Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 70
Capítulo Setenta – Labaredas


Notas iniciais do capítulo

Apesar de toda a demora pra voltar a postar, ainda não desisti e espero que vocês não desistam também.
Demorei porque não sabia como escrever esse capítulo e não queria postar de qualquer forma pra vocês, então espero que compreendam e gostem do capítulo. Ele começa a mostrar o quão perigosa Charlotte pode ser (Spoiler de leve. kkkkk) e o quão isso pode ser bom ou ruim, dependendo do que ela escolha.
Então espero que se divirtam com o capítulo e que possamos conversar sobre depois.



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                Lira viu a cor sumir de Charlotte e as mãos travarem ao lado de seu corpo, a respiração acelerar e os ombros começarem a tremer, ela parecia à beira de um colapso mental. O vento dentro do quarto começou a aumentar, fazendo tudo que estava sobre os móveis cair, a porta do banheiro bateu em um grande estrondo, o que levou Lira a imaginar que a porta cederia, mas não ocorreu. O vento feroz pareceu cercar a todos e deixar o ar mais pesado, não tornando doloroso ou difícil respirar, contudo incômodo e diferente. Charlotte estava no centro de tudo, o cabelo castanho ricocheteando e os olhos verdes aterrorizados como Lira nunca imaginou que veria a menina, o que fez a ruiva notar que mesmo uma Anciã poderosa como Char poderia quebrar se com medo.

 -Char! –Harry chamou o nome da amiga e tentou se aproximar, mas sentiu como se algo lhe impedisse de caminhar até a irmã, uma mão invisível que o segurava e afastava dela, por mais que ele tentasse seguir em frente. –CHARLOTTE!

                Charlotte sentiu uma pressão estranha nas mãos e conseguiu se obrigar a retomar os movimentos, baixando os olhos para olhar a mão, onde não havia nada. Ela respirou fundo e olhou o grupo que a encarava assustado e preocupado. Ela sabia o motivo de estarem cercados, ela O sentia entre eles.

                Lira viu os olhos de Charlotte perderem o verde intenso e se tornarem brancos como o gelo, a expressão seca e uma postura que subjugaria a própria e majestosa Imperatriz Isadora, que todos reconheciam sua grandeza e imponência.

 -Kyle decidiu me matar. –Anunciou, fazendo o vento ecoar suas palavras, antes de parar de correr no quarto. –E o Lobo mau finalmente decidiu que se não me tem, ninguém terá.

                A voz normalmente sutil, que Lira se adaptara, naquele instante parecia ecoar em meio a tempestades, Lira conseguia sentir o poder correndo pelo quarto e por todos os cantos, rechaçando quem tentasse se opor a ela. Charlotte era brutal como uma tempestade provocando furacões, enchentes e incêndios por todos os cantos.  Era assustador.

                Char viu a expressão preocupada de Fernanda, o que deveria tê-la chocado, mas não o fez. A menina só deu um sorriso de canto.

 -É hora de afastar os pulguentos da minha porta.

                Dilan a viu seguir para a porta em uma caminhada elegante, quase dançando com o vento que deixara de soprar no quarto, mas ele ouvia as rajadas furiosas do lado de fora da casa e conseguia imaginar as árvores dançando perigosamente com ele. Os Lobos pareciam mais furiosos e famintos, como se sentindo o poder arrasador que vinha daquele ponto.

                Lira olhou a menina e jurou, por um momento, que havia mais três mulheres e um homem a acompanhando, eram todos enormes e de algum modo assustadores, completamente inumanos e ferozes. Mas ao piscar e olhar novamente, só havia Charlotte.

                Char conseguia ouvir os uivos irados do lado de fora, a Canção dos Monstros era tocada, mas daquela vez com uma melodia a mais, algo acrescentado por ela, o som do vento passando por entre as frestas que encontrava, cortando as folhas das árvores e as fazendo dançar, ultrapassar casas e tudo que tentava barrar sua passagem. Havia um tom selvagem no vento, tanto quanto nos uivos. Charlotte sentia o mundo a seus pés, como se a terra fizesse parte de algum modo dela.

                Charlotte chegou ao alçapão próximo a porta da cozinha, o vento rodopiou e bateu na pequena alavanca, fazendo a escada de cordas despencar a sua frente. Normalmente ela fugiria para de baixo de sua cama, o medo ainda estava amargando sua boca, mas algo a fazia ir em frente, os sussurros em meio ao vento e a voz autoritária de Kiara a mandavam seguir a diante, a obrigando ignorar seu maior medo e subir os pequenos degraus e finalmente sair no topo da casa e ver o quão a Lua estava magnifica, contudo sua cor estava avermelhada, diferente do que ela costumava a ver, e o céu estrelado, por um segundo Char se questionou a quanto tempo não apreciava o céu noturno, todavia os uivos esfomeados e bestiais a fizeram baixar a cabeça e ver o quão cercada a casa de Alfred estava.

                Char assimilou o quão os Lobos estavam diferentes e mais assustadores, grotescos de uma forma que ela nunca vira. Os enormes olhos vermelhos esbugalhados, as garras imensas arranhando a parede de pedra, os dentes amarelados e afiados pingando saliva, entretanto a parte mais assustadora era que não estavam sob as quatro patas, sim andavam em duas, as costelas estavam em ângulos dolorosos e muito expostas, os braços muito longos ultrapassando os joelhos. Os lobos pareciam adoentados, embora Char soubesse que não se tratava disso ou que eles não estavam mais fracos, algo dizia ser o contrário. A transformação não parecia ter se concluído, parecia que seja o que transmutasse as pessoas em Lobo havia parado no meio, os deixando com algumas características, como andar sob duas pernas, humanas. Seja o que tivesse ocorrido não era bom.

                Charlotte não notou um Lobo imenso escalando a parede sul, muito atenta aos demais que cercavam a casa e impediam que ela e seus companheiros encontrassem uma rota de fuga, caso houvesse necessidade. O Vale Vermelho estava preparado para receber os Lobos, ela sabia, contudo não todos de uma única vez e almejando uma coisa especifica ao mesmo tempo.

                Char ouviu algo bater no telhado e se virou na direção da criatura que chegara ao teto, ele salivava tanto que a gosma espumante pingava de seus dentes amarelados, os olhos vermelhos estavam fixos na menina, que quase conseguia se ver refletida ali, ele rugiu furioso e caminhou na direção dela, erguendo uma das patas, que mais parecia uma mão deformada, seria o fim, seu maior pesadelo se tornaria realidade. O Lobo finalmente a devoraria, naco por naco de sua carne.

                O medo somado a sua ira foi tanto que ela sentiu as mãos incandescendo e o vento furioso ao seu lado, tão feroz que nem toda a força do Lobo conseguiu lhe manter de pé, sendo arrastado pelas rajadas de ar. Char viu o monstro enfiar as garras no teto de pedra, provocando um barulho tão agudo que a fez encolher os ombros e tapar os ouvidos, até finalmente o som terrível chegar ao fim e um uivo doloroso soar do solo, mas ainda havia som de garras arranhando as paredes, em todos os cantos.

                Os uivos, rugidos e as garras contra a pedra eram enlouquecedores e a deixavam confusa, tanto barulho que a amedrontava de uma única vez, parecia que tudo reverberava em seu corpo. Char fechou os olhos e relembrou a sensação apavorante de seus pesadelos, recordando tão vividamente que conseguiu sentir as presas afiadas em seu corpo, rasgando sua pele pedaço por pedaço, enquanto as garras afundavam em sua barriga e pescoço e o hálito quente tocava sua pele. O terror foi tão arrasador que ela conseguia notar seu poder lhe sufocando, tanta força que não conseguiu conter o urro de desespero, simplesmente deixando tudo sair de uma única vez junto ao grito.

                Lira subira atrás da menina, assim que seu grito chegou dentro da casa, usando duas pistolas, uma em cada mão. Era uma Feiticeira e sabia que estava, de algum modo, conectada a Charlotte e que fariam grandes coisas juntas. Todavia não esperava ver o que viu ao chegar até o telhado.

                As labaredas subiam selvagens pelas paredes, tão altas que passavam de quatro metros de onde estavam e o calor era terrível, tão forte que Lira se sentiu obrigada a abaixar, já que a incandescência machucava, tanto os olhos quanto a pele. O fogo que Char conjurara poderia incinerar mesmo a pedra, era um poder que Lira nunca vira antes, contudo de algum modo a rocha que era a casa de Alfred permaneceu intocada, entretanto o calor se fez presente rapidamente no ambiente. E os ganidos sofridos, como cães chorando, começaram a se afastar rapidamente, mesmo os Lobos temeram as chamas que a mulher trouxera. Se existia um Inferno, era provável que aquelas labaredas incandescentes fossem de lá. Sem contar no sabor ácido que o poder de Charlotte deixava em sua boca, fazendo-a ter certeza que cada Feiticeiro dentro do Vale Vermelho o estivesse sentindo e o temendo, era tão forte que o ar começou a ficar escasso e tudo girar.

 -Caleb. –Ela conseguiu chamar, não muito alto, mas o suficiente para ele a encarar.

                Caleb viu Lira tentar descer a escada e ao chagar no terceiro degrau despencar, caindo com um barulho alto no chão, o fazendo correr e carregar a ruiva, a levando até o sofá.

 -O que está acontecendo? –Questionou, notando que nem Connor e nem Emily se aproximara, o que normalmente não aconteceria.

                Dilan ergueu a cabeça e procurou os dois. Emily havia sucumbido e estava jogada em um canto, enquanto Connor lutava loucamente atrás de ar, se debatendo, agarrando seu pescoço e arranhando-o, como se isso o fosse fazer conseguir ar, todavia logo fraquejando também e caiu no chão. Dilan não sabia explicar como, mas tinha certeza que tudo era causado por Charlotte e o enorme calor dentro da casa.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Nossa garotinha está realmente fincando poderosa agora, não é mesmo?
Deixem seus comentários para que possamos conversar um pouco sobre.
Beijos e até o próximo capítulo.



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