Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 7
Capítulo Sete - A Garota Apaixonada pela Lua


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se.



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            Charlotte suspirou, a tarde estava agradavelmente quente e a capa vermelha repousava ao seu lado, Alfred tocava uma canção animada, mas leve, Char por algum motivo achou que conhecia aquela melodia, mas não saberia dizer de onde. Assim que pararam para montar acampamento, aproveitando que teriam quase uma hora de sol ainda, ela pegou sua capa e pulou da carroça, indo se encostar em uma árvore a beira da Floresta, a brisa que soprava dali era refrescante e quase como uma carícia, ela fechou os olhos e sentiu quem acabara de parar bem a sua frente, Char fez careta antes mesmo de abrir os olhos.
—Que? —O encarou. —Não consegue mais ficar longe de mim? —Zombou e ele sorriu.
—Na verdade consigo e com muito facilidade.
—Não é o que parece. —Disse voltando a sorrir e ele bufou.
—Vem comigo, preciso mostrar um lugar.
—Lugar? —Ela fez careta, mas já se colocava de pé.
           Charlotte notou que ele estava com uma lamparina a óleo em uma mão, Char ficou encarando o objeto de vidro por um momento e depois desviou pra uma sacola preta que ele trazia na outra mão.
—Sua mãe pediu que eu mostrasse, disse que você ia gostar ou algo assim. —Deu de ombros enquanto ela vestia a capa.
—Poderia levar seu alaúde?
           Alfred a encarou confuso por um momento, porém deu de ombros, entregou a sacola preta e foi até a carroça onde estava guardado, enquanto isso Char abriu a sacola e notou que havia comida ali dentro, logo a fechou e em seguida Alfred voltou pra junto dela, pegando a sacola e lhe entregando a lamparina, ela sorriu e o seguiu para dentro da Floresta.
—Sempre na Floresta. —Disse ela. —E sempre a noite.
—Você diz não ter medo, mas sempre reclama. —Debochou ele e ela deu de ombros.
—Não tenho medo, só me pergunto porque tudo ocorre aqui. —Gesticulou ao redor. —Até dormindo eu acabo parando aqui. —Disse em um sussurro.
—Você parece irritada. —Observou ele e ela suspirou.
—Na verdade nem tô. —Ele bufou e ela sorriu. —É sério, só estou achando estranho minha mãe pedindo algo assim.
—Também não entendi, achava que ela nem mesmo saía da Vila, imagina conhecer alguma parte da Floresta.
—Antes, quando ela era mais jovem, costumava sair. —Informou. —E quando ela achava que eu era nova demais pra viajar sozinha também, costumava me trazer, junto com o Harry e a Nanda, pra visitar minha avó. —Afastou um galho de seu rosto, notando que ele a observava. —Mas elas acabaram parando de se falar e mamãe de vir pra cá, assim como me proibindo de fazer o mesmo. —Charlotte riu de repente. —Eu falo demais as vezes. —Disse mais pra si do que para o rapaz, que sorriu.
          Quase uma hora de caminhada depois, Char observou onde eles pararam. Era um lugar extenso e aberto, onde havia uma cachoeira que despencava em um riacho de água de um verde cristalino, as pedras no fundo eram ovais e pareciam ter sido esculpidas de tão perfeitas, pedras grandes ao redor e algumas que formavam um caminho até o outro lado do riacho. Charlotte arfou devido a surpresa, era um lugar lindo e raramente ela ficava tão encantada.
—É lindo. —Comentou ela.
—Espere a noite chegar. —Seu tom de voz era divertido.
—O que tem a noite? —O encarou.
          Alfred havia sentado em uma das grandes pedras ao redor da cachoeira, o estojo de seu alaúde ainda permanecia fechado e estava apoiado na pedra, ao lado do saco com comida, o rapaz parecia tão despreocupado quanto se estivesse em um de seus lugares preferidos.
—As estrelas. Lembra que eu disse que você só veria estrelas pra apreciar de verdade quando estivéssemos na estrada principal? —Ela assentiu. —Bem, aqui é um dos melhores lugares para observá-las.
            Charlotte sorriu e caminhou até ele, colocou a lamparina no chão, sentou ao lado do rapaz e logo deitou, a pedra era larga o suficiente para que eles deitassem, Alfred fez o mesmo, os dois encaravam o céu, onde o sol acabara de sumir.
            Alguns minutos de silêncio se fizeram presente, até que Alfred se pôs de pé.
—Volto já.
           Charlotte fez careta, mas permitiu. Alfred voltou após dez minutos, com uma braçada de madeira e logo fazia uma fogueira, a alguns metros de onde ela estava, usando o combustível da lamparina para ativar o fogo, Char o observou trabalhar em silêncio. Sentou na pedra e viu o rapaz dar vida a fogueira, era pequena e não faria calor, porém grande o suficiente para iluminar e aquecer a comida. E foi o que ele fez, tirou a carne de porco da sacola, espetou em um pedaço de madeira e a esquentou, depois dispôs sobre sua capa parte do conteúdo do saco. Havia maçãs, dois cantis de água, pães, um pedaço de queijo, uma garrafa de vinho, o qual bebiam toda a noite, e uma linguiça.
—Você fez um belo assalto na carroça de mantimentos. —Falou sentando do outro lado da capa, ele sorriu.
—Tiveram sorte que não peguei mais.
—Achava que era área restrita. —Zombou ela pegando uma maçã, a limpou na manga da blusa, observou por um momento e a mordeu.
—É um ritual? —Ele quis saber e ela o encarou de modo confuso, o que o fez rir. —Antes de comer a maçã. —Explicou virando a carne no fogo e ela sorriu.
—Por que ritual?
—Porque vi toda uma preparação, era só morder.
—Foi o que fiz.
            Alfred a encarou, procurando traços de que ela estivesse brincando, mas parecia que era algo inconsciente, o que o fez sorrir por fim.
—Certo então.
—Mas sim, achei que a carroça de mantimentos fosse área restrita.
—Mas é. —Ela gargalhou, como nunca fizera em sua presença.
—Você realmente assaltou. —Ele sorriu.
—Não foi assalto, só que estava aberta e sozinha, de modo muito convidativo. —Esclareceu ainda sorrindo. —E como vínhamos aqui, não fazia mal algum pegar algumas coisas, não acha?
—Mal nenhum. —Confirmou sorrindo.
            O jantar fora muito bom e pela primeira vez acompanhado de conversa e risos, não silencioso como praxe. Guardaram o resto da comida, ficando somente com a garrafa de vinho, bebendo direto na boca na garrafa.
—Você poderia tocar um pouco? —Perguntou ela tranquilamente e ele sorriu.
—Claro.
          Voltaram para a pedra onde o alaúde se encontrava encostado. Char o observou abrir o estojo com cuidado e depois retirar o instrumento com delicadeza, o repousando no colo enquanto apoiava o estojo no lugar de antes, depois estava com o alaúde posicionado e tocava. Char o ouviu tocar uma música particularmente especial pra ela, a música contava a história de uma garota que se apaixonara pela lua e que sofria por não poder alcança-la, mas que a observava sempre e nem mesmo nas noites mais escuras se privava de olhar para o céu a procura de sua lua.
            Char se deitou na pedra e encarou a lua, o céu estava simplesmente magnífico aquela noite. A noite em si era encantadora, milhares de estrelas brilhavam ao seu redor, enquanto a fogueira crepitava a alguns poucos metros de distância, enquanto uma de suas canções favoritas eram tocadas inacreditavelmente bem e enquanto a brisa beijava seu rosto e pele a mostra.
—Essa música é minha preferida. —Disse ela quando Alfred terminou o último acorde. —Obrigada.
           Charlotte se apoiou no cotovelo e o encarou, ele sorriu.
—De nada. —Disse calmamente e pegou a garrafa de vinho que estava sobre a pedra, ao lado da menina. —Não sabia que a conhecia, poucas pessoas conhecem essa música.
—Eu tinha cerca de oito anos quando a escutei pela primeira vez. —Informou. —Estava na casa da minha avó e havia uma trupe na cidade. Vovó me levou até onde eles estavam, assim que vi os músicos a arrastei até eles e o violinista, depois de umas três músicas, provavelmente vendo que eu não estava nada interessada em me afastar dali, disse "Uma garota tão jovem que se interessa por música boa merece uma bela canção, não concordam rapazes?", então a tocaram e eu me apaixonei por ela logo nos primeiros acordes, então quando acabou de tocar, ele me contou toda a história da música, mesmo as partes que foram cortadas da canção, mas que de certa forma a compunham. —Ela sorriu. —Nunca consegui esquece-la, a ouvi poucas vezes depois disso, mas sempre guardei a letra e a cantava quando estava sozinha.
—Por que quando estava sozinha? —Ele quis saber.
—Porque de alguma forma, essa música é... —Ela sorriu e o encarou, os olhos do rapaz brilhavam e o fogo da fogueira refletia em suas orbes castanhas. —Por ser músico, tenho certeza que já ouviu uma canção que acabou por gostar tanto, que a tornou... Pessoal, de alguma forma. —Char não costumava ter dificuldade com as palavras, mas naquele momento não parecia achar as certas. —E essa é especial pra mim.
—A garota apaixonada pela lua. —Ele sorriu.
—Tenho minha própria definição. —Falou sentando de frente pra ele e sorrindo. —Não pela lua exatamente, mas pelas coisas inalcançáveis. Tenho uma paixão muito grande por coisas que parecem inatingíveis e misteriosas.
—Tipo? —Ele parecia genuinamente curioso.
—Gosto de ouvir o vento sussurrar, ou de como as estrelas brilham, de como as folhas das árvores dançam, de como os relâmpagos clareiam mesmo os lugares mais escuros, do crepitar do fogo e como ele se move de forma suave, porém perigosa. —Ela sorriu. —Sempre tem algo especial, não importa onde.
—É uma visão bonita. —Ele sorriu e ela o encarou.
—Se contar isso a alguém, mato você.
           Charlotte se surpreendeu quando ele jogou a cabeça para trás e gargalhou divertidamente, seu riso era musical, era como algumas das canções que ele extraía do alaúde, era pessoal, sua risada não era para todos, era reservada a poucos, notou ela. Era um som bom de se ouvir, foi parando aos poucos e por fim ele a encarou, ainda sorrindo.
—Você fala de todo um encanto da vida e do nada me ameaça de morte? —Ele se divertia.
—Obviamente. —Ele balançou a cabeça negativamente e ela pegou a garrafa do vinho, tomando um gole.
—Você é louca.
—E eu achando que era uma pessoa legal. —Ele sorriu novamente.
           Charlotte dormira embalada pelas canções de Alfred.

           A menina acordou antes do sol nascer, estava dolorida por ter dormido de mal jeito, havia dormido sobre a pedra e milagrosamente não caíra de lá, Alfred ainda estava dormindo, porém fora inteligente o suficiente para sair da pedra e dormir no chão, e a fogueira já apagara, aparentemente a algum tempo. Char se ergueu e foi até a borda do riacho, encheu as mãos de água e despejou no rosto, estava namorando a hipótese de pular na água fresca, porém suas roupas ficariam irritantemente pesadas e não poderia tirá-las sem correr o risco de Alfred acordar e vê-la somente com roupas íntimas.
           Charlotte retirou as botas e enrolou as pernas da calça o máximo possível, depois sentou na beira da água e mergulhou seus pés no riacho, ainda molhando levemente parte da calça, porém ignorou o fato. Alfred acordara quase uma hora depois dela e a encarou de sobrancelha erguida quando a viu ali.
—Estava pensando na probabilidade de um momento sozinha para um banho. —Comentou ela e o viu sorrir, enquanto sentava.
—É uma ótima ideia. —Concordou. —Porém vou ter que esperar no meio da Floresta, não tem pedras grandes o suficiente para fazer uma divisória.
—Tudo bem. —Sorriu. —Me dê quinze minutos, por favor. —Ele assentiu e se alongou como um gato faria, o que a fez sorrir.
—Que? —Ele a encarou.
—Nada.
          Alfred bufou e se retirou, indo para o meio das árvores, ela olhou em volta e retirou a blusa, logo a calça teve o mesmo destino e suas peças íntimas. Char entrou na água e suspirou, geralmente seus banhos, quando conseguia algo mais decente, eram com menos água e muito frias, aquela por outro lado era refrescante de modo reconfortante.
           Charlotte cumprira sua parte, em quinze minutos já estava vestida e entrando na Floresta a procura de Alfred, para que ele próprio tivesse um momento para o banho. Ela o encontrou a cinco minutos da cachoeira, sentado com a costa apoiada em uma árvore, assim que a viu se colocou de pé e foi tomar seu banho, Char sentou no lugar onde ele estava, a capa vermelha repousava em seu colo.
            Alfred demorou alguns minutos a menos que ela, mas parecia bem mais disposto depois do banho, ele lhe jogou uma maçã e pegou uma pra sí mesmo, enquanto faziam o caminho de volta ao acampamento.
           Os dois conversavam e riam enquanto caminhavam. Estavam a beira do acampamento quando Alfred passou a sua frente e se colocou diante de seu caminho, Char fez careta e o encarou, ele estava sério como ela ainda não vira.
—Alfred. —Resmungou.
—Acho que...
            E Charlotte viu o porque ele se colocara diante dela e porque estava tão sério.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
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Beijos e até o próximo capítulo.



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