Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 4
Capítulo Quatro - Encruzilhada do Lobo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se.



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          Charlotte estava deitada na grama baixa, a fogueira ali perto dançava no ritmo do alaúde de Alfred, ele tocava uma música animada, acompanhado pela moça, Marília, que estava na carroça com eles. O céu estava estrelado e bonito naquela noite, a brisa, embora gélida, era como se o vento estivesse cantando em sussurros junto a música tocada ao redor da fogueira.
          Charlotte se deixou levar pelas canções e pensamentos, ela estava em uma caravana e podia simplesmente se abster de ficar com o restante do grupo, não precisava ser sociável como teria que fazer se estivesse em Ventanis.
—Você vai passar a noite inteira contando as estrelas? —Charlotte olhou para o lado, onde Alfred estava de pé, daquele ponto de vista ele parecia ser um gigante com o rosto encoberto em sombras e ter uma coroa de estrelas.
—Não estou as contando, estou apreciando, é diferente.
—Quando chegarmos a estrada principal, você irá ver o que são estrelas para apreciar. —Char sorriu minimamente.
—Não precisa ouvir o que minha mãe disse. —Char não podia ver com clareza, mas teve a sensação que ele a encarava.
—E o que você acha que ela disse? —Char deu um sorriso zombeteiro.
—Pediu que me vigiasse, creio que ela ache que irei me atirar dentro da Floresta ou algo assim. —Ela o viu sorrir.
—Você não parece ser suicida.
—Na medida certa, apenas.
—Por que não se junta a nós em volta da fogueira?
—Porque estou apreciando as estrelas.
          Charlotte voltou os olhos para o céu, mas ainda sentia os olhos de Alfred.
—Se mudar de ideia, saiba que ninguém lá morde. —Ela abriu um sorriso pequeno.
—Obrigada pelo aviso.

            Três dias mais se passaram até entrarem na estrada principal, a qual Alfred dissera que os viajantes costumavam chamar de Encruzilhada do Lobo. Inicialmente Char não compreendeu o porque, até pararem para dormir, onde os uivos iniciaram assim que a noite caiu.
—Encruzilhada do Lobo. —Disse encarando Alfred, quando sentaram para jantar.
—Você entendeu. —Ele sorriu.
—É difícil não entender. —Sorriu de volta.
         O jantar terminou e logo as pessoas se organizavam para tocar e cantar. Char suspirou e se preparou para procurar um lugar onde pudesse ver as estrelas.
—Qual o seu problema em ficar em grupo? —Alfred quis saber e ela o encarou.
—Eu não tenho problema algum.
         Alfred rolou os olhos e a encarou novamente, os olhos castanhos tinham uma intensidade que Char chegava a achar encantadora, porém perigosa.
—Não parece. —Ela deu um sorriso de canto.
—Só que as estrelas sempre me encantaram e estão bonitas demais para que eu não as observe.
—Você mente bem, mas não me convence. —Ela sorriu abertamente daquela vez, era a primeira vez que sorria daquele modo pra ele.
—Eu não estou mentindo.
—Está sim.
          Charlotte ergueu um sobrancelha e o encarou.
—Como pode ter tanta certeza?
—Depois de viajar tanto, a gente acaba reconhecendo essas pequenas mentiras.
—Se você lê tão bem as pessoas, me diga como sou. —Desafiou.
        Alfred sorriu e a encarou, o sorriso que ele lhe lançara era encantador e charmoso.
—Você mente ao se fazer de garota amável, Chapeuzinho Vermelho. —Ele sussurrou seu apelido de modo tão íntimo e debochado, que ela sorriu ironicamente. —Sempre fez isso, porque assim evitava que as pessoas perguntassem o que não queria responder, você sempre se fez de inofensiva. Lembro que quando éramos crianças, você fazia bobagem e somente adoçava o olhar e todos acreditavam que você era inocente ou que havia feito sem querer. A garota ingênua.
—Bem... —Sorriu ela. —Você realmente me surpreendeu. —Ele sorriu de volta. —Agora o que acha de me falar como faz isso?
—Isso?
—Fingir ser tão calmo e relaxado.
—Não sou assim. —Ela sorriu de lado.
—Não, mas finge como ninguém. —Se colocou de pé. —E é por isso que sabe que eu estou mentindo, geralmente mentirosos reconhecem o outro. Eu só ainda não sei porque você mente.
         Charlotte se afastou lentamente e sentiu os olhos nela, até que ela se encostou em uma árvore mais distante e fechasse os olhos. Charlotte estava de costas para as pessoas em volta da fogueira, porém sabia que Alfred não estava tocando, as melodias que dançavam no ar aquela noite não eram extraídas por ele ou de seu alaúde.
         Charlotte se aconchegou ali mesmo para dormir, puxando a capa em volta de seu corpo, estava indisposta para levantar e ir pegar a coberta. Não saberia dizer quando adormeceu, não até estar na Floresta.

—Você é insuportavelmente teimosa. —Disse ele.

—Não é noite de Lua Cheia. —Resmungou ela e o ouviu suspirar. –O que quer aqui?
—Me mande ir embora se não me quer aqui. —Ele suspirou, muito perto de onde ela estava e ela soube que ganhara.
—Você me testa demais. —Ela sentiu os braços a prenderem de costa para ele, nunca o olhando. —Confia demais. —Beijou seu pescoço e Char deu de ombros.
—Você irá me salvar.
—Por que acha isso?
—Não sei. —Disse sorrindo.
—Você confia demais em mim, não deveria.
       Charlotte sentiu um de seus braços a deixarem e logo sua mão traçava uma linha em seu ombro, com a ponta do dedo.
—Não deveria fazer isso?
—Não. —Ele sussurrou em seu ouvido, mas havia divertimento. —Você é minha perdição, sabia? —Ela sentiu os lábios quentes tocarem seu pescoço e sorriu dessa vez.
—Por que?
        Ele riu, mas não respondeu, somente deu uma leve mordida e beijo, raspando seu nariz no pescoço da garota.
        Charlotte sentiu o corpo do homem congelar e de repente um xingamento muito baixo para que ela entendesse qual.
—Quando eu a soltar, preciso que corra. —Sussurrou em seu ouvido.
—Pra onde?
        Ele não a segurava mais e ela corria, sentindo o que a perseguia, ouvindo os rosnados e os galhos quebrando, algo tocou seu braço e ela caiu. Estava cara a cara com o Lobo, os dentes expostos e pingando saliva.
—Charlotte...
         O Lobo arrancou um pedaço de seu ombro e ela gritou.

 

        Charlotte se ergueu rapidamente e sentiu a cabeça girar, as pernas vacilaram, mas alguém a segurou, ela o empurrou.
—Charlotte. —Ele a manteve. —Sou eu, Alfred.
        Char respirou fundo e se obrigou a lembrar onde estava. Ela se deixou sentar, com a ajuda de Alfred, que mantinha os olhos no rosto pálido e assustado da menina.
—Desculpe... —Sua garganta arranhava e ela mantinha os olhos fechados. —Eu... Tive um pesadelo.
—Toma. —Char abriu os olhos e viu o cantil que ele estendia. —Água.
          Charlotte ergueu a mão e notou o quão trêmula estava, o maldito pesadelo sempre a perseguindo. Ela bebeu um pouco e devolveu.
—Obrigada. —O encarou, ele a olhava de cenho franzido. —O que?
—Você está bem agora? —Ela deu um sorriso de canto.
—Foi só um pesadelo.
          Alfred não parecia ter comprado sua mentira, mas assentiu.
—Estarei ali se precisar de algo. —Ela concordou e o viu ir embora.
         Charlotte viu que a maioria das pessoas dormia distante de onde ela estava e que as poucas que acordaram com seu grito, já voltavam a dormir.
        Charlotte puxou o capuz depois de alguns minutos e se colocou de pé, todos já dormiam novamente e a noite estava agradável para uma caminhada. Ela se afastou silenciosamente da caravana, como estava fazendo todas as noites desde a partida.
         Char caminhou por um momento, sentindo o vento sussurrar em seu ouvido. Parou na borda de um precipício e olhou para baixo.
—Seria uma queda e tanto. —Sorriu. —E não se preocupe, não vou pular. —Disse olhando por sob o ombro e encarando Alfred, escondido entre as árvores. —Estava me perguntando quando iria se juntar a mim. —Ele deu o mesmo sorriso aberto que dera antes de tentar lhe descrever, caminhando para seu lado.
—Quando descobriu que eu estava aqui?
—Menos de um minuto depois que comecei a andar.
—Eu não fiz barulho algum. —Falou se colocando ao seu lado.
—Não, não fez. —Sorriu, olhou para frente e fechou os olhos, escutando e sentindo o vento. —Você nunca faz.
—Então como...? —Ela deu de ombros, sem abrir os olhos.
—Eu tenho meus truques. —Ela ouviu um riso baixinho e divertido, o qual ainda não havia escutado.
—Truques?
—Talvez. —Ele olhou para o rosto da menina, tão sereno como ele jamais vira.
—Me pergunto se você está mentindo agora.
—Não estou. —Ele bufou e ela sorriu. —Não tenho porque.
—Não?
        Charlotte abriu os olhos e suspirou, logo o encarando.
—Na Vila as pessoas esperam algo de mim, algo que não pretendo dar, então ser a garota ingênua torna tudo mais fácil, assim como ser o viajante que só vai as vezes.
—Você observa muito as pessoas. —Ele disse com tranquilidade.
—Você também. —Ela deu de ombros e voltou a fechar os olhos e sentir o vento. —E é por isso que conseguimos escapar das perguntas de todos na Vila.


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Notas finais do capítulo

E ai?
Curtiram?
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Beijos e até o próximo capítulo.



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