Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 55
Capítulo Cinquenta e Cinco - Verdades Dolorosas


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito pela demora.



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                Mark viu Char se espreguiçar e sentar no saco de dormir, todos já estavam dormindo naquele momento, contudo, assim como o Ruivo, Charlotte parecia presa demais em seus pensamentos para conseguir ser dominada pelo sono.

              Mark a observou por longos minutos, a vendo encarar o céu, mas parecendo não ver muita coisa além do que estava dentro de sua mente. Ela estava com o humor anuviado desde o momento que ele e Alfred retornaram, após a conversa que Char tivera com os amigos.

—Char? –Ele chamou baixinho, mas ela não pareceu escuta-lo.

               Mark retirou um punhado de grama e jogou na menina, fazendo Charlotte se a assustar, olhando para os lados de forma atenta e fazendo o fogo da fogueira crescer alguns centímetros, por fim encarando o ruivo.

—Quer morrer? –Ela questionou, o fazendo sorrir, enquanto se acalmava e deixava as chamas baixarem.

—Vem. –Ele chamou, se colocando de pé e pegando uma lamparina a óleo.

              Charlotte viu o Ruivo acender a lamparina e começar a se distanciar, a menina suspirou, precisava caminhar e sabia que Mark estava agindo daquela forma por causa disso. Char se ergueu, puxou a capa vermelha e correu atrás do amigo.

              Caminharam em silêncio por alguns minutos, completamente focados na trajetória que seguiam, mesmo Charlotte não sabendo onde iria parar, e em seus pensamentos extremamente barulhentos.

—O que houve? –Mark questionou por fim, parando em frente a um rochedo, onde Char sentou ao seu lado.

—O que você quer dizer com isso? –Ela foi vaga.

—Vamos ver. –Ele fingiu pensar, encarando o perfil cansado da menina. –Você revelou o que é para seus irmãos, mas parece estar mais preocupada que antes.

              Charlotte ponderou por um momento e se perguntou o quão sua expressão devia estar revelando seus sentimentos. Ela sabia que seria estranho contar qualquer coisa de sua nova vida para os irmãos, mas era necessário, contudo a preocupação que eles demonstraram após saber da verdade, a enlouquecia, a aceitaram, porém ela sabia o quão difícil era, já que ela própria não compreendeu, por muito tempo, o que era.

—Me pergunto se eu os assustei. –Ela revelou, os olhos focados nas árvores.

             Mark tocou a mão da amiga, que o encarou, os olhos verdes estavam pensativos e preocupados.

—Eles são seus irmãos, Charlotte. –Decretou. –Obviamente vão compreender, só precisam de um pouco mais de tempo.

            Char sorriu levemente e voltou os olhos para as árvores.

—Talvez.

—Creio que meu irmão, se me conhecesse nos dias de hoje, e não fosse um Lobo, também teria problemas para compreender de imediato.

            Charlotte sentiu os olhos arderem, seus problemas pareciam querer tomar conta de uma vez, dominando seu autocontrole que foi sempre tão bem comedido, mas as emoções estavam se transformando em uma avalanche. Não era culpa de Harry e Fernanda, eles foram extremamente compreensíveis após ela mostrar e dizer o que era, mas foi o olhar de extrema preocupação de Harry, aquele olhar com medo de que ela se machucasse, que a deixou a beira do precipício.

           Charlotte baixou a cabeça e a segurou com as mãos, respirando fundo, precisava por suas emoções no devido lugar e não permitir ser tomada por elas.

           Mark a encarou, vendo a menina respirar muito rápido e fora do ritmo, havia algo errado. O vento parecia mais feroz que o comum ao redor deles também, fazendo as árvores rugirem furiosas, mas não ameaçadoras.

            Mark pressionou no centro, abaixo dos seios dela, e segurou sua costa.

—Respira fundo. –Mandou.

           Char encarou as árvores por um longo tempo, obedecendo a Mark, fazendo com que tudo retornasse ao lugar, o vento amenizou, transformando-se em uma leve brisa, que mal mexia as folhas das árvores. Embora seus sentimentos ainda fossem um caos completo, ela os domou, como sempre fizera.

           Mark retirou suas mãos e respirou fundo.

—Acho que preciso caminhar um pouco. –Anunciou após um momento. –Você pode ser meu guia?

           Mark assentiu, mesmo que ela não o olhasse.

—Se eu a deixasse agora, teria mais trabalho pra encontra-la mais tarde.

         Era verdade, Char não conhecia aquela Floresta como ele, ela não conseguiria caminha por muito tempo sem se perder.

 

 

         Alfred encarou o saco de dormir, o sol já estava a pino, mas nenhum dos dois estavam por perto. Ele respirou fundo e bebeu mais um gole d’água, sabendo o quão Charlotte e Mark poderiam ser um problema sozinhos.

—Será que algo...?

—Eles estão bem. –Alfred cortou o que Fernanda dizia.

—Eu só...

—Só está preocupada. –Ele deu um sorriso de lado e a encarou. –Charlotte e Mark sabem se cuidar melhor do que a gente, pode acreditar.

—Então onde diabos estão? –Harry parecia nervoso.

           Alfred pensou em quão difícil era para o rapaz pensar que após tanto tempo sem ver a irmã caçula, ela poderia ter desaparecido novamente, logo após seu reencontro.

—Char costuma sair pra andar. –Ele deu de ombros, relaxando. –Mark é basicamente o braço direito dela, então deve estar deixando que ela descubra o próprio caminho de volta.

           Harry respirou fundo e fechou os olhos, apoiando a cabeça no tronco da árvore e se questionando o quanto de culpa ele possuía no desaparecimento de Charlotte.

—Ela é mais forte do que você pensa, Harry. –Alfred informou, pegando o rapaz de surpresa e o fazendo abrir os olhos azuis.

—Como?

           Alfred deu mais um sorriso de canto.

—Você está preocupado, é normal, mas está se excedendo. –Ele soltou um riso anasalado. –De todas as pessoas que eu já conheci, não apenas Feiticeiros, Char é uma das criaturas mais fortes que já vi. Ela aguentou muita coisa para chegar onde está, não é só uma pessoa irritantemente inteligente, como uma Feiticeira excepcional, mesmo que ainda não tenha conseguido chegar ao seu máximo.

—Por que você está falando isso? –Foi Fernanda a querer saber e isso fez Alfred sorrir novamente.

—Porque vocês não sabem como se portar, acham que ainda precisam protege-la de tudo ao redor, mas não é bem assim. –Ele deu de ombros. –A verdade é que até pouco tempo, eu tinha essa mesma visão.

          O silêncio se fez presente por alguns minutos, dando chance para Alfred analisar meticulosamente Fernanda e Harry, vendo os dois medirem a importância de confiar em Charlotte.

—E o que mudou? –Harry perguntou. –O que fez para não se preocupar tanto?

          Alfred sorriu e brincou com uma folha, que havia pego no chão.

—Eu? Eu não fiz nada. –Ele declarou. –Ela fez. –A frase chocou aos dois, que o encararam sem compreender realmente. –Charlotte me mostrou do que é capaz. Tive somente alguns meses para descobrir o potencial dela, vocês tiveram anos, então sabem o quão forte e inteligente ela é. Charlotte é alguém indomável, mas também é capaz de alcançar qualquer objetivo, contando que queira. –Alfred se ergueu e espreguiçou lentamente. –Vocês a conhecem melhor que qualquer pessoa, então não sejam estúpidos ao ponto de não conseguirem confiar que ela é capaz de algo. Char superou a descoberta do que é, a descoberta de que o pai estava vivo e do motivo de seu afastamento... Charlotte superou todos os obstáculos que eu vi aparecerem em seu caminho, então, vocês que são algumas das pessoas mais importantes do mundo dela, não sejam aqueles que não conseguirão confiar nela.

         Alfred pensou, enquanto se afastava alguns metros do acampamento, que suas palavras poderiam ter soado duramente, contudo era o que Harry e Fernanda necessitavam para deixar de ver Charlotte somente como uma criança indefesa e que não conseguia cuidar de si própria, eles precisavam de alguém que a conhecesse como Feiticeira, algo que eles próprios ainda não conseguiam compreender, para lhes dizer as verdades dolorosas que não queriam aceitar.


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Notas finais do capítulo

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Beijos e até o próximo capítulo.



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