Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 3
E começa a Magia


Notas iniciais do capítulo

Quando um garoto descobre a mágia, é magico. Desculpe o trocadilho, mas não resisti. Mas quando ele descobre que pode fazer parte dela é "Magintástico", como possivelmente diria a Diretora Orumã.



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As Férias nunca foram tão longas e arrastadas como essas. O que normalmente são dias de muita brincadeira e bagunça, se tornaram dias de ansiedade, medo e espera. Finalmente chegara um dia especial para Tião, o dia de seu aniversário. Chico havia viajado com sua mãe para casa de uns primos e ele havia ficado sozinho com Zulim, que andava meio desanimado, parecia que sabia que logo Tião iria embora estudar em Castelobruxo. Tião estava sentado no alto do pé de carambola, comendo-as como habitualmente fazia. Comia com um pequeno embrulho de sal que ele pegava escondido da avó, uma vez que Dona Quitinha não permitia que ele comesse sal desse jeito, pois dizia que faria mal pra sua saúde e afinaria seu sangue, coisas de vó Quitinha. Enquanto isso, Zulim dormia na sombra do pé de carambola, a sua espera. Ele havia pensado em levar Zulim com ele, já que na carta dizia que poderia levar uma mascote, mesmo que um animal comum. Mas ele achava que sua avó precisaria de alguém cuidando dela, de companhia, enquanto ele estivesse fora. Então, após ler pela milésima vez a Carta Convite de Castelobruxo ele se indagava, “se saci Pererê existe de fato, que outros seres mágicos devem existir por ai escondidos nas matas e florestas?” Na carta dizia que ele poderia ter um animal mágico e isso o empolgava fortemente. Então sua avó o gritou e ele desceu ligeiro do pé de carambola e saiu correndo, descalço ate a varanda de casa onde sua avó o aguardava de pé junto a um senhor esquisito. Um senhor baixinho, vestindo um terno xadrez bege claro, com um chapéu coco ornado com algumas penas coloridas que pareciam ser de arará Canindé.

— Senhora.

Respondeu ele ao se aproximar dos dois. Então o velho senhor o olhou com um sorriso largo e faceiro e disse.

— Mas como pode parecer assim com sua menina, não é minha comadre?

— Mas eu não sei, vejo-a nele todos os dias, ainda mais assim, descalço, descabelado e subindo e descendo das árvores do pomar.

Sorriu ela e então ela chamou Tião com a mão para se aproximar e disse:

— Tião, esse é seu tio Avô, Aroldo Berentiso Matoso. Irmão de seu falecido avô.

— Prazer.

Disse ele meio desconcertado e surpreso. Nunca soube que seu avô tinha um irmão, nem sequer um parente, ainda por cima vivo.

— Então você recebeu a carta de Castelobruxo meu rapazinho, meus parabéns. Você deixa nossa família muito Feliz com essa noticia. Eu não pude ter filhos, minha finada Dolores, que descanse em paz, não podia ter filhos e por isso não podemos perpetuar o nome da família Matoso por mais gerações. E quando soubemos que sua mãe não foi aceita no Castelobruxo, achamos que morreria ai nosso sobrenome na sociedade Bruxa. Mas agora com você meu rapazinho, Oh! Que alegria, que alegria comadre.

Com um olhar meio confuso, percebido por sua avó, ela lhe explicou a situação brevemente.

— Seu tio avó Aroldo é um bruxo muito respeitado, dono de uma loja de especiarias na ruela da balela.

— Biela amarela comadre – disse ele consertando-a porem ainda sorrindo, possuía bochechas rosadas e um belo bigode branco.

Biela amarela é um centro comercial bruxo localizado no centro comercial mais movimentado do país, a Rua 25 de março na cidade de São Paulo. Que Tião iria conhecer brevemente de forma não muito comum.

— Seu tio avó veio até aqui para te levar até a biela amarela para que você possa comprar seus materiais, que ele mesmo se ofereceu a comprar.

— Com muito gosto comadre, com muito gosto. Pelo que sei hoje é seu aniversário e esse será meu presente para você. O melhor para o futuro da família Matoso.

— Obrigado, senhor Aroldo, né?

— Me chame de Tio Aroldo rapazinho, que é o que sou – e sorriu o homem.

Ele estava simpatizando com aquele senhor risonho e prestativo e isso era bom, porque ele não confiava muito fácil nas pessoas.

— E a senhora não irá conosco vó Quitinha?

— Não meu querido, você irá com ele e de lá já irá para o Amazonas para poder entrar para Castelobruxo e ele te levará.

— E quando iremos?

— Amanhã bem cedo, afinal, suas aulas começam daqui dois dias.

— dois dias?

Arregalou os olhos verdes assustado.

— Achei que seria apenas no inicio do outono. Isso é daqui a um mês ainda.

— Ora meu pequeno Sebastião, o outono Bruxo começa uma semana antes na Amazônia. Um dia primoroso, quando Andurá encandece e assim acontece a cerimônia das tribos. Lindo, muito lindo. Por isso devemos ir amanhã bem cedo para São Paulo, compraremos todo seu material da lista e na manhã seguinte partiremos para vila verde, as margens do rio Amazonas. Uma cidade trouxa que basicamente existe para servir de porto de embarque da balsa que leva os alunos para Castelobruxo.

— Mas ainda não arrumei minhas malas e nem me despedi de Chico. E eu estudei, o Amazonas é bem distante. Será que conseguiremos chegar lá a tempo? O Aeroporto mais próximo daqui Tio Aroldo é muito longe.

— Oh meu garoto, que bonitinho. Mas nós não iremos de Avião, não confio nessas geringonças trouxas, mesmo sabendo que foi um bruxo que a criou, enfim. Iremos de portal mágico meu querido, uma maneira rápida e segura de viajar. Claro, que se você não fizer algo errado, dai pode perde uma orelha ou o dedo mindinho como meu primo Leopoldo, ainda bem que fora o mindinho, afinal não fez muita falta. Diferente da pobre Mafalda, ou, trágico.

Sua barriga gelou com aquela informação, ele só não sabia se era de empolgação, ansiedade ou medo.

— Mas não se preocupe, vai ter tempo mais que o suficiente e tudo dará certo. Ouh! Que dia importante para a família Matoso, que dia importante.

Então sua avó convidou seu tio avó Aroldo para entrar, se acomodar e tomar um café enquanto ela preparava bolinhos de chuva, que para ele eram iguarias exóticas e bem suculentas. Enquanto ela mandava Tião tomar banho e ir arrumando suas malas para a viagem, assim ele o fez. Mesmo empolgado, era muito rápido, ele não esperava viajar tão cedo assim e começara a sentir certo temor e duvida se estava decidindo a coisa certa, mas ele não sentia medo, disse pra si mesmo. Então continuou a arrumar suas coisas até finalmente a tarde ter passado rapidamente e ele estar com tudo praticamente pronto e separado, ate sua avó o visitar em seu quarto, carregando a velha mala de seu avô.

— Acredito que a melhor mala de viagem para um bruxo deveria ser esta aqui. Conversei com seu tio avô Aroldo e ele já recolheu as coisas que havia nela e agora você pode usá-la.

Ao pegá-la e colocar sobre a cama, ele olhou para sua avó esperando que ela falasse as palavras mágicas que abrissem a mala. Então ela disse a ele:

— Você precisa aprender a fazer essas coisas você mesmo agora, então diga você às palavras.

— Mas eu não lembro vó.

Ela lhe entregou um pedaço de papel com a apalavra escrita e daí ele leu com os olhos apenas uma ou duas vezes e então disse elas:

— homora Alo.

E a mala abriu magicamente mais uma vez. Desta vez ela estava vazia ao primeiro olhar e parecia muito maior por dentro do que por fora. Ele olhou para sua avó surpreso e essa sorrindo disse:

— Magia meu miúdo, magia. Mas agora, olhe direito ela, parece que não está vendo tudo direitinho.

Então ao olha melhor a mala ele pode ver no fundo dela um anel. Um anel de prata com uma bela pedra azul redonda. Um anel simples, porem bonito. Ao pegá-lo, ele sentiu uma sensação estranha. Então sua avó disse.

— Vamos, coloque-o.

— Mas ele é muito grande Vó, não cabe no meu dedo.

— Escuta o que estou te falando e coloca esse anel menino – disse ela rindo.

Ao colocar o anel, que era bem maior que o dedo fino de sua pequena mão de um garoto franzino de onze anos. O anel magicamente se contorceu e diminuiu, ficando ajustado perfeitamente ao seu dedo e nessa hora ele ouvira um estampido no seu ouvido, como quando entrava água após mergulhar no rio e a água saísse do ouvido, fazendo o escutar melhor e uma coceira engraçada na sua língua que a fez formigar. Ele riu maravilhado com o acontecido e seu tio avô Aroldo entrou na porta e disse:

— Esse é um anel desenrolalingua. Já que você vai estudar numa escola com alunos de toda América latina e até mesmo de outros lugares do mundo, você vai precisar de um desses até aprender todas aquelas línguas, magicamente claro. Feliz aniversário.

— Quer dizer que com esse anel eu consigo falar com qualquer pessoa do mundo que fale outra língua?

— Não só pessoa, mas algumas criaturas também. Esse anel é um dos melhores desenrolalingua já feitos na minha humilde opinião e ele foi encantado pelo seu avô, antes dele, você sabe.

— Sim – disse ele levemente meio sem saber como reagir, porem com um sorriso pequeno de felicidade no rosto, percebendo que aquele assunto afetava seriamente o irmão de seu avô – Obrigado.

— Bem, agora com sua mala apropriada, termine de arrumar suas coisas e desça para jantar assim que terminar.

— Ok vovó.

Disse ele dando um abraço e recebendo um beijo na sua cabeça de sua avó. E percebendo seu tio avô, após secar uma possível lágrima do canto do olho, abrir os braços e estampar um belo sorriso por debaixo daquele bigode branco e já sem o chapéu engraçado de penas, sendo possível notar sua careca lustrosa, cercada de fios pretos nas laterais da cabeça, visivelmente tingidos. Ele o abraçou, o que foi um forte abraço e ele sentiu um suspiro fundo que pareceu de felicidade.

Ambos desceram e Tião passou todas as coisas para a mala, quanto mais se colocava coisas, mais espaço parecia surgir nela. Ele achou que teria de levar umas duas malas, fora as coisas que ainda iria comprar, mas tudo coube na mala mágica de seu avô e parecia ainda ter espaço para as outras coisas que iria comprar na Biela Amarela. Ao fechá-la, ele a travou manualmente. Ao tentar pegar a mala, percebeu que apesar de caber mais coisas que seu tamanho externo demonstrava, o peso parecia ser real de tudo que ele havia colocado nela e mal conseguiu erguer. Então parou, pensou e teve uma ideia. Ele havia fechado ela, porem, as travas mágicas não haviam se travado. Então ele falou as palavras secretas e a mala de seu avô travou-se magicamente como anteriormente e agora ao tentar pegá-la, ela parecia bem mais leve, como se tivesse com apenas algumas mudas de roupa dentro. E ele ficou bem empolgado com isso, pois começou imaginar as inúmeras coisas fantásticas que deveriam existir no mundo dos bruxos, quem dirá em Castelobruxo.


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Notas finais do capítulo

*Capitulo revisado e corrigido em 16/05/2016.



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