30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 4
18 de junho (sexta-feira) - 4º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Passei aqui rapidinho para agradecer a Giulianaamoedo e a Olívie pelos comentários ♥



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18 de junho (sexta-feira) – 4º Defeito

Diário, sabe aqueles dias que você gostaria de pular? Esquecer que já passou por aquela situação, que foi obrigada a viver aquele momento?

Como eu queria não ter vivido o dia de hoje.

Novamente, Benjamin não almoçou comigo – o que eu já esperava. Ele me mandou uma mensagem dizendo que chegaria à tarde com Mariana e que estava louco para apresentá-la.

Eu pensei seriamente em fugir de casa e ir passear no shopping ou ir ao cinema, mas o peso na consciência que se formava somente por pensar nisso não deixou. Benjamin me considerava tanto que estava mais ansioso em apresentá-la para mim do que para a própria mãe – especialmente porque Renata passa o dia inteiro fora.

Era bom e ruim ao mesmo tempo. Saber que ele lembra que eu existo é ótimo, resultando naquelas sensações que antes de sentir você só conhecia graças aos livros de romance. As borboletas no estômago, o pulo de batidas do coração e o sorriso bobo na cara são só alguns dos efeitos.

Entretanto, saber que Benjamin me buscava para falar da namorada não ajudava a manter meus pensamentos românticos ininterruptos, sendo obrigada a pensar naquela Mari e na involuntária inveja que sentia dela.

Estava observando pela milésima vez a foto que Benjamin mandou ontem, tentando me preparar para o interminável Momento Vela que viveria. Respirei fundo uma última vez, tomando coragem, e sai de casa, tocando a campainha de meu vizinho em seguida.

Benjamin abriu a porta e me recebeu com um sorriso, abraçando-me logo em seguida. Permiti, por um momento, deixar de lado a tensão que senti e abracei-o de volta, ficando nas pontas dos pés e apoiando a cabeça em seu ombro. Poderia ficar ali o dia inteiro.

Mas então uma garota apareceu em meu campo de visão.

Bom, Diário, obviamente você nunca se apaixonou, então não sabe o que é ter que caracterizar a garota que namora o rapaz de quem você gosta sem ter a cabeça invadida por uma necessidade de falar as piores coisas possíveis. Aqui vai o meu melhor:

Mari é loira de cabelos longos repicados e uma franja lambida escorrendo no rosto. Ela é mais alta que eu e usava uma regata com enorme decote e um short jeans curto (não que eu julgue a garota por suas roupas, é que quase todas as garotas com quem Benjamin saiu usavam roupas do mesmo gênero). Seus olhos claros estavam destacados por uma maquiagem extravagante demais para a ocasião, assim como seu rosto inteiro.

Ela se aproximou de Benjamin, seu namorado, que já havia se desvencilhado de meu abraço, e passou o braço por sua cintura. Respirei fundo e controlei aquele desconforto interno.

— Mari, essa é a Lívia. – meu vizinho apontou para mim enquanto olhava para a garota, que sorriu em minha direção. – Lívia, essa é Mariana, minha namorada.

Escutar essa frase doeu mais do que eu planejava quando tentei imaginar como seria esse dia, mas deixei isso guardado dentro do meu peito e sorri como uma boa amiga faria. Mariana se aproximou de mim e nos cumprimentamos rapidamente.

Benjamin olhou para mim, como se quisesse saber minha opinião somente por um olhar, mas eu o ignorei. Não sabia nem o que dizer a mim mesma para me consolar, imagina ainda pensar em elogios para aquela garota.

Não me leve a mal Diário, mas é impossível eu amar aquela garota no nível que Benjamin quer. Não só não posso como não quero. Mariana vai ser a responsável por ocupar as tardes do meu vizinho, as conversas e todo o resto e não posso dizer que estou feliz com isso. Não queria passar por essa situação, não queria ter que aguentar em silêncio e e não queria, acima de tudo, ser aquele candelabro no meio dos pombinhos que estavam agora se beijando a minha frente.

Nossa, como é bom finalmente desabafar. Depois de dias escrevendo aqui, finalmente entendo porque muitos usam um diário. É mais fácil lidar com o papel do que com as pessoas.

Fomos assistir a um filme na sala, sendo que preferi ficar quieta enquanto o casal discutia sobre qual seria: Indiana Jones e a Última Cruzada ou Porto Seguro. Obviamente meu voto iria para a primeira opção, mas nenhum dos dois sequer considerou perguntar qual eu preferia.

Benjamin cedeu e colocamos o romance.

— Ben, faz pipoca – Mariana falou e eu demorei um tempo para entender que se tratava de Benjamin. Desde que o conheci, nunca o chamei por apelidos, apesar de fazer isso no começo somente para irritá-lo.

Acontece que Benjamin odeia seu nome. Sua mãe, durante um jantar em minha casa, comentou que já tiveram várias discussões onde Benjamin voltava nesse tópico, mesmo não sendo esse o motivo inicial da briga.

Ele já me disse várias vezes o quanto queria um nome comum, como Felipe ou Lucas, porque detestava as brincadeiras envolvendo Benjamin Franklin e Benjamin Button, além de ignorar o belo significado de seu nome (“filho da felicidade”, “o bem-amado” e coisas do gênero).

Eu até aceitaria sua reclamação se ele fosse feio, chato, burro (apesar de achar que Benjamin realmente é burro) e ainda tivesse um nome ridículo, mas não tem.

Benjamin, se algum dia eu decidir mostrar essa parte do meu diário para você em um futuro muito distante, eu diria para você parar de drama. Pode ser devido aos meus sentimentos, mas Benjamin é um nome extremamente bonito e só você não percebe o quanto ele é a sua cara. Seu nome é marcante, assim como você.

Por isso, não me peça para lhe chamar por apelidos, porque não vou. Eu simplesmente amo seu nome e acho uma pena somente eu e sua mãe o chamarmos assim.

Voltando à minha tarde tediosa, correu tudo bem. Os dois ficaram abraçados em um canto e fizeram com que me sentisse invisível, obrigando-me suportar caladamente cochichos e risadinhas que estavam me dando nos nervos. Fiquei repassando mentalmente o que já fiz por Benjamin durante nossa amizade e concluí que suportar esse momento foi o mais difícil.

Sem escapatória, eu prestei atenção no filme e fiz questão de não olhar uma única vez para o lado, como se Benjamin fosse perceber meu desconforto, mas nada aconteceu. No filme, a mocinha do filme fugiu do marido que a agredia e foi para uma cidade nova, onde se apaixonou por um pai solteiro de dois filhos. Ótimo.

Já de noite, avisei que precisava ir para casa, com alguma desculpa envolvendo a chegada de minha mãe. Benjamin e sua namorada se levantaram, mas antes que pudesse me despedir, ele interrompeu:

— Vou deixar a bacia de pipoca na cozinha e já volto – pronunciou e logo deixou o ambiente, mas eu sabia as verdadeiras intenções dele: Benjamin queria me deixar sozinha com Mariana para que pudéssemos conversar. Como eu o odeio.

— Então... – comecei. – Você gostou do fil...

— Olha aqui garota – ela me interrompeu, gesticulando com a mão que era para eu ficar calada.

Ergui uma sobrancelha, esperando para ver se Mariana estava falando sério.

— Eu entendo que o Ben... Aprecie sua companhia, já que nem eu nem os amigos dele moram perto – continuou e eu franzi o cenho.

Era sério isso? Só fui acreditar quando ela disse a próxima frase:

— Mas quero que você se afaste do meu namorado, entendeu?

— Como é que é? – perguntei boquiaberta. Ela riu falsamente.

— Querida, olha para você – disse apontando para mim e me analisando da cabeça aos pés – e olha o Ben. Vocês são incompatíveis. Ele provavelmente só conversa com você porque não existe ninguém interessante nessa rua. Ben está te usando e eu só estou ajudando a abrir seus olhos, Luana.

Lívia— corrigi-a. – Avise Benjamin que tive de ir pra casa.

Fui até a porta, sai e a bati com força, indo pisando duro até meu quarto. Joguei-me na cama e respirei fundo, contendo a vontade de voltar lá e pular no pescoço daquela garota. Virei-me para o lado contrário a varanda e fiquei assim por um bom período, controlando a vontade de gritar. Benjamin não poderia fazer aquilo comigo, não é? Quer dizer, ele me considera uma amiga até onde eu saiba, não poderia ser fingimento.

Um tempo depois, ouvi algumas batidas no vidro, sinalizando que meu vizinho estava ali, mas decidi ignorá-las. Não estava com cabeça para pensar em falsos elogios à namorada dele.

Entretanto, Benjamin é insistente e começou a bater mais vezes e mais rápido, irritando-me profundamente. No final, não aguentando mais, levantei-me e, sem nem olhar em sua direção, sai de meu quarto e fui até a sala, onde estou escrevendo agora enquanto coloco Indiana Jones e a Última Cruzada para assistir no DVD.

Lívia.

4º Defeito: Benjamin detesta seu nome.


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Notas finais do capítulo

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