Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 29
Capítulo Vinte e Nove - Flores


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690080/chapter/29

   Charlotte ficou estática por um momento, sentindo a cabeça latejar fortemente e fechou os olhos por um segundo, tentando organizar as ideias, mas parecia que o ar lhe faltava e que sua perna não a sustentaria por muito tempo. Ela inspirou lenta e longamente, até sentir uma mão forte no meio de sua costa.
            Alfred viu que a cor sumira do rosto dela e se aproximou, espalmando a mão no centro de sua costa e se inclinando, para lhe falar no ouvido e ninguém mais escutar.
—Você está bem? –Alfred sussurrou em seu ouvido, fazendo o lábio roçar gentilmente em sua orelha, o hálito quente causar cócegas e os pelos de sua nuca arrepiarem.
           Char se conteve para não estremecer levemente e assentiu, abrindo os olhos, que pareciam muito mais claros que o normal, quase verde-menta. Char não viu direito, pois sua visão estava embaçada, contudo sentia os olhares de todos sobre ela e Alfred.
—Pelo visto ela já o encontrou. –Char ouviu alguém cochichar e arqueou uma sobrancelha.
—Encontrou a quem? –Exigiu saber, olhando na direção de onde vinha a voz feminina, sem deixar que ninguém notasse que ela não conseguia distinguir as formas a sua frente.
        Alfred viu Margô se mexer desconfortavelmente em sua cadeira, mas devolver o olhar firme de Char, e Alfred notou os profundos olhos castanhos de Margô, que pareciam cheios de maldade velada.
—Talvez eu não seja a pessoa mais indicada a revelar. –Disse Margô e Char notou o risinho em sua voz.
—Se não acredita ser a mais indicada, não deveria começar a falar do que acha não saber, não concorda? –Char não estava se sentindo bem e isso fez sua irritação piorar.
—Margô é jovem demais e tem que aprender a falar menos. –Osíris comentou.
           Alfred percebeu que ele parecia muito mais interessado em Charlotte e que olhava fixamente para ela, a estudando tão meticulosamente que parecia poder dissecar a menina com os olhos.
—Você irá ser encaminhada até os Anciãos, Charlotte. –Singrid comentou, sem muita vontade. –Eles quem dirão o que você tem de saber.
—Diga a Christopher para levá-los até eles. –Osíris completou.
           A visão começava a voltar ao normal e ela via aquele azul frio lhe analisando.
—Levá-los? –Fora Alfred quem fez a pergunta, já que Char estava confusa com todo o ocorrido.
—Eles irão querer conhece-lo, Alfred. –Os olhos azuis focaram o rapaz e havia um brilho tão intenso ali, que fez Alfred querer puxar Char e sair imediatamente daquele salão.
           Alfred, assim como praticamente todo Lobo, não sabia muito sobre os Anciãos. Mesmo Kyle tinha um conhecimento bem raso sobre eles. Dentre todos que Alfred conhecia, quem melhor sabia sobre eles era Christopher e provavelmente um dos únicos Lobos a saber como chegar até os últimos três Anciãos residentes no Vale Vermelho.
            Char suspirou e voltou a si, os olhos de Osíris continham a medida de preocupação, curiosidade e sagacidade para assustar a maioria das pessoas. Mas Char não estava disposta a ser uma dessas pessoas.
            Charlotte assentiu lentamente e depois abriu um sorriso doce que convenceria a todos, deixando os músculos relaxarem e o tom de voz ficar amável.
—Obrigada pelas informações. –A voz saiu com uma sutileza inacreditável, que quase enganou Alfred, mas ele recordou da infância.
            A expressão da menina trazia uma doçura que conseguiria enganar a qualquer pessoa, notou Alfred.
—Disponha. –Osíris pareceu confuso por um momento.
           Alfred a soltou e a viu sorrir novamente, antes de um leve manejar de cabeça e se virar para começar a subir as escadas. A leveza desaparecera assim que saíram do campo de visão da Elite.

       Char sentiu Alfred caminhando a sua costa, mas se manteve calada até estar fora da biblioteca e respirar fundo, parecia que o ar não entrava direito em seus pulmões desde que pisara naquele salão.

—Mas que merda foi aquela? –A voz estava carregada de uma raiva palpável, que fez Alfred rir baixinho.

—Você é terrivelmente manipuladora. –Ele comentou e ela sorriu maliciosamente, o encarando por sob o ombro esquerdo.

—Sou o que preciso ser, Al. –Ela brincou.

     O novo apelido também era velho, ele recordava, ela o chamava assim quando crianças e queria irritá-lo, já que o rapaz sempre odiou apelidos.

—Você é uma pessoa insuportável.
—Nunca disse o contrário. –Ela deu de ombros e ele riu baixinho novamente.
          Char gostava de arrancar risos e sorrisos do rapaz.
—Você quer ir primeiro com a Samantha ou encontrar seu pai?
           A menina ponderou por um instante.
—Samantha. –Decidiu. –Assim que encontrarmos Christopher, será para irmos até os Anciãos e não sei quanto tempo isso levará.
—Como quiser, Chapeuzinho.
           Char lhe sorriu e o deixou guia-la.
          A caminhada até a casa de Samantha fora acompanhada por um agradável e amigável silêncio. Char apreciou o modo como Alfred seguiu ao seu lado e calado para lhe deixar se recompor após tantas informações sobre o que e quem era.
           A frente da casa onde Alfred parou era inacreditavelmente ladeada por flores variadas e de diversas cores, era quase desnorteador olhar todas aquelas cores misturadas e odores diferentes.
—Chegaram na hora do biscoito. –Samantha disse, surgindo na porta e lhes sorrindo.
—Os biscoitos de sua mãe são os melhores. –Alfred sorriu e entrou, sendo seguido por Char.
           Dentro da casa havia um grande vaso de rosas vermelhas no canto e um bonito jarro com orquídeas sobre a mesa redonda de madeira, próximo a janela da sala.
—Que flores bonitas. –Char elogiou, sempre achara as orquídeas encantadoras.
—Sam pode fazer as flores nascerem e permanecerem mesmo fora de época. –Uma mulher de cabelo loiro, preso por um lenço, lhe informou, enquanto entrava na sala com uma bandeja nas mãos.
—Deixa que eu ajudo, Dália. –Alfred se ofereceu, pegando a bandeja.
—Coloque o suco sobre a mesa, irei atrás dos biscoitos e bolo de morango.
—Um dia, quando você ver um Lobo gordo correndo, ou tentando correr por ai, saiba que é culpa dessa mulher, Char. –Alfred falou, com uma leveza surpreendente, enquanto puxava a mulher loira, de olhos lindamente cor de mel, e beijava sua bochecha.
          Dália lhe deu um leve tapa e um sorriso materno, enquanto ajeitava o lenço azul no cabelo e alisava a frente do vestido branco. Provavelmente ainda nem chegara nos 40 anos.
—Esse menino. –Disse sorrindo e se voltando para Char, erguendo a mão de dedos longos e finos. –Muito prazer, sou Dália.
—O prazer é meu. –Char sorriu, segurando a mão da mulher e arqueou uma sobrancelha, havia algo diferente em seu toque.
—Ela é dos Seletos. –Samantha informou e Dália corou um pouco. –Você percebeu a diferença de energia, não é mesmo?
—Você sabe muito para alguém tão jovem. –Char falou, encarando a menina e sorrindo.
           Samantha sorriu de volta e sentou em uma das cadeiras ao redor da mesa. A janela aberta permitia a brisa entrar e trazer variados aromas de flores.
—Depois que aprendemos o que somos, acabamos por notar a diferença nos outros. –Dália disse, sorrindo amigavelmente.
          Char notou que quando Dália sorria, os olhos castanhos fechavam levemente.
—Ainda tenho muito a aprender. –Char falou.
—Comece perguntando a Samantha sobre a flor. –Alfred falou. –Enquanto isso irei ajudar Dália a trazer o resto do lanche. –Ele sorriu novamente. –Se bem que eu preciso é de comida de verdade.
—Será um prazer se almoçarem com a gente. –Dália disse. –Assim deixamos o bolo de sobremesa, o que acham?
—Eu amo essa ideia, Dália, você não tem noção. –Alfred comentou, seguindo a mulher para a cozinha.
—Alfred é como um irmão mais velho às vezes... –Samantha comentou, dando um sorriso juvenil que fez Char quase desejar ter 13 anos mais uma vez. –Mas ele só lembra disso quando sente o cheiro da comida da mamãe. –Confidenciou sorrindo.
—Que pessoa interesseira. –Char brincou.
—Você quer saber o que o Lírio d’Água representa, não é? –Samantha falou, após dar um gole no suco que colocara para si e para Char, que sentou na cadeira de frente para Sam e puxou seu copo para sua frente.
—Gostaria bastante.
—O Lírio por si só já tem um grande significado. –Ela falou, encarando Char com seus grandes olhos amêndoas. –Quer dizer nobreza, imponência, coragem. –Ela sorriu.
—Um bonito significado, mas que não tem muita conexão comigo.
          Samantha riu baixinho, cobrindo a boca com a mão.
—Mas o Lírio d’Água sim. –Falou a menina, ainda divertida. –Ele representa a persuasão, orgulho e eloquência...
—Palavras muito fortes para alguém tão novo, não acha?
—Eu leio muito. –Disse ela, sorrindo abertamente.
           Char sorriu de volta, a garota era jovem, mas inteligente o suficiente para desafiar os outros. Charlotte apreciou isso, a fazia se lembrar dela própria, mas uma versão mais explícita.
—E o que isso tem haver comigo? –Char se inclinou sobre a mesa e bebericou calmamente o suco de maça, muito bom por sinal.
—Eu vi. –Sam sorriu e se inclinou sobre a mesa também e baixou a voz, como se contasse um segredo. –Você consegue o que quer das pessoas, faz elas correrem atrás dos próprios rabos, como cachorrinhos, se quiser. Você é que nem a Singrid, só que mais forte, orgulhosa, imponente e corajosa. Sem falar de poderosa. –Sorriu. –Singrid é poderosa, mas não muito, sabe? Ela é fraca pelo próprio poder dela. –A menina suspirou e Char arqueou a sobrancelha.
—Como assim?
—Você, mesmo sem saber como seu poder funciona, sempre fez as pessoas fazerem o que quer, mas sabe medir isso, sabe até onde pode e deve ir. A Singrid sabe como funciona o poder dela, mas acha que é invencível e que ninguém nunca vai desobedecer, acaba se tornando boba e desatenta. –Deu de ombros e fez beicinho. –Ela é tonta por achar que ninguém é mais forte que ela, ela é fraca por isso.
—Qual flor você daria pra ela? –Char brincou e Sam riu.
—Eu dei o Ranúnculo cor de vinho pra ela.
—Ra... Ra o que? –Char riu, assim como a menina.
—Ranúnculo é uma flor de pétalas finas, delicadas e cores fortes, que precisam de muita atenção e cuidado... Pode até parecer com uma rosa, pra quem não conhece de flor, mas eu acho a comparação feia. –Sam fez careta, deixando claro sua antipatia pela comparação. –Minha vó me falou que o nome vem do latim, você sabe o que é latim? –Char sorriu e assentiu. –A tradução, vovó me contou, é Pequeno Sapo. Eu ri quando ela falou.
—Imagino que seja uma flor muito bonita. —Apesar da ironia, Char realmente imaginara algo bonito para a flor.
—É sim, quer ver? –Sam questionou, mas já pulava da cadeira e seguia para o lado de fora da casa.
         Char se ergueu e foi atrás da menina, dando a volta na casa.
—Aqui. –Sam disse, indicando uma flor de pétalas cor de vinho delicadas e macias, em várias camadas ordenadas e bem feitas, pra Char realmente lembrava a uma rosa, mas não diria isso a Samantha.
—É bonita.
          Sam assentiu e indicou a mesma flor, mas na cor branca, em seguida vermelha, amarela e laranja. Todas postas uma em frente as outras.
—Mas de significado feio. –Ela suspirou.
—Por quê? –Char tocou levemente uma pétala laranja da Ranúnculo.
—Quer dizer ingratidão e infantilidade. –Ela falou, parecendo insatisfeita e tocou levemente em uma flor rosa, parecendo entretida e suspirou. –Espero um dia poder mudar a flor dela... Ela é minha prima, sabe? Queria poder crescer e confiar nela.
—E você poderia tá me dizendo isso? –Sam deu de ombros.
—Você não vai contar pra ninguém e se contar será pra Alfred, ele não vale.
—Por que a certeza disso?
          Samantha sorriu e ergueu os olhos pra Char, parecendo voltar a si.
Eu vejo você, Charlotte Brand. –Char arqueou a sobrancelha e a menina riu animadamente. –Eu sei que você é filha do tio Christopher, ouvi ele falando com a mamãe sobre você. É por isso que sei seu nome.
—Por um instante achei que as flores estavam sussurrando o que não deviam. –Char brincou.
—Elas só estão curiosas a seu respeito, acham que você é misteriosa. –Char sorriu.
—Eu tento.
—Samantha, traga a Charlotte para almoçar! –Dália gritou de uma janela, ali perto.
—Vamos. –Sam sorriu e saiu saltitando em frente à outra.
           Char se sentiu confortável almoçando com Dália e Samantha, que parecia muito feliz em implicar com Alfred, que a encarava severamente e em seguida, quando Dália não estava dando atenção, lhe atirava alguma coisa por sobre a mesa.
—Obrigada pelo almoço, Dália. –Char agradeceu, enquanto se despedia.
—Arraste seu pai para vir jantar com a gente. –Dália sorriu.
—Infelizmente teremos que adiar esse jantar, Dália. –Alfred sorriu. –Temos algo a fazer hoje e não sei bem quando estaremos de volta.
           Dália assentiu e sorriu.
—Quando voltarem, venham jantar com a gente.
—Com prazer. –Alfred sorriu. –Sua comida é a melhor do Vale Vermelho. –Falou dando um beijo estalado na bochecha dela.
—Interesseiro. –Disse sorrindo e abanando a mão, quando ele se afastou.
—Alfred. –Sam chamou, fazendo ele se afastar para falar com ela, enquanto Char se despediu de Dália.
           Ficaram afastados pouco menos de um minuto e Alfred voltou de cenho franzido.
—Até breve, Charlotte. –Sam falou sorrindo.
—Até mais. –Char sorriu e saiu para o sol escaldante do meio da tarde.
—Dália gostou de você, assim como Sam. –Alfred comentou, colocando as mãos nos bolsos e olhando para frente.
—Sam é uma garotinha bem interessante. –Char sorriu.
—Às vezes até demais, Chapeuzinho.
            Ela o encarou e ele sorriu de canto, a fazendo sorrir de volta.
—Vamos encontrar Christopher. –Ela decidiu. –Ele tem que nos levar até os Anciãos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
O que acharam da Sam? Não é um amorzinho essa menina?
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.