Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 50
Capítulo Cinquenta - Demônio Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei muito a voltar, contudo minhas provas acabaram hoje, então assim que cheguei em casa, corri para o computador e comecei a escrever.
Esse capítulo já vinha me assombrando a algum tempo, contudo não sei se o sentimento exato foi impresso nele, mas espero que sim.
Me desculpem a demora, mas voltei o/
Divirtam-se!



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           Charlote acordou com um excelente humor, o ar puro e frio pareceu clarear suas ideias, sem contar na noite de risos com Mark, algo que ela não tinha com frequência desde que deixara Ventanis.

          Char encarou Mark, que ainda dormia. A menina se ergueu e enrolou seu saco de dormir, quando por fim havia arrumado tudo seguiu para a cachoeira ali perto, não haviam ido longe do Vilarejo, já que Char alegara querer a cachoeira quando acordasse na manhã seguinte, mesmo que isso atrasasse sua viagem em algumas horas.

           Mark ainda dormia quando ela retornou, a menina suspirou e se agachou ao seu lado, por um segundo Char pensou em acorda-lo calmamente, mas no momento seguinte já estava com a mão em seu saco de dormir e Mark acordou.

—Sua filha da puta! –Ele xingou, se arrastando para fora do saco de dormir desesperadamente.

           Char riu e o encarou se erguer tendo como apoio a árvore ali ao lado e a olhar ferozmente.

—O que eu fiz? –Ela sorriu, se ponde de pé.

—Você quer morrer, caralho?  –Ele se apoiou na árvore, os olhos castanhos fitando a menina, que sorria tranquilamente.

—Boca tão suja.

          Mark respirou fundo.

—Espero que você saiba que terá volta. –Char abriu um sorriso enorme.

—Você não seria capaz. –Mas ela sabia que o rapaz seria capaz de muito mais.

—Você quase me assa, como alguém faria com um pão, dentro da porra do saco de dormir, sua...

—Olha a boca, Demônio Vermelho. –Mark interrompeu o que dizia e por fim riu.

—De novo com esse apelido?

—Combina com você.

          O ruivo bufou e se desencostou da árvore.

—Eu te odeio, espero que saiba disso.

—Eu sei. –Ela sorriu. –Agora arrume tuas coisas, vamos comer algo e continuar a andar.

          Mark rolou os olhos, mas fez o que ela pediu.

—Vou na cachoeira, preciso de um banho frio pra ver se a sensação de ser assado vivo vai embora.  –O comentário fez Charlotte rir. –Volto já. –Ele alertou, enquanto ela comia uma maçã.

—Aproveita e enche os cantis de água, sim?

—Tenho escolha? –Char o encarou sorrindo e vendo o deboche no rosto do outro.

—Não, nenhuma. –Ela sorriu mais abertamente. –A propósito, se você tentar fazer alguma coisa com a minha água, eu farei questão de transformar nossa viagem em um inferno.

—Mais? –Ele se fez de horrorizado, a fazendo rir. –E de qualquer modo, eu te deixo no meio do caminho. –Ele assegurou, pegando os cantis.

—Então será assim?  –Rolou os olhos verdes.  –Até parece que fala sério.

          Havia uma diversão inconfundível nos dois.

—Sabe o porquê de não ser? –Ele questionou por fim, enquanto ela engolia um pedaço da maçã.

—Porque você perderia toda a diversão que esses dias podem proporcionar, caso me abandonasse por ai?

          Mark estalou os dedos e apontou pra ela, dando uma piscadela.

—E esse é um dos motivos de eu gostar de você, Chapeuzinho.

—Eu sei.

 

          Mark pulou uma pedra em um pequeno córrego d’água, encarando Char estudar o melhor ângulo para sair dali com seu saco de viagem, a qual Alfred deixara bem escondido próximo a saída do Vilarejo.

—Joga o saco pra mim. –Ele pediu, sendo que a menina levava as coisas mais leves e ele estava com o saco de mantimentos, o qual deixara no chão.

          Charlote fez o que fora dito e pulou para perto do ruivo em seguida, o fazendo sorrir e simplesmente a empurrar para dentro do córrego, a qual não teve reação para se livrar da queda, então só protegeu a cabeça.

         A água esguichou para os lados e Mark explodiu na gargalhada. Charlote sentou por instinto dentro do córrego, fazendo a linha d’água ficar pouco a baixo de seus ombros e encarou o rapaz.

—Me aguarde. –Alertou.

—Você é uma Anciã e não sabe controlar a água? –Ele se divertia.

—Sabe quantos Feiticeiros que podem mexer facilmente com a água, existem? –Ela questionou, se levantando e balançando a cabeça.

—Não, não sei.

—Segundo os registros dos Velhotes, desde que eles começaram a registrar esse tipo de coisa, existiram apenas 8 com controle real. Os demais têm controle parcial, quando possuem.

—Você tem? –Ele ficou curioso.

—Só consigo ferver a água e deixa-la gelada, mas não movimenta-la como o Richard.

—Os Velhotes devem enlouquecer com isso.

—Richard até gosta. –Ela riu, pegando o saco de viagem de volta, sem se importar que estava molhada e o dia estava frio, o banho gelado e repentino no córrego pareceu clarear sua mente. –Ele diz que sempre tem chá quentinho.

          De todos os Anciãos, Richard era, provavelmente, o favorito da menina.

—E as Velhas?

—Elizabeth diz que tenho muito a aprender e preciso começar a me esforçar mais. –Ela sorriu. –Simone diz  “Você é um completo desastre, menina! Ou pensa muito ou faz tudo por instinto! Como eu vou ensinar alguma coisa pra alguém assim?” –Os dois gargalharam da imitação de Char.

—Ela realmente é dura, às vezes.  –Havia uma distância notória na forma que Mark falava de Simone.

—Como você os localizou? Os Anciãos, digo.

          Mark ficou em silêncio, antes de passar a mão na nuca e a encarar.

—É uma longa história, Lottie.

—Temos tempo. –Ela sorriu, o encarando.

         Mark bufou e passou a mão na nuca novamente, uma mania de quando estava ansioso ou desconfortável.

—Você quer a história completa ou só a parte para conseguir compreender como os achei?

         Charlote notou uma nota de seriedade que nunca ouvira na voz de Mark, ela o olhou e suspirou, vendo o quão perdido no tempo os olhos do rapaz pareciam estar.

—Nunca gostei de histórias pela metade. –Ela comentou com calma e ele deu um sorriso de canto.

—Minha história é um tanto... Complicada.

—E sendo você poderia ser o contrário?

         Char brincou, mas sabia que Mark precisaria de tempo para contar tudo, como ele havia dito, era sua história e algo sempre dissera a Charlotte que tinha uma perda muito grande no passado do rapaz.

—Eu acho que nunca contei isso pra você, na verdade, nunca falei disso com ninguém, só soube quem o conheceu. –Deu um sorriso dolorido, ela conhecia aquele sorriso. –Mas eu tinha um irmão mais velho.

—Mais velho?

          Char sentiu um aperto no estômago, pois isso a fez recordar de Katherine imediatamente.

—Apenas dois anos mais velho. –Ele suspirou e Char sentiu a dor do companheiro, pois a sentia com constância.

—Eu só não entendo como ele se encaixa na sua história com os Anciãos. –Ela fez careta e ele bagunçou o cabelo molhado da menina, a encarando com os olhos castanhos mais escuros que o normal.

—Ele é o motivo de eu conhece-los e de odiar a Simone.

          Charlote parou de andar e o olhou sem saber o que falar. Sabia que ele, tinha um péssimo relacionamento com Simone, dentre todos os Anciãos, provocava vez ou outra, mas nunca era honesto e mesmo educado, como era para Elizabeth, sem falar que nunca ficava sozinho com a mulher e sempre mantinha uma distância razoável. A única vez que Char os vira a sós, Mark parecia vermelho da cabeça aos pés, enquanto Simone estava furiosa, mas ambos disfarçaram assim que a menina entrou na sala.

—Tudo bem, vamos pelo início, então. –Ela concordou, enquanto voltavam a caminhar, mais lentamente que antes.

—Meu irmão, Felipe, era um Lobo. –Ele deu um riso sem humor. –Descobrimos isso de uma forma um tanto... peculiar.

—Peculiar? –Ela questionou após um momento de silêncio.

—Ele foi caçar com meu pai e acabaram não conseguindo voltar antes da Lua Cheia, nem ele sabia que era um, mas... Bem, ele dilacerou nosso pai na primeira transformação. –O peso das palavras afetaram Charlotte mais do que ela imaginara, mas se manteve quieta. –Meu irmão sumiu por alguns meses. –Ele sorriu de lado e a encarou. –Imagino que Harry tenha sentido o mesmo que eu senti, quando você sumiu e ele não sabia onde encontra-la. –Coçou a nuca. –Mas não tínhamos uma mãe para lamentar, essa era a vantagem, acho.

           Char sentiu um nó na garganta.

—Acho que sim. –Mordeu o lábio inferior.

—Eu o procurei muito, até que encontrei uma caravana em Mirelis, um pouco antes da Lua Cheia, eu tinha ido pra lá pra ficar seguro, mas foi onde ouvi o nome dele pela primeira vez desde seu desaparecimento. –Ele suspirou. –Eu esperei até ele aparecer... –Suspirou novamente. –Mas não aconteceu.

—Como assim?

—Ele havia ficado pra trás.

—Mas... –Ela ficou em silêncio, sua mente trabalhando rápido como habitual. –Ele vivia no Vilarejo.

—Como sempre você não me decepciona, Lottie. –Ele sorria, mas ela percebia não haver nada ali. –Ele era um Cavaleiro.

           Char assentiu, compreendendo.

—Era um Cavaleiro da Simone, não é mesmo?

         Os olhos castanhos do rapaz brilharam.

—Exatamente. –Char vira aquele brilho irritado apenas uma vez nos olhos dele, mas no dia em que vira, ele conseguira fazer desaparecer tão rápido que ela pensou estar imaginando coisas, mas lá estava a irritação outra vez. –Só que ela o prendeu com ela, ele não podia ir a canto algum que ela não estivesse, por tanto não teve como ir em casa.

—Como?

—O Laço, não sei exatamente que tipo de promessa ele fez, mas acabou que não podia ir para longe dela. –Suspirou. –Eu nunca reencontrei meu irmão.

         Charlote ficou confusa.

—Perdão?

          Mark parou de andar e encarou a companheira. Os olhos brilhavam de raiva e de uma dor angustiante que Charlotte conhecia bem.

—Eu segui viagem com a caravana que ia para o Vale Vermelho, sempre fui bom em rastrear as pessoas e me infiltrar. Sendo que eu já tinha magia nessa época, eu aprendi a controlar meus poderes muito cedo, era só saber influenciar a pessoa certa, mexer no sentimento ideal. –Deu de ombros. Char sabia que ele conseguia persuadir as pessoas e era muito bom. –Então um dia eu vi seu pai com um Cavaleiro, eu tentei descobrir o que era isso, mas as pessoas do Vale Vermelho sabem guardar segredo.

—Se sabem. –Ela concordou.

— Eu só sabia que era um Cavaleiro porque ouvi chamarem ele assim.  –Suspirou.  –Ele apareceu novamente três vezes. O mesmo homem sempre vinha e ficava na casa de Christopher, sendo que quando ia embora sempre levava seu pai junto, o fazendo reaparecer somente algum tempo antes da Lua Cheia. Observei por alguns meses, até que percebi que havia um padrão nas visitas. –Ele mexeu em um galho baixo de uma árvore, enquanto passava por ela. –Robert, era o nome desse homem, aparecia sempre uma semana após a Lua Cheia, ficava no Vale Vermelho, na casa do Christopher, por dois dias, ninguém o via muito, a não ser quando ele saia para falar com Osíris. No final da tarde do segundo dia, ele saia do Vale junto ao seu pai.

—O que ele fazia na casa do Christopher?  –Char não conseguiu conter a pergunta.

—Nunca descobri, mas era a mando de Richard. –Char fez careta. –No final eu os segui, após muita confusão e trabalho para enganar a mente deles, os fazendo não me notar, cheguei ao Vilarejo. –Mark parecia cansado e ela compreendia, determinadas histórias acabavam por exaurir as pessoas. –Quando cheguei até o Vilarejo, descobri que meu irmão, para salvar Simone, em uma pequena viagem que haviam feito, despistou alguns caçadores para que ela fugisse. –Mark pareceu engasgar de raiva e o coração de Charlotte apertou. –Ninguém nunca mais ouviu falar do meu irmão...  –Alguns minutos se passaram em completo silêncio. –Então os Anciãos acharam que me manter no Vilarejo era o melhor a ser feito, pois eu era "Um garoto esperto e poderoso. Poderia vir a ser útil." Nunca esqueci de Simone falando isso e eu queria mata-la, mas sempre fui mais fraco que ela. Então resolvi ficar lá, afinal era o melhor, teria tudo o que precisava e ficaria para ver o dia que ela morreria, um bônus por tudo.

           Charlotte não disse mais nada, somente tocou no ombro do rapaz, que assentiu uma vez e seguiram viagem, em completo silêncio.

           Char percebeu, após muito tempo de caminhada, que era a primeira vez que ficava em silêncio na companhia de Mark, mas ele estava exausto de rememorar em voz alta toda a história com seu irmão, era um cansaço e raiva tão conhecidos, que Char preferiu não interromper. Pararam poucas vezes, somente quando havia necessidades.

           Estava escuro quando por fim Mark pareceu se dar conta que ainda estavam andando e parou abruptamente.

—Precisamos dormir! –Ele disse, olhando em volta.

           Char notou que o amigo não conseguiria se livrar daquela nuvem obscura o circundando, mas que a odiava com todas suas forças, então decidiu que era hora de entrar em seu espaço.

—O que? –Ela o encarou como se estivesse surpresa. –Está preocupado com meu bem estar e meu sono, Demônio Vermelho? –Isso pareceu despertar o rapaz, que a encarou e rolou os olhos. –Vou começar a achar que você tem coração.

—Faz o favor. –Ele bufou, soltando o saco de viagem no chão. –Você realmente acha que tô parando por sua causa? –Soltou um risinho de escárnio. –Eu preciso dormir.

—E eu aqui, começando a me convencer que você gostava de mim. –Fingiu decepção e ele riu.

—Vai sonhando, Lottie, vai sonhando.

          Charlotte se manteve longe de assuntos relacionados a Simone ou a Cavaleiros, se mantendo em piadas e deboche, o que o acalmou mais, contudo era possível ver a névoa em seus olhos castanhos.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam do capítulo?

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Beijos e até o próximo capítulo.



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