Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 75
Capítulo Setenta e Cinto - Mestre das Agulhas Obscuras


Notas iniciais do capítulo

E finalmente chegamos ao último capítulo, depois de tantas mentiras, truques sujos e traições. Contudo esse é somente o último capítulo do primeiro livro.

Chapeuzinho Vermelho foi divertido de escrever e muito gratificante receber respostas tão positivas dos e das leitoras, então muito obrigada por terem acompanhado a Char até aqui e espero que vocês não a abandonem no segundo livro.

Depois de tanto tempo sem postar nada, estava completamente sem ideia de como escrever o último capítulo, finalmente consegui! Espero que gostem.



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                Charlotte fingia dormir para não ter que conversar com ninguém, era um momento decisivo, após tantos dias dentro da enorme e confortável carruagem _que Christopher arrumara para sua família, a mérito de mostrar que os Maddox ainda estavam em plena forma e voltando ao seu lugar de “direito”, como dissera Suzana _. O dia já estava findando e a grande comitiva que eram os Maddox e a Princesa Herdeira de Windstorm seguia cada vez mais para dentro do Império Central. Char passava e repassava cada parte de seu plano em sua mente, as partes que contara para todos os Feiticeiros, as partes que compartilhara somente com seu círculo fechado e as partes que nem mesmo dissera para ninguém.

                Charlotte Maddox, era essa mulher que fora obrigada a se tornar no curto período em que passara nas Ruínas da Cidade dos Deuses. Era irônico a necessidade de mostrar a todos amabilidade que carregava aquele nome, contudo mais zombeteiro era que isso somente escondia tudo o que aquela família representava.

                Quando chegaram em Mirelis e foram pegar suas carruagens, vó Juliana entregou um artefato curioso para a menina e a mandou usar quando estivesse chegando as portas do Império e Char estava fazendo exatamente o que a senhora dissera. O corset negro que pressionava seu busto era muito mais que um simples enfeite, ele trazia o símbolo da família Maddox, uma serpente vermelha com a língua roxa e peito azul, a tão temida Serpente Ukufa Komama, que causa morte lenta e dolorosa. Seu veneno causa alucinações baseadas nos piores medos da vítima, provocando uma dor excruciante a qual impossibilita a pessoa envenenada de se movimentar após algumas poucas horas a mordida, tendo as vias respiratórias levemente prejudicas, o suficiente para manter os órgãos funcionais, mas não bem o suficiente para mantê-los no ritmo comum; causa sangramento pelos olhos, variando de uma pessoa a outra o tempo de sangramento após a mordida. Dependendo da quantia de veneno ingerida, pode levar entre um a dois dias para matar a vítima, que sofre de forma torturante até o fim. Nunca ninguém conseguiu um antídoto para o veneno da Ukufa Komama, que é uma serpente que se adapta em qualquer ambiente, entretanto é muito mais fácil de ser encontrada na ilha Obonvu, nos lagos termais.

 -A senhora parece nervosa. –A voz de Fernanda era baixa, contudo firme como sempre foi.

 -Não imaginava que voltaria pra casa um dia. –Suzana comentou, parecia distante. –Mas estamos aqui, passando pela entrada do Império Central. –Suspirou. –Se passaram anos desde que vi meus pais e irmãos.

 -Imagino que a senhora esteja bem ansiosa. –Fernanda disse delicadamente.

 -Sim, mas...

                O silêncio se fez presente por alguns momentos, mas Charlotte continuou a fingir dormir tranquilamente ao lado de Mark, que fora mandado ir junto a menina para evitar que ela criasse caos durante a viagem, enquanto Alfred, Christopher e Dilan montavam belos cavalos do lado externo das carruagens. Lira havia sido contra a ideia de Dilan não estar aconchegado dentro de sua carruagem, contudo o rapaz foi firme e disse que acompanharia os demais.

 -Mas? –Harry incentivou por fim.

 -Mas não sei que tipo de recepção estará aguardando e nem o que Charlotte pretende.

                Harry fez careta e encarou a irmã, que parecia muito tranquila ao estar dormindo com o rosto apoiado em Mark, que havia lhe passado o braço pelos ombros para dormir também.

 -O que quer dizer?

 -Quero dizer que ela está aqui para acabar com a realeza, mas minha família faz parte disso. –Harry viu a mulher segurar com força a barra do próprio vestido. –E honestamente, eu não sei até onde eles estão envolvidos com o Imperador nesse momento e muito menos como Char verá cada um deles.

 -Você teme que ela os mate. –Mark comentou, abrindo os olhos e a encarando, aparentando não saber que Charlotte estava acordada, mas ele aprendera a interpretar bem os movimentos da menina.

 -Eu...

                Mark viu a mulher arregalar os olhos.

 -Acredite, ela não os matará se eles não escolherem lutar do lado errado. –Mark foi firme. –Ou se perceber que vale a pena proteger a família. Lottie não é o monstro que você tema que ela vá se tornar, afinal ela não é você, então não tem o que se preocupar.

 -Você não deveria falar assim comigo.

                Mark riu baixinho e acariciou de leve o cabelo castanho da menina que continuava a fingir dormir em seu ombro.

 -Lottie acabou por se tornar família e acredite quando digo que eu sei o suficiente para poder falar assim com você, principalmente se para protegê-la.

                Char percebeu que o silêncio agora duraria bem mais, talvez até o fim da viagem. Ela sabia que esse era um pensamento que percorria a mente de todos, ninguém sabia ao certo até onde ela estava disposta a ir para proteger os Feiticeiros e o que ela estaria disposta a acabar se houvesse necessidade.

                A menina conseguia ouvir alguns sons do lado oposto, como cumprimentos e conversas e isso a fez recordar que estavam em um desfile até a Mansão dos Maddox. Cavalos belos e chamativos servindo de montaria para a comitiva da princesa e dos Maddox.

                Char achava a carruagem que fora arrumada para sua família muito exagerada, contudo a de Lira era mais vistosa e maior que a dela, chamando atenção em todos os cantos que passava. Ambas as carruagens carregavam bandeiras, a de Lira carregava a Águia de Windstorm, enquanto a de Charlotte carregava a Serpente Ukufa Komama enrolada no punho de uma espada que perfurava o centro de uma coroa, a bandeira da família Maddox.

                Christopher dissera que era necessário um grande espetáculo para informar que ele estava de volta. Charlotte recordou da conversa que tivera com o pai em Mirelis, após a informação do desfile até as portas da Mansão dos Maddox, antes de embarcar na carruagem.

 

 

☆ ♪ ☆ ♪ ☆ ♪ ☆ ♪ ☆ ♪ ☆

 -Você tem certeza de que deseja isso? –Ele estava preocupado, ela sabia.

                Char respirou o ar puro da noite e olhou para a luz das arandelas refletindo no Lago Triśūlānni, sua água negra fazia Char recordar a infância, quando seu pai a trazia em viagens de família, ela e Katherine pulando no lago, mesmo os moradores locais dizendo ser perigoso por não conseguirem ver o fundo e ninguém saber que tipos de animais marinhos poderiam se esconder ali. Tudo em Mirelis a fazia recordar sua infância, primeiro com Katherine, depois com Katherine, Harry e Nanda; após a morte de Katherine a garota ficara anos sem vir até a cidade que tanto apreciava. Ao olhar para o Triśūlānni ela praticamente conseguia ouvir as risadas da irmã e a ver correndo em direção ao lago antes de saltar e esguichar água para os lados.

 -Katherine amava esse lago. –Ela comentou em voz baixa com o pai, como se não houvesse escutado sua pergunta. –Todos brigavam conosco porque tínhamos a mania de nadar à noite, mas ela ria e dizia que os locais eram covardes por terem medo de um lago tão divertido.—Ela suspirou e deu um sorriso fraco. –Lembro que você nos dizia para nos divertimos, mas tentando não provocar os moradores, o que era praticamente impossível.—Char sorriu.—Eu praticamente posso ouvir o som do riso dela.

 -Eu também ainda ouço, com muita frequência, na realidade. –Ele lhe confessara. –E é por isso que eu temo mais ainda esse retorno, temo que também tentem lhe tirar de mim.

                Charlotte recordava de ter sorrido e segurado a mão do pai, mesmo que por um curto instante, enquanto o encarava.

 -Esse medo não é necessário. –Ela assegurou. –Mas quanto a sua questão, sim, tenho plena certeza do que estou prestes a fazer. –Sorriu fracamente. –Apesar de tudo o que devo ir realizar, tenho a curiosidade de conhecer nossa família, não apenas para satisfazer meu desejo, contudo eu imagino que Katherine iria ter gostado de saber que tinham mais gente na família, ela amava a ideia de uma família grande.

 -Sendo assim, acho que preciso contar algo a você, somente a você. –Ele havia sido firme.

 -Vá em frente. –A menina havia ficado inquieta, mas queria saber do que se tratava.

 -Quando eu abandonei o Império Central, eu estava prestes a me tornar o General do Exército. –Ele coçou a barba e a menina aguardou. –Por tanto, quando Franco, o pai de Suzana, me chamou e pediu que eu abandonasse o Império Central e meu posto para fugir com a filha dele, eu não o fiz de imediato, eu aceitei porque a amava, mas enquanto ela se preparava para a fuga, eu fui até o Imperador...

 -Você pediu permissão para sair do Império! –Charlotte se chocara com aquilo.

 -Sim. –Ele admitira, mas ela conseguira ver a culpa em seus olhos verdes. –Eu pedi ao Imperador que me permitisse partir com minha noiva, disse que Suzana estava se preparando para conhecer o mundo e que eu gostaria de estar com ela.

 -Ele não me parece o tipo de homem que faz um favor com facilidade.

                Charlotte vira uma sombra obscura tomar conta do rosto do pai.

 -E não é. –Ele informou. –Me permitiu partir porque sou da nobreza, me disse que eu seria bem recebido se um dia decidisse retornar para lá, todavia isso viria com um preço.

 -Qual seria?

 -Assim que pisarmos de volta no Império Central, eu serei atribuído ao posto de Mestre da Guarda do Império, independente de quem estiver nele nesse momento.

 -O quão terrível isso é? –A menina já sentia haver algo errado, mas sabia que ia além daquilo.

 -Além do fato de eu ser um Lobo? –Ele suspirou. –O Imperador Augusto irá retirar qualquer que seja o Mestre atual da Guarda, o que irá gerar inimizades e desgostos, me tornando alvo de muito mais que olhares. Ele me tornará uma das marionetes dele. E acredite quando digo que isso não é algo agradável para se acontecer.

 -Então você não deve retornar!

 -Não cometerei o erro de lhe abandonar outra vez.—Ele estava sério e ela permaneceu com expressão neutra, mas a frase lhe causou grande alivio.—Todavia agora eu posso lhe dar com isso e lhe proteger, só que ele me fará eliminar os obstáculos do caminho dele, o que quer dizer que você ouvirá muito falar que o Mestre das Agulhas Obscuras retornou para o Império Central.

 -O que esse nome significa?

 -Que eu serei usado como assassino pessoal do Imperador.

 

 

☆ ♪ ☆ ♪ ☆ ♪ ☆ ♪ ☆ ♪ ☆

                Charlotte conteve o suspiro e sentiu a carruagem parar, o que a fez sentir seu corpo pesar mais que de costume.

 -Lottie, nós chegamos. –Mark comentou levemente.

                Charlotte abriu os olhos incrivelmente verdes e assentiu, ajustando a postura e respirando fundo, estava na hora de pôr em prática tudo o que aprendera com Lira e mesmo durante toda sua vida.

 

 

                Ele reconheceria aquela bandeira em qualquer lugar, a temera por muito tempo, da cor bege do tecido com bordas escarlates a insígnia. O olho vermelho desenhado no pomo dourado da espada tão bem ornamentada, trazendo a temida Ukufa Komama envolvendo o cabo de prata, enquanto o guarda mão era composto por duas cabeças de serpentes prontas para dar o bote se apoiavam no anel ornamentado da coroa e atravessava seu centro de proteção negro.

                Eram poucos Maddox que tinham a honra e, principalmente, o dever de usar aquela bandeira. Aquele símbolo trazia o peso do que a família representava, eram mais que Espadas da Coroa, eram as Serpentes venenosas e temidas por todos, o olho vermelho desenhado no pomo dizia que tinham olhos em todos os lugares e o guarda mão com as serpentes quase dando o bote no anel da própria coroa representava seu veneno incurável, mesmo dentro da corte e de quem ousasse tocar naquela família.

                Os Maddox sempre seriam temidos e reverenciados na mesma proporção, contudo não havia verdadeiramente um único Maddox que fosse bom e amável, eram somente ilusões que eles passavam para todos. As Serpentes aprazíveis que poderiam matar no menor descuido e até o Imperador Augustos sabia disso.

                Ele viu Suzana ao lado de Christopher enquanto atravessava o tapete vermelho que o levaria até a carruagem. Mas o que lhe chamou atenção foi a garota que desceu por último, sendo ajudada por um rapaz de cabelos de fogo. Ela era excepcional, chamaria atenção de qualquer pessoa que a visse.

                O vestido rubi de alça fina, que deslizava pelos ombros de pele delicada, o cabelo castanho preso em um coque alto bem arrumado que permitia algumas madeixas caírem suavemente por seu rosto e pescoço, chamando atenção especificamente para esse último, que era longo e atrativo, carregando um colar de prata que repousava suavemente sobre seu peito e seduzia o olhar para seu colo bem desenhado. O corset negro desenhava suas curvas com uma naturalidade fascinante. Contudo quando encarou seus olhos, verdes como a grama ele se sentiu mergulhar em um lago profundo e sedutor. Tudo naquela menina indicava sedução, selvageria e um perigo realmente excitante. Não havia como negar que ela trazia o sangue Maddox nas veias.

                Charlotte viu o teatro montado assim que desceu da carruagem com a ajuda de Mark, grupos de pessoas distintas haviam parado para olhar quem chegava, mesmo que a carruagem da Princesa houvesse ido para o palácio, lugar que Char imaginou que fosse ser o foco completo daquela chegada, estava exausta e sem a menor disposição para encenar. Naquele momento quem a olhasse veria simplesmente quem ela era realmente e isso incluía toda o perigo bestial que passava. A menina suspirou e olhou para frente, suavizando o máximo sua expressão para que ninguém a temesse, sim ficasse curioso o suficiente para querê-la descobrir. E ela sabia ter surtido efeito, porque via como a olhavam, principalmente o homem de olhos dourados, que se aproximava.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram o último capítulo?

Deixem seus comentários e vamos conversar um pouco sobre o que vocês esperam para o próximo livro (Que devo confidenciar que em breve será publicado, só estou finalizando a capa).

Beijos e até o próximo livro, Filhos do Império - Lâminas de Vento.



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