Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 66
Capítulo Sessenta e Seis – A Feiticeira Exilada


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^
O primeiro livro está chegando na reta final e eu amei escrevê-lo. Chapeuzinho Vermelho foi uma história que eu realmente gostei de escrever e criar, porque apesar do nome ser de um conto de fadas tão conhecido por todos, eu tentei afastar o máximo possível do que todos conhecem e espero que tenha dado certo e que tenham gostado. (Falando assim até parece que irei parar de postar, né? JURO QUE NÃO!)
E apesar de o primeiro estar acabando, devo dizer que teremos o segundo, que é onde as coisas vão esquentar. Kkkkk
Em Lâminas de Vento, o segundo livro de Filhos do Império, iremos aprofundar na história da Lira, do Império Central, dos Reinos, das famílias Maddox e Dennai Valle (Família do Christopher e da Suzana). Vai ser um livro envolvendo mais jogos de sedução, traições, novas amizades e novas inimizades, descobertas... Será bem cheio de aventuras, devo dizer. E espero que em Lâminas de Vento eu consiga passar tudo o que essas personagens tão exigentes, Lira e Char, querem contar. Mas não se preocupem, ainda tem alguns capítulos pra acontecer de Chapeuzinho Vermelho.



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                Charlotte suspirou, o modo como estava sentado na grande cadeira de madeira, no salão a baixo da biblioteca, era majestoso de um modo que atraía os olhares, ao seu lado somente senhora Ornet, que parecia levemente entretida com algo que ninguém mais conseguia ver. Char suspirou outra vez, se sentindo realmente entediada pelo barulho das conversas, e apoiou o rosto na mão esquerda, onde o cotovelo repousava do braço da cadeira. O cabelo caia em uma cascata suave e emoldurava seu rosto delicado e belo, os olhos verdes eram dois lagos escuros e atentos, que atraiam os visitantes a mergulhar nele, sem se preocupar com os monstros que viviam nas profundezas e vendo só a transparências da superfície. Lira se perguntava como aquela garota mais jovem que ela podia ter tantas camadas e agir de acordo com o que cada situação pedia, ela sabia que crescera para ser a herdeira da coroa de Windstorm, mas Charlotte que fora criada em uma vila qualquer tinha tanta ou mais majestade e imponência que ela.

—Isso é inadmissível, precisamos saber a verdade!

—Temos que saber quem foram as vítimas!

—Precisamos descobrir o que foi contado!

—Temos que ampliar a segurança da nossa Vila!

—É necessário...

              Charlotte suspirou novamente e deixou as vozes nervosas e altas se tornarem mais baixas que sussurros, tornando possível que conseguisse escutar os próprios pensamentos. De todos os Anciãos do Vilarejo, somente ela estava presente e mesmo que senhora Ornet fosse uma Anciã, estivera longe dos assuntos da Vila por muito tempo, ela sabia que o veredicto final seria confirmado ou negado por ela e isso a preocupava. Charlotte sempre odiou responder por outros, suas decisões sempre eram a desrespeito somente dela e de sua vida e ainda assim não eram decisões que poderiam vir a custar vidas.

—Preciso que chamem Suzana Valle, a Feiticeira Exilada, aqui. –Charlotte disse alto, silenciando a todos os demais de uma única vez.

—Como? –Osíris foi aquele a ter coragem de questionar.

—Preciso que tragam-na até aqui. –Charlotte repetiu, encarando os olhos azuis frios do homem.

—Ela foi exilada, não pode comparecer a nossas reuniões!

—Ela nos traiu. –Charlotte foi clara, chocando a todos pela dureza. –Diga claramente, Osíris. Não tema falar o que é necessário somente por ela ser minha mãe.

           Lira viu o silêncio recair pesado no ambiente, todos com medo de quebra-lo. Charlotte parecia extremamente entediada, mas completamente certa de sua ordem, o que parecia deixar todos ansiosos.

           Charlotte sentiu a névoa invisível acalmando o lugar, a mão de Singrid abrandando os ânimos, inclusive tentando tranquilizar o seu, o que a fez sorrir.

—Não tente me acalmar, Singrid. –Charlotte ordenou, fazendo Singrid a olhar por um momento. –Até porque não a necessidade, estou bem. –Char sorriu de forma maldosa. –E se eu quisesse alguém para isso, chamaria Lira.

                Lira viu a raiva de Singrid brilhando em seus olhos, mas sem desviar de Charlotte.

—Sua mãe não é bem vinda aqui, Charlotte. –Ela disse, abandonando a fachada amigável que exibia desde que Lira a vira pela primeira vez.

—Eu também não acho que ela seja bem vinda. –Char foi clara, pegando a todos de surpresa mais uma vez. –Mas todos estamos com preocupações urgentes e claras, sendo que ela poderá nos ajudar com...

—Donde Suzana tá mitida nisso? –Kitty questionou. –Se temo procupação, donde ela pode ajuda?

—Suzana é filha de duques que vivem no Império Central. –Charlotte sempre fora alguém calculista, ela mesma sabia que esse era um de seus muitos defeitos. –Nós temos perguntas, mas eu sempre gosto de trabalhar com as respostas. Suzana será minha porta para chegar onde preciso, assim como a Princesa Lira será meu braço direito para obter meus desejos e manter a segurança do Vale Vermelho.

           Lira arqueou a sobrancelha, tentando não demonstrar sua preocupação e sentindo Connor e Emily protetores ao seu lado e prontos para defende-la caso houvesse necessidade. Entretanto estava aguardando para saber em que posição ficaria ao lado de Charlotte, a única real surpresa foi ser colocada como seu braço direito, ela imaginava que essa colocação fosse ser dada a Alfred.

—E como, exatamente, poderei ajudar, Charlotte? –Lira inquiriu.

—Em quanto tempo você tem que estar no Império Central, Lira? –Respondeu com outra pergunta.

          Lira franziu o cenho. Mas recordou que Charlotte lhe dissera antes de trazê-la para conhecer todos os Feiticeiros do Vale Vermelho: “Você pode me questionar o quanto quiser enquanto estivermos sozinhas, mas em frente aos demais Feiticeiros, recorde que eu sou uma Anciã. Então não me trate como alguém que não sabe o que está fazendo, fui clara?”. Todavia Lira não via como questionar Charlotte como se a garota não soubesse o que fazer, pelo contrário, Char parecia sempre ter o controle da situação.

—Pouco mais de três luas, mais que isso é impossível, pois antes da Quarta Lua guardas serão mandados para me procurar. –Lira olhou para Connor, mandando-o dar as informações precisas, nunca precisou de mais que um olhar para que os seus soubessem o que fazer.

—Mandamos a carta de que a Princesa de Windstorm estava a caminho no dia em que chegamos ao Convento. –Connor atualizou a todos. –Levamos cerca de duas Luas para cruzar o mar, de Windstorm ao Convento, o que nos dá uma Lua e alguns poucos dias para chegar ao Império Central.

—Se não chegarmos no tempo previsto, o Imperador mandará guardas para procurar qualquer vestígio da Princesa ou de sua comitiva. –Emily concluiu o que Connor dissera. –Caso algo ocorra com a Princesa, o Império fica com sérios problemas.

—Porque Windstorm é o provedor de armas e alguns mantimentos para todos os demais territórios, estou certa? –Char indagou, estudara sobre Windstorm o suficiente para saber daquele ponto, não mais que isso.

—Exatamente.

          A cada dia que Lira passava com Charlotte, mais perigosa e inteligente via que a menina era. Ela admitia que Charlotte seria uma Harpia excepcional. E que trabalhar com alguém como ela seria realmente divertido e perigoso.

—Assim como Olheiros do Império serão mandados para vários pontos do nosso território, nós mandaremos um time para as cidades, vilas e vilarejos mais próximos. –Charlotte decretou.

—Não temos tanta gente aqui! –Singrid pareceu chocada. –Se mandarmos todos, nós ficaremos sem proteção.

             O comentário fez Char sorrir e recordar de alguns estudos que fizera com Richard.

—Quem disse que irei tirar nossa segurança? –Ela manteve o sorriso quase divertido, fazendo todos lhe darem toda atenção. –Temos muitas pessoas infiltradas por todos os lugares, não sejamos falsos hoje, por favor. –Pediu delicadamente, como uma monarca faria ao querer irritar seus conselheiros. –Iremos alertar a todos, para que eles saibam o que esperar e como.

            Lira compreendeu o raciocínio. Alertar os infiltrados era a decisão mais inteligente. Antes que os Olheiros do Imperador estivessem a postos, os Feiticeiros saberiam e teriam a possibilidade de saber como lhe dar com a situação e eliminar os riscos assim que surgissem.

—Você está sugerindo que tiremos todos de seus postos? –Osíris estava chocado.

—A não ser que você queira ir pra linha de frente. –Rebateu a menina. –E você mesmo eliminar cada Olheiro que a Família Imperial possa mandar. –A dureza dela estava no olhar.

—Charlotte tem um plano excepcional. –Amélia interviu finalmente, parecendo finalmente parar de ouvir os mortos e começar a dar atenção a conversa dos vivos. –Acreditem quando eu digo, ela não é uma criança qualquer. Charlotte Brand é a Anciã que provavelmente vai alcançar os feitos ou se sobressair a Magera.

        A comoção foi a níveis inesperados, várias vozes falando ao mesmo tempo, os sussurros surpresos e olhares curiosos recaindo sobre a menina. Charlotte olhou para Amélia, dando uma leve acenada com a cabeça e um sorriso.

—Seus Fantasmas contaram? –Ela questionou em um sussurro.

—Eles sabem mais do que qualquer um. –Amélia respondeu sorrindo. –Afinal já viram milhares de Feiticeiros e Imperadores em lutas, não é mesmo?

          Char sorriu e voltou a encarar a Elite, que permanecia em conversas paralelas quanto ao comentários de Amélia. Charlotte era obrigada a dizer que ela própria se chocou. Se sobressair a Magera era o sonho de qualquer Ancião inteligente o suficiente para saber o que o poder significa.

—Mas por que Suzana tem que vir até aqui? –Osíris fez todos se calarem e aguardarem pela resposta de Char, que foi imediata.

—Suzana será minha chave de entrada no Império Central. –Charlotte foi clara, pegando a todos de surpresa, mesmo Amélia pareceu curiosa com o anúncio.

—Uma Anciã no Centro do Império? –Singrid estava pasma. –Isso é suicido!

—Só se eu deixar que me peguem. –Ela foi clara. –Sou inteligente o suficiente para não ser pega, Singrid. E de qualquer modo serei eu, não você, creio que não aja com o que se preocupar. –Char sorriu. –Até porque estarei com a Princesa de Windstorm, sou neta da Duquesa Dennai e do Duque Valle. –Ela moveu a mão com descaso. –Isso me abrirá portas dentro da Corte e me oferecerá o que preciso, só necessito saber movimentar as peças corretas nesse jogo. O nome eu tenho, o resto não será tão problemático.

—Isso não é um jogo! –Alguém disse em desespero.

—Dependendo do ponto de vista, é sim. –Char revidou.

—Como? –Singrid quis saber, mas a raiva da mulher era visível a qualquer um.

—Para o Império Central, os Feiticeiros, Lobos e seres chamados místicos, não passam de peças descartáveis e indesejáveis desde que o primeiro Ancião foi conhecido. –Os lagos verdes nos olhos dela deram espaço para duas fogueiras incandescentes. –Então eu os destruirei de dentro para fora. –Ela foi clara. –Farei que o Imperador e os seus sintam a dor que nós sentimos constantemente, farei que ele se afogue no próprio sangue e dos seus.

—E sua vida? –Osíris quis saber e ela sorriu de canto.

—Estou disposta a colocá-la em jogo se isso me fizer ver a família Imperial inteira ser derrotada.

—Eles vivem cercados por Monges.

—Estou ciente disso.

          Todos estavam em conflito com as palavras que a Anciã mais jovem havia proferido, eram sentenças perigosas e que poderiam levar a ruína, contudo ela não parecia minimamente abalada, pelo contrário, ela estava firme como uma rocha.

—Tuli, Traga Suzana, a Feiticeira Exilada, até nós. –Osíris ordenou.

—Ela não precisa saber o motivo de estar sendo convocada. –Charlotte informou. –Diga somente que é a pedido meu.

          Tuli, o rapaz de linda pele negra e olhos castanhos se ergueu, saindo da sala sem dar uma única palavra.

—Você realmente está disposta a isso? –Osíris quis saber e ela sorriu.

—Não a motivos para não estar disposta a isso, Osíris. –Ela foi clara. –Eu sou uma Anciã e sei de meus deveres para proteger o meu povo. Os demais Anciãos já estão velhos e não são mais aptos a enfrentar batalhas como a que dará início, então irei tomar a responsabilidade que me cabe. –Ela esclareceu sem nenhuma dúvida a mostra. –E você, como o líder da Elite, irá tomar a sua e começar a me ouvir como lhe é dever. –Osíris engoliu a seco, porque sentia a garganta fechar de acordo com o desejo de Charlotte, como uma mão invisível lhe estrangulando. –Você não gosta de mim e eu não preciso que goste, contudo é necessário que saibamos trabalhar em conjunto para manter o Vale Vermelho e seus residentes em segurança, fui clara?

       Osíris quis falar, mas a mão invisível em sua garganta tornava impossível, o fazendo ser obrigado a assentir e em seguida sentiu o ar lhe preencher novamente. Ele levou a mão ao pescoço e massageou o local.

—Iremos trabalhar em conjunto, Anciã Brand. –Ele disse com a voz rouca.

          Char sorriu. Ela não gostava de ser a vilã, mas não havia mais espaço para ser a criatura gentil que todos conheceram e que nunca foi a Charlotte real, contudo ela também não era a vilã, entretanto estava na hora de dar liberdade a Anciã quase atroz que precisava nascer para executar com precisão tudo o que estava planejado para manter os Feiticeiros vivos.

Faça seu trabalho. –Kiara alertou calmamente. –Você é mais poderosa do que todos eles, no final é você quem manterá a todos respirando, por mais que isso seja difícil de fazer. A vida de um Ancião nunca é fácil e a sua será menos ainda, Charlotte. O que você vê, ouve e sabe é mais do que mesmo a maioria dos Anciãos é capaz de suportar. Sinto muito que meu sangue seja o veneno que lhe corrompe e lhe obriga a enfrentar o que está prestes a fazer. –Charlotte conseguiu ver a ruiva com perfeição em sua frente. –Todavia é hora de deixar a criança que fostes ir e abrir a porta para a mulher majestosa que todos precisam que seja. Fui clara?

            Charlotte não precisava responder. Ela sabia qual era seu dever e o que isso a custaria. Ela sabia que isso lhe custaria tudo o que era.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Imagino que estejam se perguntando o que são as Harpias, correto? Bem, as Harpias são um pequeno esquadrão de espiãs e assassinas, entretanto será esclarecido em Lâminas de Vento.
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



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