Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 30
Capítulo Trinta - Objeto de Fixação


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!



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           Kyle andava de um lado para o outro na sala, resmungando, enquanto Christopher o ignorava e bebia seu chá pacientemente, tendo uma noção bem grande do que aconteceria com sua filha e Alfred.
            Charlotte e Alfred entraram na casa de Christopher, muito tempo depois do almoço, rindo tranquilamente e Kyle se virou para a dupla, enfurecido.
           Christopher viu Kyle se mexer com uma rapidez incrível assim que seus olhos notaram Alfred, mas Char percebeu o movimento e girou com uma agilidade surpreendente, interceptando Kyle no meio do caminho, fazendo o rapaz parar bem a sua frente e se assomar sobre ela, mais alto e forte.
           Char ergueu os olhos furiosos pra ele, um crepitar irritadiço dançava dentro dos orbes verdes. Christopher notou de longe e imaginou que se Kyle estivesse raciocinando corretamente, se afastaria da garota, contudo o rapaz estava cego pelo ciúme.
—Se você tocar em um fio de cabelo de Alfred agora, eu farei com que se arrependa pelo resto da sua vida. –A expressão divertida sumira, dando lugar a expressão e voz vazia, mas os fogo dançava selvagem em seus olhos, mostrando um perigo que assustaria qualquer um.
—Você o está defen...?
—Achei que você não fosse idiota a ponto de fazer perguntas tão óbvias. –O cortou, fazendo o rosto do rapaz ficar vermelho de raiva.
—E você aceitará que ela o defenda, Alfred? –Ele encarou diretamente o rapaz atrás de Charlotte.
          Alfred sentiu a língua coçar para responder a altura, mas se conteve e somente baixou os olhos, era o que qualquer um deveria fazer em frente ao Alpha, mesmo que estivessem na forma humana, principalmente na forma humana.
—Nós todos sabemos que se Alfred tentar se defender, você será covarde ao ponto de usar sua autoridade como Alpha e ele não pode simplesmente lutar contra você, Kyle. Não é? —Charlotte questionou, o sarcasmo vazando em cada nota de sua voz.
—Você não pode sair com ele.
          Char arqueou a sobrancelha e encarou fixamente o rapaz de olhos cinza. Ela tinha que assumir que havia algo perturbadoramente intenso nos olhos dele, mas isso só aumentava a irritação que sentia, pois ele a olhava como se fosse seu dono.
—Como é que é? –Ela deu um sorriso cínico.
Kyle estava sobre a menina, tendo que baixar a cabeça para lhe olhar nos olhos.
—VOCÊ É MINHA! –Ele praticamente rosnou.
         Christopher se ergueu, sabia que aquilo não terminaria de modo tranquilo se não houvesse intervenção e ele não deixaria, mesmo Kyle, erguer a voz para sua filha.
—Kyle. –Ele chamou.
—Não se meta! –O rapaz ordenou e Char deu um sorriso maldoso.
—Você acha que sou sua? –Ela deu um risinho perverso. –Homens. –Riu novamente, cheia de deboche. –Vocês pensam que tudo é propriedade de vocês, mas não é. —Ela deu de ombros. —Muito menos eu. Eu não sou sua e nem de ninguém.
—VOCÊ NÃO VAI COM ELE! —O grunhido na voz do rapaz deveria assustar, mas Char sorriu e a malícia brilhou em seus olhos.
—Kyle, Kyle, Kyle. —Ela praticamente cantou o nome do rapaz. —Eu dou as cartas aqui, você ainda não percebeu isso? –Sorriu quase demonstrando gentileza, mas todos sabiam que era só sarcasmo. –Se eu quiser te usar como um cachorrinho adestrado, Kyle, você agirá de tal modo.
—Você não pode fazer...
—Eu posso fazer o que quiser. —Ela cortou.
           A dureza em sua voz fez Kyle dar um passo atrás, como se ela o houvesse agredido fisicamente.
—Ele me deve obediência!
—E você deve a mim. –Ela deu de ombros com elegância. –E eu estou mandando você recuar.
—Você não tem direito...
—Eu tenho todo o direito. —Ela sorriu novamente. —Principalmente sobre você. E eu estou dizendo que Alfred irá comigo, assim como meu pai. –Ela informou.
—Como é?
—A não ser que você esteja querendo contraria toda a Elite.
           Kyle rangeu os dentes e estremeceu dos pés a cabeça. Christopher percebeu o perigo, mas quando foi se mexer, notou um leve gesto de Alfred, o mandando aguardar e ele se forçou a parar, mesmo vendo Kyle agarrar sua filha pelos braços e contrariando todas as expectativas, Char somente o encarou.
           Christopher não sabia porque Alfred o mandara esperar, mas ele sabia que ali dentro, Alfred era quem melhor conhecia Charlotte.
—Você é minha e de mais ninguém. –Avisou Kyle, apertando seus braços e ela sorriu.
          Charlotte imaginou que seus braços ficariam com marcas, mas a raiva era tanta que ela somente gargalhou.
—Sou? –Riu novamente, mas a risada não fora nada divertida e bonita, havia uma malicia surreal ali, um deboche que flertava com o ódio de Kyle.
—Você ficou comigo...
—Eu posso ter ido pra cama com você, Kyle. –A raiva brincava na voz da menina, que contrariava sua expressão calma e sorridente. –Mas não sou sua e nunca, nunca, vou ser.
—Você será, querendo ou não.
          Char riu de novo e bufou.
—Eu não sou sua, Kyle, mas você... Ah! —Ela riu baixo. —Você é meu até sua alma.
           Kyle sentiu o sangue ferver, mas sentiu uma pontada dolorosa ao ouvir aquelas palavras, como se um nó invisível se fechasse ao redor de sua garganta.
—Por...
—Kyle. —Ela interrompeu. —Você já fez seu espetáculo, agora me solta.
           Apesar da fúria, sua voz era aveludada. Kyle não queria soltar, mas suas mãos pareciam estar dentro de uma lareira, consumidas por chamas e ele finalmente a largou, mesmo contra sua vontade.
—Você dormiu com a minha filha? –Christopher chamou, fitando Kyle furiosamente.
           Charlotte olhou para Christopher e simplesmente deu de ombros, embora soubesse o quão estranho devia ser para o homem ouvir que sua filha não era mais pura e casta, mesmo sendo solteira.
—Outra hora você conversa com ele. –Char pediu. –Temos trabalho a fazer agora.
           Christopher abriu e fechou as mãos por um momento, vendo que Kyle ainda estava fixo em Charlotte, que nem mesmo se preocupou em olhar para o rapaz, muito entretida com a raiva de Christopher.
—Como quiser. –Dissera ele por fim e a encarou. –Eles a mandaram pra lá?
—Nos mandaram. —Informou.
          Christopher pensou se devia se surpreender, mas percebeu que não, não sendo Alfred, ele já havia notado, desde o primeiro dia, a ligação que eles tinham, embora não soubesse que era tão grande e forte.
—Alfred, é bom preparar um saco de viagem. —Informou por fim, mas a voz estava rouca de irritação. —Talvez precisemos acampar e ficar fora por um tempo. –Ele informou.
—Claro. –Alfred concordou.
—Vai arrumar tuas coisas e volta em uma hora. –Char pediu, o encarando por sob o ombro.
            Alfred deu um leve sorriso, embora Char visse a diversão em seus olhos.
—Você está tão autoritária. –Começou a se retirar e ela sorriu levemente.
           Char voltou a encarar Kyle e suspirou, o sorriso desaparecendo.
—Você senta, Kyle. –Ela mandou e depois olhou para seu pai. –Christopher, nos dê licença, por favor.
—Como desejar. —Falou o homem, desaparecendo pelo corredor.
            Kyle odiou o peso e tremor que iniciou em suas pernas, ele não queria sentar, mas parecia que seu corpo todo era pesado demais para se manter em pé e finalmente conseguiu se arrastar até o sofá e se jogar ali, fazendo os músculos relaxarem e a respiração começar a entrar no ritmo. Kyle odiava ficar tão impotente diante de alguém, principalmente sob as ordens de alguém.
—Vamos esclarecer as coisas, Kyle. —Charlotte o chamou, parada elegantemente no meio da sala e o encarando. —Se você fizer algo contra Alfred, eu mesma o matarei, fui clara?
          Kyle sentiu o gelo nas palavras dela e por dentro de suas veias, o fazendo congelar, os olhos dela estavam cheios de maldade e raiva, algo que ele jamais vira na menina.
—Você me mataria somente por causa dele? —Kyle não conseguiu esconder a raiva, tanto de Alfred quanto dela.
—Você quer pagar pra ver?
          Os olhos de Charlotte estavam duros de uma forma assustadora e o verde parecia quase apagado de tão claro.
—Você me usou?! —Ele disse, indignado.
—Demorou pra perceber, não é? —Ela falou com simplicidade.
—Por que? –Ele estava mais furioso e sentindo vontade de levantar e quebrar qualquer coisa, mas as pernas não o obedeciam.
—Você estava me mantendo presa, então era quem poderia me libertar. –Char deu de ombros, cansada dos jogos iniciais, tinha muitas coisas a descobrir pra continuar a brincar. –Você me trouxe até aqui, então você iria me tirar e levar para o lugar que eu desejasse.
—Eu teria feito isso...
—Não foi o que pareceu.
—A Elite tinha que te conhecer e...
—Era só você ter me levado lá e apresentado. —Ele travou a mandíbula. —Aliás, por que me trouxe pra cá?
          Cinco segundos se passaram em completo silêncio e Char permitiu que Kyle tentasse lutar contra ele mesmo, ela sabia que ele diria uma hora ou outra.
—Porque eu sempre a quis. –Ele disse entredentes.
          Char mudou elegantemente o peso de um pé para o outro.
—Como me achou para trazer pra cá? —Char o viu fechar os olhos. —Me conta, como foi?
          Kyle mordeu a língua, mas começou a estremecer por inteiro e o ar pareceu faltar.
—Porque eu a estava caçando na Lua Cheia. —Soltou de uma vez e tomou fôlego.
          Char assentiu e recordou do Lobo que a perseguiu até o momento de sua queda.
—Por que foi me caçar se provavelmente me mataria?
—Eu não a mataria!
—Lobos perdem o controle na Lua Cheia. —Recordou ela.
—Sim, mas nós temos objetos dos quais sabemos, mesmo como Lobos, que não podemos machucar.
—Explique. —Kyle negou. —Eu mandei explicar.
          Kyle sentiu o nó em seu pescoço apertar quase que insuportavelmente.
—Chamam de Objeto de Fixação. —Ele revelou.
Objeto de Fixação. —Ela degustou a nomenclatura e suspirou. —Como funciona?
—Cada Lobo tem o seu, geralmente encontrando no decorrer da vida. Não significa, normalmente, que os outros respeitam, mas...
—Mas você é o Alpha. —Ela bufou e o viu assentir.
—Se eu ordenasse, eles não a matariam.
—Você tinha noção que era eu? —Ela quis saber.
—Não meu eu humano, mas mesmo como Lobo eu sabia que tinha que te deixar viva. —Ele esclareceu.
          Charlotte respirou fundo, eram tantas questões que tornava difícil organizar e saber o que perguntar.
—Como você entrava nos meus sonhos?
           Kyle tentou não falar, até mesmo mordeu a língua, tão forte que logo sentiu gosto de sangue, tudo para evitar falar, mas as palavras saiam sozinhas.
—Pedi ajuda a uma feiticeira da Elite.
          Char viu o sangue escorrer pelo lábio dele e notou o quão o rapaz se esforçava para não lhe revelar o que ela queria saber. Por um segundo Charlotte ponderou se deveria parar, mas percebeu e decidiu que não havia motivos para parar, não havia motivo para não descobrir o que desejava simplesmente por Kyle.
—E era você o Lobo que me perseguia nos sonhos?
—Sim... –Ele concordou, suando em bicas. –Mas não por vontade própria. –Sussurrou.
—O que quer dizer? —Ela cruzou os braços em frente ao peito.
—A feiticeira que me ajudou disse que de alguma forma você a interceptava e fazia com que eu me revelasse, uma proteção da sua própria mente. –Ele tomou ar. –Era por isso que sempre estávamos no mesmo lugar e nos mesmos horários. Era você quem criava o ambiente e era você quem fazia eu me revelar.
—E por que não parou? –Ela estava mais fria e distante, o que fazia, para Kyle, o ar parecer mais pesado e dificultava sua respiração.
—Porque eu a quis e continuo querendo, você não vê?
         Charlotte o encarou de um modo tão frio que parecia quase enojada.
—Você é um idiota miserável! –Ela falou, sua irritação parecia flutuar a seu redor, enquanto descruzava os braços e o encarava de cima. –Diz tanto me querer, mas não percebe que só fodeu minha mente! –Riu sem humor. –Eu mal conseguia dormir nos primeiros dias porque eu achava que o Lobo me mataria, eu temia fechar os olhos nas Luas Cheias porque sabia que morreria. É assim que você me quer?
—Char...
—Que saber, Kyle? —Ela o cortou. —Suma da minha frente. Não quero ouvir sua voz ou ver sua sombra por agora, mas não pense que o estou liberando, pelo contrário. –Ela lhe deu as costas. –Eu não brinquei quando disse que você é meu até a alma. —Kyle sentiu um calafrio lhe percorrer por inteiro. —Se você tentar fazer qualquer coisa contra Alfred, eu o matarei e não estou blefando.
            Kyle queria ir até ela e tentar reverter a situação, mesmo estando assustado com a menina, mas suas pernas o fizeram se erguer do sofá e caminhar para a porta, enquanto Charlotte seguia para o corredor.
Char encontrou Christopher no quarto que ela estivera na noite anterior. Ele estava de costas para a porta, inclinado para a cama e arrumando o que parecia ser uma bolsa de viagem.
—O que exatamente os Anciões fazem? –Ela questionou.
          Christopher dobrou uma blusa e deu de ombros, sem interromper sua tarefa e nem encara-la.
—Eles podem manipular o fogo, animais e mesmo pessoas... Como você faz. –Char não respondeu e o viu acabar de arrumar a bolsa.
          Charlotte não ficava sozinha com Christopher desde antes de achar que ele havia falecido. Estava magoada e irritada, mas também era seu pai e Char não fazia ideia de como agir depois de tudo, principalmente agora que a raiva e mágoa haviam acalmado.
—Por que não foi me procurar?
           Christopher entendeu a pergunta, mas não respondeu de imediato, remoeu a questão enquanto acabava de arrumar as roupas, tentando achar um jeito fácil de falar, mas não havia nenhum, então ajustou a postura e se virou para encarar a menina, que estava encostada tranquilamente no umbral da porta.
—Suzana me fez prometer que não iria.
          Christopher queria poder fazer com que Char não se magoasse com a mãe, mas não tinha como contar a verdade sem citar o nome de Suzana.
—Como? —Ela questionou, arqueando a sobrancelha.
          Christopher suspirou e olhou para o chão, antes de voltar a olhar para a filha novamente.
—Você iria querer saber que seu pai era um monstro? –Ele a encarava, deixando todas as emoções transparecem para a menina, sem tentar esconder nada. –O mesmo tipo de monstro que matou sua irmã?
          Char mordeu a parte interna da bochecha e fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos.
—Não sei, não me deram a chance de decidir. —A voz saiu baixa.
—É, eu me arrependo daquilo. –Ele suspirou, encarando o rosto da filha. –Logo após a transformação, nós ficamos muito... Voláteis. –Char abriu os olhos por conta da informação e o viu sentado na cama, a encarando. –Eu consegui matar o homem... Ou Lobo, chame como quiser, que matou sua irmã dias antes da Lua Cheia, só que fui mordido e arranhado pelo sujeito. —Christopher suspirou. —Não sabia que era assim que passava a maldição... Licantropia, é como os Anciãos chamam. —Deu de ombros. —Então voltei pra casa, mas a Lua Cheia veio e eu não consegui chegar em casa, me transformei nas bordas da Floresta de Ventanis.
—Como... —Char se interrompeu. —Como foi?
—A primeira vez é dolorosa, leva bem mais tempo que o comum. —Esclareceu. —Tanto que cheguei no início da noite em Ventanis, antes do auge da Lua, mas não consegui chegar em casa.
—E quando voltou?
—Eu fui imediatamente procurar Suzana, estava confuso e cansado, as emoções eram estranhas e muito a flor da pele. Eu tava machucado e mal raciocinava.
—Minha mãe se aproveitou disso, não é?
           Char imaginou sua mãe tirando proveito da vulnerabilidade de Christopher. Ela conhecia Suzana, exatamente porque puxara a ela, não a amabilidade de seu pai e nem ao bom caráter que ela recordava, suas piores características vinham de Suzana ou dela mesma.
—Sua mãe estava andando nas vielas e me encontrou, caminhando pra casa, então me arrastou para a Floresta e nós discutimos. –Ele passou a mão no rosto, a barba estava levemente crescida. –Ela me fez contar o que tava acontecendo e eu disse.
—Aposto que foi o pior erro da sua vida. —Char bufou.
—Não foi o pior, mas poderia ter sido melhor. —A menina compreendeu. —No fim Suzana me disse que se eu voltasse iria falar pra você que eu era um monstro, que estava com os Lobos que mataram Katherine, que você ia me odiar...
—Ela o manipulou.
—Ela usou meu medo contra mim. –Concordou ele, parecendo cansado.
—E depois?
—Eu estava tão fora de mim que, para me livrar da discussão, prometi que não voltaria a procura-la até você saber de toda a verdade e decidisse me procurar ou que Suzana deixasse algo acontecer a você. —Ele respirou fundo. —Não sabia que ao prometer aquilo, eu realmente teria que cumprir.
           Char recordou que ele era um Lobo e não podia quebrar promessas.
—Então todos acharam que eu estava morta?
—Não exatamente. –Ele deu de ombros. –Eu estava a caminho de Ventanis, porque todas as Luas Cheias eu ia pra lá, pra manter, de alguma forma, Kyle longe de você.
—Ele me contou que eu sou o objeto... Objeto de Fixação dele. –Ela fez careta. —Mas e você? Como me protegia de Kyle?
—Sim. –Ele sorriu fracamente. –Os Anciãos, quando cheguei aqui, me deram uma chance de recomeço e disseram que eu poderia pedir algo, óbvio que houve uma troca de favores. —Ele fez careta. —Na verdade demorei muito a conseguir encontra-los, desde que soube da existência deles, mas consegui, não direi como, que não foi um método exemplar. –A menina assentiu, ainda encostada no umbral da porta e deu um leve sorriso.
—Não que eu me importe muito com métodos exemplares. –Deixou escapar e ele riu.
—Eu sei bem disso. –Char arqueou a sobrancelha. –Eu disse que nunca a deixei.
           Charlotte pensou em mil coisas que fizera desde que tinha idade o suficiente e temeu o que o homem a vira fazendo.
—Prefiro nem saber do que você tá falando. —Fez careta.
—Que bom. –Sorriu ele novamente. –Prefiro não repetir tudo o que vi. –Char fez careta mais uma vez. –Bem, acabou que eu pedi aos Anciãos que você fosse mantida longe dos Lobos, mas isso não era algo que eles quiseram e podiam atender, porque era um pedido para terceiros.
—E o que você fez?
—Pedi que fosse possível, que mesmo nas Luas Cheias, eu pudesse manter os demais Lobos longe de você.
—Então eles atenderam?
—Não foi tão simples quanto parece, mas de certa forma sim, eles atenderam. —Deu de ombros. —Quase um Objeto de Fixação, mas no meu caso só para sua proteção, nada além.
—Entendo, mas como soube que podia me procurar?
—Porque a mamãe é a única que sabe que estou vivo. —Informou. —E me disse que você iria visita-la, mas que não chegou. E Alfred havia desaparecido também, então segui o rastro dele até um dos pontos de acampamento da Caravana que ele partiu e vi que não havia nada, então fui a Ventanis falar com Suzana. —Deu de ombros.
—Aí você soube que estava livre da promessa.
—Exatamente. —Ele assentiu. —Então encontrei Alfred depois da noite de Lua Cheia, o resto você sabe.
—Alfred me contou. —Ela concordou.
Christopher sorriu e se colocou de pé.
—Aqui está. –Ele indicou a bolsa. –Você irá precisar.
—O que é isso? –Ela fez careta, enquanto ele se aproximava com a bolsa em mãos.
—Suas roupas. –Char assentiu, sem entender muito bem. –Vamos ficar um tempo fora, Charlotte. Você não vai só conhecer os Anciãos, se você foi mandada pra lá, é porque é uma deles e terá que ficar por lá por um tempo.
—Por que Alfred foi mandado junto? Você eu até entendo, é o único Lobo que sabe onde eles estão, mas Alfred?!
—Existem motivos pra isso e de qualquer modo, você permitiria que ele ficasse aqui, nas mãos de Kyle?
          Char mordeu o lábio inferior e negou a cabeça.
—Não confio em mais ninguém aqui, Christopher.
           Christopher sorriu, era bom ter a menina por perto e falando com ele de forma calma, mesmo que não fosse como pai e filha.
—É melhor irmos, Alfred acabou de chegar.
          Char não questionou como ele sabia, simplesmente jogou a bolsa que ele lhe dera no ombro e seguiu para a sala, na frente de Christopher, onde encontrara Alfred jogado no sofá, comendo um bolinho.
—Pronta? —Ele perguntou sorrindo.
          Charlotte o analisou, os olhos dele estavam quentes como normalmente eram, mas o sorriso parecia mais amplo, o que era muito bonito, não podia negar.
—Nem tanto. –Ela sorriu.
—Vai ser divertido. —Brincou ele.
—Vamos? –Christopher apareceu, segurando uma bolsa de viagem e uma sacola.
—Vai ser um acampamento divertido, ao que aprece. –Alfred sorriu e se levantou do sofá, pegando uma caixa que ela conhecia bem.
           Char tentou conter o sorriso em resposta, mas não conseguiu, gostava da ideia de voltar à estrada, principalmente na companhia de Alfred e de seu alaúde.
—Vai, vai ser divertido. —Ela concordou com um grande sorriso, enquanto o via colocar o alaúde cuidadosamente no ombro.


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Notas finais do capítulo

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