Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 40
Capítulo Quarenta - Magera


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei!
Espero que gostem do capítulo.



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                Charlotte acordou com o corpo ainda pesado e a cabeça latejando.
                As palavras que Singrid lhe dissera no dia anterior serviam para manipular um Feiticeiro que estivesse fora de controle, lhe permitindo recobrar os sentidos, mas não sem sequelas temporárias.
                A manhã estava fria e a menina se aconchegou mais nas cobertas.
—Você sabe que essa preguiça não vai levar a canto algum, certo? –Mark quis saber, entrando no quarto.
                Char sorriu um pouco e o encarou, o cabelo vermelho estava incrivelmente desalinhado e o rosto ainda mostrava o quão sonolento estava. Mark trazia duas xícaras grandes nas mãos.
—Olha só quem fala. –Resmungou a menina.
—Alfred teve que sair e pediu que eu desse uma olhada em você.
—Desde quando preciso de dama de companhia? –Ela rolou os olhos, sentando com calma na cama.
—Primeiro eu sou um cavaleiro de companhia, se bem que ficaria magnífico sendo uma dama com um elegante vestido. –Ele brincou, a fazendo sorrir. –E você precisa de companhia desde que passou a noite com febre e resmungando palavras que ninguém conseguia compreender.
—Eu falei tão baixo assim? –Ela sorriu.
—Não, na verdade falou bem alto em alguns momentos. –Char fez careta, vendo o ruivo sentar na ponta da sua cama. –Você estava falando uma língua diferente, Lottie. –Informou, lhe estendendo a xícara de café.
—Como assim?
                Ela olhou para o líquido escuro, cogitando a possibilidade de bebê-lo, mas ainda sentindo o gosto desagradável, de quem acaba de acordar, na boca.
—Tem uma língua muito antiga, que os velhotes citaram uma vez e eu acabei ouvindo por alto, eles chamam de Radva.
—E o que é exatamente isso? –Ela quis saber, ainda encarando o café.
—Não posso dizer muita coisa sobre, mas o que sei é que Radva é a língua dos antigos deuses. –Ele fez careta.
—Dos deuses? –Ela semicerrou os olhos. –E como, pelos mil demônios, eu tava falando Radva?
—É tida como a língua dos deuses antigos, mas alguns feiticeiros falavam. –Ele bagunçou ainda mais o cabeço cor de fogo. –Diziam que era assim que eles se comunicavam com os deuses.
                Charlotte riu sem humor real.
—E eu tava me comunicando com eles, por acaso?
—No seu caso acho mais fácil estar invocando os demônios a qual tanto fala. –Ele replicou com um sorriso brincalhão, mas os olhos traziam certa preocupação. –Como disse, eu não posso falar muito sobre isso porque não tenho conhecimento suficiente, mas... –Ele suspirou. –Eu sugiro que seja a primeira coisa que você fale para os velhotes quando voltarmos para o Vilarejo.
—Algum deles fala Radva? –Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, mas sabem onde encontrar quem fala.
                Char baixou os olhos e encarou o cobertor azul desbotado sobre a cama.
—Você acha que eu realmente falei essa língua ou eu só tava falando coisas sem sentido?
—Você, Lottie, é a única Feiticeira que usa uma esmeralda tão poderosa quanto os feiticeiros antigos. –Ele assegurou, a fazendo encara-lo novamente. –Simone, antes de sairmos do Vilarejo, disse que talvez você seja tão poderosa quanto Magera.
—Magera foi um dos cinco anciãos mais poderosos nos últimos três séculos. –Charlotte falou, recordando do que lera nos livros na casa dos anciãos.
—Exatamente. –Mark concordou. –Magera foi à penúltima anciã do vilarejo a falar Radva.
                Mark viu a expressão confusa da menina.
—Eu não tenho poder o suficiente para ser tão boa quanto Magera.
—Poder você tem, o que não tem é controle sobre eles. –O menino lhe sorriu. –Vá tomar seu banho, vou te esperar para o café da manhã e depois vamos dar uma volta.
—Não sei se quero dar uma volta. –Ela resmungou, saindo da cama.
—Prometo que vai ser bem educativo. –Ele assegurou, já saindo do quarto.
—Por que eu tenho que conviver com você e com o Alfred mesmo? –Ela resmungou para o nada, mas sabendo que provavelmente o ruivo escutaria.
—Porque somos os únicos que realmente aturam você! –Ele revidou, a fazendo rir.

                A dupla entrou na grande biblioteca que o Vale Vermelho possuía e Charlotte olhou em volta de modo encantado. Era muito mais do que ela esperava, o ar cheirava a pergaminho antigo e tinta.
—É lindo. –Ela comentou com ninguém em especial.
—Os livros raros são melhores ainda, vem. –Mark a chamou.
                Charlotte acompanhou o rapaz por entre as altas prateleiras cheias de livros, ansiando por puxar algum deles, mas Mark prevendo seus movimentos a encarou em aviso, o que a fez bufar e o seguir. No lado sul da biblioteca havia uma imensa porta de carvalho, a qual entraram, era uma sala circular grande, completamente abastecida por livros, no centro havia duas mesas, cada uma com quatro cadeiras.
—Aqui tem alguns livros bem interessantes.
—Um em especial pra esse momento. –Alfred comentou, entrando na sala e fechando a porta atrás de si.
                Char notou haver algo estranho com Alfred, os olhos estavam irritados e ele parecia distante de algum modo.
                Alfred pegou um livro fino, comparado aos demais daquela prateleira e caminhou até a mesa, parando ao lado de Char e colocando o livro aberto a sua frente.
—Olá, Lobinho. –Ela o cumprimentou, encarando o livro de capa negra.
—Eu pedi que Mark trouxesse você aqui, talvez isso ajude a entender um pouco sobre Magera e o Radva. –Ele informou, indicando o livro. –Não tem muita coisa sobre nenhum dos dois em nenhum lugar, mas o pouco que vi nesse livro pode ser útil.
—Você pesquisou? –Ela fez careta e o encarou.
                Alfred deu de ombros, ainda sem olhar a menina.
—Eu já tinha escutado sobre Magera, ela é famosa mesmo entre os Lobos. –Anunciou. –Ontem quando você estava falando, Mark acabou comentando sobre o Radva e sobre Magera, então achei que seria bom sabermos alguma coisa.
                Char não respondeu, somente fitou o rapaz. Havia algo errado.
—O que aconteceu? –Ela questionou.
—Do que você está falando? –Ele mudou a página do livro, parecendo muito bem em ignorá-la.
                Char ergue os olhos para Mark e o rapaz deu de ombros, também achando estranha a atitude de Alfred.
—Nada. –Encerrou a conversa.
                Mark estalou a língua, vendo o quão pesado o clima ficaria.
                Char puxou o livro para poder ler melhor, as letras prateadas extremamente chamativas na capa, exibiam um único nome:

Magera.
 

              Chapeuzinho puxou uma cadeira e começou a leitura. O livro falava como havia sido a infância de Magera e como ela falava Radva com naturalidade, conversando com os deuses antigos, em um dos parágrafos diziam que ela conversava diretamente com a Deusa do Mar.

A Deusa do Mar, já ouvi falar sobre. –Char comentou por alto.
—Ela foi muito cultuada antigamente, principalmente por quem morava em ilhas. –Mark informou, se aproximando um pouco.
—Dizem que em Windstorm foi o lugar de morada dos principais Feiticeiros com ligação com a Deusa do Mar. –Alfred confidenciou.
—A família real de Windstorm foi, por muitos séculos, ligada diretamente a Ela. –Mark continuou. –Dizem que eles até mesmo deram um nome diferente pra Ela. Na verdade ninguém sabe se a própria Deusa disse a eles ou eles que decidiram dar uma nomenclatura própria.
                Char achava genial o fato de Mark gostar tanto de mitologia e dos deuses pagãos, ele era sempre uma excelente fonte de informações e fora isso que deu início ao relacionamento dos dois.
—É curioso dar um nome a um deus. –Char sorriu.
—Você nomeia seus demônios, que mal tem nomear deuses? –Mark provocou, a fazendo rir.
—Realmente, veja só, eu ando com um demônio Cabeça de Fogo.
—Que injustiça. –Ele sorriu.
—Com o demônio, sem dúvida.
—Bem, o que mais sabemos? –Alfred perguntou.
                Char o encarou, Alfred era sempre o primeiro a entrar na brincadeira, mas ele parecia sério e intocável.
—Não sei qual a merda do seu problema. –Ela falou seriamente, atraindo o olhar do rapaz. –Mas vai resolver, porque de mal humor basta o meu. –Ela se colocou de pé.
—Charlotte...
—Não quero explicações. –Ela foi dura. –Você não me deve isso.
                Alfred suspirou assim que ela abandonou a sala.
—Você deveria falar pra ela o que está acontecendo. –Mark comentou pegando o livro.
—Não tem nada...
—Nem você acredita na mentira que tá contando. –O ruivo foi direto. –Então para de achar que todos são idiotas como seu Alpha, que provavelmente ignoraria algo assim. –Ele começou a se retirar. –Quer saber? Ela é a única Anciã que não prende os Cavaleiros a ela, você deveria ser grato ao carinho e amizade que ela tem por ti.
                Mark não disse aquilo com raiva, na verdade parecia seco de sentimentos, somente lhe dava o conhecimento.
                Alfred suspirou e deixou o silêncio da biblioteca o preencher. Aquele seria um dia longo e cansativo.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



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