Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 6
Quando a Clarividência Cigana Salvou a Mala Encantada


Notas iniciais do capítulo

Em meio a tantas pessoas ninguém nota os bruxos na 25 de março. Não da pra saber a diferença por lá, isso que faz o lugar propício para ser a entrada da Biela Amarela, mas também por isso que é bem perigoso andar com certas coisas nas mãos, ladrões vivem a espreita e pode-se acabar sendo assaltado. Por mil curupiras! Nessa hora que se gostaria de ser Clarividente para descobrir quando e como seremos assaltados. Ou ao menos, quando alguém será assaltado ou ao menos ver uma mala voando em suas visões! Isso já ajuda, vocês verão.



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Antes de sair, Tião guardou os doces em sua mala encantada tentando não falar muito alto as palavras mágicas, conselho de sua avó e seu tio avô. A essa altura o movimento estava total e todas as lojas já estavam abertas. O que antes parecia um imenso movimento para Tião aquela hora que ele vira a rua pela primeira vez, ele veio descobrir que não era nada comparado ao fluxo de pessoas agora. A 25 de março estava repleta de pessoas de todos os tipos, a maioria apressada. As lojas tinham decorações do carnaval que estavam por começar em dias breves, sem falar no período escolar prestes a começar. Seu tio então se aproximou dele que caminhava na frente olhando todo aquele movimento já tentando identificar entre aquelas pessoas quem era bruxo e quem era apenas um trouxa diferente.

— Meu querido, apenas segure firme sua mala, pois aqui existem alguns trouxas mal intencionados, por isso cuidado, não queremos ter de reagir e chamar a atenção, isso daria um certo trabalho para nós perante o ministério da magia.

— Ministério da Magia? O que é isso Tio Aroldo?

— Ministério da Magia é um órgão bruxo que controla o uso da magia e tudo que diz respeito a magia, como objetos mágicos, lugares mágicos, seres mágicos entre outros do gênero. Se você fizer alguma coisa indevida, eles saberão. Por exemplo, alunos de Castelobruxo só estão permitidos praticar magia na escola, caso você faça fora dela, você será notificado e corre o risco de ser preso dependendo do grau de feitiço que você fizer.

— Caramba! Quer dizer que eu não poderei fazer feitiços ainda?

— Não se preocupe. Você passará muito tempo na escola e terá tempo livre para praticar por lá e ainda pode optar de nas férias, não ir para casa para continuar a praticar magia. Apesar que dentro de sua grade bruxa curricular, você poderá praticar feitiços referentes ao seu ano letivo em casa, assim como poções. Nem todos é claro, alguns precisam de supervisão de um bruxo responsável.

— Entendi.

E eles conversam de forma controlada e baixa, a fim de não levantar curiosidade dos caminhantes a sua volta. Mas tio Aroldo nem estava tão preocupado, afinal, sabia que me meio aquela multidão em polvorosa de compras, poucos observavam a sua volta. Mas claro, sempre tem alguém a espreita e de fato havia. De trás de umas das barracas de camelô da rua, saiu um homem, magro e com uma barbicha rala no queixo, óculos escuros, roupas largas e do tipo estranho, sem que ninguém o observasse em meio aquela multidão de gente de todos os tipos. Tião porém, que estava observando todos a sua volta enquanto conversava com seu tio reparou nele, mas ele não demonstrava nada de errado, até que num gesto repentino, quando estava ao lado de Tião, quando menos se esperava, ele pegou sua mala com força, empurrando o menino miúdo e magrelo no chão, que caiu sem resistência. Nisso o homem magro saiu correndo em meio a multidão. Tio Aroldo num susto disse.

— Caiporas!

E ficou sem reação momentânea. Tio Aroldo era um homem calmo e pacifico e aparentemente de dialogar, nunca agir. Tião se levantou numa reação instantânea e saiu correndo atrás do ladrão, o que fez tio Aroldo ficar ainda mais nervoso e sem reação.

— Espere Sebastião, é perigoso.

Mas ele não ouviu. Num ritmo bem rápido ele conseguiu chegar bem perto do ladrão que ao o empurrar e imediatamente sair correndo havia conseguido vantagem. Vantagem essa que o menino magrinho, porém ligeiro, havia diminuído consideravelmente. Ao perceber que ele estava o seguindo, ele começou a entrar atrás de barracas e ruelas, tentando o despistar, mas como eu havia dito, tião pode ser miúdo e magrelo, mas muito ligeiro. Em meio a correria, o ladrão, mesmo com uma mala nas mãos, que não era tão grande assim e estava leve devido ao encantamento da mesma, conseguia se desvencilhar bem das pessoas nas ruas, que estavam cheias.

Tião estava perdendo ele de vista, quando o viu curvar uma rua, aparentemente um beco. Ao curvar o beco, ele se deparou com um menino do outro lado do beco, que estava vazio, pois eles já haviam se distanciado significativamente do movimento e inacreditavelmente o menino saltou sobre o ladrão, que acabou se desequilibrando e caindo. Nisso Tião chegou conseguiu alcança-los e como vira a cena toda acontecer, ele fora direto ajudar o garoto, ao invés de tentar pegar a mala. O Ladrão que ficara um pouco desnorteado, devido a ter batido a cabeça numas latas de lixo ao ser derrubado, se recuperou e foi para cima da mala para pegá-la e continuar correndo. Numa ação meio que instintiva Tião lembrou-se que quando o encanto da mala não estava feito, ela tinha o peso de tudo que estava dentro dela e era muita coisa, então ele disse.

— Homora Alo!

E as fivelas mágicas da mala desataram, sem abri-la, pois ele havia afivelado ela manualmente também. E ao o ladrão pegá-la pensando em levantar aquela mala leve com a qual ele correra, teve uma imensa surpresa desagradável. Aparentemente machucando seu braço no solavanco que fez para levantá-la e correr. Nessa hora o garoto que o ajudara rira da situação, o que aparentemente irritou ainda mais o ladrão, que retirou uma faca do cós da bermuda e demonstrou que iria para cima deles. Os dois garotos fizeram cara de pavor nessa hora, pois mal daria tempo de levantar e correr. Dai uma mulher bem colorida de saia rodada vermelha, blusa azul estampada de bolinhas e um colete verde, com um belo cabelo preto trançado e flores no cabelo apareceu atrás do ladrão que já se encaminhava em direção aos meninos e falou num tom de voz bem firme.

— Ei, você.

E o ladrão se virou, então ela a mão e Tião e ela disse:

— Expeliarmus!

E a faca da mão do ladrão voou pelo beco, caindo longe e imediatamente ela disse.

— Estupefassa!

E uma luz saiu da mão da mulher, mais especificamente de seu bracelete e atingiu o ladrão, que caiu num solavanco, como se quem tivesse recebido um belo chute, caindo desacordado no beco. A mulher passou por ele, o garoto se levantava com a ajuda de Tião e então a mulher disse:

— Venha, rápido.

E o menino disse:

— Mãe, ele também é um bruxo.

A mulher que então pegava pelas mãos do filho tentando tirá-lo dali rapidamente, ouviu isso, assimilou rapidamente e disse.

— Venham os dois então, andem rápido.

E tião não pensou duas vezes, pegou sua mala, antes acionando o encanto novamente e seguiu a mulher, que saiu numa outra rua paralela, que caminhou entre algumas pessoas até voltar ao fluxo de multidão. Então ela retornou em outro trecho a rua 25 de março e foi caminhando sem dizer uma palavra. Os meninos, que estavam nervosos, apesar do garoto estar rindo de tudo, seguiram ela em silêncio também, pois o ritmo era bem acelerado e eles estavam ofegantes. Tião principalmente, após a árdua corrida, o susto e agora essa caminhada acelerada.

Então eles chegaram a “Casa de chás da Tia Rosa” que ficava numa rua anexa a 25 de março. Ao entrar eles se depararam com Tio Aroldo, aflito, conversando com um senhor baixinho e gordinho de cabelos crespos e levemente careca na parte da frente, o que aumentava sua testa consideravelmente. Ele vestia uma calça bege social, uma camisa branca por baixo e um colete xadrez verde, com uma gravata borboleta vermelha e usava óculos quadrados grandes e de armação grossa. Tio Aroldo ao vê-los, se aproximou nervoso e aparentemente desesperado e disse num tom de voz que misturava alivio com repreensão.

— No que estava pensando menino? Sair correndo daquele jeito atrás de um bandido. Nunca mais faça isso ouviu?

— Mas tio, ele tinha levado minha mala com tudo que tenho.

Na verdade ele nem estava preocupado com nada dentro da mala de fato, mas com a mala em si e as fotos que ele havia ganhado de sua avó antes de partir.

— Isso não vale mais que sua segurança meu jovem. Eu fiquei aflito, beirei ao desespero. Iara Mágica.

Então ele abraçou seu sobrinho neto, o que foi bem reconfortante para Tião. Então ele se levantou e agradeceu a mulher com o jovem garoto.

— Muito obrigado Senhora...

— Amapola. Amapola Dalila Pollok e esse é meu filho Nickolai Pollok.

— Muito obrigado por terem achado meu sobrinho e o trazido em segurança.

Então tio Aroldo se virou e perguntou.

— E o que aconteceu afinal?

— Eu persegui aquele ladrão e ele entrou num beco e ele me ajudou pulando em cima dele, dai ele tirou uma faca para a gente e achei que ele iria pegar a gente, então a Senhora Amapola tirou esticou as mãos, desarmou ele com um feitiço e depois usou outro que vez ele voar no ar e cair no chão estatelado.

Então tio Aroldo boquiaberto, fechou a mesma e disse.

— Muito obrigado meu jovenzinho e minha Senhora, vocês foram heróis hoje. Principalmente você meu rapaz, tão jovem e já heroico assim.

— E um louco destrambelhado. De onde tirou a ideia de sair correndo daquele jeito, você...

Então ela parou e o menino que sorria o tempo todo disse.

— Eu tive uma visão mãe. Finalmente eu tive uma visão.

— Oh Madre Cigana. Você despertou meu menininho. Nem posso acreditar.

Num tom escandaloso de felicidade, ela abraçou o menino que ficou constrangido com a cena.

— Mãe, por favor, está me envergonhando na frente das pessoas.

— Me conte, o que você viu? Hum?

— Na verdade não sei direito. Eu tive um apagão e vi o beco e vi uma mala voando. Dai eu reconheci o beco que havíamos passado por ele e voltei lá correndo pra me certificar. Achei que acharia aquela mala cheia de ouro, sei lá.

E sua mãe lhe deu um tapa na nuca dizendo.

— Cabeça de cuia. Nós os Polloks somos uma família de Bruxos reconhecida entre os Bruxos ciganos por nossas premonições e não por profecias ou milagres. Achou que teria uma visão sobre algo valioso que te enriqueceria? Hum? Se fosse assim seriamos os mais ricos bruxos do mundo seu cabeça cuia. O que sua abuelita lhe ensinou ham? Não acredite puramente nas visões, às vezes elas são apenas congestão. Mas você não escuta.

Interrompendo o sermão de mãe e filho, tio Aroldo agradeceu mais uma vez.

— Que honra conhecer um Pollok pessoalmente. Veja Sebastião, esses são os Pollok, famosos bruxos ciganos Clarividentes.

— Sebastião? Belo nome - disse Madame Amapola.

— Oh Caiporas travessas, você não se apresentou a eles Sebastião?

Perguntou Tio Aroldo a Tião que respondeu que não com a cabeça.

— Onde está nossa educação, você deve se apresentar aos seus salvadores adequadamente meu jovem.

— Claro, desculpem-me. Me chamo Ti... Quer dizer, Sebastião Silva Matoso A... – então seu tio Avô olhou para ele lembrando apenas com o olhar de sua conversa sobre o sobrenome de seu pai, então ele disse – ...penas. Matoso Silva, só, esse é meu nome.

E riu constrangido esperando que ninguém percebesse seu nervosismo na situação, o que foi o que aconteceu, ninguém nem se importou com sua reação estranha o que lhe deu mais certeza que bruxos são um tanto quanto excêntricos normalmente.

— Muito prazer meu rapaz – disse Senhora Amapola risonha – e estou tão Feliz que você despertou seu dom clarividente meu Nickolaizinho – disse ela manhosa voltando-se a seu filho e então mudou o tom de voz para ríspido e repreendedor – mas nas próximas vezes, não saia correndo para o lugar de sua visão, pode ser perigoso seu cabeça de cuia -  e deu-lhe outro tapa na nuca, de leve, apenas como gesto de repreensão aparentemente.

Então Senhor Aroldo se aproximou de Dona Amopola e continuou a agradecer e dizer o quando admirava o trabalho clarividente da família que ele conhecia a muitos anos, enquanto isso o jovem Nickolai Pollok se aproximou de Tião e disse.

— Me chame só de Nicko. Nickolai é meu avô paterno.

E estendeu as mãos para Tião.

— Muito prazer Nicko e obrigado pela ajuda. E me chame de Tião, Sebastião é o nome do meu avô materno.

E eles riram disso. Nickolai era um garoto tipicamente cigano. Cabelos castanhos lisos, levemente ondulados nas pontas, grandes abaixo das orelhas. Vestia uma calça caqui, com um cinto que parecia de cobra. botas de couro, camisa na cor vinho e um colete cinza, aberto. Além de muitas joias. 

— Com essa mala, deve estar indo para Escola de Magia Castelobruxo também, certo?

— Sim, meu primeiro ano lá.

— Caramba, o meu também. Faço onze anos daqui a dois meses.

— Que legal. Será que vamos estudar juntos?

— Provavelmente, não se tem muitos alunos de Bruxaria hoje em dia, eu acho – disse ele meio duvidoso e sem demonstrar que sabia do que estava falando - acho que não se forma muitas turmas de primeiro ano, ou formam muitas, sei lá. Mas me diga, já tem ideia em que Tribo vai entrar? Eu acho que vou acabar na Tribo Iara, porque modéstia a parte eu sou bem inteligente, mesmo que todos lá em casa digam que eu vou ir para a tribo dos curupiras, a tribo dos esquisitões “bruxaturebas”.

— Eu não sei. Não sei pra qual eu vou.

Na verdade ele não sabia nada sobre o Castelobruxo, tão pouco que havia tribos lá. Agora ele ficou pensando. Uma escola de magia no meio da Amazônia, com tribos, deve ser uma tribo indígena, tipo no meio da mata mesmo, sei lá. Mas se fosse não se chamaria Castelobruxo, ou chamaria? Deve ter um castelo lá pra se chamar castelo bruxo, enfim, ele estava curioso pra descobrir tudo sobre. Então o velho senhor de cabeleiras bagunçadas nas laterais e semi calvo, de óculos de armação grossa falou com todos.

— Vejo alguns policiais perambulando pelas ruas, acho melhor vocês irem logo para a Biela amarela antes que eles venham aqui e alguém identifique um de vocês com o homem que provavelmente acharam estupefado no chão do beco o qual vocês disseram.

— Sim Senhor Pintassilgo, tem toda Razão. Vamos Dona Pollok, nós acompanhe até minha loja na Biela amarela, lá poderei lhes oferecer um chá como gratidão, já que não seria prudente tomar um maravilhoso chá de Alusórias aqui mesmo.

— Me chame apenas de Madame Amapola ou só Amapola e tudo bem. Minha Família me espera no acampamento mágico na Biela Amarela, mas dá tempo para um chá sim, aproveito e compro umas ervas que estou precisando Sr. Matoso, afinal um chá de alusória seria bem apropriado para esse dia tão intenso.

— Perfeito! Por Favor Sebastião, vamos.

E assim eles se encaminharam aos fundos da casa de chás, num lugar bem reservado ao final de tudo, lá estava o banheiro. Único, não havia banheiro de homens ou mulheres, apenas um banheiro único e pequeno. Então, senhora Amapola entrou junto de Nicko e fecharam a porta, que possuía uma sinaleta de ocupado que foi acionada. Após alguns Segundos, a sinaleta de ocupado mudou para livre e eles abriram a porta e entram. Seu tio Avô Aroldo acionou a trava da porta, que acionava a sinaleta, então ele retirou sua varinha de dentro do paletó xadrez bege. O banheiro era pequeno mas cabia umas quatro pessoas dentro, a cinco  no máximo e bem apertadas. Entre o sanitário e a cuba, na parede dos fundos, havia um espelho grande, maior um pouco que uma porta, deveria ter mais de um metro de largura por uns dois metros e poucos de altura, com uma moldura bonita que parecia galhos secos retorcidos, porem dourados, como ouro, se não fosse de fato. E numa parte de um galho maior que predominava toda a moldura havia muitas escrituras de uma língua que Tião não soube identificar. Então ele disse as seguintes palavras com a varinha em punho:

— Speculum Aureus exhibere viculus flavum.

E tocou no espelho de brilho prateado, que criou algumas ondas nele como se fosse um lago cristalino e logo o reflexo dos dois no banheiro se tornou uma rua torta, nem tão estreita como imaginara, mas nem tão larga quanto às avenidas que ele vira lá fora. E ela era disforme e apertada nuns trechos, onde algumas edificações a cruzavam, criando tuneis, além de muitas barracas, lojas com muitos objetos estranhos a frente como barris, mercadorias entulhadas, gaiolas e plantas, havia muitas plantas em vasos ou em brechas do chão, chão esse que era feito de pedras amarela douradas. E logo ali a frente, em meio a muitos bruxos e alguns bichos perambulando nas ruas estava Dona Amapola com Nicko a aguardá-los. Então seu tio o convidou a atravessar sorrindo, pois via o brilho nos olhos de Tião ao ver aquele espelho virar porta para um lugar fantástico.


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Notas finais do capítulo

*Corrigido e Modificado dia 16/05/2015.



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