30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 7
21 de julho (segunda-feira) - 7º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei. Sou uma monstra por ter sumido por todo esse tempo, mas tenho explicações.
Primeiro de tudo, eu faço curso técnico e chego todo dia 16h30 - menos às terças, que chego 17h15. Meu tempo é muito apertado e os professores estão querendo passar todos os trabalhos para antes das férias e eu mal tive tempo para mexer aqui.
Em segundo lugar, eu ando meio desanimada. Passei por umas situações desagradáveis e não estava no clima de desenvolver nada para a história. Também estou um pouco chateada pela falta de comentários. É muito importante para mim e eu preciso saber o que estão achando, o que esperam, qual o futuro que veem para a história... Por isso, fantasminhas, apareçam e conversem comigo. Não sabem como um elogio melhoraria meu dia.
Mil desculpas.
Já enrolei demais. Boa leitura.



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21 de julho (segunda-feira) – 7º Defeito

Realmente, segunda-feira é um dia odioso. Não importa quão boa sua escola seja, você sempre quer faltar. Além disso, estou sentindo que as coisas vão piorar a partir de hoje.

Gosto muito dos momentos filosóficos que me vem à cabeça de vez em quando. É engraçado estar anotando sobre minha vida e daqui a um mês ou um ano poder reler e ver o que aconteceu. Fora as possíveis reviravoltas. Imagina se amanhã Benjamin entra e diz que vai se mudar pra Europa? Ou que vai fugir com a namorada para se casar em Las Vegas? Ou, ainda, entra amanhã e declara estar apaixonado por mim também?

Acho que todas são possíveis – exceto a última, considerando a minha sorte.

Voltando ao fato de ser segunda-feira e eu ter aula, minha escola é longe e é necessário que meu pai me dê uma carona todo dia antes de seguir para seu escritório. Estou cursando o segundo ano e a parte do ensino médio é meio caída no meu colégio. Nosso prédio é o mais antigo e escuro, dando destaque para as pequenas e quadradas janelas (se você prestar atenção, Diário, parece que estou descrevendo uma prisão).

 Como sempre, há aquele grupinho de pessoas filhinhas de papai que teimam em se fechar em um grupo exclusivo e empinar os narizes para todos que passam, mas o resto conversa normalmente, sem essa neurose. Apesar disso, todos têm seu grupo de amigos mais próximos. O meu é formado pela Carol e o Vinícius, que já havia mencionado aqui no diário.

Carol é alta e atlética, sendo que joga na equipe de handebol da escola. Costuma andar com seus cabelos acobreados presos em um rabo de cavalo e não tira seus óculos nunca – exceto em jogos, para não correr o risco de quebrá-los pela sétima vez. Os olhos são quase pretos, sendo difícil diferenciar a íris da pupila, e o nariz é pequeno, combinando com o rosto arredondado e o ar de princesa que ela só aparenta ter, porque eu a conheço muito bem.

Já Vinícius é tímido, mas possui uma beleza discreta que arranca suspiros de muitas garotas. Seu cabelo castanho escuro é mais curto nas laterais e longo em cima, além de possuir olhos cinzentos puxados para um azul. É poucos centímetros mais alto que eu e possui um nariz curvado. Ficamos amigos quando ele entrou no colégio e não conseguia achar a cantina.

Como você sabe, Diário, comecei a escrever aqui com o propósito de desabafar sobre as turbulências da minha amizade com Benjamin. Então você deve estar se perguntando por que estou escrevendo sobre meus amigos do colégio.

Não que eles sejam obsoletos – nossa, longe disso – mas nossas conversas não tem nada de relevante para o assunto principal discutido nessas folhas, principalmente porque nenhum dos dois sabe sobre meus sentimentos. Aqui na escola falamos sobre séries, possíveis passeios e provocações normais entre amigos.

O que acontece é que eu não sou daquelas pessoas que podem dizer que suas vidas são um livro aberto ou alguma outra comparação do gênero. Desde que me entendo por gente, guardo tudo para mim e costumo falar muito sozinha para tentar resolver essas situações. Prefiro manter meus problemas fora do conhecimento da sociedade, incluindo meus amigos.

Confio totalmente neles, sem sombra de dúvidas, mas meus problemas pessoais são conflitos que gosto de evitar perguntas e pressões que aconteceriam se contasse para alguém. Infelizmente, esse pensamento não impede que certa vontade de contar para Carol surja de vez em quando.

Novamente, você deve estar se perguntando por que estou falando deles.

Acontece que Vinícius me chamou para sair.

Estávamos sentados no banco próximo à saída, esperando que nossos pais chegassem. Carol já tinha ido embora, então ficamos nós dois apenas. Após o fim de um assunto, o silêncio se instalou sobre nós, como se previsse a pergunta que Vinícius faria a seguir.

— Lívia, eu estava pensando... – ele se virou para mim, apoiando as mãos em suas pernas. – Você gostaria de, sei lá, ir ao cinema um dia?

Agora que estou escrevendo, posso perceber claramente as intenções de Vinícius, mas a Lívia presente naquele momento, não. Isso fez com que eu dissesse a seguinte frase:

— Claro! Só me fale que dia para poder avisar a Carol.

O brilho nos olhos dele que havia se formado ao escutar minha resposta sumiram após ouvir a continuação. Ele abriu um sorriso tímido e nervoso.

— Não, Lívia – ele riu e eu franzi o cenho, tentando entender (desculpe minha lerdeza momentânea, Diário). – Eu quis dizer eu e você, sozinhos.

Não pude conter o “Oh” que saiu de minha boca, porém tentei arrumar a situação. Vinícius apenas ficou me encarando, esperando minha resposta, enquanto meu cérebro repassava sua frase e imaginava o rosto de Benjamin, algo que rapidamente afastei. Percebendo que estava demorando demais, me recompus. Se ele ainda insistiu após o furo que dei, quem era eu para negar esse convite, certo?

Respondi que era uma boa ideia e ele sugeriu de nos encontrarmos no shopping, na sexta-feira, em frente ao cinema. Falei que iria pensar e ver se não tinha nenhum compromisso pouco antes de ver o carro de meu pai se aproximando, salvando-me daquele momento embaraçoso, e me deixando em frente à garagem rapidamente antes de voltar para o trabalho.

Entrei em casa passando reto pelo local que Benjamin costumava ficar sentado me esperando, porque já era óbvio que ele não planejava almoçar mais comigo. Fui até a geladeira, peguei o que sobrou do arroz do jantar de ontem e fritei alguns filés de frango.

Foi então que ouvi uma batida de porta e vi Benjamin entrando. Encarei-o, orgulhosa, lembrando-me da nossa conversa de ontem. Ele também não baixou o olhar, sendo que o verde competia espaço com um tom escuro que tomava conta de seus olhos.

Hoje foi, sem sombra de dúvidas, o almoço mais quieto de todos os tempos. Não dirigimos uma palavra pro outro e o som dos talheres batendo no prato, das mastigadas e até da mangueira ligada no jardim de Dona Marília dominou o ambiente, dividindo espaço com a tensão instalada entre eu e Benjamin, que não levantou o olhar de seu prato nenhuma vez.

Assim que acabou de comer, Benjamin recolheu suas coisas, pegou sua mochila e saiu, sem nem olhar para trás. Era segunda-feira e ele teria aula a tarde. Sei que não cooperava respondendo às provocações de seu orgulho à mesma altura, mas somos assim e, sempre que brigamos, ficamos vendo quem vai ser o primeiro a correr atrás. Como tinha certeza que eu não era culpada, ficaria esperando sua iniciativa.

Depois do almoço, subi então para meu quarto. A tarde foi conturbada, com uma mistura entre pensar nos exercícios da lição de casa, na discussão com Benjamin e no encontro com Vinícius.

Eu estaria mentindo para você se dissesse que não estava considerando dar uma chance a Vinícius. Ele é legal, minha família gosta dele, não existe uma tensão estranha entre nós e, acima de tudo, ele não está namorando uma Barbie com garras.

Entretanto, não importa o quê, sempre que pensava em coisas que me agradavam em Vinícius, minha mente conturbada teimava em compará-lo com meu vizinho comprometido e orgulhoso.

Não importa quem seja. Meu ídolo poderia aparecer aqui em casa, ajoelhar e estender um buquê de rosas vermelhas, e eu ainda assim iria hesitar, porque meu cérebro aguarda o dia em que Benjamin me chame para um encontro – mesmo sendo mais impossível a cada dia que passa. 

O sol estava quase se pondo quando acordei e percebi que dormi com o lápis atrás da orelha e em cima de meus cadernos, amassando grande parte de minha redação.

Foi então que me virei e vi Benjamin deitado em minha cama assistindo um episódio de How to get away with murder. Estava completamente entretido e ignorou meu despertar e meu rosto amassado de sono.

— Arrume essa cara. Nós temos química para estudar – falou sem tirar os olhos da TV e eu demorei um tempo para entender que aquilo tinha a ver com a falsa nota baixa em química na prova que ainda nem fiz. Assenti com a cabeça e sentei ao seu lado na cama, que estava ocupada pelos cadernos de Benjamin.

Acho que não comentei sobre isso aqui, mas Benjamin tem uma caligrafia ilegível. Ele já me emprestou suas anotações para uma prova e até já resolveu alguns exercícios para mim, mas em ambas as situações não consegui entender nada que escreveu. Ele deve anotar tudo em uma língua própria.

Benjamin começou revisando alguns conceitos aos quais fingi prestar atenção, mas minha mente estava longe. Ainda passou uma lista de exercícios que tive de fingir certa dificuldade – talvez nem tanto, porque a lista estava realmente difícil.

Ele me deixou fazendo um exercício para descobrir a massa de um átomo com uma expressão algébrica enquanto foi ao banheiro, mas parei de ler o enunciado logo que Benjamin entrou no banheiro. Para ter uma ideia, não sei o que realmente estava sentindo naquele momento, apenas sei que não tinha mais unha para roer e o nervosismo estava me corroendo.

Eu queria escutar o pedido de desculpas que imaginei saindo da boca de Benjamin, mas isso não aconteceu. Eu tinha vontade de ignorar a briga e contar sobre meu encontro com Vinícius para ver se pelo menos um esboço de ciúme apareceria em seu rosto, mas algo me bloqueava. Suspirei.

O celular de Benjamin vibrou na cama e eu não pude evitar a curiosidade, esgueirando o visor apenas para sentir certa raiva preencher meu corpo ao ver mensagens de “Amorzinho” chegar. Pode ter sido minha irritação, meu ciúme, meu orgulho ou até uma mistura dos três, mas eu precisei limpar seu histórico de notificações.

Desculpe, foi mais forte que eu.

Foi então que percebi, antes de deixar o celular de lado, que Benjamin trocou a foto do plano de fundo. Onde antes estava uma foto nossa no parque, agora estava uma foto dele beijando a bochecha de Mariana.

Cerrei os punhos. Caramba, o que está acontecendo comigo? Sim, o ciúme atacou, mas a parte racional de mim me fez respirar fundo e começar a me consolar em silêncio, dizendo a mim mesma que ele tinha esse direito, já que ela era a namorada dele.

Mais uma vibração no colchão, mas dessa vez a mensagem chegou em meu celular. Se soubesse qual era a mensagem, nem teria me dado o trabalho de visualizá-la.

Desconhecido: Já te adverti uma vez e espero que essa seja a última. Sei que continua andando com Benjamin. Parece que você tem certa dificuldade em obedecer, não é? Fique longe do meu namorado.

Obviamente era daquele protótipo de Barbie que meu vizinho chamava de namorada – e eu fiz questão de colocar esse nome quando adicionei o número aos meus contatos. Respirei fundo e engoli o nó que se formou na minha garganta, segurando minhas lágrimas de raiva que estavam loucas para sair.

Por que Benjamin tinha que namorar justo essa garota?

Soquei várias vezes o travesseiro e só parei quando Benjamin saiu do banheiro. Ele mal sentou na cama e eu já havia jogado todo o material em seu colo. Levantei-me.

— Pode ir embora. Não preciso de sua ajuda – avisei e sai do quarto. Era engraçado deixá-lo ali, mesmo o quarto sendo meu, mas seria uma enorme discussão se tentasse convencê-lo a sair, por isso quem saiu foi eu.

Desci e joguei-me no sofá, emburrada, esperando o tempo passar e Benjamin ir para sua casa. Mas, ao ouvir passos apressados descendo a escada, soube que Benjamin não planejava ir embora tão cedo.

Claramente, devido a minha maturidade e segurança de sentimentos (exale essa ironia, Diário), sai em direção à rua, descalça e envolvida em uma perseguição que claramente iria perder.

Como esperado, não deu dois minutos e Benjamin me alcançou, segurando meu braço e virando-me para ele. Meu pé queimava com o contato com o asfalto ainda quente, mas tudo perdeu a importância quando vi uma mistura de raiva e mágoa no olhar de Benjamin.

— Lívia, o que está acontecendo com você? – perguntou, segurando meu rosto entre suas mãos.

E foi aí que eu não aguentei.

Não, eu não o beijei nem contei que sou apaixonada por ele.

Eu comecei a chorar.

Ele apenas se ajoelhou a minha frente e eu abracei seu pescoço, ignorando por um período a explicação que teria que dar. Benjamin me abraçou de volta e eu fiquei ali, com a palma do pé queimando e o nariz escorrendo, mas nada disso importou naquele momento e eu apenas recostei minha cabeça em seu ombro.

Foi aí que uma solução surgiu em minha cabeça:

Eu teria que me afastar de Benjamin.

Parece que Mariana conseguiu o que buscava.

Não era o que queria, mas era o necessário. Estava cansada de aturar tudo em silêncio, de guardar para mim, mas eu simplesmente não podia e nem posso contar. Eu adoro a relação que tenho com Benjamin – e adoraria que avançasse –, mas como não vai passar disso, não posso colocá-la em risco, porque odiaria perder essa amizade. Ele pode não saber, mas precisa desse tempo o mesmo tanto que eu.

Engoli o choro e me desvencilhei dele, observando aqueles olhos uma última vez e vendo que toda a raiva e mágoa desapareceram e deram espaço à preocupação.

— Pode me explicar o que foi isso? – perguntou enquanto ficava de pé. Suspirei e balancei negativamente a cabeça. Já tinha colocado na minha cabeça a necessidade desse espaço que iria proporcionar a nós dois, que me permitiria respirar sem sentir minha garganta se inundar de ciúmes e tristeza toda vez que o olhasse.

Benjamin insistiu mais uma vez, mas eu disse que não. Despedi-me e ele foi para sua casa a contragosto, olhando uma última vez para trás. Sorri fraco e entrei, pensando até agora em uma maneira de me manter afastada dele e em quanto isso vai me custar.

Lívia.

7º Defeito: Benjamin tem a pior caligrafia de todas.


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro.
Se tivermos comentários, posso postar um capítulo amanhã. O que acham?
Obrigada por lerem até aqui.