Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 59
Capítulo Cinquenta e Nove – Mudança Súbita


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei a voltar, mas avise no último capítulo. Pra ser franca eu nem deveria estar postado ainda, estou em período de prova, contudo não resisti e vim deixar esse capítulo pra vocês.
Espero que gostem.



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                Lira encarou o lugar monocromático. Era entediante encarar o Vale Vermelho, o qual sua imaginação sempre lhe mostrara outra coisa, principalmente por conta do nome, não um lugar totalmente de pedras e tão sem cor.

                Charlotte notou a expressão de desilusão de Lira, o que a fez sorrir um pouco. Devia imaginar que a menina se desapontaria quando visse que o Vale Vermelho não passava de uma grande Vila de pedra.

—Certa vez, me disseram que essa monotonia serve para manter os moradores seguros. –Char comentou, encarando o lugar com desgosto. –Passei tanto tempo aqui e continuo completamente entediada ao olhar para tanto cinza. –Lira a encarou, vendo o descontentamento na expressão da outra, enquanto os olhos de esmeralda continuavam a focar o Vale Vermelho. –Isso me fez passar a desgostar bastante da cor, pra ser franca.

                Lira nos poucos dias que passara com Charlotte, dentro da Floresta ou mesmo nas Masmorras, se adaptara a seu humor, na maior parte do tempo divertido e na outra ácido e ameaçador. Era bem diferente de Ronald, que era ameaçador mesmo quando tentava ser divertido, Char era muito singular e própria.

—Realmente, é bem...

               Charlotte virou o rosto, encarando Lira que não conseguiu achar a palavra certa para completar sua frase e sorriu por fim, os olhos verdes brilhando com uma leve diversão.

—Irritante? Chato? Monótono? –Lira sorriu, assentindo e Char sorriu também.

—As pedras evitam que os Lobos invadam as casas e devorem a todos os moradores. –Alfred comentou, ainda irritado por ter deixado Stephan e Mark pra trás.

                Char estalou a língua e o rapaz a encarou.

—Mark está bem. –Char assegurou. –Lira e eu temos um acordo.

                Dilan encarou o rapaz ao lado de Charlotte. Recordando que Char, Alfred e Mark tiveram uma baixa discussão antes de deixarem as Masmorras, resultando em Mark dando um tapa no ombro do rapaz e um sorriso para Charlotte. Dilan não ouvira nada que foi dito, mas imaginou que Alfred não ficara nada contente em deixar os amigos em meio a quem ele considerava perigoso.

                Char trouxera somente Lira, Dilan, Connor e Emily, uma garota de no máximo 1,66 metros de altura, de pele bronzeada de sol e grandes olhos castanhos e observadores, de longo cabelo negro e ondulado, que por algum motivo despertara seu interesse, embora pequena e aparentemente inofensiva, trazia um olhar firme e postura perigosa. Sem contar que era da Elite.

—Ninguém fará nada contra seu amigo. –Lira falou tranquilamente.

                Alfred a encarou sem o menor interesse e rolou os olhos, o que fez Char rir.

—Vamos. –Chamou a menina, passando a frente, ainda sorrindo levemente.

                Obviamente Alfred considerava Lira e a Brigada Ventus Ferrum perigosos, contudo não se preocupava com isso enquanto a própria Princesa Herdeira estivesse sob os olhos de Charlotte e ao alcance de suas mãos.

                 Charlotte ainda não compreendia o que fez Alfred ficar tão irritado com a Princesa Herdeira, no fim, ao ver de Char, ela era só mais uma garota, que era diferenciada somente por sua família e criação, fora isso era só uma Feiticeira como as outras.

                 Alfred caminhava ao lado de Charlotte, embora tivesse que admitir que seu humor não estava entre os melhores, não em companhia daquele grupo, havia algo que o incomodava profundamente, não saberia dizer se era simplesmente porque eles eram da corte, mas havia algo errado com eles.

                Charlotte ergueu os olhos para Alfred, que a encarou de volta, ela estava calma e quase divertida, o que o fez bufar e rolar os olhos, enquanto ela batia com seu ombro contra o rapaz.

—Você me irrita. –Ele declarou, começando a se afastar.

—O que eu fiz? –Ela perguntou aos risos, mas não surpresa. –Alfred!

                Charlotte gargalhou ao ver que o rapaz a ignorara completamente e seguir para a padaria do local.

—Ele é sempre assim? –Dilan quis saber levemente curioso e Char riu.

—Somente comigo. –Disse olhando para o rapaz, que sorriu.

—Bem, você tem um bom pretendente. –Lira comentou.

—Quê? –Charlotte a encarou de boca aberta e por fim gargalhou. –Não! Não! Não é nada disso!

                Lira riu.

—Alguém ficou sem graça. –Dilan provocou.

                Charlotte devia dizer que gostava de Dilan, simples e puramente.

—Pelos mil demônios! –Char riu. –Alfred e eu somos muito próximos de fato, mas não, não é assim.

—Não?

—Não. –Fez careta.

                Charlotte sentiu as bochechas corarem por um momento, odiava pensar no que ela e Alfred eram ou poderiam chegar a ser, porque nunca chegava a conclusão alguma e odiava não ter certeza das coisas. Eles tentavam, mas não conseguiam definir nada, além de amizade, até aquele momento.

—Charlotte. –Christopher cumprimentou, surgindo diante do grupo e ganhou um sorriso da menina, que estava agradecida por poder fugir do assunto.

                Char já desconfiava que o homem estivesse no Vale Vermelho, pois ele não permanecia muito tempo no Vilarejo, Christopher não conseguia se manter parado ou longe da Matilha, muito menos se Charlotte não estivesse no Vilarejo. E já que a última vez que se viram foi antes da menina abandonar o Vilarejo na companhia de Mark, não houve surpresa alguma.

—Olá. –Christopher notou a tranquilidade da menina. –Como estão as coisas por aqui?

—Melhor do que parecem. –Garantiu e depois coçou a barba. –Mas você tem muito a fazer. –Admitiu e encarou o grupo que estava com ela, gesticulando com o queixo. –E esses são?

—Connor e Emily. –Ela indicou. –E Lira Galván e Dilan Maddox. –Informou.

—Maddox? –Christopher ficou um tanto pálido.

                Charlotte imaginava o quão surpreendente e assustador era pra ele ouvir esse nome após tanto tempo, já que fora algo que ele deixara, ou pelo menos tentava deixar, no passado. Os Brand nasceram das cinza dos Maddox, Charlotte demorara a descobrir, mas agora sabia disso.

—Esse é Christopher Maddox. –Char apresentou, fazendo questão de deixar claro quem era o homem.

—É um prazer conhece-lo, senhor. –Lira fez uma pequena reverência, realmente contente em conhece-lo, já ouvira muito sobre o homem e suas aventuras na corte.

—O prazer é meu. –Christopher sorriu por fim, ainda um pouco nervoso.

                Dilan não sabia bem o que dizer, já ouvira tantas histórias sobre Christopher Maddox, que parecia ter crescido com o próprio, mas agora era diferente, ele estava cara a cara com o melhor amigo do pai.

—Meu pai fala muito do senhor. –Dilan comentou.

—Seu pai? –Christopher ficou curioso.

—Fausto. –Dilan esclareceu. –Fausto Maddox.

                Christopher não esperava conhecer o filho de Fausto, na realidade nem imaginava que ele tivera um filho, mas era bom saber que seu melhor amigo seguira bem a vida. O garoto tinha a postura de Fausto na juventude, mas não a aparência.

                Charlotte viu o rosto de seu pai se iluminar e ele sorrir, havia algo de jovial naquela expressão, algo que Charlotte nem tinha certeza se já vira, era bonito de uma forma diferente e selvagem, era livre das responsabilidades que ele era obrigado a carregar.

—Então Fausto tem um filho?

—Dois, na verdade. Tem uma garota. –Christopher riu sonoramente da notícia.

—É bom saber que aquele pivete cresceu. –Falou animadamente.

—Como assim? –Lira questionou, curiosa.

—Fausto era um moleque idiota e brigão, vivia arrumando confusão com todo mundo, na nossa época. –Rui da lembrança. –O maior encrenqueiro. Ele vivia sendo castigado pelo Mestre Brian, o Mestre de Armas do nosso tempo. –Riu de novo. –Fausto adorava entrar em brigas desnecessárias e fugir dos afazeres.

                Dilan percebeu que havia aquela mesma diversão, que estava na expressão do homem a sua frente, em Fausto, quando falava de Christopher.

—Ele diz algo semelhante ao seu respeito. –Dilan brincou.

—Como aquele desgraçado ousa? –Christopher aparentava alguns anos a menos, simplesmente por estar falando do passado. –Eu vivia salvando a bunda dele!

                Isso fez o grupo gargalhar.

—Realmente, os Maddox são a melhor parte da família. –Dilan decretou.

—Não tenha a menor dúvida sobre isso, garoto. –Christopher brincou.

—Ele me disse que vocês eram irmãos de arma e que depois de sua partida, nunca encontrou alguém para se equiparar a você e substituir.

                Os olhos verdes do homem brilharam intensamente.

—Se ele me substituísse, eu voltaria só pra chutar a bunda dele. –Apesar do tom brincalhão, havia algo saudoso ali.

                Charlotte deu um leve sorriso, era curioso ver essa diversão em seu pai. Mas uma parte dela se ressentia, tanto por não conhecer esse seu lado, quanto por saber que Christopher abrira mão de tanta coisa que ele parecia gostar e sentir falta. Char sempre achara, quando mais jovem, que havia uma parte quebrada em seu pai, mas não sabia dizer o que era, contudo a cada novo dia que passava, percebia que era de sua vida na corte e das pessoas que fora obrigado a deixar e isso lhe partia o coração.

—Precisamos ir agora. –Avisou, atraindo atenção de todos. –Mas seria divertido ouvir um pouco mais do seu passado. –Ela sorriu, educadamente.

                Christopher ficou sério, notando que a filha realmente não sabia nada sobre ele e o olhar que ela trazia, algo que ele não sabia explicar direito, mas chegava a lhe passar a sensação que a menina se sentia preocupada e ao mesmo tempo traída. Ele não gostava de deixar Charlotte com aqueles sentimentos, já a traíra antes e não falharia com sua filha outra vez.

—Claro. –Ele tocou seu ombro de leve. –Precisamos conversar, a propósito.

—Arrumarei um tempo. –Prometeu, enquanto ele tirava a mão de seu ombro e passava no próprio cabelo, que estava bem maior.

                Christopher suspirou, mas sorriu por fim. Odiava ter que contar com a sorte para poder falar com a filha, já que as promessas de Charlotte, normalmente eram para um futuro distante ou para quando ela não tinha escapatória.

—Contarei com isso.

                Lira notou haver um distanciamento enorme entre eles, mesmo que quisessem ser mais próximos, parecia ter uma barreira, principalmente do lado de Charlotte.

—Foi um prazer conhece-los. –Christopher sorriu para o grupo.

—Todo nosso. –Dilan sorriu de volta.

                Char tomou a dianteira do grupo, em completo silêncio, enquanto os guiava para a casa de Alfred. Era estranho não saber nada do passado do próprio pai e mais estranho ainda e desconfortável, era um garoto, que tanto ela quanto Christopher acabaram de conhecer, parecer saber muito mais sobre ele.

                 Alfred aguardava a diante e a viu andando em frente ao grupo, completamente desatenta, mas todos a seguiam sem questionar e nem mesmo falar. Char parecia estar com os pensamentos bem longe e sua expressão estava um tanto abatida, havia algo que a desestabilizara no meio do percurso, no pequeno intervalo que estiveram separados.

                Lira viu, com surpresa, o rapaz surgir do nada de uma viela e parear seu andar ao de Charlotte, que não o notou de imediato.

—Eu te deixo sozinha um segundo e você parece ter arrumado encrenca?! –Ele comentou, batendo com o ombro nela, que piscou confusa e depois sorriu de canto, lentamente.

                Charlotte deu de ombros, antes de entrar na brincadeira e deixar os problemas pra depois.

—Você sabe, não consigo mais viver sem você. –Ela debochou.

—Idiota. –Ele rolou os olhos, a ignorando.

                Charlotte riu baixinho.

—Eu declaro meu amor e você me ofende? –Ela brincou, se colocando de frente pra ele, andando de costas. –Fiquei desapontada.

—Cala a boca, Charlotte. –Ele riu, lhe entregando um pãozinho recheado e colocando a mão na cintura da menina, para ajudá-la a desviar de um buraco, que provavelmente lhe causaria uma queda. –O dia que você ficar desapontada por algo tão insignificante, é o dia que choverá fogo.

                Lira notou que nenhum dos dois comentou sobre o fato de Alfred lhe tocar tão tranquila e intimamente e depois remover a mão, continuando o assunto como se nada tivesse ocorrido. Eles formavam um bom par, embora não parecessem notar isso.

—Você é tão amável. –Bufou, mas aceitou o suborno, dando de ombros. –Tem lá suas vantagens não entregar o coração pra qualquer coisa que aparece por ai.

—Imbecil. –Ele disse rindo e a virando pra frente, para que caminhasse direito. –Anda direito!

                Char riu e deu de ombros, mas o escutou.

—Sim senhor.

—Servidos? –Questionou educadamente, oferecendo o saco de papel ao restante do grupo.

—O melhor pão recheado do Vale Vermelho! –Char informou, sorrindo. –Seria burrice recusa-los.

                Dilan percebeu a mudança súbita de humor na menina, enquanto todos pegavam seus pãezinhos. Charlotte ficara desconfortável enquanto o pai falava do passado, mas Alfred revertera a situação somente falando e lhe dando comida, a menina o lembrava um pouco a própria Lira e essa constatação o fez sorrir.

                Alfred parou a porta da própria casa e suspirou, os olhos focados no rosto de Charlotte.

—Sra. Ornet está esperando. –Anunciou. –Eu não passarei daqui, isso é assunto de Ancião e eu não sou estúpido de me meter.

                Charlotte suspirou e olhou pra porta.

—Entendo.

                Alfred suspirou.

—Primeiro resolve o problema da Princesa. –Ele disse.

—Sim. –Ela concordou.

—Estarei na casa da Dália e da Samantha. –Ele avisou. –Iremos esperar vocês, para podermos comer.

                Char assentiu, mas os olhos fixos na porta.

                Lira notou o olhar de Alfred em Charlotte, que estava extremamente concentrada na entrada da casa.

—Você já percebeu que a cada nova porta que eu tenho de atravessar, é uma mentira que eu descubro? –Ela arqueou a sobrancelha.

—Eu penso de outra forma. –Ele disse, chamando finalmente atenção dela. Os olhos de Char estavam mais escuros, contudo finalmente no rosto do rapaz. –A cada nova porta que você atravessa, é um pouco do mundo que você conhece, o único problema é que você é azarada e está no olho do furacão em grande parte do tempo. –Ela sorriu por fim. –Mas você, melhor que ninguém, sabe lhe dar com as tempestades, Chapeuzinho.

                Charlotte agradeceu silenciosamente.

—Bela tentativa de aliviar as coisas. –Disse por fim.

—Sou um homem que pensa positivo. –Lhe deu uma piscadela e ela sorriu.

—Vai, tenho coisas mais importantes a fazer.

                Alfred bagunçou o cabelo da menina, que ameaçou de lhe bater, o fazendo pular pra longe e rir, a vendo rolar os olhos enquanto passava a mão nas madeixas castanhas e as jogava para trás, reorganizando os fios.

—Errou. –Brincou ele.

—Imbecil.

                Alfred sorriu e a viu colocar a mão na maçaneta da porta.

—Não destrua minha casa, Charlotte! –Ele mandou. –Se algo quebrar, vou te fazer pagar.

                Char sorriu e assentiu.

—Farei meu melhor.

                Charlotte não tinha a menor vontade de fazer parte daquela reunião, mas ainda assim tinha muito a falar com Amélia Ornet, contudo Alfred estava certo, naquele momento deveria ser tratado apenas o assunto que levara Lira a viajar até ali, suas curiosidades seriam guardadas para mais tarde.

                 Charlotte respirou fundo e empurrou a porta, era hora de agir como uma Anciã.


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Notas finais do capítulo

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