Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 64
Capítulo Sessenta e Quatro –Temores e Única Ordem


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o capítulo.

Espero que vocês gostem.

E aqui eu deixo minha despedida. Vou, mas volto dia 24 de julho.

Divirtam-se!



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                Charlotte sentou ao lado de Alfred, encarando um espaço vazio a frente, tudo menos os olhos do rapaz, precisava organizar as ideias antes de expor qualquer pensamento. Era difícil não conseguir se expressar com facilidade, Charlotte sempre odiara não conseguir dominar sua mente, achava até idiota o fato de não ser dona do próprio raciocínio, contudo vinha tendo dificuldades nos últimos tempos, dificuldade em seu entendimento do que passava em sua  própria cabeça, por tanto tornava a concentração mais complicada e deixava seus sentimentos mais livres e consequentemente mais selvagens.

—O que está atormentando sua mente, Char? –Ele questionou de modo delicado, vendo a dificuldade que ela estava em se expor.

—Eu não sei ao todo. –Ela foi franca. –Mas muitas mudanças repentinas, minha mente está cheia de imagens que eu não reconheço, cheia de nomes e rostos que nunca vi... –Ela respirou fundo. –Eu não sei mais o que eu tô sentindo, Alfred, a verdade é essa, a única coisa que eu ainda sei, é que eu tenho sentido medo dessas mudanças e do que vejo.

          Alfred segurou a mão delicada da menina entre as suas, a fazendo suspirar, mas não encará-lo, ela parecia querer esconder o que estivesse em sua mente.

—Qual a mudança que você mais teme? –Alfred foi tão gentil que fez Char o encarar.

                Charlotte suspirou e tocou levemente o rosto dele com a mão livre.

—Temo me perder, Al. –Ela foi honesta em cada movimento e respiração. –Temo perder minha própria essência ao entrar nesse mundo que me aguarda e me tornar o que preciso pra salvar os Feiticeiros. É isso que mais temo, me perder. –Alfred ponderou, enquanto ela baixava a mão.

—Não sei se é de grande ajuda, mas você pode me falar qualquer coisa, sabe disso não é mesmo? Você não está sozinha, Charlotte. –Ela deu um sorriso triste. –E se você se perder, eu ajudarei a reencontrar a verdadeira Charlotte.

             Char realmente estava preocupada em se perder, em se quebrar ao permitir que a ira da mulher de olhos cor de gelo a dominasse, ao deixar que toda a fúria que vinha crescendo dentro de si mesma a dominasse e ela machucasse alguém que amava, porque sabia que iria machucar pessoas para salvar os seus, só se assustava com quem seriam essas pessoas e o quão fundo teria que entrar na sordidez de sua mente para se juntar a toda a sujeira e imoralidade daqueles que precisava derrubar.

            Charlotte sempre guardara essa parte mais obscena de si mesma, sabia que determinadas perversidades deveriam ser contidas, contudo ao aceitar o dever que lhe foi proposto, ao descobrir quem era e de onde vinha, ela sabia que teria que abrir mão de parte desse controle e deixar sair o que sempre escondera, deixar a mostra a verdade mais cruel e sórdida de sua mente, deixar a Anciã selvagem e atroz sair para o banho de sangue que ela sabia que se seguiria no momento em que abandonasse a familiaridade em que se adaptou dentro do Vale Vermelho ou do Vilarejo dos Anciãos.

—Eu conto com isso, Lobinho. –Ela encarou Alfred. –Eu realmente espero que no momento necessário, você me pare, independente de como terá que fazer.

           Alfred sentiu o frio gélido da autorização de matá-la subir por sua coluna, a boca ganhando um gosto amargo e corrosivo. Isso o fez respirar fundo.

—Char...

—Alfred, eu preciso dar uma única ordem a você. –Ela disse diretamente, os olhos verdes fixos nos dele, o que fez Alfred não querer escutar.

—Charlotte...

—Alfred. –Ela o cortou e ele cerrou os dentes.

—Eu não posso deixar você me dar uma ordem que eu sei que pode machucar você. –Ele informou seriamente. –Você entende isso, não é?

           Char sorriu e ergueu novamente a mão e acariciou a bochecha do rapaz.

—Isso não vai me machucar, mas libertará você.

—Como? –Ele ficou confuso.

—Minha ordem é simples, Alfred. –Ela o encarava abertamente, despida de qualquer máscara que sempre usava para esconder seus desejos. –Eu preciso que você nunca ouça minhas ordens, eu preciso que você sempre pense por si mesmo, não pelo impulso de obedecer, eu preciso de você sendo você, não um Cavaleiro cego que me segue sem questionamento. –Alfred se surpreendeu com a ordem. –Eu quero você sendo simplesmente você, Alfred. Minha única e exclusiva ordem é que você não me siga por dever e nem faça o que não desejar. Minha ordem é que você nunca ouça minhas ordens.

        Alfred permaneceu em silêncio, soltando uma das mãos e colocando sobre a dela, que ainda estava em seu rosto. Charlotte sempre daria um jeito de surpreende-lo. Ele sabia que todo Cavaleiro era obrigado a obedecer fielmente as ordens de seu Ancião, o que significava que Charlotte o libertara, lhe dera a escolha de permanecer ao seu lado ou simplesmente ir embora e nunca precisar se prender a ninguém.

—Tenta dormir um pouco. –Ele pediu gentilmente, se deitando na cama e a chamando para junto dele, mas sem deixar de encara-la. –Você precisa descansar, a partir de amanhã as coisas, infelizmente, irão ser diferentes e mais perigosas.

           Charlotte deitou silenciosamente, usando o peito do rapaz como apoio, ouvindo o ritmado e constante batimento cardíaco dele.

—Quando eu acordar você ainda estará aqui? –Era mais um pedido que uma pergunta, ela quis saber erguendo a cabeça para encara-lo.

          Alfred se inclinou e a beijou, foi um beijo diferente dos beijos que experimentaram antes, tinha uma doçura com um traço tão puro de dor que fez Char sentir o fogo por dentro de suas veias.

—Eu tentarei estar aqui.

          Char se aproximou o máximo que pôde e se aconchegou ao peito do rapaz.

         No dia seguinte seria Lua Cheia e isso a deixava preocupada e assustada, não somente por temer os Lobos, mas porque Alfred poderia se machucar.

         Alfred precisava se afastar do Vale Vermelho, fiaria na Floresta, o mais próximo de Charlotte necessário, contudo o mais distante do Vale possível. Nenhum Lobo permanecia dentro do Vale antes da Lua Cheia, ganhavam distancia para a proteção de todos os moradores, era por isso que os Anciãos viviam com os seu Cavaleiros em um lugar tão distante do Vale Vermelho.

—Alfred? –Char chamou após um tempo, quase em um sussurro.

—Sim? –Ele respondeu com a voz sonolenta.

—Tente voltar inteiro, sim? –Alfred ficou em silêncio por alguns segundos, antes de relaxar e acariciar o braço da menina.

—Claro.

            Char demorou a pegar no sono, qualquer mínimo barulho a deixava alerta, principalmente os movimentos de Alfred. Quando o sono a estava arrastando para mais longe, ela sentiu como se a mulher de olhos cor de gelo a chamasse e isso a fez despertar de uma única vez, vendo Alfred se aproximando da saída.

       Alfred se virou para encara-la, ela olhava fixamente sua costa, parecendo surpresa com alguma coisa além do que ele conseguia ver, os olhos verdes focaram no rosto do rapaz, ainda perdidos em algo. Eles se encararam por um momento.

—Eu esperava que você fosse se despedir. –Ela admitiu e ele deu um sorrisinho.

—É só mais uma Lua Cheia, Char. –Prometeu.

        Charlotte fez careta, era difícil permitir que um, ironicamente, de seus melhores amigos, saísse assim, mesmo que fosse um Lobo.

—Desde o aviso que recebemos de Lira, eu não sei mais quando será somente mais uma ou a última Lua Cheia, Alfred. –Admitiu, o fazendo sorrir, se aproximar e sentar na cama.

        Char sentou de frente pra ele, fazendo Alfred notar o cabelo bagunçado e o rosto ainda sonolento cheio de preocupação. Ele tocou o rosto dela, como ela fizera com ele antes.

—Eu voltarei. –Foi firme. –Você ainda me deve muito pra querer se livrar agora, Chapeuzinho. –Alfred viu um sorriso real surgir nos lábios dela e beijou a testa da menina. –Preciso ir, só me afastarei o necessário da Vila, a noite não vai demorar a chegar e logo eu estarei uivando por ai.

          Charlotte sabia que era uma brincadeira e isso a fez rir baixinho. Mesmo temendo os Lobos, se permitia divertir com as piadas idiotas de Alfred e Mark sobre o assunto.

—Toma cuidado e tenta não devorar ninguém, entendido?

—Vou tentar. –Ele sorriu e virou a cabeça de lado, fazendo careta.

          Alfred ouviu o resmungar do lado de fora da casa e virou para encarar a menina novamente.

—Tenho que ir, Christopher parece um tanto impaciente. –Confidenciou.

          Charlotte assentiu.

—A propósito, sabe por que ele não foi com a Matilha?

          Alfred pensara sobre isso na noite anterior, quando o viu entrar na casa de Dália.

—Acho que ele tem medo que Kyle tente algo contra as pessoas que estão aqui, não as que estão fora.

—Você acha que Christopher pensa que Kyle poderia me machucar, não qualquer outra pessoa. –Ela disse e ele sorriu.

—Nos falamos amanhã, Char. –Ele beijou sua testa novamente e se ergueu da cama.

—Até mais.

       Charlotte se deitou novamente na cama e o viu sair do quarto. Ainda devia ser início de madrugada e ela notou a janela do quarto fechada, Alfred deveria ter trancado quando se levantou para ir embora. Char suspirou e fechou os olhos, precisava dormir para estar pronta para a noite seguinte.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Char e Alfred seriam um casal da porra se decidissem o que querem de suas vidas, mas...

Meu povo, povo meu. Como eu já falei várias vezes, irei me ausentar, mas vocês podem deixar os comentários que assim que eu retornar, irei ler a cada um. Então deixem a opinião de vocês.

Beijos e até o próximo capítulo.



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