Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 73
Capítulo Setenta e Três – Ruínas do Castelo Amaldiçoado


Notas iniciais do capítulo

Demorei a voltar, contudo estou muito ocupada com a faculdade e isso está me impossibilitando escrever mais rápido. Mas espero que gostem do capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690080/chapter/73

                Quando Charlotte disse que precisavam sair das Masmorras, somente Mark e Alfred, além dela própria, sabiam o que esperar, todavia Lira não podia nem sonhar com o que os aguardava, muito menos algo com aquela grandiosidade. Após saírem da densa Floresta, um túnel de ervas daninha e algumas flores cheirosas e que Lira jamais vira antes adornavam o caminho, terminando em uma escada de pedras longa, cercada por uma colina de um lado e do outro lado sequoias. Lira não tinha certeza, mas sabia que estava andando naquela escada a no mínimo duas dezenas de minutos, o que era estranho, porque apesar da caminhada longa, ainda não sabia o que lhe esperava ao fim dos degraus, já que a escada se fechava em várias curvas.

 -Para onde estamos indo, Charlotte? –Dilan questionou, mas parecia tranquilo fazendo sua caminhada.

                Lira era grata pela fácil e divertida parceria que os dois formaram, Charlotte divertia Dilan de algum modo e isso era bom o suficiente. Dilan não era um rapaz difícil de lhe dar, contudo a verdadeira dificuldade estava em gostar realmente das pessoas, principalmente de quem acabara de conhecer.

 -Existe um ditado quando se fala do lugar para onde estamos indo. –Ela comentou, seguindo pelo caminho do lado direito e rejeitando a escadaria do lado esquerdo. –Cada gota de veneno que pingar em sua língua irá queimar, te levando para mais perto da verdade ou da morte, todavia isso te abrirá os olhos e mostrará a crueldade humana. Você pode tomar o veneno que desejar, mas não escapará do que é.

 -Eu devo ficar com medo agora ou quando chegarmos? –Ele zombou e ela riu.

 -Nós já chegamos, na realidade. –Deu de ombros.

 -Como? –Lira olhou em volta.

 -Essa é a entrada. –Mark informou, passando uma bola açucarada de morango para Charlotte. –E o lugar é conhecido por ser o Veneno da Verdade, por isso o ditado assustador.

                Charlotte sorriu e pegou o doce do tamanho de uma laranja pequena. As bolas açucaradas eram simplesmente deliciosas, principalmente as de fruta.

 -Não sei de onde você tira tanto doce. –Alfred implicou, mas segurou a mão de Charlotte e deu uma mordida no doce.

                Charlotte encarou o rapaz e bufou.

 -Você briga conosco por comermos muito doce, mas sempre rouba um pedaço. –Resmungou.

 -O fato de eu achar que vocês deveriam comer menos doces não faz com que eles se tornem menos gostosos.

                A escadaria finalmente acabou e Charlotte sorriu ao pisar na estrada de terra batida, encarando o largo arco de pedra de entrada a distância, elegante e imponente.

                Lira sentiu que todos ficaram ansiosos pra descobrir o que havia atrás do arco, fazendo que seguissem Charlotte em silêncio, enquanto essa parecia animada ao comer a bola açucarada.

                Lira ofegou quando passou pelo portal, a sensação de atravessar o aro de pedra era diferente de tudo o que já havia sentido, primeiro os sentimentos se tornavam indistintos e o corpo parecia estar mergulhado em água gelada, mas o calor imperava e a consistência de geleia dificultava o movimento. Mas a sensação passava tão rápido quanto surgia. No instante seguinte Lira simplesmente estava admirando uma cidade magnifica que ela jamais poderia ter sonhado em conhecer. Tudo era bonito, mesmo que a maior parte estivesse em ruínas.

 -O Portal é repleto de feitiços, por isso as sensações estranhas. –Mark informou.

                Char assentiu sorrindo e se voltou para o grupo, que se reunia em frente ao Portal.

 -Sejam bem vindo as Ruínas do Castelo Amaldiçoado. –Ela anunciou empolgada.

 -Acho pouco provável que eles conheçam por esse nome, Chapeuzinho. –Alfred alertou e ela sorriu.

                Charlotte ouviu o vento lhe sussurrar o nome de origem.

 -De fato esse lugar tem outro nome, um que é tido como crendice e somente uma lenda. –Ela divulgou, caminhando lentamente em direção a ponte sobre o lago de águas cristalinas que transbordava por duas aberturas ao lado da chácara de pedras claras. Uma das primeiras casas do lugar. –Estamos na lendária Cidade dos Deuses Antigos.

                As expressões foram inúmeras, entre elas ansiedade, receio e incredulidade. Char compreendia, a cidade havia desaparecido a séculos e mesmo quando estava em seu esplendor, Richard lhe contara que era tida como uma simples lenda, que os Monges fizeram de tudo para encobrir sua real existência. A Cidade dos Deuses Antigos era mais escondida que o Vale Vermelho ou qualquer outro lugar, em sua época de glória era monumental e imperioso, só podendo atravessar seu Portal os dotados em magia e seus convidados podiam atravessar. O Portal continuava mantende todos os Feitiços de proteção ativos e a cidadela escondidas de olhos bisbilhoteiros e perigosos, ainda guardando muitos segredos em sua terra, águas, árvores, casas e biblioteca.

 -Anxá Аnьр. –Charlotte ouviu a pronúncia e sorriu ao ouvir o nome original da cidadela, se voltando para encarar Connor.

 -Sim, Ruínas da Vida. –Ela concordou com Connor, que a olhou de olhos arregalados. –Achei que poucos conhecessem esse nome.

 -Como...? –Ele não concluiu a pergunta e ela fez careta.

 -Como o que? –Arqueou a sobrancelha.

 -Você entendeu o que o Connor falou? –Lira pareceu chocada.

                Charlotte ponderou por um segundo. O que ela havia feito para deixar a todos tão chocados?

 -Ele falou Radva, Lottie. –Mark anunciou baixinho.

                Char então compreendeu, mas isso a fez sorrir novamente.

 -Acho que você e eu temos muito o que conversar, Connor.

 -Não esperava que você falasse Radva. –Ele foi franco e ela manteve o sorriso.

 -É bom conhecer alguém que fale, estou atrás de um tutor há um bom tempo.

 -Vamos conhecer um pouco mais das Ruínas? –Mark chamou. –Creio que Lottie e Connor realmente tenham que conversar.

                O grupo seguiu Mark, mas não antes de Lira o fazer e Connor confirmar que concordava com a conversa

 -Desde quando você fala Radva? –Ela questionou quando estavam sozinhos.

                Charlotte se sentara no muro baixo de proteção ao redor da ponte e Connor permanecia de pé ao seu lado.

 -Não consigo recordar de um momento em que eu não tenha falado. –Ele contou, encarando-a atentamente e ela assentiu. –E você?

 -Não consigo recordar como comecei, na verdade. –Ela riu baixinho. –Mas sei que a primeira vez que isso ocorreu, foi após eu incendiar, acidentalmente, a casa de alguém.

                Connor tentou decifrar se ela brincava, mas percebeu que era verdade. Charlotte podia ser jovem, mas poder exalava dela, principalmente ali naquele lugar, já que as histórias contavam, e Connor agora podia confirmar ser real, que nas Ruínas da Vida nenhum Feiticeiro podia esconder seus dons, o lugar por si só era repleto de magia e forçava o Feiticeiro a se mostrar.

 -Você sabe o que fala? –Ele quis saber, vendo um vinco aparecer entre as sobrancelhas dela.

 -Eu sei as palavras que falo. –Confirmou. –Mas não sei quando o faço. –Admitiu. –Eu normalmente acho que estou falando a língua comum, até Mark ou Alfred falarem que não estão compreendendo o que digo.

 -Isso será um problema no Império Central. –Ele confidenciou, apoiando-se no pequeno muro onde Char sentava. –Porque somente Feiticeiros falam Radva e são muito raros. E mesmo os idiotas do Império Central conhecem essa informação, já que os Monges estão sempre observando e prontos para nos pegar.

                Char assentiu e encarou o nada.

 -Eu não sei como e quando faço. –Ela suspirou e Connor viu a expressão séria em seu rosto e algo tão antigo e misterioso em seu olhar que ele jamais iria atribuir a alguém tão jovem. –Eu não sei como controlar e apesar de saber o que digo, é instintivo.

 -Como? –Ele era sério e direto.

 -Normalmente eu falo coisas que estão passando em minha mente. –Ela suspirou novamente. –Penso na língua comum, mas verbalizo em Radva. É acidental e sem querer.

 -Como irá resolver isso? –Ele quis saber.

 -Bem, eu estava esperando que você, que é a primeira pessoa que conheço que sabe falar Radva, me ensinasse.

                Connor não precisava ponderar sobre o assunto, mas sabia que a garota necessitava aprender.

 -Tudo bem, teremos duas horas de aula diárias, assim que o sol nascer, a partir de amanhã.

                Charlotte se chocou, não esperava que ele concordasse com tanta facilidade, mas não iria contestar.

 -Tudo bem.

 -Irei falar com você em Radva, mesmo que estejamos todos conversando naturalmente na língua comum. –Ele informou. –E você terá que perceber se estou falando Radva ou não. E não informarei quando iremos começar. Até porque você é uma Anciã, então tem que saber diferenciar.

 -Irei ficar atenta.

                Connor a encarou com um sorriso de canto. Ela era realmente curiosa, normalmente as pessoas não aprendiam a compreender uma frase inteira de Radva sem saber falar, contudo Charlotte lhe compreendia extremamente bem e nem mesmo notava quando o fazia.

 -Você acabou de perder a oportunidade de ficar atenta. –Ele debochou de leve. –Eu falei Radva.

 -Você não pode esperar que eu comece a saber a partir de agora. –Se defendeu e ele deu de ombros.

 -É o que eu espero, na verdade.

 -Pelos mil Demônios! –Ela se exasperou, saltando da murada. –Eu só encontro tutores carrascos.

                Connor não resistiu a um meio sorriso. A menina tinha ânimo para resmungar mais do que Lira, o que ele realmente se surpreendia.

 -Vamos nos juntar aos outros e descansar. –Connor decidiu. –A partir de amanhã você terá muito trabalho, Charlotte. –Ele a encarou seriamente. –A partir de amanhã você será treinada para ser uma verdadeira Maddox.

                Char sorriu.

 -E isso significa o que pra mim? Porque o tempo inteiro eu ouço “Maddox isso, Maddox aquilo.” Contudo não sei exatamente o que esperar disso.

 -Que você treinará da hora que o sol nascer, até muito depois dele se pôr. –Esclareceu. –Lira disse que você passaria pelo treinamento dos Canários, não é mesmo?

                Charlotte assentiu, começando a seguir pelo caminho que o grande grupo fora.

 -Sim, contudo me pergunto o que é isso, já que ela não explicou.

 -Lira tende a esquecer de explicar algumas coisas, as vezes. –Ele justificou. –Mas no geral todos que são da Brigada Ventus Ferrum passaram pelo treinamento do Esquadrão Canário, um treinamento que fortalecerá mente e corpo ou lhe quebrará de vez. –A sinceridade de Connor era notável e Char gostava disso. –Mas pelo que você fez há algumas noites, sei que você conseguirá passar pelo treinamento sem desmoronar.

                Connor realmente acreditava que ela ficaria mais forte, principalmente que não seria somente o treinamento dos Canários, ela estaria sob sua supervisão com o Radva, sob aulas de etiqueta com Lira, – embora ele acreditasse que não havia necessidade, a menina parecia ter crescido na Corte tanto quanto a própria princesa, mesmo seu ar exalava isso – praticaria seus poderes com todos os Feiticeiros disponíveis e ainda aprenderia a lutar como uma Ventus Ferrum. Obviamente não conseguiria aprender tudo somente no curto espaço de tempo que eles tinham antes de seguirem para o Império Central, contudo aquele seria um bom começo, no qual todos estavam confiantes na força e inteligência de Charlotte. E Connor só confiara nisso uma vez em sua vida e em uma única pessoa, antes de Charlotte surgir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Deixem seus comentários e vamos conversar um pouquinho sobre essa nova fase.
Beijos e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.