Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 10
Capítulo Dez - Noite de Lua Cheia


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690080/chapter/10

          Charlotte sentia seu sangue gelar a cada hora que ficava mais próximo do anoitecer, o que seria em torno de três horas.
          O trio seguia o mais rápido que conseguiam por entre as árvores, estavam em um território montanhoso e íngreme, o que fazia os pés de Char protestarem, porém as feridas estavam bem melhores agora que estavam sob os cuidados de Dante.
           O dia estava úmido após a chuva da noite anterior e Charlotte ainda sentia a água em suas botas, sua roupa, tão úmida quanto as folhas das árvores, a deixava estremecer de frio, porém combatia isso com a caminhada que iniciara ao amanhecer. Após uma longa discussão em grupo, Alfred dissera que iriam para uma caverna em território alto.
—Os Lobos saem da Floresta em noite de Lua Cheia. —Dante dissera. —Só temos que dar um jeito de nos mantermos longe de seu caminho, talvez isso salve nossas vidas.
Vai salvar. -Alfred decidiu.
          Charlotte não contestou e Alfred a encarava constantemente desde a conversa, perguntando regularmente sua opinião, a qual a resposta era sempre a mesma "Temos que tentar.", porém isso não satisfazia ao rapaz.
           O pequeno grupo alcançou a caverna da qual Alfred falara no início da noite. A entrada da caverna era ampla e Char notou uma luminosidade diferente no lugar, não era escura como todas as que já estivera, essa tinha luminosidade própria, irradiando de suas paredes.
—Que lugar é esse? —Questionou a menina.
         Char não aguardou resposta e entrou na caverna, se surpreendendo assim que o fez. Dentro do lugar havia um extenso lago, uns quinze metros ou mais de diâmetro, do outro lado ficava uma subida difícil e com um metro de diferença do limite d'água.
—Talvez os Lobos não gostem de água? —A menina zombou. —Eu entenderia, andar com todo aquele pelo molhado deve ser horrível. —Alfred rolou os olhos.
—Talvez a água ou a subida os impeça de alcançar lá. —Ele deu de ombros. —Medo? —Zombou.
—De pular na água e de repente um animal me puxar pro fundo? —O encarou de sobrancelha arqueada e viu que ele prendia o sorriso, porém parecia preocupado que isso fosse uma hipótese verdadeira. —Eu com toda a certeza estou com medo de ser devorada.
—Prefere os Lobos ou um que viva na água?
—Pelo menos os Lobos já são velhos conhecidos. —Respondeu, mas já tirava a capa que estava amarrada em seu pescoço, o que o fez sorrir.
—Ainda não será devorada, Charlotte.
—Gosto de sua convicção. —Disse ela, já retirando as botas. —Talvez precise pegar umas aulas com você. —Sorriu.
—Vamos pegar aula quando sairmos daqui, acho que nós dois estamos precisando. —Dante comentou levemente, encarando o lago de água escura.
         Charlotte encarou a água e depois o homem, a saída do lago seria mais difícil pra ele, considerando que lhe faltaria uma mão para apoiar.
—Mesmo aqui, não teremos garantia que não irão nos atacar. —Char falou.
—Melhor que nada. —Dante disse.
—É melhor nos apressarmos, daqui a pouco eles irão começar a sair. —Alfred alertou.
         Charlotte estremeceu levemente e suspirou, sentindo a súbita aproximação da Lua Cheia. A Noite dos Monstros.
         Char enfiou a capa e bota dentro da sacola negra de viagem, onde ainda estava duas mudas de roupas, um par de meias secas e dois cobertores, amarrou bem a boca do saco e o jogou na água, pulando em seguida.
—E talvez precisemos pegar aulas de coragem com essa garota. —Dante resmungou atrás de Alfred.
—Talvez. —Respondeu o rapaz, pulando no lago pra seguir a menina para o fim da caverna.
         A água estava absurdamente fria, o que fez Charlotte estremecer assim que pulou ali dentro, porém não havia volta, ela começou a nadar para atravessar o lago, assim que alcançou seu fim, jogou a sacola para cima e suspirou.
—Isso deve valer como um banho, Chapeuzinho. —Alfred zombou a suas costas, o que a fez rir.
—Tecnicamente.
         Charlotte enfiou os dedos em uma depressão na rocha, se içando para alcançar a borda e finalmente estar em segurança, fora mais trabalhoso do que aparentava, o que a fazia ter esperanças de sobreviver, já que ela tendo mãos tinha dificuldades de subir, provavelmente algo com patas teria mais ainda.
         Charlotte sentou na borda do lago e respirou fundo, olhando para Alfred, que ainda não saíra d'água, ele sorriu e lhe estendeu o saco com o que ainda lhes restava dos mantimentos, a menina o pegou e colocou ao lado.
—Acha que Dante precisa de ajuda? —Questionou, encarando o homem, que ainda estava na metade do percurso.
—Preocupada? —Ironizou, mas era visível sua própria preocupação. —Tá começando a mostrar gentileza, Chapeuzinho, isso é perigoso. —Ela riu.
—Só estava pensando em quem cuidará de meus machucados. —Deu de ombros e ele sorriu.
—Não, se tentarmos ajuda-lo na travessia, ele se sentirá inútil. —Ela assentiu. —Vamos só ajudar a subir.
         Char concordou e assim fizeram. Foi difícil e cansativo tirar Dante de dentro do lago, mas finalmente conseguiram e Alfred logo de juntou a eles.
         Alfred foi cuidar da comida, que prepararam na noite anterior, Dante se jogara, aparentemente muito cansado, em um canto e Charlotte em outro, tremendo de frio por conta do tempo e de suas roupas molhadas.
         O jantar fora silencioso e sombrio, todos olhavam para os lados, ansiosos por estarem próximos a hora do auge da Lua. Em seguida Dante fora dormir e Charlotte sentou e se encolheu em um canto, devia faltar uma hora para os Lobos começarem a caçar e isso a apavorava. A menina estremecia a cada som que escutava, Alfred, que ficara responsável de arrumar as coisas, a encarou e foi até ela.
—Aconselho a dormir um pouco. —Ele disse se agachando ao seu lado.
          Charlotte ergueu os olhos e o encarou.
—Eu não durmo em noite de Lua Cheia. —Sussurrou de volta e ele ergueu uma sobrancelha.
—Mas você deve estar exausta, a gente andou o dia todo. —Ela suspirou e assentiu.
—Eu sei, mas... —Fechou os olhos por um momento e um tremor percorreu seu corpo, o que a fez voltar a encara-lo. —Eu... Você sabe que eu tenho pesadelos... —Ele assentiu e ela mordeu o lábio inferior, cogitando a possibilidade de lhe contar toda a verdade do porque nunca dormir em noite de Lua Cheia e o que aconteceria caso ela o fizesse. —Só saiba que eles são milhões de vezes piores em noites como hoje. —Encerrou o assunto, sufocando o desejo de falar e ele notou.
         Char notou algo passar nos olhos do rapaz ao ouvir aquilo, era tão triste quanto raivoso, o que a fez pensar que estava imaginando coisas, não tinha motivo algum para ele sentir aquilo.
—Vou pelo menos pegar algo pra bebermos, tudo bem? —Ela assentiu.
          Alfred voltou com dois cantis, ambos abastecidos com vinho, o que a fez encara-lo de cenho franzido.
—Onde arrumou isso? —Quis saber e ele sorriu.
—Quando tudo aconteceu, —Se referiu a chacina feita em sua caravana. —achei que isso fosse ser bem útil em algum momento.
—Inacreditavelmente, esse é a ocasião mais útil. —Resmungou ela e ele assentiu. —E graças a isso fingirei acreditar que em algum momento você realmente pensou que sairíamos da Floresta.
—Eu tinha esperança. —Bufou e deu um gole.
—Tudo bem. —Ela riu e bebeu do próprio cantil.
—A propósito. —Ele ergueu seu cantil em um brinde e ela sorriu. —Que essa não seja a nossa última noite.
—É um bom brinde. —Disse ela sorrindo e virando mais da metade da bebida em um fôlego só.
          Char não saberia dizer como aconteceu, mas de repente sentiu a mudança.

         Charlotte se levantou do chão, olhando em volta, a Floresta estava tomada por neblina e o vento frio beijava sua pele exposta. A menina olhou ao redor mais uma vez, a lua estava em seu auge e ninguém a esperava. A capa vermelha farfalhava levemente a suas costas, a única coisa seca, e as roupas molhadas lhe causavam arrepios constantes e um frio enlouquecedor.
—Não, não, não. —Ela olhava em volta desesperadamente, afim de encontrar uma saída. —Isso não pode tá acontecendo.
          Charlotte sentiu o coração acelerar, como se estivesse tentando deixar seu peito, o pânico crescente fazia o ar ficar rarefeito.
—Calma, você tem que manter a calma. —Disse pra si mesma e sabia ser verdade, porém era extremamente difícil.
          Se apoiou em uma árvore e tentou controlar a respiração, naquele momento o medo seria seu maior inimigo, assim que o ar voltou a circular normalmente, ela olhou com calma ao redor, precisa de uma estratégia, precisava sair dali antes de ser descoberta.
         O primeiro uivo soou longe e logo vários outros, de todos os cantos, se juntaram a canção assombrosa no meio da Floresta, era a Noite dos Monstros e ela infelizmente estava bem no centro de tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.