30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 25
9 de julho (sexta-feira) – 25º Defeito


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVOOOO ♥

Por essa vocês não esperavam, não é mesmo?

Não tenho muito a dizer nessas notas, apenas agradecer a compreensão de todo mundo, seus comentários me ajudaram bastante. Além disso, a xxLuaxx sugeriu de criarmos um grupo no wpp para eu poder contar para vocês quando que eu vou tirar minha Capa da Invisibilidade e aparecer por aqui com capítulos novos, o que acham?

Um beijo especial para a MayPotter, M Scarcell, Sarah Lobo, Deirdre, Olívie, lerdapqsiim, CrazyGirl, Carina, Ems, MrsPayno4ever, Jadesmaiada (amei esse nick, gzus), karolayne, Arabella Cobain, Dorothy of Oz, AnnaP, Avalon e xxLuaxx por todos os comentários. Vou passar a madrugada tentando responder geral.

Aqui está o link para quem não viu da minha outra história, talvez minha favorita, para vocês darem uma olhada. Vou postar o próximo capítulo essa semana já: https://fanfiction.com.br/historia/716511/Como_Conquistar_a_Garota_Mais_Gata_da_Escola/

Falando nisso, sei que sou a maior furona, mas enquanto estava com um bloqueio com 30MPOBL, eu comecei outra história que já está na metade e é ela que ocupa meu tempo. O que acham de ler o primeiro capítulo?

Enfim, é isso. Boa leitura, gente ♥

PS: Gente, qualquer erro, me avisem, viu? Corrigi tudo na pressa para dar tempo, então algo pode ter escapado meus olhos sonolentos de retorno de viagem :)



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9 de julho (sexta-feira) – 25º Defeito

Uma coisa que só fui perceber assim que Benjamin saiu de meu quarto ontem foi sua despedida envolvendo me ver no jogo que teria hoje. Um aperto em meu peito, que permaneceu mesmo após meu vizinho ter saído pela sacada, teimava em me lembrar de tudo que aconteceu ontem e que ir para uma quadra assisti-lo se mover pelo campo seria apenas uma tortura, outro constante lembrete de que eu não tinha Benjamin.

Eu seria apenas mais uma na multidão que lotaria a arquibancada.

Há duas semanas, eu não negaria a mínima chance de poder vê-lo. Contudo, uma parte minha já estava decidida a reduzir a mero interesse amigável o que sentia por meu vizinho, por mais que doesse pensar nisso. Imaginar que daqui algumas semanas eu poderia olhar para ele sem sentir um suspiro triste subindo por minha garganta e achá-lo bonito sem sentir meu coração disparar, deixava-me mais leve e pesarosa ao mesmo tempo.

Carol: Nossa ida pro jogo ainda está de pé?

Maldita habilidade de Carol de pressentir meus problemas.

Eu: Não tenho certeza.

Carol: Foi por algo que eu fiz?

Eu: Não, só não sei se tenho ânimo para ir torcer para ele.

Carol: Não vá por ele, então. Pense em quantos garotos maravilhosos vamos ver jogando. E eu te pago um lanche depois. Vamos, vai ser legal.

Bufei e respondi um rápido “ok”, passando as mãos no rosto enquanto tentava entender o que se passava dentro de mim. Seria muito dormir por três meses e acordar sem mais nenhum problema relacionado ao meu vizinho?

Cabeça de Estrume: Eu vou passar em casa para trocar de roupa, quer ir almoçar? O time todo vai estar lá.

A falta de ar que me atingiu não foi agradável como era antes, parecia mais uma vontade incurável de chorar. Minha vontade era escrever um enorme “não” e passar a ser alguém petulante e frio. Imaginei como seria se eu ignorasse tudo de meu vizinho, passar a nem olhar na cara de Benjamin e me recusar a fazer almoço para ele. Talvez minha mãe perdoaria o fim da minha amizade com ele depois de alguns meses.

Eu: Tanto faz.

Como previsto, meu vizinho apenas visualizou. Benjamin sabia que eu não responderia ninguém assim se não tivesse motivos, então deve ter percebido que eu tinha. Dependia dele querer minha companhia no almoço ou não.

Eu me sinto perdida, Diário. Eu quero a companhia do meu melhor amigo, mas, ao mesmo tempo, desprezo-a como nunca antes. A cena de ontem fez meu coração acelerar, mas a saída dele de meu quarto fez com que me sentisse abandonada. Minha ida ao jogo se resume mais a um desejo antigo de presenciar uma partida e a minha antiga animação do que ao que acontece no presente.

Cabeça de Estrume: Se quiser vir, vamos almoçar na churrascaria da rua da sua escola.

Quando vi, já estava descendo do ônibus na parada mais próxima da escola, com a minha cara mais utilizada atualmente: feição nula, muita mágoa guardada por trás e boca em linha reta. Assim que entrei no restaurante, encontrei uma mesa enorme, com em torno de vinte pessoas já rindo e conversando.

— Liv, você veio! - Daniel se levantou, caminhando em minha direção e atraindo alguns olhares. Enviei-lhe o melhor sorriso que pude, mas que não foi o suficiente para mascarar meu desconforto, o que o loiro fez questão de ignorar e me abraçar. - Vem, senta aqui do meu lado.

Ele arrastou uma cadeira e me espremeu entre ele e Lucas, deixando de frente para Benjamin e Mariana, esta alheia a minha presença enquanto conversava com uma amiga ao lado. Meu vizinho, contudo, pude perceber que mantinha o olhar em mim, acompanhando meus movimentos.

O arrependimento de ter ido me alcançou logo em seguida. O que eu estava fazendo ali? Era um ambiente quase hostil, tirando Daniel que tentava constantemente trazer um assunto e me animar, o que me fez ficar mais leve em alguns momentos. Se teria alguém capaz de me ajudar, eu tinha certeza que seria Daniel.

Mas isso não tirava o desconforto explícito em ter as poucas pessoas que já falaram comigo naquela mesa muito ocupadas com outras e aquele constante pensamento de que eu estou atrapalhando de voltar em minha mente. Por isso mesmo, fiquei o almoço no celular, apenas assentindo para o que Daniel falava e ignorando os olhos verdes de meu vizinho que ocasionalmente focavam em mim.

— Você vai hoje, né, Liv? - o loiro passou o braço por meu ombro. - Tenho que escutar você gritando meu nome para ir bem - e logo começou a fazer gritos em sussurros de “Daniel” e a rir em seguida.

— Não perderia por nada a chance de ver você caindo no chão - rebati com um sorriso brincalhão, que ele imitou.

— Depois do jogo, quando a gente ganhar, vou te derrubar também - e mostrou a língua, desafiando-me.

Enviei-lhe um sorriso, que deve ter saído dolorido demais, pois logo o loiro franziu o cenho e suspirou. Olhando ao redor, percebendo que todos estavam alheios (Benjamin mexia no celular embaixo da mesa), chamou-me com o dedo e seguiu até um canto próximo ao toalete.

— Você está bem? - cruzou os braços, os olhos brilhando de curiosidade e preocupação. Resmunguei um “sim” que obviamente era mentira e o loiro revirou os olhos. - Benjamin disse que se resolveram ontem.

Eu ri, fria.

— É claro que disse - soltei, incrédula. - Eu ainda nem sem por que vim.

— Você vem porque se importa - revirei os olhos para a verdade que saiu de seus lábios. - E ele também, sabe. Ben está arrancando cabelos com medo de passar vergonha na sua frente.

A risada insensível que saiu de mim surpreendeu nós dois, mas eu estava consumida demais pela descrença para me preocupar com aquilo.

— Daniel, a namorada de Benjamin vai estar lá. Você está passando o recado para a pessoa errada.

— Eu sei que não estou - cortou-me, parecendo cada vez mais nervoso. - Ben realmente não acredita que vai lá para torcer por ele.

— Não vou torcer por ele— balancei a cabeça, descrente. - Vou torcer pelo time.

— Então, pelo time, usa isso aqui.

O loiro então me estendeu um tecido azul com algumas coisas escritas em branco. Ao abrir e me deparar com uma camiseta esportiva longa e larga, vi o nome Lacerda acima do número 22, aquele que meu vizinho acreditava dar sorte. Ergui o cenho para Daniel, esperando uma explicação.

— Era a que eu tinha - deu de ombros, como se aquilo fosse suficiente. - Gostaria que usasse.

Depois disso, não falei com mais ninguém, indo embora sem sequer me despedir. Sentia o peso da camiseta em meu ombro enquanto um nó queimava em minha garganta. Sentindo-me perdida, decidi vesti-la, prendendo a barra da blusa dentro do short branco, enquanto dizia a mim mesma que aquela seia minha última prova de amizade.

Minha mãe e meu pai estavam usando as cores azul e branca –as mesmas do time – e prontos para ir. Compensando minha animação, conversaram o caminho inteiro até a casa de Carol, que me abraçou com a preocupação atualmente constante, e seguiram até uma quadra a duas quadras do colégio de Benjamin, completamente decorada com as cores dos times: azul e branco de um lado, vermelho e amarelo do outro.

Pelo o que o pessoal que seguia para as arquibancadas falava, aquele era um campeonato regional e os dois times eram rivais antigos devido ao temperamente explosivo pelas disputas acirradas. Torci mentalmente para que isso não acontecesse ali e fui com Carol procurar um bom lugar na arquibancada, que queria comprar cachorro-quente apesar de ter acabado de comer.

Tive de pesquisar um pouco sobre o esporte para entender, já que não é tão comum no meu país. Benjamin é o quarterback, que seria o “cérebro” da equipe de onze membros. É ele que arma os passes que os fazem avançar rumo à linha de fundo do território inimigo. Basicamente, o time atacando quatro tentativas para percorrer quase dez metros. Se conseguir, permanece com a bola e tem mais quatro tentativas para andar outros 9,14 metros. Se não der, a bola passa para o adversário.

O ponto alto do jogo é quando algum jogador consegue correr com a bola até a linha de fundo da equipe adversária. Aí acontece o famoso touchdown, o principal "gol" desse esporte. Fora isso, há também o Field Goal, um lance de três pontos no qual a bola passa sobre a barra horizontal e entre os postes da trave.Toda a batalha acontece em quatro tempos de 15 minutos.

Daniel: Liv, será que pode vir aqui no vestiário?

 Ben está com problemas.

Respirei fundo e, controlando minha vontade de explodir, coloquei-me de pé e avisei Carol que já voltava, seguindo até uma entrada na lateral cuja placa apontava como sendo o local que procurava. Ao descer as escadas, encontrei quatro garotos em volta de um nervoso Benjamin que gesticulava que nem louco, parando apenas ao me ver.

— O que está fazendo aqui? - ergui a mão, pedindo que se calasse, e me virei para o loiro.

— Qual o problema?

— Ele está entrando em pânico - apontou para meu vizinho, que o fuzilou com o olhar. - Não começa, você sabe que eu estou falando a verdade.

Só aí encarei Benjamin, reparando no olhar nervoso que não parava em um lugar por mais de dois segundos, na gota de suor que descia pela lateral de seu rosto e na boca em linha reta. Compadeci de seu momento ao perceber que eu também estava assim, mas tratei de esconder.  

Fitei-o por um momento e tive uma ideia. Passei pelos garotos e fiquei frente à frente com meu vizinho. Ele me encarou de sobrancelha erguida, nervoso e curioso.

— Benjamin, quero fazer uma aposta.

Todo mundo ali pareceu surpreso, especialmente o dono daqueles olhos verdes, que agora varriam meu rosto como se tentassem desvendar o que planejava. Cruzei os braços, esperando uma resposta.

— O quê? Por quê?

— Eu aposto cinco pizzas que vocês vão perder o jogo.

A cara de todos ali foram ao chão, parecendo indignados com minha fala. Seus olhares pareciam me acusar de ser uma traidora e logo indagaram silenciosamente uns para os outros o que aquilo significava. Daniel, porém, assistia aquilo com o olhar sério, vendo Benjamin cerrar os olhos em minha direção.

— Como é que é? - indagou, um sorriso cheio de escárnio acompanhando.

— Isso mesmo que você escutou - cruzei os braços sem desviar o olhar. - Você é orgulhoso Benjamin, não gosta de perder apostas, agora vai se esforçar o máximo para provar que estou errada.

Assim que completei minha explicação, a compreensão pareceu alcançar todos ali, que relaxaram. Benjamin encarou-me profundamente, parecendo querer ler minha alma, as sobrancelhas erguidas em uma leve surpresa.

— E então? Está apostado? - ergui uma mão, esperando que apertasse.

Assim que o fez, um arrepio agradável percorrendo meu corpo, enviou-me um sorriso cúmplice que não sei dizer se correspondi na mesma intensidade. O nó em minha garganta retornou, assim como os pensamentos sobre acabar com a minha amizade antes tão forte com o garoto na minha frente.

— Está apostado então - afastei-me, coçando a garganta. - Vejo vocês depois com as minhas pizzas.

Captei um último olhar agradecido de Daniel antes de caminhar até meu lugar ao lado de Carol nas arquibancadas, já escutando o anúncio do começo da partida.  A equipe vestida de azul e branco entrou e todos gritaram, passando o rosto dos integrantes no telão. Enquanto Daniel deu um sorriso e piscou para a câmera, Benjamin pareceu nem notá-la gravando-o de perfil enquanto analisava algo na arquibancada.

Ele é tão lindo. Não negaria o pensamento, mas não era meu, e sim de um grupo de garotas na nossa frente. Engoli em seco e ignorei os comentários, que pararam de ser fofos e passaram a ser quase indecentes. Aquilo conseguiu me deixar vermelha e eu respirei fundo, decidindo focar no jogo e esquecer de Benjamin.

Porém, quando a partida começou, foi como se um semblante sombrio tomasse conta de meu vizinho, o que me surpreendeu. O garoto que sempre tinha um sorriso no rosto e piadas na ponta da língua foi substituído por um quarterback sério e as únicas coisas que saiam de sua boca eram instruções e alguns xingamentos. Ele estava agitado, dava pra ver por trás do capacete e se movia que nem louco.

Será que posso considerar isso como um defeito? Acho que sim. Benjamin fica assustador em partidas. E tudo piorou quando, um tempo depois, um dos jogadores do time adversário o derrubou de forma violenta e encarou o garoto como se prestes a matá-lo, tendo de ser segurado pelos amigos para não estrangular o cara, que apenas sorriu, vitorioso. A rivalidade era grande mesmo.

O jogo foi tenso. Eram poucos os pontos que separavam os times e nós estávamos perdendo, sendo que todos os meninos estavam tensos e sujos de terra. Ao ver a velocidade com que meu vizinho cruzava a quadra e quantas vezes o fazia, entendia como conseguia manter o seu físico apesar dos hábitos nada saudáveis.

Apesar de ter dito que estava torcendo contra, não tinha como manter isso. Eu não tinha mais unhas para roer e Carol parecia pronta para me segurar caso eu decidisse sair voando e pular no pescoço de algum dos garotos que derrubava Benjamin. Ele parecia ser o alvo, mas não se importava, já que quase sempre finalizava uma jogada e sorria desafiadoramente para a equipe adversária. Aparentemente, Benjamin não tinha medo do perigo.

Daniel também era muito bom, sendo que me surpreendia com a facilidade com que atacava os adversários e os derrubava, levantando calmamente em seguida -  o que me surpreendeu mais ainda. Eu não conseguia dar um soco no saco de areia que meu vizinho tem na garagem sem sentir meu corpo inteiro tremer em resposta enquanto todos ali pareciam comer dor no café da manhã.

Assistindo ao jogo, também percebi que se fosse mesmo estudar ali, estava ferrada. Provavelmente passaria minhas tardes tentando ver o treino. Quer dizer, não o treino em si, mas os garotos. Benjamin, Daniel, Thiago e todos os outros eram, de fato, uma tentação, cada um a sua maneira. Sorrisos sedutores, uma beleza que ofende e atitudes simpáticas. Aquele time parecia um concurso para escolher o próximo Príncipe Encantado.

Todo mundo foi a loucura quando, quase no final do último tempo, o número 22, Lacerda, cruzou o campo com a bola e marcou um touchdown, ganhando o jogo. Carol gritou, animada, e nos abraçamos, comemorando. Gritei sem me importar de que teria que gastar uma fortuna pagando pizza, porque aquilo foi emocionante e extremamente divertido.

Sem um motivo específico, desci correndo os degraus e arrastei Carol comigo, empurrando desesperadamente as pessoas a minha frente que se aglomeravam para comemorar. Parei próxima à quadra e admirei a cena. Os garotos à frente tiravam os capacetes e, em seguida, as camisas, fazendo muitas garotas – e até mulheres – adquirirem o tom de um pimentão. Convenci Carol a pular a mureta e entramos na quadra, onde mais a frente os integrantes dos times se abraçavam.

Parei, contudo, ao recobrar os sentidos. Por que celebraria com Benjamin? Nossa amizade estava indo para o ralo e lá estava eu, e apenas eu, ajudando-o a passar por seus problemas. Minha amiga tentou me motivar a ir mais para frente, mas não consegui, perdendo todo o fervor dentro de mim, e ficando ao seu lado de braços cruzados e mente perdida nos meus problemas.

Eu queria odiá-lo, queria enchê-lo de socos e sair de sua vida, para parar de enfrentar tudo aquilo. Queria voltar a me preocupar apenas com minhas notas em espanhol e biologia, com meu rank no videogame e com o que minha mãe faria no jantar. Sem mais vizinhos, mais paixões e desilusões que me destruiam cada vez mais.

Foi então que uma cotovelada na lateral de meu corpo me trouxe para a realidade e eu massageei a área atingida por Carol. Piscando, virei pronta para perguntar qual era seu problema, mas minha voz morreu ao vê-la apontar para algo à minha frente.

Benjamin, que havia sumido no meio dos garotos, reapareceu. Ele estava sorrindo, abraçado com Daniel e outro amigo do time, e conversando com todos ao redor. Usava só sua bermuda branca – que já estava quase marrom – e tinha o rosto cansado, mas feliz ao mesmo tempo. Essa cena fez todas as minhas dores desaparecerem por um momento, enquanto uma onda nostálgica me atingia.

Diário, eu não sei se coloco em palavras o que eu sinto quando vejo Benjamin, porque ele consegue tornar isso um desafio para mim – mais um motivo para odiá-lo. A única coisa que sei é que Benjamin é que me faz perder o chão e o achar em seguida. Perder o ar e o encontrá-lo de novo. Eu adoro olhar Benjamin, é quase um passatempo, mas ao mesmo tempo uma provação.

Gosto de lembrar que a primeira coisa que vem a minha cabeça quando o vejo não é uma vontade insana de beijá-lo. Quer dizer, uma parte minha ainda gostaria que isso acontecesse, mas não é o principal. Eu amava… amo a companhia de Benjamin, gosto de vê-lo feliz e adoro ver como ele também aprecia os momentos que passamos juntos. Pelo menos, era assim antes de tudo isso. Não tenho coragem e nunca terei de dizer em palavras o que sinto por ele, tanto por medo de vê-lo se afastar tanto pela vergonha de ser negada, e prefiro ser eu a tomar a iniciativa de ir embora, não sair como a garotinha indefesa e machucada.

Foi então que Benjamin me viu, seu olhar preso no meu, que o encarava apesar dos pensamentos distantes. Pisquei diversas vezes e prendi o ar quase inconscientemente. Meu estômago parecia doer mais e mais à medida que sentia a intensidade do olhar de meu vizinho.

Meu coração virou uma escola de Samba e senti minha pele aquecer enquanto acompanhava-o passar pelos amigos e caminhar em minha direção, sem desviar os olhos em mim, com aquele tom verde que me cativava sem mais nem menos. Soube que meu rosto ficou vermelho ao ver o canto da boca do meu vizinho se transformar em um meio sorriso.

Vencendo essa força magnética, olhei rapidamente para o lado, pronta para pedir ajuda. Carol estava brincando com uma das mechas do cabelo enquanto observava aquela cena e apenas me encorajou com a cabeça a ir na direção dele. Voltei a olhar e, engolindo em seco, dei um passo em sua direção. Isso o encorajou a andar mais rápido. Acompanhei enquanto algumas pessoas o cumprimentavam e ele acenava com a cabeça, mantendo diálogos mínimos ao mesmo tempo em que me espiava.

Eu não sabia o que pensar, estava deixando os impulsos me guiarem. O nó em minha garganta sumira e a única coisa restante eram os pulos de meu coração, que tampavam qualquer outro som. Aquele momento era novo e, inebriada, estava deixando meu corpo me guiar.

Foi somente quando reconheci um vulto loiro que tudo mudou e pareceu voltar ao normal. Mariana se colocou a frente do namorado, linda com uma blusa azul e calças jeans. O casal perfeito de todos os filmes, que servia de referência para o resto da plebe. Algo em mim murchou e diminuí um pouco o passo, perdendo o rumo.

Abaixei o olhar, que teimava muito e queria de novo ver aquele tom verde. Não sei se era ciúmes de Mariana ou inveja por ela ter o que eu mais quero e não alcanço, mas descobri que não queria mais aquela competição sem sentido. Não importava o que eu sentia, há quanto tempo sentia ou quanto sentia por Benjamin: seu coração já tinha dona.

Porém, como em câmera lenta, todas as conversas pareceram cessar e a única coisa que eu ouvia eram as batidas desreguladas daquele músculo bem no meio do meu peito, que pareceu querer saltar para fora quando viu meu vizinho passar reto pela sua namorada, ainda com o olhar fixo em mim. Parei, estática, e meu rosto assumiu um tom mais vermelho ainda.

Não era só eu que parecia não estar entendendo nada. As pessoas observavam os movimentos de Benjamin e olhavam chocados para uma Mariana de olhos marejados e punhos cerrados, que saiu correndo dali em seguida, sumindo na multidão.

Ainda atônita, fui envolvida por dois braços fortes e o perfume de meu vizinho misturado com cheiro de terra e grama me atingiu em cheio. Naquele momento, perdida nos meu sentimentos, no choque e nas borboletas em meu estômago, todos pareceram sumir e, vendo que precisei muito de outro abraço dele, envolvi sua cintura, deixando-me relaxar.

Ele então apoiou o queixo em minha cabeça e afagou meus cabelos, sem proferir um som sequer. Seus batimentos nada rítmicos tornaram aqueles poucos segundos em uma eternidade que apenas me induzia a questionar o que estava acontecendo. Por que ele havia passado sua namorada e estava comigo, bem ali?

— Obrigado - falou, tão baixo que nem tinha certeza se queria que eu escutasse.

— Pelo quê? Pelas cinco pizzas? - senti seu corpo tremer com a risada que saiu de sua boca.

— Por só… - soltou um suspiro, parecendo escolher as palavras. - Ser você.

Fui impedida de pensar em uma resposta qualquer, pois algumas figuras do time apareceram e eu me afastei, quase assustada. Mesmo nenhum tendo falado diretamente comigo, entendi que precisavam levar Benjamin para algo relacionado a premiação. Meu vizinho, apesar de levemente absorto no começo, assentiu e, com um último olhar para mim, saiu com os rapazes.

Piscando, voltei para onde Carol estava. Ela me encarava com um sorriso malicioso.

— Espera, Lívia – pediu assim que me aproximei e tocou meu queixo. – Tem um pouco de baba aqui ainda.

Ela riu sozinha e lhe dei um tapa no ombro, o que só a fez sorrir mais. Vendo, porém, que eu estava perdida demais para falar qualquer coisa, decidiu que nós iríamos para uma lanchonete. Peguei dinheiro com minha mãe, que estipulou um horário para eu estar em casa, e segui minha amiga até fora das dependências do colégio.

Decidimos procurar algo perto, então avançamos umas poucas ruas e entramos em uma lanchonete subterrânea que estava cheia. Pôsteres de bandas antigas estavam presos na parede, assim como algumas plaquetas. Ao fundo, um homem tocava violão em um pequeno palco e várias mesas estavam ocupadas, mas a maioria das pessoas estava próxima ao bar e ao lado da mesa de sinuca.

Cruzei os braços e os apoiei sobre a mesa, mergulhando meu rosto no vão e bufando. Um garçom nos cumprimentos e se apresentou como Júlio, mas eu não fiz questão de olhá-lo ou respondê-lo. Carol pegou os cardápios e ficou em silêncio, mas eu sentia seu olhar sobre mim.

— Por favor, não diga nada, ok? – pedi, erguendo minha cabeça e a apoiando em uma das mãos. Ela ajeitou os óculos e se limitou a sorrir, analisando-me tranquilamente.

— Sobre o quê, exatamente? – fez-se de inocente e eu revirei os olhos. – Sobre como você fica fofa quando cora ou sobre a cena com Benjamin?

Torci o nariz e resmunguei.

— Sobre o que eu faço para arrancar esses sentimentos de mim.

— Ei, se eu soubesse, faria também – divagou tristemente e não me deu chance de responder, pois chamou pelo garçom em seguida, pedindo uma porção de asinhas de frango e polenta frita, além de um refrigerante para ela e um suco de morango para mim.

Decidi então desligar minha mente de meus problemas e tentar algo mais altruísta que me ajudasse a esquecer de toda aquela confusão. Animada com minha decisão, bati na mesa e minha amiga me encarou de sobrancelhas erguidas.

— Quer saber? Eu sei o que vou fazer.

— Vai se declarar para seu vizinho? – indagou, sorrindo maldosamente.

— Não – estreitei os olhos para seu comentário. – Vou dar uma de Cupido.

Carol gargalhou.

— E quem vão ser as vítimas? – perguntou, bebericando um pouco do refrigerante que Júlio deixou à sua frente.

— Você e Vinícius. oras – respondi, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e ela engasgou com seu refrigerante, gargalhando ainda mais alto do que da outra vez e limpando o rosto das lágrimas de riso.

— Lívia... – Carol começou, ainda rindo. – Você percebe que não consegue resolver nem a sua vida amorosa, certo? E ainda assim vai resolver a minha?

Coloquei minha melhor cara de ofendida em prática.

— Assim você me ofende, Carol – ela deu de ombros e riu.

Minha amiga desconversou, mas eu não havia desistido. Eu tinha convicção que os dois dariam certo, e teria que falar com meu amigo para esclarecer tudo, mas deixei o assunto morrer. Com isso, ficamos conversando até serem quase oito horas da noite. Só interrompemos o assunto quando uma notificação chegou em meu celular e eu fui conferir para ver se era da minha mãe.

— Lívia, por que está com essa cara? – minha amiga perguntou, curiosa e preocupada ao mesmo tempo. Talvez ela estranhasse a palidez que meu rosto assumiu, mas não me importei no momento. Engoli em seco e lhe mostrei as mensagens que acabara de receber, então seu rosto mostrou a expressão chocada que eu achava ser a mesma estampada no meu.

Daniel: Você não vai acreditar em quem está solto na pista de novo, Liv.

Parece que minhas preces foram atendidas.

Benjamin e Mariana terminaram.

25º Defeito: Benjamin fica muito nervoso durante uma partida – é assustador.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAA

Até eu vou dormir mais leve depois dessa.

Papai Noel trouxe um presentão pra Lívia.