Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 2
Histórias de Bruxos


Notas iniciais do capítulo

Vocês estão prestes a conhecer o coração da historia, Tião, um jovem garoto que foi criado como um trouxa, mas que irá descobrir no seu aniversário de onze anos um mundo Fantástico e que na verdade é um futuro bruxo predestinado a algo grande desde que nasceu e ele nem sequer sabia da existência desse mundo Fabuloso... Vocês verão!



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A vida no interior do Brasil tende a ser pacata e simplória. Assim é a vida de Tião, no caso, Sebastião Matoso Silva Allario, um garoto que está prestes a completar seus onze anos de idade. Tião mora numa cidadezinha chamada Mato seco do norte. Uma curiosa cidade que fica na divisa de três estados. Tião é um garoto comum aparentemente, de cabelos negros encaracolados, pele morena quase negra, cor de café com leite e de olhos intensamente verdes. Um menino bonito, porém meio magro, meio miúdo, franzino e muito ligeiro. Adora se embrenhar no mato, tomar banho de rio, observar passarinhos e ganha o dia quando avista algum bicho diferente. Mas o que ele gosta mesmo é de comer fruta da temporada no pé, de preferência com sal. Mas apesar de ser um menino aparentemente normal, Tião não tem muitos amigos, neste caso, seu melhor amigo é seu primo de terceiro grau, sobrinho neto de sua avó, que mora num sítio próximo, Chico. Um menino gordinho, meio desajeitado e medroso, mas um bom amigo e claro, o cachorro vira-lata de sua avó, Zulim. Um vira lata magrelo e comprido de cor preta, com um olho verde e outro amarelo.

Os meninos da cidade gostam de zombar os dois dizendo que eles têm os olhos do capeta, além de chamarem sua avó de bruxa, mas ele nem liga. Na verdade, às vezes ele coloca um pouco de medo nos meninos dizendo algumas baboseiras do tipo “que o boitatá apareça pra você e te deixe cego, catibundum!” e a molecada sai correndo de medo. Se não fosse Chico e Zulim ele se sentiria sozinho, mas os dois suprem sua necessidade de amizade, mesmo que na maioria das vezes Chico tivesse medo de fazer as coisas e ele acabasse fazendo-as sozinho. Tião mora com sua avó, dona Quita ou vó Quitinha, como algumas pessoas a chamam. Uma senhora negra, magrinha e miúda, aparenta um pouco mais da idade que tem devido ao jeito que se veste, com seu velho lenço na cabeça e saia ou vestido de chita colorida, mas ainda muito bonita. Uma senhora forte e muito trabalhadora. Dona Quitinha é Curandeira, uma função bem comum no interior do país, mesmo nos dias de hoje e cuida do sítio, plantando ervas e outras coisas mais. O sítio fica um pouco afastado da pequena cidade, foi deixado de herança por seu avô. Seu avô morreu antes que ele o conhecesse e sua mãe morreu de forma trágica e misteriosa quando ele tinha três anos. Ela estava voltando do trabalho na cidade quando algo aconteceu, mas ninguém sabe ao certo. Ela foi encontrada morta caída no chão em uma rua um pouco distante de seu trabalho e tudo indica que foi um infarto ou algo assim. Graças a isso, Tião não gosta muito de tocar nesse assunto. Ela fica triste quando lembra e ele não é de ficar triste.

Ele não sabe muito sobre seu pai, apenas que ele e sua mãe se conheceram e se apaixonaram, mas que quando ela estava gravida no último mês de gravidez, ele teve de viajar a trabalho e nunca mais deu notícias. Sua avó diz que ele fugiu, chamava-o de “Galego Safado”. Daí seus intensos olhos verdes, herança de seu pai, pois ele nunca vira uma foto de seu pai até então. Mesmo sua avó nunca falando dele e quando falava, era para falar mal, ele sentia que seu pai pensava nele de alguma forma. Gostava de acreditar nisso, mas às vezes sua avó dizia que ele já devia estar morto e isso o deixava triste e confuso, como eu disse, ele não gosta de ficar triste, por isso não falava de seu pai com sua avó. Mas apesar de uma vidinha simples e humilde, ele vivia uma vida feliz e bem tranquila, até o dia que encontrou sua avó chorosa ao voltar de suas aventuras nos matos, matas e macegas próximos de casa. Dona Quita estava sentada no pé da escadinha de quatro degraus que sobe pra cozinha da velha casa de fazenda deles.

— O que foi vó? O que aconteceu?

Disse ele assustado, correndo pra perto dela, sendo ultrapassado por Zulim que se aninhou entre as pernas da dona que tinha o vestido longo de chita embrulhado entre as pernas e fungava feito criança.

— Nada não meu filho – disse ela seguida de um sorriso.

— Claro que aconteceu ué! A senhora está chorando, alguém te machucou vó? Ou a senhora caiu de novo buscando água no rio sozinha? Já te disse pra não buscar que eu busco pra senhora vó, mas a senhora...

— Não meu filho. Só fiquei triste porque percebi que você tá crescendo depressa por demais e eu sabia que esse dia chegaria.

— Eita! Papo estranho Vó. Chorando porque eu to crescendo? Eu nem cresço direito, sou o mais miúdo da minha turma na escola. E pelo que a senhora disse, meu pai era bem grande. Bora vó, desembucha logo dona Quitinha, o que está acontecendo?

— Me respeite menino, que isso num é jeito de falar com sua vó, oxi – disse ela esbravejando e ele sorriu, pois essa era sua vó de costume - vem cá meu filho – disse ela chamando-o pra sentar ao seu lado num tom mais doce, assim Tião o fez e ela o abraçou – tem algo que eu preciso dizer pra você há certo tempo, mas eu estava esperançosa de que eles não iriam se lembrar de você, mas eles lembraram e na primeira carta, eu disse que não iria deixar você ir para aquele lugar, mas nem por reza brava. Porém, eles continuaram mandando as cartas e eu comecei a parar para pensar sobre o assunto e esse era o sonho da sua mãe e de seu avô, então...

— Tá falando do que vó?

— Lembra que uma vez eu disse que seu avô me ensinou tudo que eu sei sobre ser curandeira?

— Sim vó e o quê que isso tem haver com dia que ia chegar... To crescendo demais, o que nem é verdade... Com eu num sei o que... Meu vô não sei lá das quantas... Sonho da minha mãe... Ih! Isso tá confuso vó.

— Calma que eu vou te explicar.

Então e senhora magrinha com lenço na cabeça se levantou e entrou na casa chamando o menino franzino pra seguir ela. Uma casa de fazenda antiga, mas bonita, grande e bem cuidada. Com assoalho de madeira bem encerado, portas e janelas de madeira azuis. Umas venezianas de madeira por fora e uma malha de vidro quadriculado por dentro. Paredes brancas e móveis antigos, típicos de casa de vó. Tião foi com ela até o seu quarto e ela abriu o armário velho dela, tirando de dentro uma velha mala, estranha, com umas fivelas douradas bem diferentes. Então ela pós sobre a cama e disse.

— homora Alo!

E as fivelas estranhas giraram e abriram. O que fez o menino dar um salto imenso e gritar.

— Que diabo é isso vó?

— Se acalme menino, isso aqui era de seu avô e ele deixou para mim. Na verdade eles buscaram tudo que era dele, mas eu e ele conseguimos esconder essas coisas dessa mala e então nós guardamos desde então.

O menino assustado, porém curioso, se aproximou da mala e dentro dela havia inúmeras coisas estranhas. Plantas secas, livros, objetos estranhos, algo que pareciam chumaços de pelos e penas de alguns animais. Então sua vó tirou uma foto do meio das coisas e o mostrou. Ele teve o maior susto que já tivera em toda sua vida.

— Esse é seu avô.

Era um homem com roupas estranhas e chapéu estranho, mas o assustador não era isso, era o fato que ele se mexia como num vídeo de um celular, mas era apenas uma foto preta e branca e envelhecida. Sem dizer nada, ele pegou a foto com um pouco de medo e então ela disse.

— Seu avô era um Bruxo Tião e se chamava Sebastião Merentrofes Matoso. Dai veio seu nome, Sebastião Matoso Silva Allario, mas disso você já sabia.

— Então a senhora realmente é uma bruxa? Minha nossa!

— Eu não, eu sou apenas uma curandeira. Eu não fui pro Castelobruxo como seu avô e seu pai.

— Meu pai?

— Eita!

Ela fez uma cara de quem falou mais do que devia, mas agora já havia dito, então não tinha muito o que fazer. Continuou a falar tentando fugir a citação do pai dele, como sempre fazia.

— Pois é! Teu avô, meu marido, era um bruxo. Estudou em Castelobruxo quando jovem e se formou. Parece que é a escola que os bruxos estudam aqui no Brasil e na América do sul. Ele me contou muitas coisas sobre ela, mas ele deixou de ser bruxo antes de nós nos casarmos. Parece que ele fez algo que não deveria, descobriu uma coisa que não devia, enfim, e perdeu o direito de ser bruxo. Ele foi julgado pelo Tribunal Bruxo Internacional e quase foi preso, mas acabou sendo sentenciado com a punição de não mais praticar magia e a partir daí ele continuou com o conhecimento sobre ervas mágicas e poções, continuando a fazer os remédios naturais para ajudar pessoas. Isso lhe foi permitido, nada mágico, apenas poções que curassem devido a seus efeitos naturais, mas mesmo assim – disse ela sussurrando – ele fazia algumas poções mágicas sim, quando conseguia – e riu a jovem senhora.

— Que historia doida Vó. Eu nem to conseguindo acreditar – o menino parou de relance e olhou com olhar de incrédulo e disse – Isso não é um truque da senhora não né vó? Fazendo hora com minha cara?

— E eu lá sou mulher de fazer hora com cara de menino, ainda mais miúdo feito você Tião?

E ela fez o famoso bico de raiva dela e torceu o nariz. Depois riu e apontou pra foto, ao olhar, Tião viu que seu avô havia sumido da foto e ficara somente a paisagem ao fundo. Impressionado, ele olhou pra ela atentamente e disse:

— Como? - apontava para a foto vazia.

— As vezes ele sai da foto, mas depois volta.

— Então, quer dizer que magia existe de verdade?

E ela respondeu sorrindo que sim com a cabeça e o menino saltou de cima da cama num enorme pulo com olhos arregalados, impressionado com a notícia que lhe fora contada. Seu sangue pulsava forte no peito e ele sentiu explosões na sua cabeça de tão empolgado que ele ficou com a notícia. No fundo ele sempre percebera coisas estranhas a seu redor e já vira alguns seres estranhos no meio da mata quando se embrenhava. E quando contava pra sua avó o que vira, ela apenas torcia o nariz e dizia “é mesmo? Hum!”. Mas dessa vez sua vó sorriu.

— Mas, se a senhora não é bruxa, como a senhora fez essas bruxarias agora? E meu pai? Me fala, meu pai também era bruxo?

— Eu num fiz bruxaria nenhuma menino – riu ela menos triste – essa palavra que abre a mala mágica do seu avô é uma palavra secreta, qualquer um que a souber abre a mala, a mala é mágica, não eu. O engraçado que segundo seu avô, a palavra é a mesma palavra mágica do feitiço que abre trancas e fechaduras, mas invertida – riu ela- ele adorava essas coisas. Enfim, a foto, ela também é uma foto encantada. Eu não sei fazer magia alguma, como seu avô disse que podia fazer, pra isso você precisa de um artefato mágico, como uma varinha ou joia mágica.

— Isso tudo é muito estranho vó – disse ele sorrindo – e meu pai, ele também era bruxo, minha mãe também?

— Por causa de seu avô, sua mãe não pode entrar na escola de magia Castelobruxo, o que deixou seu avô muito triste e fez com que ele caçasse confusão com o ministério da magia. Mas essa briga não deu em nada. Ainda sim, ele sonhava que um dia, quando sua mãe tivesse filhos, ele ou ela seria perdoado e nesse caso veio você, assim você teria a chance de entrar no Famoso Castelobruxo.

— Então quer dizer que eu posso estudar na escola mágica que a senhora falou e me tornar um bruxo de verdade e fazer um monte de magia legal?

— Mais ou menos, mas sim. Quando um jovem faz onze anos, no seu caso, irá fazer daqui um mês, se for filho de Bruxos ou tiver potencial para ser bruxo, recebe essa carta sendo convidado a estudar no Colégio de Magia e Bruxaria Castelobruxo. Como você é neto de um bruxo, mesmo que abortado, que foi o que seu avô foi, abortado do mundo da magia, era como ele falava sobre o assunto, pode receber essa carta.

E o menino saltitou de felicidade com a ideia de poder se tornar um bruxo e fazer tudo àquilo de extraordinário que sua mente infantil sonhou um dia. Então ele parou de saltitar e olhou serio pra sua avó.

— Espera, mas a senhora falou que meu pai também era Bruxo. Vó, se ele nos abandonou, será que ele ainda está vivo e vive nesse lugar chamado Castelobruxo?

Ela torceu o nariz, esfregou as mãos e então disse.

— Seu pai também era bruxo, como eu disse e – fez uma pausa – talvez seja por isso que você foi selecionado para a escola Castelobruxo. E se ele está vivo eu não sei, sei que ele sumiu dias antes de você nascer e nunca deu noticias. E eu acho que já deve ter até morrido. Aquele galego doido vivia se metendo em trabalhos perigosos. Eu nunca soube ao certo o que ele fazia, mas sabia que corria risco de morrer qualquer hora.

E fez uma cara feia de quem não queria falar mais nele.

— Vó, me fala. O que meu pai fazia? Você me disse que ele era historiador, pesquisador.

— Eu não sei direito menino.

E o olhar de Tião era de quem não iria desistir de obter informações agora que tudo começara a ser revelado. Então ela resolveu falar antes que ele a repreendesse novamente.

— Parece que seu pai era um pesquisador de coisas mágicas, criaturas mágicas, algo assim.

— Vó! Será que ele foi comido por algum bicho? Tipo, lobisomem? Lobisomem existe né?

— Segundo seu avô, sim, mas nunca vi.

— Então...

— Não sei Sebastião. Pode ter acontecido algo, mas ele pode simplesmente ter fugido de vocês e da responsabilidade.

— Mas minha mãe, o que ela achava disso?

E mais uma vez a senhora torceu o nariz e ele entendeu que aquilo era porque ela sabia de algo que não queria falar.

— Vó, me fala, a senhora já levou tempo de mais me escondendo isso tudo, agora vamos, desembucha.

— Olha o respeito menino. Vê se pode, desse tamanho falando assim comigo, Oxi. Sou tua vó, bem mais velha que você. Vou lavar tua boca com sabão e dai você vai aprender...

— Não desconversa vó, me fala a verdade sobre meu pai.

— Está bem. Seu pai era um bruxo que veio até aqui há muito tempo procurando seu avô. Pelo que entendi na época, seu avô havia descoberto algo muito sério e acabou fazendo alguma coisa que eu nunca soube direito, que fez ser expulso da sociedade bruxa. E seu pai era um pesquisador que veio atrás dele perguntar sobre esse tal acontecido. E quando chegou aqui, seu avô ficou muito feliz em poder falar disso com alguém. Há tanto tempo que ele não falava mais de coisas de bruxos, que ele acabou convidando o seu pai para ficar aqui em casa. Daí, seu pai conheceu sua mãe e como eu desconfiava, os dois começaram de namorico. Eu não gostei muito daquilo, porque no final, sempre tive um pouco de receio desta história de bruxaria, afinal, seu avô era um homem tão bom e integro e eles fizeram aquilo com ele, deixando ele um homem triste e desesperançoso. Mas ele tinha muito gosto daquele namoro. Dai seus pais noivaram e casaram, bem rápido pro meu gosto e logo sua mãe engravidou de você. Seu pai volta e meia viajava pra algum lugar do mundo para fazer as pesquisas de bruxo dele. Mas um dia, seu avô começou a ter delírios, ficar estranho, adoecer e falando umas coisas sem sentido e seu pai que estava fora, voltou correndo ao ficar sabendo pela sua mãe e após uma conversa longa entre os dois – disse ela deixando correr uma lagrima – seu avô faleceu. Após isso, seu pai começou a viajar mais e mais, mesmo após saber que sua mãe estava gravida. Ele continuou se aprofundando nessas pesquisas loucas dele e deixando a gente cada vez por mais tempo. Até o dia em que eles discutiram e ele viajou contra a vontade de sua mãe, pela ultima vez e sua mãe ficou chorando. E após isso seu pai nunca mais voltou ou deu noticias.

— Mas a senhora acha que meu pai abandonou a gente mesmo vó? E se alguma coisa aconteceu com ele?

Ela torceu o nariz novamente, mas dessa vez meio diferente, como que se fosse dizer algo, mas sentisse o contrario.

— Ele brigou com sua mãe, gravida. Eles discutiram, ela pediu pra ele não ir, mas ele foi mesmo assim. Lembro que quando fui ver o que estava acontecendo meu filho, ele disse “talvez ter uma criança agora não seja a melhor coisa na nossa vida” e depois disso eu preferi não ouvir o resto da conversa deles. Eu gostava do seu pai, depois de um tempo aprendi a gostar dele meu filho, nem sempre eu achei aquele galego um safado, mas depois disso ele se foi e nunca mais voltou. – ela respirou fundo e então disse – Por isso acho que ele abandonou vocês sim e é um safado.

— Mas e se ele está vivo. Será que ele nunca teve curiosidade sobre mim, em rever minha mãe, sei lá vó? Será que ele sabe que minha mãe morreu? E se aconteceu algo com e ele e ele não consegue voltar?

— Meu filho, nem todo homem é bom. Acho que o mesmo se aplica aos Bruxos. Seu pai colocava o trabalho dele em primeiro lugar. Logo, acho que ele não queria uma família que o prendesse, por isso ele abandonou você e sua mãe.

— Minha mãe também achava isso vó?

Ela torceu o nariz e respondeu:

— Sim, Oxi!

— Vó??

Então relutante ela respondeu.

— Não. Sua mãe pensava igual você tá pensando agora, que alguma coisa havia acontecido a seu pai. Por isso ela começou a pesquisar coisas sobre ele e a procurar alguns Bruxos conhecidos, o que despertou um pouco de revolta para alguns bruxos. Você precisa entender uma coisa que seu avô me explicou. Alguns bruxos acham que nós, normais, que eles chamam de trouxas, vê se pode, trouxas!? Enfim, somos piores que eles, por isso eles não nos respeitam mais que respeitam cavalos na estrada. E acho que essa fissura de sua mãe em ter notícia do seu pai a levou ao fim que ela teve. E ele foi o culpado por isso.

— Como assim vó, o fim que ela teve? Ela morreu de infarto num foi?

— Sim menino, foi, oxi.

Respondeu ela meio nervosa, mas Tião entendeu que ela no fundo acreditava que tivesse ligação de algo com esse mundo dos bruxos ao qual ele nunca soube da existência, até hoje.

Tião abraçou sua avó, que chorava agora, de forma mais intensa e não disse nada. Sua avó tirou do bolso do avental uma carta verde clara com letras douradas enroladas num cipó verde vivo. Meio ressabiado ele olhou e leu "não queime matas, mas me queime" e não entendeu bem. Ao olhar para sua avó e ela lhe olhou com um olhar triste, cessando o choro e dando um leve sorriso forçado, ele entendeu do que se tratava. Ele tentou arrebentar o cipó que enrolava a carta, mas não conseguiu.

— Não adianta. Tem que por fogo no cipó. também fiquei matutando como abrir até entender a frase escrita na segunda carta que veio.

— Quer dizer que essa não é a primeira?

E ela torceu o nariz sem ele nem precisar ouvir a resposta. Então tirou um fósforo do mesmo bolso e riscou o mesmo e esticou o braço para que ele aproximasse a carta.

— Acho que vai querer ver isso.

Então ele pós a ponta de cipó solta sobre o fogo e este pegou fogo bem rápido, o que fez ele soltar a carta, que caiu no chão. A carta ficou pulando e saltando por um tempo, como se fossem bombinhas de São João, até queimar todo cipó e então ela abriu sozinha e começou a sair fumaça dela, uma fumaça cinza clara. Primeiro saiu uma bola de fumaça e esta quando alcançou uma certa altura abriu ao meio como se fosse uma boca e uma voz mágica saiu dela e dizia:

“Para Sebastião Matoso Silva Allario,

Sítio Aracati, Cidade de Mato Seco do norte, divisa de três estados, Brasil."

Então essa se desfez e outra bola de fumaça que subia no ar, repetindo o processo, disse mais coisas. A cada nova frase, uma nova bola subia ao ar e dizia palavras magicamente saídas da fumaça que emergia da carta convite do Castelobruxo que continuava da seguinte maneira:

"Caro Selecionado,

É com imensa satisfação que venho lhe informar que você fora selecionado para ingressar no reconhecido Colégio de Magia e Bruxaria Castelobruxo neste ano vigente, para que possa vir a se tornar um membro honroso da sociedade bruxa não só sul-americana, como mundial.

Conforme costume, seguem os passos para os ingressantes no universo mágico de bruxaria. Obs,: Caso for um não-bruxo (prefiro não usar o termo trouxa com possíveis futuros bruxos, pois pode soar Trouxista), mandaremos maiores detalhes se solicitado, neste caso, devolver ao papagaio mensageiro a resposta de "sim desejo mais informações", para maiores informações, ou "não, estou ciente do processo". 

Para confirmação, você deverá comparecer a estação Pirarucu, na cidade vale verde, na Amazônia, as margens do rio amazonas para pegar a barca Boto Maroto para Castelobruxo, no primeiro dia do outono, ao por do sol.

Segue lista de materiais necessários para alunos do primeiro ano. "

E então cessaram-se a fumaça e ele pode pegar a carta caída no chão e nela estava escrita, além de todos texto falado pela fumaça mágica, havia também a lista de materiais.

"Lista de Materiais para alunos bruxos do primeiro ano:

— Uma varinha mágica de madeira de lei (sendo permitido o uso de cajados e artefatos mágicos em caso de tradições familiares ou interesse por tais instrumentos).

— Três Vestes Mágicas Virgens Oficiais do Castelobruxo cor verde clara com capuz (lembrando que vestes de segunda mão necessitam serem restauradas devidamente para que a cerimônia de iniciação das tribos ocorra sem nenhum contratempo, em caso de duvida, nossos professores estarão aptos antes da cerimônia para executar o encantamento restaurador da vestimenta).

— Um Caldeirão de ferro, tamanho padrão 02 (dois).

— Uma colher de cedro tamanho médio;

— Uma concha de bronze de duendes tamanho grande.

— Um par de Luvas de couro de dragão ou material similar;

— Balança de latão padrão.

— Vassoura de sua preferência (opcional).

Lista de Livros escolares:

— Livro padrão de feitiços (1º Serie); Miranda Goshwak, traduzido por: Celga Batista;

— Guia de Transfiguração para Iniciantes, edição atualizada, Minerva Mcgonaghal; traduzido pela mesma.

— Ervas, Plantas e herbocriaturas da Amazônia e América do sul, Herborito Hernandez;

— Animais Mágicos e Seus Habitats, versão estendida sul americana, newt scarmander, traduzido por Honorios Petrolios;

— Manual de cura Mágica, Eloisa Camafunda Figueira;

— Arte das trevas: reconhecendo e combatendo; Abelardo Ruibarbo Cardoso.

— Poções: A arte engarrafada. Zumballo Balauê.

É permitido a cada aluno uma mascote ou familiar liberado pelo conselho de controle de animais mágicos sul-americanos ou animal comum que não ofereça risco, de sua preferência (salientamos que sacis pererês não poderão ser aceitos devido a fatos históricos recentes referentes ao seu comportamento travesso e bagunceiro, quase catastrófico).

Aguardamos ansiosos a sua chegada.

Inauciosamente;

Profª Iracema P. Orumã.

Diretora de Castelobruxo.”

Ainda embriagado com aquela cena mágica fantástica e palavras, o menino parecia ler e reler a carta, incrédulo de que aquilo fosse verdade.

— Então a senhora sabia que quando eu fizesse onze anos eu receberia essa carta e nunca me disse nada antes?

Ela apenas o olhou com os olhos vermelhos após chorar, então perguntou.

— E você vai querer ir meu filho?

— Não sei...

E nessa hora ele parou pra pensar algo importante. Apesar de ter sido a notícia mais extraordinária que ele recebera em toda vida, ele não sabia se queria ser de fato um bruxo como seu pai, muito menos abandonar sua avó sozinha. Isso seria exatamente o que seu pai fez e pelo mesmo motivo pelo que parecia, para ser bruxo. Mas no fundo ele não acreditava que seu pai fosse esse homem que sua vó pintava e acreditava ser. Então perguntou.

— Vó, onde fica esse Castelobruxo, fica na Amazônia mesmo?

— Sim. Na Amazônia meu filho – disse ela com o sorriso mais sem graça que ele já vira, mais até de quando ela falava de sua mãe com saudades.

— Então não vou vó! Não vou deixá-la sozinha!

Por mais que ele estivesse empolgado com a ideia de ir para uma escola  mágica aprender magia, a coisa mais fantástica que já sonhou fazer na vida, ele não iria suportar abandonar sua avó.

— Oxi, mas porque menino? Você estava saltitando feito um cabrito novo agora quando lhe mostrei as coisas de seu avô e de repente murchou assim. É por minha causa, é?

E ele apenas olhou para ela com um semblante meio confuso.

— Deixe de ser besta, se acha que eu vou ficar sozinha? Eu tenho Zulim aqui comigo.

— Mas Zulim num é a mesma coisa. Zulim não carrega fardo de lenha pra senhora, nem busca água da nascente quando a bomba d’água da problema.

— Confie em mim, Zulim é bem mais que um cachorro vira-lata.

— Eu sei que ele é bem esperto, mas, mesmo assim.

— Então me deixe ver aqui uma ideia melhor.

Disse ela sentando, chamando-o e ele a obedeceu, então ela o abraçou e fez cara de quem estava tendo uma grande ideia.

— Sabe, minha irmã, sua tia avó Noca, ela está pensando em vender o sitio dela porque sua tia prima recebeu uma proposta de trabalho na cidade, dai eu ofereci a ela pra vir morar comigo e junto dela, vem o Chico, dai eu num vou ficar sozinha meu filho, o que acha?

— Chico? Chico é o menino mais preguiçoso que eu conheço na vida vó, sem falar em medroso. Um bom amigo, mas muito medroso.

— Oxi menino, deixe de arrumar desculpa. Deixe só ele vir morar aqui que vou deixar Chico bom que nem você.

— A senhora vai mesmo ficar bem se eu for vó?

— Claro que vou meu filho e vou ficar muito feliz em saber que você vai realizar o sonho do seu avô e da sua mãe, tudo de uma vez só.

— Então tudo bem Vó, eu vou sim.

E ela o abraçou apertado, bem apertado para aquela senhora magrinha e miúda e com lágrimas nos olhos. Então meio exprimido ele disse:

— Como a gente faz pra comprar essas coisas vó?

— Calma que eu sei como, agora só aproveite suas férias, porque breve você vai embarcar na maior aventura da sua vida meu miudinho. Só tem uma coisa, você não pode contar pra ninguém sobre isso, nem mesmo pra Chico.

— Tudo bem vó, se eu contasse ele não acreditaria mesmo.

E ele sorriu. Estava muito empolgado com a ideia, apesar de preocupado e triste em deixar sua vó ali, ele não esperava a hora de poder ir para esse fantástico lugar chamado Castelobruxo.


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Notas finais do capítulo

*Capitulo revisado e corrigido 10/05/2016.



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