30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 6
20 de junho (domingo) - 6º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora! Eu viajei no feriado e essa semana foi encerramento de trimestre, então mal tive tempo de mexer aqui!
Quero agradecer pelos comentários e dizer que espero novos nesse capítulo. Para os fantasminhas, peço que apareçam para podermos conversar.
Já me desculpo por qualquer erro ortográfico, pois quis postar o mais rápido possível e talvez algo tenha passado despercebido.
Boa leitura ♥



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20 de junho (domingo) – 6º Defeito

Depois de resolvermos as coisas, ou melhor, depois de eu decidir mentir, tudo voltou ao normal – na medida do possível.

Benjamin me enviou uma mensagem dizendo que seu pai faria um churrasco hoje e era para eu e minha família aparecermos na hora do almoço. Foi assim que fizemos.

Alguns carros estavam parados em frente à casa de meu vizinho e era possível ouvir risadas, música e pulos na piscina. Como não planejava me molhar devido a enorme quantidade de garotos ali, fui com um simples short jeans, uma blusa com o brasão de Hogwarts e uma rasteirinha.

Seguimos até o quintal nos fundos, onde pude localizar Benjamin na piscina com Mariana nos ombros. Decidi não encarar por muito tempo, o que não foi difícil, pois, ao passar os olhos pelo local, fixei-os em outra pessoa, que abriu um sorriso ao perceber que me aproximava correndo.

Daniel me abraçou no ar e eu retribui. Ele estava completamente molhado e cheirava a cloro, mas nada disso importava, porque a saudade era maior. Daniel me colocou no chão, mas segurou minha mão porque avisei que estava tonta devido a tantas voltas no ar.

Ele foi um dos primeiros amigos que Benjamin me apresentou e o mais legal dos que conheci. Daniel é alguns centímetros mais alto que eu, com um cabelo loiro que atualmente estava cortado em um moicano – mas não daqueles altos e chamativos, era um cortado da forma perfeita – e olhos castanhos calmos e singelos, muito diferente da tempestade que eram os olhos de Benjamin no momento que olhei em sua direção.

Ele observava aquela cena silenciosamente e pareceu ignorar Mariana por um momento. Benjamin me encarou por um tempo, como se quisesse me dizer algo pelo olhar. Ignorei aquela reação, já que não deveria ser nada demais ou apenas coisa da minha cabeça mesmo.

— Quanto tempo! – exclamei e me aproximei novamente para outro abraço, que ele retribuiu.

— Eu que o diga! Pedi várias vezes para Ben te levar para assistir um treino ou para marcar alguma coisa aqui pra poder te ver e olha o tempo que levou! – Daniel disse e eu sorri. Benjamin realmente não era confiável para essas coisas, ele faz o que quer quando quer. Se tivesse que definir, diria que Benjamin é completamente imprevisível e movido por impulsos.

Provavelmente o mesmo impulso que o fez me pegar no colo e jogar na piscina.

A minha sorte é que meu celular estava na bolsa de minha mãe, senão era um mês de castigo (lembre-se que Benjamin consegue persuadir meus pais, então a culpa do celular afogado ia ser minha). O choque de cair naquela água gelada pareceu me congelar por um momento, mas logo me recuperei.

Segundos depois de emergir, engoli mais um litro de água devido ao pulo de Benjamin, que jorrou água para todos os lados. Comecei a tentar boiar, mas a cada tentativa era mais água engolida.

Foi então que Benjamin colocou as mãos em minha cintura, puxou-me para si e passou minhas pernas por seu corpo, deixando-me colada a ele. Nem preciso dizer que a tremedeira que senti não foi só devido ao frio.

Ele sorriu e tirou o cabelo que caia em meu rosto, que eu nem percebi estar sobre minha face. Fiquei um tempo parada, de olhos arregalados, processando o que estava acontecendo. Acho que nunca tinha ficado daquele jeito com Benjamin e era como se não tivesse mais ninguém ali enquanto observava aqueles olhos verdes tão de perto, aproveitando a oportunidade para absorver todos os detalhes daquele rosto, como os fios enrolados escuros que estavam encharcados e escorrendo pela testa de Benjamin, as gotinhas que percorriam todo o percurso até o queixo, e principalmente sua boca, que agora estava fechada e arroxeada.

Entretanto, consegui acordar do efeito alucinógeno que Benjamin instalou sobre mim. Afastei-me e joguei água nele.

— Qual é o seu problema, Benjamin? – perguntei e nadei em direção à escada, saindo da piscina e pisando duro até onde Daniel estava. – Quer vir comigo até minha casa? Preciso trocar de roupa – disse encarando o garoto que me jogou na piscina e que observava minha conversa com seu amigo. Algumas pessoas pararam para ver o que tinha acontecido, incluindo Mariana, mas o resto seguia conversando animadamente.

Daniel assentiu e sai pela entrada lateral, torcendo minha blusa, com o loiro ao meu encalce. Subi rapidamente para meu quarto, peguei uma muda de roupa e pedi para Daniel esperar lá enquanto me trocava no banheiro.

Ao sair, Daniel estava olhando minha estante. Por que todo mundo que entra aqui sempre olha isso? Ele percebeu que eu estava ali e apontou para um dos jogos que estava guardado.

— Por que não levamos o Just Dance para lá? Aquele churrasco precisa dar uma animada – perguntou, puxando a caixa do jogo. Dei de ombros e confirmei que poderia levar.

Realmente, a ideia de Daniel foi ótima. Um aglomerado de gente se formava ao redor do videogame – agora na área coberta do quintal. Alguns garotos e garotas dançaram enquanto os outros – eu inclusa – cantavam as músicas, riam ou filmavam os amigos. Felizmente, consegui sair daquele grupo de pessoas antes que o casal destaque começasse a dançar “Careless Whisper”, mas não antes de ter que prometer a Daniel que dançaria com ele depois.

Acho que, naquele momento, a palavra “ciúme” realmente estava escrita na minha testa, mas ninguém ali parecia interessado nisso. Afastei-me e entrei na casa de Benjamin, encontrando a melhor companhia que poderia querer.

Valentina.

A loirinha sorriu para mim e correu em minha direção. Abracei-a e começamos a conversar sobre banalidades, como as novas fotos que ela tirara e como ia o sexto ano – já que há um bom tempo ela me disse que estava com medo da mudança e dos novos professores.

Mas é claro que o Destino tinha que ser esse cara legal que era e trazer o romance de Benjamin para a conversa.

— Ben parece feliz – comentou enquanto penteava o cabelo de uma Barbie e eu vestia um biquíni em outra. – Mas aquela menina nunca conversou comigo direito. Ela me chamou de criança — fui obrigada a rir da cara de inconformada que fez.

— Se ela te conhecesse, saberia que você odeia ser chamada assim – comentei e ficamos um período em silêncio, até ouvir um suspiro vindo de Valentina.

— Por que você não namora meu irmão?

Arqueei a sobrancelha para ver se a fazia sorrir, mas ela permaneceu séria, esperando uma resposta.

— E ter que aturar todas as manias do seu irmão? Não, obrigada – sorri, agradecendo mentalmente meu cérebro por ter optado pela saída descontraída. –Além disso, eu e Benjamin somos... incompatíveis — afirmei, lembrando-me da frase de Mariana, fazendo um aperto surgir em meu peito.

— Mas você ao menos sabe as manias para odiá-las. Aquela Mariana não conhece meu irmão do jeito que você conhece. E se, por causa dela, você e meu irmão pararem de se falar e você se afastar de mim? – perguntou, manhosa.

— Tina, você está misturando tudo. Não vou me afastar de você, não importa o que aconteça – falei e a puxei para um abraço. – Valentina Lacerda será minha criança para sempre – provoquei-a e ela me deu um tapa de brincadeira, rindo em seguida.

Depois de ficarmos ali por um tempo, começamos a caminhar em volta da piscina, brincando de equilibrar na borda.

Isso é, até me empurrarem para a piscina. De novo.

Só que dessa vez não foi Benjamin. Foi Daniel.

— Você não fez isso – ameacei e ele sorriu. Valentina gargalhava.

— Acho melhor ficar, senão é provável que eu te empurre de novo – revirei os olhos e assenti com a cabeça, nadando até o degrau da escada da piscina e sentando lá. – Além disso, ainda está me devendo uma dança.

 Fiz uma careta, mostrando meu desagrado.

— Posso deixar para outro dia? – perguntei. Daniel deu de ombros e sorriu, deixando à mostra suas covinhas.

— Contanto que cumpra sua palavra.

— Eu juro – disse, colocando a mão direita para cima e a outra no peito.

Acabei ficando ali a tarde inteira, com Daniel e Valentina – que entrou alguns segundos depois daquela rápida conversa. Fui arrastada novamente para dentro, tendo que abandonar meu confortável lugar na escada e começar a carregar Tina nas costas.

Foi então que, sem eu perceber, Daniel mergulhou, passou pelas minhas pernas e me ergueu pelo ombro. Completamente chocada, comecei a tentar me arrumar, puxando até seu cabelo enquanto tentava não desequilibrar.

Foi mais ou menos nessa hora que vi, no meio de todos aqueles adolescentes dançando, Benjamin parado no meio, encarando-me com aqueles olhos que pareciam soltar faíscas. Joguei todo meu corpo para trás e senti o impacto de minhas costas contra a água.

Não deu um minuto e Benjamin já se aproximava da piscina. Com Mariana. Esse garoto só podia estar de brincadeira. O que ele queria com isso? Por que Benjamin precisava me fazer conviver com ela? Senti meu sangue ferver.

Os dois entraram e ele logo a colocou sobre os ombros.

— Que tal uma luta? – Benjamin perguntou enquanto Mariana mostrava as garras pintadas de vermelho em minha direção (acompanhado de um olhar nada amigável).

— Não, obrigada. Perdi completamente a vontade de ficar aqui – falei, ríspida, enquanto passava reto pelo casal e saia da piscina, mas sem antes voltar e depositar um beijo na bochecha de Daniel e dar um abraço em Valentina. – Tchau Daniel. Tchau Tina. Falo com vocês depois – despedi-me quando já estava fora da piscina, ignorando o olhar assassino de Benjamin.

Segui para casa, tomei um banho e coloquei um filme para passar o tempo, olhando eventualmente pela janela, reparando que rapidamente o número de pessoas na casa ia diminuindo. Quando, finalmente, vi Mariana se despedindo – com muito mais saliva do que o necessário, devo ressaltar – decidi voltar e pegar meu jogo de dança.

Toquei a campainha pouco tempo depois. A porta foi aberta por meu vizinho que, assim que me viu, fechou a cara totalmente.

— Daniel já foi embora, se é isso que quer saber – disse, seco.

Essa frase ecoou em minha cabeça sem fazer o menor sentido. Não sabia por que ele estava assim. Sei que o provoquei não me despedindo e meu vizinho deve ter ficado chateado quando não o tratei bem por estar com Mariana, mas Benjamin estava alterado desde o começo do churrasco. Naturalmente, como a orgulhosa que sou, fechei a cara para ele também.

— Eu só vim pegar meu jogo – fui direta e evitei olhar em seus olhos.

Benjamin somente se afastou e deu passagem. Segui pela casa que conhecia bem, tomando cuidado para não escorregar no azulejo molhado. Enquanto tirava o CD de dentro do console, pude sentir o olhar de Benjamin queimando em minhas costas.

— Quer dizer que Daniel pode te jogar na piscina e eu não? – perguntou, com aquele tom rouco se destacando.

Parei por um tempo, pensando no que responder. Não deixei Benjamin me jogar e muito menos deixei Daniel. A única diferença era que o loiro estava me tratando bem e eu só fiquei na piscina porque Valentina estava lá e, felizmente, Mariana não.

— De onde tirou isso, Benjamin? – questionei-o enquanto guardava o disco.

Virei-me e encarei-o de nariz empinado. Tudo bem, ele continuava sendo meu melhor amigo apesar das turbulências, mas não compreendi de onde surgiu aquilo. Benjamin não fazia nada além de falar da atual namorada e mal conversou comigo, o que já era esperado, já que Mariana se tornara a única preocupação em sua vida, mas ainda assim ele queria dizer com quem eu teria que andar também?

— Quer dizer que para falar com garotos eu tenho que estar namorando algum deles? – indaguei, sarcástica.

—Claro que não, Lívia! Mas... mas você ignorou a existência do seu melhor amigo, se é que eu sou, e passou o dia inteiro com ele. Aí, quando vou brincar, você surta e me joga água – ele deu uma pausa, recuperando o ar. – Então, quando eu olho, Daniel te joga na água e sua única reação é rir. Quer que eu não suspeite disso?

Fiquei calada por um momento, processando tudo aquilo. A explicação estava bem além do limitado campo de visão de Benjamin. Era uma mistura de ciúmes atolado na garganta que não me permitia ver Benjamin como antes e raiva por estar aos poucos perdendo meu melhor amigo para alguém como Mariana, que parecia casa vez mais presente. Eu tentei me preparar aos poucos para o dia em que Benjamin começasse a namorar, mas é só na prática que se aprende.

Eu entendo que estava sendo uma péssima amiga, mas se ele ao menos soubesse o quanto eu gosto dele, não me obrigaria a viver isso, essa tortura. Estava tentando dar o máximo de espaço e buscava esconder qualquer sentimento proibido enquanto estivesse com Benjamin, mas estava sendo muito difícil. Achei que seria fácil, mas algumas coisas pareciam escapar de mim inconscientemente, mostrando que era impossível esconder tudo que estava sentindo.

Decidi então optar pela saída mais fácil.

— Você, por acaso, está com ciúmes, Benjamin? – ergui as sobrancelhas e ri de sua expressão, que passou de séria para extremamente ofendida. Rapidamente, recuperou sua pose.

— Boa noite, Lívia – disse e subiu as escadas, deixando-me sozinha naquela sala repleta de azulejos molhados.

Lívia.

6º Defeito: Benjamin é impulsivo e, consequentemente, imprevisível.


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