Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 16
Capítulo Dezesseis - Gentileza e Truques


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!



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                Charlotte acordara no meio da tarde naquele dia e quando o fez deu de cara com Kitty, o que a fez soltar um leve grunhido.
 -Fiquei sabendo qui tua noiti foi divirtida. —Comentou a Velha, ignorando o mau humor da jovem.
 -Foi? —Debochou a menina.
                Char usava, para dormir, somente um curto vestido de tecido fino e que grudava seu corpo. Ela afastou o cobertor e sentou com calma, se espreguiçando como se estivesse sozinha, já notara que Kitty odiava ser ignorada e quanto mais ela se irritava, mais Charlotte insistia em encrencar.
 -Tu parecia te acurdado bem disposta pra quem fico a noiti intera acurdada.
                Charlotte não sabia como Kitty descobrira do passeio noturno, mas não estava minimamente interessada naquilo.
 -É o que parece.
                Char sorria enquanto fazia um coque no cabelo longo, se colocou de pé e estava determinada a ir para o banheiro, entretanto a porta se abriu e Kyle parou, a encarando da cabeça aos pés, o sorriso inicial desaparecera e deu lugar a um olhar extremamente desejoso. Kyle passou a língua nos lábios, o vestido curto exibia suas pernas longas, torneadas e claras, o tecido fino grudava ao corpo de forma quase indecente, como se fosse uma segunda pele e ele notou a barriga lisa e os seios, que mal eram cobertos pela roupa de dormir. Imediatamente sentiu algo despertar e rugir no fundo de sua mente, algo que ele teve que se obrigar a prender, para finalmente conseguir forças para falar.
 -Desculpa. —Disse virando e saindo do quarto, sem aguardar resposta, enquanto ainda conseguia se forçar a manter as mãos longe daquele corpo.
 -Tu consiguiu intimida o minino. —Kitty argumentou e Char riu.
 -Isso foi engraçado. —A velha ergueu uma sobrancelha e Charlotte deu de ombros. —Vai perguntar algo ou ficará só me encarando? —Quis saber, parando na porta do banheiro.
                Charlotte sabia não poder sair do quarto, mas também não poderia dizer ser mal tratada, recebia comida sempre que queria, seus banhos eram quentes se desejasse, tinha um quarto inteiro pra si, porém a cada minuto desejava começar a quebrar as coisas, conhecia cada veio nas paredes e teto de seu quarto, de tanto tempo que passava ali desde que acordara após a Lua Cheia.
 -Tá disposta a fala comu cunsiguiu essi curdão?
 -Céus! —Bufou. —É claro que estou. —Sorriu. —Assim que me falar o motivo de seu interesse nele.
                Kitty sorriu e a observou atentamente, aqueles olhos continham uma inteligência antiga e intrigante, notou Char.
 -Tu fala primero. —Char riu.
 -Quem sabe um dia entramos em acordo, Kitty. Quem sabe um dia.
                Charlotte fechou a porta do banheiro, ouvindo a Velha dizer algo a respeito de "Minina irritanti" e riu.
                Charlotte se enfiou na água gelada da tina e fechou os olhos, a tina era preparada antes que ela acordasse e caso quisesse água quente, era só chamar que alguém a atenderia e ela ainda não sabia o porquê daquilo. A mente começou a recordar de várias coisas que não deveria, por fim recordou da gargalhada de Alfred, dos olhos observadores e quentes, embora misteriosos, de seus dedos ágeis percorrendo as cordas do alaúde e das lindas melodias que extraia dali. Durante os dias presos na Floresta, sempre imaginou que Alfred era quem tinha mais chances de sobreviver, porém não fora assim.
                Charlotte estremeceu e abriu os olhos, não tinha notada que a água estava tão gelada ou talvez tenha esfriado enquanto ficara ali. A menina suspirou e saiu da tina, controlando suas emoções.

                Kyle retornou de madrugada, como fizera no dia anterior, ele parou na porta e sorriu. Char usava um vestido longo verde de alças finas, que realçava seus olhos, o cabelo longo estava solto ao redor dos ombros.
 -Achei que você não viesse. —Ela disse sorrindo.
                O sorriso era calmo e os olhos intensos, o que fez Kyle se obrigar a sorrir de volta e tentar tirar da mente a visão dela com a pequena roupa de dormir.
 -Eu disse que viria. —Lembrou. —E trouxe uma coisinha pra você.
 -Pra mim? —Ergueu a sobrancelha esquerda e ele mostrou o que trazia na mão, desdobrando em seguida.
                A capa vermelha se desenrolou até o chão e Kyle a viu sorrir abertamente, saltando da cama e indo até ele.
 -A sua estava completamente destruída quando chegou aqui. —Informou com tranquilidade, mas mantendo os olhos em seus movimentos.
 -Achei que eu a tivesse perdido. —Falou tocando o tecido grosso e macio, exatamente como a sua capa original.
 -Kitty não achava que a capa era importante, porém só ontem você reclamou pelo menos umas dez vezes sobre isso. —Ela riu baixinho. —Então achei que poderia ser um bom presente.
 -Você acaba de me devolver uma de minhas lembranças da infância. —Brincou rindo.
 -Uma capa vermelha? —Ele riu.
 -Tenho minhas histórias, Kyle. —Ela o encarou sorrindo de canto. —Assim como você parece ter as suas.
                Eles se encararam por um momento e ele sorriu, se controlando para não agarra-la naquele instante.
 -Todos temos nossas histórias. —Riu tranquilamente e estendeu a capa. —Na mesma medida que sua anterior.
                Charlotte a pegou e jogou sobre os ombros, amarrando em seu pescoço, enquanto Kyle enfiava aos mãos nos bolsos. Logo os dois seguiam pelas ruas do Vale, caminhando sem rumo certo, já que ele dissera que ela poderia escolher o caminho. Kyle apontara a escola, uma grande construção pedrosa e cinza, também indicara a casa do melhor curandeiro do local, a casa de venda de ervas e todos os pontos mais relevantes. Por fim terminaram na praça, sentados em um banco de pedra, bem no centro.
                A praça, apesar de tudo, tinha balanços e várias flores coloridas.
 -Para todos os lugares que olho, vejo pedras cinzas. Vou começar a odiar cinza daqui a pouco. —Ela disse e ele riu.
 -Não é tão ruim assim.
 -É monótono demais.
 -A gente se acostuma.
                Char fez que não com a cabeça e ele riu.
 -Fui criada em uma Vila cercada pelo verde das árvores, duvido que me satisfaça algo tão monótono.
 -Mas é isso que mantém todos a salvo na Lua Cheia, lembre-se disso. —Ela bufou.
 -Mas não dava para ser um pouco mais colorido? —Ele gargalhou despreocupadamente.
 -Você é louca.
 -Já ouvi isso antes. —Comentou sorrindo.
 -Então isso deve querer dizer algo, não acha? —Implicou.
 -Claro que sim. —Sorriu e o olhou por sob os cílios. —Que todos estão errados.
 -Tem certeza que eles são os errados?
                Kyle ria e ela bateu levemente em seu ombro.
 -Claro que sim. —Deu um sorriso torto.
                O cinza dos olhos dele pareceram escurecer e ela gostou de saber que poderia causar tempestades internas nele, o que a fez arquitetar rapidamente um plano.
                A conversa se estendeu por horas, calma e divertida, mas não informativa como ela teria preferido, porém isso fez Charlotte se acalmar e se sentir mais tranquila a lado dele, contudo sabendo que podia mexer com ele cada vez mais.
                Kyle olhou para o céu, que começava a clarear e suspirou, estava gostando da companhia dela, embora não conseguisse desviar por muito tempo dos lábios avermelhados e que ela molhava constantemente com a ponta da língua, o que o fazia ter pensamentos que eram trancados assim que surgiam. Mas a hora da diversão fora de casa chegara ao fim.
 -Devemos ir. —Anunciou se colocando de pé e ela franziu os lábios, mas se colocou de pé, sem dizer uma única palavra.
                O caminho de volta à casa, onde ela se encontrava, fora feito lentamente e em silêncio, o que começava a deixar Kyle inquieto. A menina entrou na casa e se dirigiu ao corredor onde ficava seu quarto sem protestar, com Kyle a seguindo, assim que chegou a porta do quarto, ao qual ela abriu para entrar sem tentar enrolar um único segundo, como fizera na vez anterior.
 -Char. —Kyle a chamou e ela se virou, o encarando.
 -Sim?
                Kyle notou a irritação passando nos olhos verdes e suspirou, se aproximando dela e parando a sua frente.
 -Conte a Kitty o que ela deseja saber e não terá que ficar trancada.
 -Boa noite, Kyle. —Disse começando a fechar a porta.
 -Por que não conta? —A menina ergueu o queixo de modo petulante.
 -Quando um de vocês se dispor a me dizer o interesse nesse cordão e talvez o motivo de não terem tirado enquanto eu dormia, eu conto. —O olhar dele pareceu endurecer também.
 -Não é tão simples.
 -Ótimo então! —Se irritou. —Agora se não se importa, tranque a porcaria da porta!
                Charlotte bateu a porta entre os dois e alguns poucos segundos depois ouviu a chave girar na maçaneta. Suspirou e começou a tirar a capa vermelha e o vestido, indo para o banheiro e se lavando antes de colocar a roupa de dormir.
                Char se jogou na cama e espreguiçou como um gatinho, estava com fome, mas o sono parecia vencer o resto. A menina pensou no olhar duro, entretanto ressentido, que Kyle lhe lançou antes de a porta bater e riu, óbvio que ele pensaria que ela estava com raiva e claro que ela desejava isso. Pessoas sentindo culpa, tendem a serem mais prestativas, ela só desejava plantar e acumular dentro dele os sentimentos certos e trabalhar a partir disso.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



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