30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 5
19 de junho (sábado) - 5º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Não aguentei esperar e trouxe o capítulo mais cedo ahsuahsuahsu
Queria agradecer a todos que estão lendo e comentando. E quatro já favoritaram a história ♥
Giulianaamoedo e Izzy, obrigada pelos comentários.
Espero que gostem ♥



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19 de junho (sábado) – 5º Defeito

Minha vantagem de ser sábado é que, não importa o que esteja acontecendo, Benjamin nunca acorda antes das 11h. Pode ser o fim do mundo, mas se acontecer às 9h em um sábado, é provável que meu vizinho nem saiba do que morreu. 

Eu, por outro lado, não consigo dormir até tarde e isso é algo extremamente frustrante. Não importa que horas vá me deitar, sempre acordo cedo e não consigo voltar a dormir.

Desci para tomar café e encontrei meus pais conversando na mesa. Acho que não falei deles ainda para você, Diário, mas eles passam o dia inteiro fora de casa e sempre chegam muito tarde, não presenciando muitas das cenas malucas por quais eu passo e – consequentemente – Benjamin também.

Minha mãe se chama Carla e meu pai, Eduardo. Mamãe é alguns centímetros mais baixa que eu e possui a mesma cor de cabelo que eu (tirando as mechas loiras que fez), mas o cortou acima do ombro. Seus olhos são azuis, que infelizmente não herdei (a sortuda da história é a minha irmã mais velha, Raquel, mas ela não mora mais aqui em casa – posso ouvir um aleluia, irmãos?) e minha mãe, apesar de passar horas naquela empresa bancária, sempre chega com um sorriso.

Meu pai é um pouco mais alto que Benjamin e possui cabelos pretos – com alguns fios grisalhos – e olhos escuros, explicando sempre que meus olhos são idênticos ao de minha avó paterna (o que justifica a cor não ser igual à de meus pais). Ele trabalha em uma construtora, com um grupo de arquitetos, e costuma passar noites em claro pensando em projetos.

Comecei a comer e a conversar. Decidi então falar sobre como havia sido minha semana e contar algumas novidades.

— Benjamin está namorando – contei antes de morder mais um pedaço de minha torrada. Meus pais se entreolharam e ergueram uma das sobrancelhas.

— Sempre achei que Benjamin não namorasse – minha mãe comentou, bebericando um pouco de seu café.

— Também achava – foi só o que respondi.

— Como é a garota? – agora a pergunta veio de meu pai.

— Ela é... – uma completa idiota, chata e metida que não merece nem a unha do mindinho esquerdo de Benjamin! — legal.

A partir daí, busquei um novo assunto até que acabasse de tomar meu café e pudesse subir para meu quarto. Infelizmente, meus pais não cooperaram e começaram a conversar sobre o que menos queria falar.

— Já sabe quem vai chamar para a festa? Você sabe que só pode entrar acompanhada – minha mãe falou e eu bufei.

Esse baile era feito todo ano no começo das férias de julho pelo prefeito em sua rua, como uma festa a céu aberto. O ruim era que as garotas precisavam usar vestidos e entrar acompanhadas por rapazes de terno.

— Nem sei se quero ir – comentei. Por quê? Principalmente porque minha ideia era ir com o garoto que agora se encontra compromissado com a pior garota do universo.

— Ora, só porque Ben está namorando? – papai perguntou, provocando-me e fazendo minha mãe sorrir.

— O que Benjamin tem a ver com isso? – rebati, erguendo o cenho. Meu pai deu de ombros.

— Nada querida. Por que não chama Vinícius então? – revirei os olhos, levantando-me.

— Vou pensar no seu caso – respondi e subi para meu quarto.

Devido à proximidade que meus pais têm com os dois garotos, essas brincadeiras envolvendo possíveis relacionamentos são muito comuns. Nem preciso dizer que ocorre principalmente com Benjamin.

Lembro-me de quando minha mãe o conheceu. Era a primeira vez que ele vinha em casa (para jogar videogame e nada mais) e estávamos na sala – naquela época triste, o console não ficava no meu quarto. Ela entrou em casa falando no telefone e passou direto, mas assim que percebeu que tinha outra pessoa na sala comigo, aproximou-se de onde estávamos.

— Lívia, quem é seu amigo? – minha mãe perguntou. Virei-me para ela e pude ver um sorriso em seu rosto, já prevendo as vergonhas que me faria passar.

— Esse é o Benjamin – apresentei-os e pausei o jogo (para alívio dele, que estava perdendo) e ele foi cumprimentar minha mãe.

— Você deve ser a irmã de Lívia – Benjamin usou um clichê e arrancou um sorriso de minha mãe. Revirei os olhos. – É um prazer conhecê-la.

Minha mãe o cumprimentou de volta e logo disse que tinha que terminar ode preparar a comida, deixando-o livre para voltar a perder. No jantar, quando meu pai já estava em casa, mamãe começou a contar sobre Benjamin.

— Você tinha que ver, Edu. Os dois estavam jogando juntinhos ali no chão. Imagina que casal fofo formariam! – engasguei com meu suco, imaginando qual seria a reação dos dois se contasse como comecei a conversar com Benjamin.

— De onde você tirou essa ideia de casal? – questionei, irritada.

— Preciso conhecê-lo para ver se aprovo – meu pai disse, com cara de poucos amigos. Revirei os olhos.

— Eu e Benjamin não temos nada – determinei, indignada com o rumo da conversa.

— Por enquanto – mamãe falou baixo, mas sabendo que ouviria. Bufei.

No dia seguinte, papai convidou a família de Benjamin para jantar em casa, o que não incomodou muito inicialmente, já que seria uma boa alteração na rotina. Porém, mudei automaticamente de ideia ao ver Benjamin com um sorriso malicioso no rosto ao entrar em minha casa.

— Pelo jeito, causei uma boa impressão – disse em meu ouvido após me cumprimentar. Sorri falsamente em sua direção e fomos nos sentar à mesa.

A mãe de Benjamin, Renata, é loira e possui os mesmos olhos verdes do filho, enquanto o pai, Marcos, possui cabelos e olhos escuros, além de uma barba rala. Por fim, entrou a irmã mais nova de Benjamin, Valentina, que possuía dez anos naquela época, além de ser a cópia fiel de Renata – com os mesmos fios loiros e olhos verdes. Que família abençoada os Lacerda são!

E aí começou a noite mais longa da minha vida, que se resumiu a ataques de tosse e gargalhadas de Benjamin enquanto meus pais me envergonhavam e eu tentava desesperadamente esconder meu rosto. Algumas histórias de minha infância foram contadas e um questionário enorme foi feito para Benjamin, que respondia todas as perguntas olhando para mim.

E foi assim que ele conquistou minha família, sendo que até hoje Benjamin tem uma forte influência sobre meus pais e suas decisões. Em parte, isso é ótimo, porque consegue convencê-los a me deixar fazer qualquer coisa – desde que ele esteja lá para acompanhar –, mas Benjamin acabou fazendo meus pais acharem que ele é um anjo e que deveria servir de exemplo para mim, sendo que sou sempre comparada a ele. Benjamin até já jogou a culpa em mim em várias situações, somente para livrar sua cara e receber meu olhar mortal.

Voltando ao presente, fiquei em meu quarto pensando no que aconteceu ontem. Mariana era uma completa idiota e, apesar de me sentir ofendida com as palavras dela, não acabaria minha amizade com Benjamin, não daria esse gostinho a ela. Isso se tornou uma questão de honra. Por isso, comecei a pensar em elogios falsos para a namorada do meu vizinho enquanto prometia a mim mesma cobrar caro de Benjamin no futuro pelo o que ele estava me fazendo suportar.

O problema é que eu ainda estou confusa e mexida com o que Mariana falou. Eu sei, não deveria acreditar em nada que aquela garota disse, mas imaginar Benjamin falando comigo só por obrigação faz com que um buraco de tristeza apareça em minha barriga.

Não pude ver meu vizinho antes do almoço, já que fomos comer em um restaurante que meu pai adorava. Como não avisei Benjamin, tinha certeza que ele entraria em meu quarto, então decidi esconder esse diário embaixo da cama só para garantir.

Já no restaurante, pedi uma massa ao molho branco e um suco de morango. Estava engolindo a primeira garfada quando uma mensagem chegou.

Cabeça de Estrume: O macarrão está gostoso?

O garfo que segurava ficou em minha boca enquanto olhava ao me redor, tentando localizar um par de olhos verdes e um bagunçado cabelo escuro que combinavam mais do que achava ser possível. Encontrei Benjamin a três mesas na diagonal rindo de minha cara – e do garfo em minha boca.

Só podia ser brincadeira.

Eu: Ainda me perseguindo, Benjamin?

Enviei logo depois de me recompor e pude ver um sorriso aparecer no rosto dele ao ler a mensagem. Meus pais espiavam pelo canto do olho.

Cabeça de Estrume: Não consigo me controlar, Lívia.

Eu: Pois deveria. É melhor perseguir sua namorada, senão ela fica com ciúmes.

Cabeça de Estrume: Já estou perseguindo, ela só foi no banheiro e daqui a pouco ‘tá de volta.

Só podia ser brincadeira – parte 2.

Bloqueei a tela do celular e voltei a comer, ignorando as notificações de mensagem. Olhei rapidamente para onde Benjamin estava sentado e vi que ele me encarava, mas fiz questão de desviar o rosto, porque logo atrás dele estava Mariana, aproximando-se da cadeira vazia ao lado de meu vizinho.

Quando meu pai acabou de pagar a conta, peguei as chaves de seu carro rapidamente e fui para o carro antes que Benjamin pudesse me alcançar. Entrei e liguei o som em um volume muito alto, causando choque em algumas senhoras que passavam pela calçada.

Pude ver pelo vidro que, ao longe, meus pais conversavam com a família de Benjamin e com o mais novo casal que estava de mãos dadas. Um pequeno nó se formou em minha garganta, acompanhando o aperto no peito.

Droga, Benjamin!

Preciso de férias do meu vizinho e principalmente daquele protótipo de Barbie que ele chama de namorada. Fechei os olhos e tentei pensar no que fiz de tão ruim na vida para merecer se apaixonar por meu melhor amigo e, pior, ter que vê-lo junto de alguém como Mariana.

Finalmente minhas preces foram ouvidas e meus pais se despediram e entraram no carro. Ouvi um fraco coro de “Aleluia” soar em minha cabeça quando meu pai girou a chave.

— Filha, por que saiu correndo? – minha mãe indagou.

— Por nada – respondi. Ela sorriu para mim.

— Está com ciúmes do Ben? – ri alto de sua pergunta.

— Claro que não, mãe! De onde tirou isso? – perguntei, incrédula. Apesar de ter ciúmes sim, ele era obsoleto comparado à minha vontade de fugir daquela garota.

— Está escrito na sua testa, Lívia – disse e foi a última palavra dita até chegarmos em casa.

Obviamente, não vi Benjamin o resto dia, mas – infelizmente – ouvi. No quarto ao lado. Com Mariana. Rindo. É meio óbvio o que estavam fazendo e eu sei que você sabe do que estou falando.

Bufei e coloquei-me de pé. Fui ao meu rádio e coloquei Boulevard of Broken Dreams no máximo, ligando meu videogame em seguida e colocando Call of Duty num volume de estourar os tímpanos a cada tiro. Joguei feliz por meia hora, imaginando Mariana e meu vizinho em cada inimigo, até o Seu Cláudio ligar reclamando e eu ser obrigada a abaixar um pouco, mas ainda mantendo ligado para evitar ao máximo escutar aqueles... Ruídos.

A playlist seguiu tocando várias músicas repletas de solos de guitarra e gritos que pareciam melhorar meu humor. O sol já estava se pondo quando começou a tocar uma de minhas favoritas: Bad Moon Rising do Creedence Clearwater Revival. É uma daquelas músicas que você não consegue ficar parado, então fiquei dançando sozinha pelo quarto até não aguentar e começar a rir, jogando-me na cama.

Isso até olhar para o lado e ver Benjamin apoiado no batente da varanda, sorrindo de orelha a orelha.

Detalhe: Ele estava sem camisa.

Fiquei um tempo deitada, olhando-o. Benjamin usava somente uma surrada e larga calça jeans que misteriosamente fica bem nele. Ele tem a barriga definida (e põe definida nisso!) somente para piorar minha situação e me deixar absorta em pensamentos enquanto o encarava descaradamente.

Logo que entrou no quarto, o sorriso que estava estampado em sua cara se desfez. Um tom escuro tomou conta daqueles olhos que eu tanto gosto.

— O que está acontecendo, Lívia? – perguntou, sua voz meio rouca, como sempre acontecia quando estava preocupado. Sentou-se ao meu lado e acariciou levemente meu cabelo.

Olhei-o por um momento curto que para mim durou muito. Cada vez que seus dedos encostavam em meu cabelo, eu sentia meu corpo aquecer mais. Em momentos assim, eu percebia o lado bom de se apaixonar. Benjamin tornava todos os momentos simples em algo mágico para mim.

— Eu... – e por um momento eu pensei em contar. Era melhor ser rejeitada naquele momento somente meu e dele, quando eu simplesmente sabia que ele estava comigo, do que explodir, por exemplo, na frente de Mariana. – Eu fui mal na prova de química e recebi a nota sexta-feira.

Sim, eu menti descaradamente, mas o que poderia fazer? Eu não tenho coragem de falar para ele. De qualquer forma, como jogar essa bomba bem no meio do relacionamento dele? Torci para que ele engolisse a mentira.

Benjamin arregalou os olhos.

— Como assim Lívia? Comigo literalmente aqui do lado e você nem considera pedir ajuda? – questionou e eu agradeci mentalmente por ser boa pelo menos em mentir. Revirei os olhos.

— Como ia fazer isso Benjamin? – perguntei, sentando-me na cama. – Você passou essa semana falando da tal da Mariana – continuei, sentindo um aperto no peito. – e nem lembrou de mim.

Nesse momento, Benjamin ergueu o olhar e encontrou o meu, causando uma aceleração louca no meu coração seguido da amarga lembrança de Benjamin e Mariana dando as mãos. Aquelas orbes verdes intensas mostravam certa surpresa e decepção.

— Eu nunca vou me esquecer de você, Lívia.

São essas frases que mexem com garotas, porque nunca sabem se têm um significado por trás. No meu caso, toda essa confusão era culpa de Benjamin.

— Vou ser obrigado a dizer quão importante você é pra mim? – fez um biquinho e eu sorri, abraçando-o. Passei os braço por sua cintura e recostei a cabeça em seu ombro nu enquanto ele afagava meu cabelo.

Pelo resto da noite, Benjamin ficou ali, assistindo um episódio de Supernatural comigo enquanto tacava salgadinho para o ar e tentava pegar com a boca. Ficamos assim até eu ter que ir jantar e Benjamin pular da minha sacada para a sua.

Lívia.

5º Defeito: Benjamin é muito influente e tem um forte poder de persuasão.


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Notas finais do capítulo

Apareçam, favoritem... Que tal debatermos a história nos comentários?