poucas horas. Uma simpatia instantânea se formou no momento em que ele percebeu o carinho no olhar da menina francesa sobre o garoto adormecido. Definitivamente, Adrien estava em boas mãos.

"Sabe..." Nino começou enquanto se abaixava sobre um joelho à frente de Marinette "Esse cara já passou por muita coisa. Eu vi ele enfrentar problemas que teriam me enlouquecido no mesmo instante, mas ele nunca desistiu, nunca retrocedeu na frente de nenhum obstáculo. Ele sempre teve uma força dentro dele que eu nunca consegui entender." Nino sorriu ternamente "Agora eu sei de onde ele tirava tudo aquilo." Marinette relaxou a expressão, sorrindo encabulada.

"Ele me contou bastante sobre o que aconteceu, mas eu sinto que nunca vou conseguir compreender completamente a profundidade das coisas que ele carrega no peito." ela voltou a olhar para o semblante de Adrien.

"Nenhum de nós vai. Esse é o tipo de pessoa que ele é." Nino pausou por um segundo e prosseguiu "Por mais que ele se abra e nos conte tudo que ele passou, não dá pra apagar o passado. Só o que a gente pode fazer é tentar tornar o futuro um pouco melhor." Marinette riu baixinho e olhou para Nino.

"Foi mais ou menos o que nós conversamos antes de vocês chegarem." Marinette cruzou as mãos sobre o colo e suspirou "Mas eu só queria que ele se abrisse mais, que me contasse mais sobre o que aconteceu com ele enquanto eu não estava lá."

"Você quer que ele se sinta melhor, né? Que ele divida um pouco do peso que ele carrega?" Nino perguntou e Marinette assentiu.

"Quanto mais eu conheço o Adrien, mais longe eu me sinto dele." ela sentiu uma pontada no fundo do peito enquanto murmurava "Como se nós fôssemos iguais, mas vivêssemos em mundo completamente diferentes. Eu tenho medo de que quanto mais a gente se aproximar, mais eu vou acabar machucando ele. Faz sentido pra você?" ela ergueu o rosto e Nino concordou com a cabeça.

"Faz todo sentido. Quando eu conheci o Adrien, achei que ele era só mais um cara superficial que vivia nas baladas enchendo a cara tentando fugir de um problema que podia ser resolvido, mas com o passar do tempo descobri que o que ele procurava era na verdade esquecer por um segundo todos os milhares de traumas com os quais lidava diariamente." Nino sentou-se no chão, cruzando as pernas em posição de lótus "Ele é um cara complexo. Acho que não saber totalmente o que ele pensa meio que faz parte do charme dele."

Marinette conteve o riso enquanto Nino fez o mesmo. Olhando para o moreno que havia conhecido aquela noite, ela sentiu que teria mais um amigo na vida, e seu coração ficou mais leve com o pensamento. Nos tempos conturbados que estavam encarando, não era nada mal aumentar a lista de pessoas que lhe queriam bem.

A respiração ressonante de Adrien ocupou o silêncio que se formou entre Marinette e Nino. Ela queria perguntar que tipo de pessoa Adrien havia sido na Itália, sobre o que eles conversavam, o que eles faziam, porém a garota ainda não sentia que possuía o nível de intimidade necessário para ter aquela conversa com Nino. Por outro lado, Nino queria contar para Marinette sobre as dezenas de noites que Adrien ficara escorado no balcão do bar com a mão agarrada em um copo de bebida e o coração agarrado na memória dela.

"Ele se culpava. O tempo todo." Nino arriscou o comentário no meio de um sussurro.

"Pelo quê?" ela perguntou curiosa.

"Por ter te deixado pra trás, por ter saído de Paris sem conversar direito com você." o garoto se ergueu, alongando os braços sobre a cabeça.

"Não pareceu quando eu descobri que ele andava cercado de modelos italianas." ela fez uma careta com a lembrança amarga.

"Francesinha, tu não sabe da missa a metade!" Nino torceu o lábio em um sorriso engraçado e se abaixou próximo ao rosto de Marinette que sorriu com o apelido "Cada vez que ele tinha um ensaio fotográfico ou precisava sair com alguém da elite pra manter as aparências e as influências, ele aparecia lá na boate e enchia a cara enquanto falava sobre você a noite toda." Nino piscou enquanto Marinette arregalava os olhos em surpresa.

"Você tá tentando cobrir a retaguarda dele?" ela crispou os olhos, desconfiada.

"Eu sou a sua melhor fonte!" Nino levou a mão até a testa e bateu uma continência "Esse cara vale ouro, Mari, mas pelo pouco que eu te conheço você também vale." ele sorriu sinceramente "Bom, vou lá embaixo ajudar a Dona Encrenca, senão ela vem me buscar pelas orelhas." Nino ergueu-se e Marinette o acompanhou com os olhos, sorrindo.

"Mas vocês já tão assim?" ela cochichou enquanto via Nino alcançar a porta.

"Desde que eu botei os olhos nela." Nino sorriu abertamente.

"Ela é meio ranzinza, mas é a melhor pessoa que eu já conheci, Nino. Você vai ver com o tempo." Marinette falava enquanto erguia uma sobrancelha, o aviso implícito que ele deveria tratar sua amiga com carinho.

"É, eu percebi. Mas implicar com ela é muito divertido também, fazer o quê." Nino deu de ombros e saiu do quarto, encostando a porta atrás de si.

Marinette voltou o olhar para Adrien que estava deitado de bruços, o rosto de lado no travesseiro ainda mostrando sinais de inquietude. Ela então levou a mão devagar até o semblante adormecido, afastando as mechas úmidas de suor do cabelo loiro que começavam a grudar no rosto dele. No momento em que as pontas do dedo dela tocaram a face dele, Adrien estalou os olhos verdes abertos, fazendo com que Marinette recuasse a mão rapidamente. No meio do caminho, ele agarrou o pulso dela, os dedos firmes dos quais ela não tentou se livrar.

"E-eu... Desculpa, achei q-que você tava dormindo." Marinette gaguejou enquanto sentia o olhar dele queimando sua pele.

"Eu tava." Adrien então afrouxou os dedos sobre o punho de Marinette e se ergueu na cama "Um sonho me acordou." ele pareceu se arrepender logo após proferir as palavras.

"Um pesadelo, você quis dizer." Marinette corrigiu devagar, esperando que ele aceitasse conversar com ela.

"É." ela sorriu ao vê-lo admitir, mesmo que com uma resposta curta.

"Acha que consegue voltar a dormir?" Mari passou a mão sobre o lençol amarrotado, distraindo-se com as pregas do tecido para não encarar as curvas dos músculos do peito dele que apareciam sob a camisa entreaberta.

"Não sei. Vou tentar." aquilo foi um não, e Marinette sabia. Após alguns segundos de silêncio, Adrien acrescentou "Acho que me ajudaria se você ficasse."

Marinette girou o rosto para olhar a expressão do garoto, preparada para o sorriso debochado e divertido, mas o semblante dele era sério e firme. A certeza que ele tinha no olhar fez com que uma onda de calor lhe subisse pelo pescoço, alcançando seu rosto. Ela sabia que ele não conseguiria ver suas bochechas estavam vermelhas na pouca luz do quarto que entrava pela fresta da porta, mas encará-lo estava fora de cogitação.

"Mari..." ela sentiu algo tocar sua mão, e percebeu pela temperatura e textura que era a mão dele pousada sobre a sua "Não pensa demais. Eu quero que você faça o que tem vontade de fazer. Só te pedi pra ficar aqui comigo, nunca vou te forçar a fazer algo que você não queria."

Ela então voltou a fitá-lo, a vergonha dissipando-se entre as palavras, sendo substituída aos poucos por alegria e ansiedade.

"Eu fico." ela baixou a cabeça, sem ter certeza do que diria a seguir, e Adrien pulou da cama em menos de um segundo, correndo até o guarda-roupas e juntando algo de uma gaveta.

"Você pode usar isso." Adrien jogou um pano que Marinette pegou no ar, enquanto voltava para a cama e cruzava as pernas abaixo de si com um sorriso no rosto "Quer dizer, se quiser, é claro."

"Você tinha planejado isso?" ela o olhou de soslaio com as pálpebras inferiores franzidas em desconfiança, percebendo que tinha entre as mãos uma camiseta dele.

"Não, não! Nunca!" ele sacudiu as mãos no ar em negativa, não conseguindo conter o sorriso que lhe perpassava os lábios.

"Eu não acredito em uma palavra que sai da sua boca, sabia?" Marinette se dirigiu até o banheiro para se trocar.

"Ai, isso dói!" Adrien colocou as mãos sobre o peito como se as palavras dela tivessem se transformado em uma flecha que havia atingido seu coração.

"É bom que doa mesmo, pra pensar bem antes de falar a próxima vez!" ela gritou fechando a porta do banheiro.

Marinette entrou no banheiro e só não ficou mais surpresa porque já imaginava que encontraria lá dentro um cômodo quase do tamanho do seu quarto. O box de Adrien devia ter as exatas medidas de todo o banheiro que ela tinha em casa, e quase suspirou ao ver o grande chuveiro.

"Adrien, posso tomar banho?" ela falou alto enquanto ainda mirava o grande chuveiro que parecia extremamente convidativo.

"Claro, pode sim!" Adrien concordou e Marinette tirou a roupa rapidamente, girando o registro e testando a temperatura da água com a perna antes de entrar.

A água morna corria pelo seu corpo e o alívio na tensão dos músculos dos ombros foi instantâneo, porém quando o líquido tocou suas feridas suturadas no abdome, a pele ardeu como a queimadura de mil sóis, fazendo-a gritar de dor.

"O que houve!?" Adrien jogou a porta do banheiro para trás, percebendo que ela já estava dentro do box de vidro temperado que só deixava revelar a silhueta dela.

"Sai daqui!" ela gritou em repreensão de dentro do bo enquanto abraçava o próprio corpo, e Adrien bateu a porta em reflexo.

"M-Mas tá tudo bem?" Marinette até esqueceu da dor ao perceber a vergonha na voz dele, rindo baixinho.

"Tá tudo bem, foi só a água nos machucados. Arde um pouco." respondeu enquanto seguia o banho.

"Ah." Adrien respondeu, finalizando ao assunto.

Marinette saiu do banho e se vestiu, não conseguindo evitar ao sorriso ao se olhar no espelho e perceber que a camiseta preta que usava era a mesma com a estampa branca do tigre de olhos verdes que Adrien havia usado para ir à escola em um dos primeiros dias que de volta à Paris. Sua imagem refletia o canto dos lábios roxo e inchado, e em sua testa o corte no formato de um palito de fósforo atravessava por cima da sobrancelha até a entrada da raiz da franja, coberto por um alinhavado de sutura negro meticuloso. Ela passou a mão sobre os pontos vagarosamente, lembrando o cuidado de Adrien ao fazer o curativo que ela já não precisava mais usar.

Nem em um milhão de anos Marinette imaginava onde sua história encontraria a de Adrien. Ele era só uma paixão de escola, um sentimento vago que começou a se aprofundar e tomar conta de seu coração como uma roseira que vai estendendo seus galhos para cima e para os lados, sem se preocupar com as outras plantas que estão crescendo ao redor. Ela nunca conseguiu cortar aquelas raízes de verdade. Elas sempre ficaram lá, pulsando, se expandindo, lutando para se manterem vivas, implorando para não serem arrancadas.

Do lado de fora do banheiro, Adrien caminhava de um lado para outro, nervosamente agitado. Sentia os batimentos palpitando dentro do peito como o bater de rodas de um trem desgovernado, enquanto cada pequeno som feito por Marinette dentro do banheiro o fazia trancar a respiração. Não conseguia controlar o sorriso que lhe esticava os lábios. Só ela para fazê-lo sentir daquela forma. Nada mais no mundo o fazia sentir-se tão... Vivo.

Um clique na porta do banheiro e Marinette saiu. Adrien travou nos calcanhares e o queixo dele pesou para baixo, fazendo sua boca entreabrir-se em surpresa. Ela estava segurando a barra da camiseta, puxando-a para baixo para cobrir as pernas com o tecido que mal que chegava à altura da metade das coxas. Ela olhava para o lado, as bochechas claramente vermelhas que Adrien conseguiu perceber graças à luz do banheiro que ela ainda não havia desligado. Adrien engoliu a seco, e como se tivesse escutado o som da saliva dele descendo pela garganta, Marinette girou os olhos, tomando coragem de encará-lo.

"Não vai falar nada?" ela franziu a testa e pressionou os lábios em uma linha fina.

Adrien estava em choque. Ele não conseguia tirar os olhos dela, e Marinette percebeu que a maneira com que ele a olhava era quase como se ela não fosse real. Os cabelos negro-azulados estavam soltos em mechas que adornavam seu rosto delicado, a franja ainda úmida emoldurando os traços tímidos. Ela era a coisa mais linda que ele já havia visto, e seu coração quase parou quando ela deu um passo à frente na direção dele.

"O que foi? O gato comeu sua língua?" Mari perguntou com uma sobrancelha erguida, e Adrien não conseguiu conter o riso com o trocadilho.

"Ainda não, mas a noite é longa. Nunca se sabe o que pode acontecer." Adrien respondeu piscando com um sorriso de canto, a voz grave fazendo o coração de Marinette falhar uma batida.

Adrien aproximou-se de Marinette, o corpo tão perto que ela quase conseguia senti-lo por completo. Os olhos azuis fixaram na borda do colarinho dele cujas curvas tentadoras a faziam avaliar se o mais correto a fazer seria correr para longe ou terminar a pouca distância e prender os lábios nos dele. Enquanto decidia, viu Adrien erguer o braço na direção dela vagarosamente, movimento que a fez fechar os olhos em antecipação.

Quando ela abriu os olhos novamente, o pescoço de Adrien estava perigosamente perto do seu rosto, o perfume amadeirado provocando sensações que ela não sabia descrever. E então, como se para quebrar a mágica, algo clicou às suas costas, e a luz do banheiro foi apagada. Ela relaxou o corpo, percebendo que a mão dele estava conectada ao interruptor, e que o que ele queria era apenas apagar a luz.

 

O que é isso que você tá sentindo, Mari?

Decepção?

 

Como em resposta ao sentimento que cavava o peito de Marinette, a voz rouca de Adrien soou próxima ao seu ouvido.

"Você tem muita sorte de estar machucada." ele pausou, e ela teve certeza que ele passou a língua pelos lábios "Te espero na cama."

Adrien então se afastou lentamente, deixando uma Marinette de pernas bambas para trás, que não sabia dizer se o calor que sentia era do vapor do banho ou do desejo que lhe arrebatava.

 

 


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