Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 1
Capítulo Um — Lobos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa história e se divirtam, também adoraria receber as críticas e comentários de vocês.
E para aqueles que me acompanham em A Filha das Trevas, não, não irei abandonar a história de modo algum!



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           Charlotte suspirou e passou as mãos no longo cabelo castanho, estava irritada, não estava disposta a voltar pra casa e sorrir amavelmente pra quem encontrasse pelo caminho. Sabia estar o dia todo fora de casa, porém isso não aumentava a vontade de voltar.
—Char. —Harry chamou e ela o encarou de sobrancelha arqueada.
          Harry lhe sorriu. Os bonitos olhos azuis divertidos e o sorriso debochado nos lábios rosados eram sempre muito chamativos.
—O que você quer? —Perguntou sem se preocupar em fingir bom humor.
           Harry a conhecia sua vida toda, eram melhores amigos, quase irmãos, não havia motivo de fingimento com ele.
—Considerando que sua mãe acha que você foi devorada por algum monstro... —Ele deu de ombros com total tranquilidade e ela bufou com ironia.
—Ela é exagerada demais.
—E você é teimosa. –Implicou ele.
—É tão difícil compreender que quero somente ir visitar minha avó? —Questionou irritada.
—Ela só está preocupada...
—Eu não sou mais criança, Harry. —Disse rolando os olhos. —Sei me cuidar, por favor.
—Char, respira fundo. —Disse ele sorrindo.
—As vezes eu odeio você. —Resmungou ela.
          Charlotte respirou fundo algumas vezes e prestou atenção no amigo, ele brincava com uma pedrinha, jogava para o alto e a agarrava despreocupadamente enquanto ela perdia altitude.
          Harry a encarou e viu a expressão irritada começar a dar lugar a um sorriso gentil e olhar meigo, os ombros relaxando e logo ela parecia a pessoa mais adorável que alguém poderia conhecer. Sua expressão mudou por completo.
—Podemos ir agora, Harry. —Falou amigavelmente.
—Finja ser gentil e se livre de perguntas. —Disse ele rindo e viu um sorriso de canto nos lábios dela, que o encarou de modo debochado.
—Ninguém vai querer ouvir minhas respostas reais, Harry, você melhor que ninguém sabe disso. —Ele riu sonoramente, assustando um passarinho que estava na árvore próxima.
—Realmente, ninguém vai.
          Os dois foram brincando no caminho de volta, a escuridão da noite já rondava toda a Vila, quase todas as casas já estavam trancadas e as abertas começavam a fechar portas e janelas. Charlotte e Harry cumprimentaram os poucos vizinhos que ainda estavam ali fora.
—Chapeuzinho. —Cumprimentou Sra. Ornet, de brincadeira.
—Olá senhora Ornet. —Sorriu para a velinha enrugada e de cabelos grisalhos. —Precisa de ajuda para trancar a casa?
—Ô minha pequena, não se preocupe. —Sorriu divertida. —Os Lobos não vão querer uma velha como eu. —Ironizou e Charlotte riu.
          Char admitia que Amélia Ornet era uma das poucas pessoas da Vila que realmente gostava, era uma senhora divertida e que costumava zombar de várias crenças de alguns dos mais fanáticos religiosos do lugar e por já estar velha, as pessoas somente se irritavam e não respondiam, só lhe davam as costas e iam embora.
—Dizem que eles comem qualquer um. —Char disse rindo baixinho e a velha gargalhou.
—Não se preocupe, menina. —Falou ainda rindo. —Tenho métodos, os lunáticos desse lugar não dizem que é só ter água benta? —Ela gargalhou novamente e rolou os olhos.
—Então é melhor entrar, a água benta não irá funcionar se você ficar aqui fora. —Harry brincou e a senhora riu.
—Vocês estão certos. —Começou a caminhar em direção a porta, mas antes de fechar encarou os jovens. —É melhor vocês irem, a lua está quase no auge e mesmo eu sei que os Lobos virão.
—Sim. —Charlotte concordou e olhou para o céu.
—Até o mais descrente é obrigado a assumir isso. —Harry sorriu e tocou no braço da menina para irem embora. —Tenha uma boa noite, Sra. Ornet.
—Vocês também. —Um sorriso divertido iluminou seu rosto. —E não sejam devorados por Lobos. —Os dois riram enquanto a mulher trancava a porta e começavam a caminhar pra longe.

          Charlotte sentou a mesa com a mãe e com Harry, que fora obrigado a passar a noite ali, embora sua casa ficasse em frente a de Char. Mas sua mãe insistira "Nesses momentos é bom ter um homem em casa." Declarou ela e Charlotte deu um risinho com a frase.
          Os três baixaram a cabeça e a mais velha iniciou uma oração, Charlotte ergueu os olhos e encontrou os de Harry do outro lado da mesa, que fez careta e ela prendeu o riso, voltando a fingir prestar atenção a oração de sua mãe.
—Amém. —Repetiram o que a mais velha disse ao final.
          O jantar foi silencioso e mal iluminado, logo Char e Harry foram para o quarto da menina e se sentaram na cama. A janela estava bem trancada e o armário fora arrastado até ali.
—Não entendo como as pessoas acham que uma oração vai afastar os Lobos. —Bufou.
—Todos acham que são demônios. —Ironizou ele, o que a fez rir.
—Claro que são. —Brincou e ouviu o primeiro uivo da noite.
          Charlotte sentiu um frio percorrer sua coluna e os cabelos do braço e nuca se eriçarem.
—Vai ser uma noite daquelas. —Harry comentou sombriamente e a viu assentir.
           Charlotte sentia os Lobos abandonando a Floresta e se aproximando da Vila com a rapidez e ferocidade que somente eles teriam em uma noite de Lua Cheia. O uivo foi tão alto que ela teve certeza que ele estava na frente de sua casa, seu coração acelerou e ela soltou o ar de vagar, temendo fazer barulho e atrair atenção dos Lobos.
           Harry se mexeu lentamente e apagou a vela que estava ao lado da cama, se ajeitando e puxando a amiga para o seu lado, do modo mais silencioso possível.
           O coração de Charlotte ficava cada vez mais acelerado e ela sabia, sentia, que o Lobo estava rondando a casa. Harry tocou o braço da amiga e ela se encolheu em seu peito. Sua mãe estava certa, se ela estivesse sem a companhia de Harry naquele momento, provavelmente já teria entrado em pânico.
—Ele está aqui perto. —Sussurrou para Harry.
—Está. —Sussurrou de volta.
          Harry escutou o farejar na janela e prendeu a amiga mais próximo a seu peito, um rosnado gutural fora ouvido por trás da janela do quarto de Charlotte e logo o rugido ficou mais irritado que antes e o uivo se fez ouvir como se no ouvido dela.
          Char sentiu um tremor percorrer seu corpo e seu coração descompensado, sentia que se acelerasse mais, provavelmente ele explodiria.
          Uivos foram ouvidos mais longe, porém o Lobo atrás da janela continuava a farejar e Char escutou um baque do lado de fora da casa e se sobressaltou, mas Harry a prendeu, as garras do Lobo arranharam a janela e parede, Charlotte sabia que ele poderia entrar se fosse obstinado o suficiente e ele era, ela tinha certeza. Mas em meio aos uivos e rosnados distante, se escutou um grito desesperado, era grito de mulher. Logo o Lobo rosnou irritado e uivou, começando a se distanciar da casa.
—Ele... Ele...
—Tá indo embora. —Harry sussurrou em concordância, mas não a largou.
          Harry conhecia a amiga e sabia que ela estava assustada, nunca a vira tão assustada. Eles já haviam passado por outros ataques de Lobos juntos, mas nunca a tinha visto daquela forma, em nenhum momento da sua vida.
—Será que mamãe... —Ela começou a falar e a figura alta e pálida apareceu na porta do seu quarto, a assustando e fazendo conter um grito.
—Desculpem. —Disse ela com a espingarda na mão e uma vela na outra. —Vocês estão bem?
—O Lobo estava aqui. —Harry contou e viu os olhos negros de Suzana perderem o brilho por um momento, sendo tomados por medo.
—Onde?
—Ele já foi. —Respondeu o rapaz. —Parecia estar atrás de comida...
—E pelos gritos, já conseguiu. —Afirmou Char.
—É o que parece. —Suspirou a mulher. —Sinto muito não vir antes, estava rezando e benzendo as balas, lá no porão e não vi.
           Charlotte rolou os olhos sem que a mãe visse, sabia que Suzana havia pego algumas manias estranhas e sempre as colocava em prática quando os Lobos vinham.
—A senhora atirar só o deixaria mais irritado. —Harry comentou. —Só temos que esperar amanhecer e ver quantos morreram.
           Charlotte sabia que era uma visão fria, porém concordava com o amigo, não tinha mais o que fazer, só contar os corpos ou pedaços e tentar mandar os certos para as famílias, caso alguém daquela família em questão chegasse a sobreviver.

          A manhã demorou a chegar e Char ouviu muitos berros durante a noite. Harry e ela permaneceram em silêncio e sua mãe ficou na sala, de vigia, junto as suas armas. A lua se foi e o sol surgiu, o que fez Harry e Charlotte pularem da cama e correrem pra saída.
—Pra onde vocês estão indo? —Suzana questionou e saiu atrás dos dois.
           Eles deram a volta na casa e foram em direção a janela do quarto da menina. O Lobo arranhara, várias vezes, a madeira da janela e parede ao redor, de cima a baixo.
          Char ergueu as mãos e tocou de leve um dos arranhões na parede, sentindo os pelos do braço se eriçarem, mas continuou a tocar a marca. Era evidente que o Lobo poderia ter quebrado a madeira a hora que bem quisesse, ele até mesmo abrira frechas e em alguns pontos podia ver a cama da menina, isso a fez estremecer. Porém ela se questionava o por quê dele não ter entrado e a matado, seria tão mais fácil.
—Eles devem ter conseguido pegar outras pessoas antes que ele acabasse o trabalho. —Harry comentou, como se estivesse na mente dela e soubesse seus pensamentos.
—Provavelmente. —Concordou. —Porque se não, ele teria nos alcançado.
—Sim, teria. —Concordou.
—Iremos reforçar a madeira da casa e principalmente de seu quarto. —Suzana garantiu.
—Certo. —Concordou mais pra acalmar a mãe, que estava mais pálida que o normal, do que por acreditar que isso manteria um Lobo afastado caso ele quisesse algo.
—Vou lá em casa, ver como foi a noite. —Harry disse pra ela, que assentiu.
—Vou dormir um pouco, estou exausta. —Disse e o encarou, de modo que ele compreendesse o que ela queria dizer. —Nos vemos depois.
—Claro.
—Char. —Sua mãe chamou, antes que ela e Harry dessem a volta na casa. —Durma em meu quarto, irei consertar isso aqui. —Indicou a parede e a menina assentiu.
—Claro.
          Harry e Charlotte pararam em frente a casa e olharam pra ver se Suzana não viria.
—Vou ver quem morreu e depois venho falar com você. —Harry garantiu.
—Acha que foram muitos? —Questionou.
—Espero que não. —Suspirou. —Mas os gritos ontem estavam bem assustados.
—Por que você acha que ele não entrou?
          Harry se calou e analisou a situação, sabia tanto quando Char que o Lobo poderia ter entrado e devorado os dois, mas se afastou.
—Eu não sei, mas... —Suspirou. —Foi estranho.
—Muito.
—Vai tentar dormir um pouco. —Mandou e beijou a testa da menina.
—Tente também.
—Só darei uma volta na Vila, será o suficiente.
—Sim, será.

          Charlotte dormira assim que deitou sua cabeça na cama. O sono iniciou calmo, mas logo ela estava sonhando.

          Char caminhava pela floresta, como já fizera várias vezes em dia que não há Lua Cheia, porém estava sozinha naquela noite e a lua, a gigante e brilhosa Lua Cheia, estava no auge.
—Você apareceu. —Ela escutou uma voz grave por entre as árvores e sorriu.
—Eu disse que viria, não disse?
—Sim. —Sorriu. –Vamos, pare de se esconder. —Disse rindo e ouviu um riso bem a suas costas.
          Char iria virar, mas ele a prendeu de costas em seu peito largo e braços fortes.
—Você não deveria estar aqui, Char. —Disse baixinho em seu ouvido. —Não hoje. Hoje é a Noite dos Monstros.
—Você vai me salvar.
—Você tem fé demais em mim, não deveria.
          Charlotte escutou um uivo furioso muito próximo de onde estava e logo não havia mais ninguém, ela estava sozinha novamente e agora o Lobo viria a seu encontro, como sempre vinha.
          Char começou a correr e sentiu seu coração acelerar dolorosamente, sentiu um galho cortar seu rosto e colocou mais força nas pernas, tentando ser mais rápida. Mas não era rápido o suficiente, sentiu as patas grandes e pesadas, o Lobo a jogou de peito no chão e a prendia abaixo de si, rosnando muito próximo a seu rosto e ela sentiu a saliva pingar.

—Charlotte. —Harry a segurava nos braços.
—Que droga. —Disse ela, sentindo a garganta seca e as lágrimas queimarem seus olhos. —Eu gritei, não é?
—Você sempre grita quando ele te pega.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?
Espero que tenham gostado.
Beijos e até o próximo capítulo.



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