Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 74
Capítulo Setenta e Quatro – Força Indomável.


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu demorei muito a postar, contudo após o desastre que foram os seminários e provas na faculdade, eu fui viajar e respirar um pouco, ter um tempo pra descanso, mas agora voltei.
Então vamos ao que interessa!



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                As duas primeiras luas finalmente passaram, tudo foi em um piscar de olhos, mal dando tempo para respirar. Da hora em que acordava a hora que ia dormir Charlotte se dedicava para todos os tipos de treinos possível. Seu corpo já trazia diversas marcas de quedas em seu treino como Canário, manusear armas de fogo não era difícil, sempre tivera boa pontaria, contudo as armas brancas se tornavam bem complicadas, já que nunca as usara. Ainda havia a preocupação por Fernanda e Harry, que após a primeira semana, com Stephen tendo retornado ao Vale Vermelho para obter mantimentos, vieram junto e começaram a ter seus próprios treinamentos. Toda a situação era complicada e exaustiva.

                Mark viu as raízes criando vida e os pássaros a cercarem, sem o menor medo, todos pousando ao seu redor enquanto ela se esforçava para fazer as sementes de Funcho florescerem para poder preparar o anti-inflamatório para a pequena reserva de remédios e venenos que ela vinha produzindo. Todos vinham treinando muito, contudo Charlotte trabalhava até a exaustão, as poucas horas que ela dormia durante a noite, ele sabia, não eram suficientes para deixa-la completamente descansada, contudo ela não reclamava, sabia não haver tempo para resmungos e descanso, faltava poucos dias para terem que ir para o Império Central e se ela não estivesse sob o controle do máximo possível, podia colocar em risco tanto a sua vida quanto a de quem a acompanharia.

 -Pausa pra um refresco, Lottie? –Mark ofereceu, se aproximando com uma caneca de suco de maçã.

                Charlotte deu um sorriso cansado e estendeu a mão para alcançar a bebida que lhe era ofertada.

 -Obrigada, Cabeça Vermelha. –Apesar de aceitar a bebida ela não parara de trabalhar.

 -Você não quer descansar nem cinco minutos? –Ele quis saber e ela riu, virando o suco de uma única vez.

                Charlotte sabia que todos os dias Mark tentava lhe fazer parar por alguns minutos, contudo não podia ceder, havia muito em jogo.

 -Não se preocupa, Demônio de Fogo. –Ela avisou, devolvendo a caneca vazio. –Estou bem, assim que começarmos a viagem para o maldito Império Central, eu pretendo dormir até chegar lá.

                Mark riu e assentiu.

 -Espero que sim, Lottie. –Ele a viu sorrir novamente. –Não adiantará todo esse treino se seu corpo padecer por exaustão.

 -Não irá. –Jurou. –Apesar do cansaço, estou tomando todas as medidas, estou me alimentando, bebendo líquido com frequência, Lira tem me dado alguns chás para dores musculares e cansaço. Meu corpo e mente estão bem.

 -Lottie.

                Charlotte ergueu os olhos e encarou o amigo.

 -Você irá para o Império como meu irmão adotivo, está tudo acertado com Suzana. –Ela informou de modo prático, mudando do assunto que Mark poderia trazer a tona. –E como já sabe muito, então você é quem menos treina. –Ele riu. –E sei que está tentando tomar conta do Alfred e de mim...

 -Vocês dois treinam sem parar. –Ele resmungou.

 -Continue cuidando de nós, Cabeça Vermelha. –Ela pediu sorrindo, os olhos verdes brilhantes. –Que em breve voltaremos a poder lhe oferecer o mesmo cuidado.

 -Não me importo com isso...

 -Mas eu sim. –Ela foi firme e ele riu, se dando por vencido, como ocorria diariamente.

 -Você é teimosa demais. –Ele riu, enquanto erguia as mãos para os céus em desistência. –Está na hora de você ir treinar com a Lira, certo?

                Char assentiu, finalmente se erguendo e cortando galhos da planta.

 -Sim, tenho que ser uma garota impecável ao chegar na Corte. –Ela riu da própria piada. –Afinal irei conhecer a família de meu pai e mãe, então terei que honrar o nome Maddox e Dennai Valle, minha educação tem que ser incomparável, por tanto preciso saber Alquimia, Medicina, Cálculo, Política e a merda toda.

                Mark suspirou e assentiu, dando um curto sorriso.

 -Pensa pelo lado positivo.

                Charlotte começou a caminhar ao lado dele, para ir encontrar Lira.

 -Tem um? –Ela brincou, até mesmo sua voz trazia cansaço.

 -Você não tem mais falado Radva sem querer. –Ele lembrou. –Connor diz que você está muito bem. Darla está sendo obrigada a dizer que você não é tão lenta para aprender e todos são obrigados a reconhecer sua imponência e elegância, o que a possibilita entrar como uma Maddox que foi criada longe do Império sem grandes problemas.

 -Sim. –Ela riu. –Até onde sei Christopher está resolvendo essa parte do motivo que o levou a sair do Império Central com minha mãe e estarmos retornando somente agora.

 -Ele está decidido a ir junto mesmo?

 -Tanto que permitiu que a Nanda com o Harry treinem. –Mark assentiu e ela suspirou, recordando da visita recente do pai. –Ele diz que não irá me abandonar novamente, que não cometerá o mesmo erro duas vezes. –Char olhou para o grupo que treinava na arena improvisada no meio da praça, a distância, e viu Alfred se esquivar da espada e contra-atacar.

 -Todos estão dando duro. –Mark corroborou.

                Char sabia disso, sabia que todos vinham travando suas próprias batalhas diárias e isso a fazia treinar sem reclamações, cada golpe ou erro que cometia refletia em todos, por isso exigia de si mesma nada menos que a perfeição.

 -A propósito, como eles tem se saído? –Ela voltou a olhar para o amigo, tomando o caminho oposto à arena.

 -Harry já sabia manusear espada e lutar, então foi mais fácil. –Char riu.

 -Harry sempre foi campeão em se colocar em problemas, por tanto necessitava saber lutar. –Deu de ombros. –E ele sonhava, quando mais novo, em ser do Exército Alado. –Ela sorriu. –Na realidade não sei se um dia ele deixou de sonhar com isso.

 -Ele está realizando agora.

                Charlotte ficou em silêncio por um longo momento

 -Mas as circunstâncias são... –Ela fez careta. –Confusas, no mínimo.

 -Não posso negar, contudo ele está treinando com a Brigada Ventus Ferrum, o que o coloca a um passo do Exército Alado. E está se saindo muito bem.

                Assegurou quando já conseguia ver os escombros da primeira biblioteca, onde encontraram, assim que chegaram ao local, livros tão raros que nem sabiam da existência.

 -E a Fernanda?

 -Fernanda está aprendendo a se portar como uma dama, aprendendo a usar maquiagem, os vestidos e acessórios corretos. No Império essas pequenas coisas são bem vistas. –Ele riu. –Está tendo que estudar medicina e cálculo também, mas ela é boa em cálculo, realmente boa.

                Char assentiu.

 -A vontade dela era ensinar as crianças de Ventanis. –Char confidenciou, atravessando uma das muitas pontes das Ruínas. –E estudava muito pra isso, aprendia tudo o que podia, era uma frequentadora assídua da biblioteca e das salas de estudo da Vila.

 -E você? –Ele provocou.

 -Você sabe, minha criação toda foi voltada a todos os tipos de educação. –Ela deu de ombros. –E eu sempre gostei de aprender coisas novas. –Ele assentiu. –E quanto a Alfred?

 -Alfred está em um treinamento privado e particular com Dilan. –Ele informou. –Porque supostamente ele irá como seu guarda pessoal. –Riu. –Irônico não é mesmo?

 -Por que diz isso? –Mas ela sabia bem o que ele queria dizer.

 -Na Corte é muito comum as mulheres usarem seus guardas. –Riu. –Você só não é da corte, mas...

 -Quieto. –Ela riu. –E você?

 -Eu estou bem, obrigado.

 -Mark. –Ela repreendeu, mas riu.

 -Estou indo bem, só aprimorando conhecimentos básicos. –Ele a encarou. –E preparando alguns Feitiços mais elevados pra você.

 -Sim, eu percebi os livros de Feitiço sobre a mesa, ontem na biblioteca. –Ela sorriu. –Como disse, você é quem sabe mais.

 -Sim, aqui é fácil encontrar coisas úteis para pessoas como nós. –Ela assentiu. –Mas é você quem sabe muito. Adora falar que sabemos muito, contudo você só precisa ser lapidada.

                Char sorriu e olhou para a porta da enfermaria três, onde costumavam criar seus antídotos e venenos.

 -Minha mãe me ensinou princípios básicos de enfermagem, coisa que eu só dava valor por causa de Harry, que vivia machucado, coisa que Lira está aprimorando, ela diz que medicina é um dos pontos essenciais. E eu sempre gostei muito de ler, sobre tudo, então Christopher, quando eu era criança, me ensinou cálculo e história, sem contar em como usar armas, ele também me ensinou a falar a língua local de Brajento, Kiraz e de Vonex. –Ela fez careta. –Ele gostava que eu estudasse política e estratégia. Dizia que eu devia estar à frente de todos e tudo. –Riu. –Era como se ele planejasse minha ida para o Império e antecipasse que eu precisaria de tudo isso em algum momento.

 -Teu pai é um homem extremamente inteligente e estratégico. –Ele concordou. –Então ele se prepara com antecedência para todas as possibilidades.

 -Creio, na verdade, que ele sempre teve uma ponta de esperança de retornar para o Império Central, afinal é lá que todos os amigos e familiares dele estão.

 -Talvez, Lottie.

 -Achei! –Alfred exclamou, pulando em frente aos dois, que se preparam imediatamente para atacá-lo, o que o fez rir. –Ficamos tanto tempo sem nos encontrar assim que quando ocorre vocês pretendem me atacar?

                Charlotte sorriu e ouviu o riso de Mark.

 -Bem, você não deveria surgir do nada. –Ela argumentou.

 -Vocês estavam tão distraídos que não me perceberam? –Fingiu surpresa e ela rolou os olhos.

 -O que faz aqui?

 -Nada demais, só vim avisar que Lira irá se atrasar alguns minutos, está em uma luta de espadas acirrada com a Darla.

 -Está ai algo curioso de se ver. –Mark sorriu. –Por tanto irei até a arena.

                Mark deu meia volta.

 -Até mais. –Char falou, abrindo a porta da enfermaria três e entrando, acompanhada de Alfred. –Como você está?

 -Não deveria ser eu a fazer essa pergunta?

                Char riu, enquanto deixava as ervas sobre um balcão. Ela recordava que no primeiro dia aquela sala estava um caos, muitos destroços, tudo revirado, contudo naquele instante estava uma enfermaria realmente decente e utilizável, embora fosse usada como laboratório de alquimia.

 -Eu estou bem, Al. –Ela assegurou, se voltando para ele, que havia se apoiado em um balcão e cruzara os braços em frente ao peito. –E você?

 -Fiquei sabendo que você está dormindo menos de quatro horas por dia, isso é verdade? –Ele questionou, direto como sempre.

                Char fez careta e o olhou de sobrancelha arqueada.

 -Será que devo dar um nó na língua de Mark, por segurança? –Alfred sorriu de canto.

 -Então ele é um traidor, mas não seu, porque não foi por meio dele que eu soube.

                Alfred realmente estava preocupado, sabia que ela mal dormia e que trabalhava o tempo inteiro.

 -Você não me respondeu. –Ela observou.

 -Estou bem, mas agora vem comigo. –Ele chamou, se dirigindo a porta.

 -Pra onde? –Ela quis saber.

                Alfred a olhou por sob o ombro, sem se dar ao trabalho de responder.

 -Uma vez na vida, Charlotte, faz algo que estou pedindo.

 -Mas eu tenho treino!

 -Não perguntei.

                Char o viu sair e ponderou se o acompanhava ou não. Havia tanto em jogo para simplesmente se deixar levar e seguir Alfred para um descanso. Não era somente sua vida.

 -Droga. –Ela sussurrou.

 -Eu terei que te arrasta? –Ela ouviu a voz dele ao longe e suspirou.

                O lugar ficava na fronteira da Floresta com a pequena Cidade, era bonito, isolado e com um ar que misturava felicidade e mágoa. Charlotte não poderia explicar com palavras os sentimentos que o ambiente lhe passavam.

 -Por que me trouxe aqui? –Ela questionou, se apoiando em uma estatueta do Deus da Cura.

                A cidade era repleta de estatueta dos deuses, algumas maiores e outras menores, algumas quebradas, deixando membros de pedras espalhados pelo lugar.

 -Você precisa, querendo ou não, descansar. –Ele disse, sentando em um degrau da escada. –Mas você estar caindo de exaustão não irá ajudar em nada, até porque a Lua Cheia está chega é amanhã e você precisa estar descansada para impedir que Lobos cheguem até aqui. –Ele alertou. –Não sei se você lembra, mas seres místicos podem passar da barreira.

 -Mas não sei se os Lobos podem. –Ela disse, sentando ao lado do rapaz.

 -Mas não tem certeza se não. –Ele foi firme. –Até porque os Lobos foram a última criação do desespero de um Ancião, do primeiro Ancião, não é mesmo?

                Char pensou sobre e assentiu.

 -É, acho que você está certo.

 -Vamos só ter cuidado, tudo bem? –Ele pediu e ela o encarou. –Você descansar algumas horas não irá matar ninguém, mas pode acontecer se você estiver cansada. E além do mais, nós partiremos dois dias depois da Lua Cheia.

                Charlotte assentiu e apoiou a cabeça no ombro dele. Alfred riu e se ajustou para que ela ficasse confortável.

                Alfred viu o sol desaparecer no céu, ouvindo a baixa respiração da menina. Ela havia dormido logo após se apoiar nele, que permitira, sabia que ela precisava descansar, ninguém aguentaria todo aquele treino sem algumas horas de repouso.

                Charlotte acordou, mas não teve vontade de abrir os olhos, sentiu algo macio onde sua cabeça repousava, contudo não sentia mais o calor de Alfred, ela mexeu lentamente a cabeça e sentiu o tecido roçar levemente sua bochecha. Alfred havia usado sua capa para improvisar um travesseiro e ela se enrolara na própria capa para afastar o frio. A próxima coisa que percebeu foi a sonora, gentil e triste melodia extraída do alaúde. Alfred por algum motivo preferia tocar canções que falavam e transmitiam tristeza, ela imaginava o motivo de tal decisão.

 -Você acordou. –Ele comentou, vendo os olhos incrivelmente verdes o encarando.

                A menina dormira por horas a fio, acordando descansada como não ocorria desde a chegada à Cidade.

 -Fazia tempo que eu não o ouvia tocar. –Ela comentou, ainda deitada confortavelmente.

 -Não é como se você estivesse com tempo para qualquer coisa que não fosse treinamento. –Ele retrucou e ela sorriu.

 -Eu nem deveria estar aqui hoje.

 -Eu penso exatamente o contrário. –Ele parou de tocar e a encarou. –Você tem treinado dia e noite, com chuva ou sol, deixa de dormir, mal para pra comer. Tudo está sendo voltado a treinamentos e isso não é saudável nem mesmo para alguém com o organismo como o meu, imagina alguém como você.

                Char sorriu e sentou, se alongando um pouco. Sabia que Alfred estava certo, tinha plena consciência de que necessitava descansar, contudo daquela vez não poderia se dar ao luxo de se colocar na frente, era uma pessoa normalmente egoísta, todavia daquela vez haviam diferenças que precisavam ser postas a prova. Ela precisava estar preparada para o que ocorreria dali à poucos dias.

 -Então, agora que estou descansada, o que acha de um duelo?

                Alfred riu.

 -Você não é boa o suficiente para ter a pretensão de me vencer. –Ele brincou, mas se ergueu.

 -Bem, eu vou usar a regra três, o tamanho do oponente contra ele. –Ela sorriu e retirou a capa.

                Alfred não a acertaria realmente, mas seria divertido vê-la tentar acertá-lo pra valer.

                Como era de esperar, Charlotte deu tudo de si e ele admitia que se a luta fosse pra valer, ela teria acertado bons ataques no oponente. Ela seria sempre feroz como a natureza, eternamente uma força indomável.


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Notas finais do capítulo

Esse é o penúltimo capítulo do primeiro livro, espero que todo mundo tenham gostado.

Deixem seus comentários.

Beijos e até o próximo capítulo.



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