30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 2
16 de junho (quarta-feira) - 2º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Desculpem a demora.



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16 de junho (quarta-feira) – 2º Defeito

E aqui estamos novamente, Diário. Eu e você.

Passado a tensão do dia de ontem, Benjamin voltou ao normal. Continuou com as piadas de mau gosto e brincadeiras infantis, mas que sem elas, não seria o garoto por quem me apaixonei.

Falando nisso, já contei como aconteceu? Lembro da primeira vez em que comecei a sentir um frio na barriga e a me perguntar o que estava acontecendo comigo.

Foi há pouco mais de cinco meses, no início de janeiro. Estava no quintal ao fundo de minha casa, molhando as plantas de minha mãe enquanto minha playlist tocava no celular. Foi então que uma mensagem chegou, fazendo com que o volume abaixasse propositalmente. Fui para a mesinha perto da churrasqueira, onde se encontrava meu celular, dizendo a mim mesma que ignoraria a mensagem e terminaria meus afazeres. Entretanto, ao ver de quem era a mensagem, tive de ler.

Benjamin Lacerda: Pode vir aqui em casa?

Bufei e revirei os olhos.

Eu: Tenho que acabar de cuidar do jardim, vai demorar muito ainda.

Minha mensagem foi visualizada e ignorada com sucesso às 16h17. Fiquei um pouco chateada, mas foquei em minha obrigação e continuei a regar os pequenos arbustos cujas folhas já estavam adotando um tom amarronzado.

Foi então que vi uma silhueta pulando minha cerca.

— Benjamin! – gritei em um sussurro, temendo que minha mãe escutasse. – O que você ‘tá fazendo aqui?

Ele sorriu.

— Não poderia deixar minha parceira passar por esse enorme desafio sozinha – revirei os olhos para Benjamin, que riu abertamente.

— Está dizendo que não me acha capaz de cuidar de um jardim? – perguntei, desafiando-o.

— Se a carapuça serviu – Benjamin sorriu sarcasticamente para mim, que fiquei boquiaberta com o abuso daquele garoto.

Para ter minha vingança, direcionei a mangueira para ele, que jorrou um enorme jato d’água em sua direção. Benjamin tentou correr, mas não funcionou: poucos segundos depois e já estava completamente encharcado.

— Você não fez isso, Lívia – ele disse, tentando fingir que estava bravo.

— Ops, acho que fiz – tentei minha melhor cara de santa enquanto ele se aproximava, sorrindo ameaçadoramente e, de forma descarada, encarava a mangueira em minha mão. – Nem tente.

Não deu um minuto e ele já havia conseguido tomá-la de mim e tentava me acertar. Só tentava mesmo, já que Benjamin tem uma péssima mira, seja na vida real ou no videogame.

Ele me molhou pouco, desistindo um tempo depois e largando a mangueira no chão. Decidiu então apenas ficar correndo atrás de mim até me alcançar, o que não foi difícil, já que correr muito não está no meu currículo de habilidades.

Foi então que ele segurou meu braço e me puxou para um abraço apertado, enquanto eu gritava, gargalhava e esperneava ao mesmo tempo. Benjamin somente olhava em meus olhos e sorria. Meu cabelo deveria estar horrível, mas ele pareceu não se importar, colocando uma mecha atrás de minha orelha. Senti minha respiração pesar e um arrepio percorrer minha pele a partir de onde seus dedos encostavam em minha pele, além de perguntas embaralhadas se formando em meu cérebro. Pouco tempo depois Benjamin me soltou e analisou o estado de minhas roupas: encharcadas igual às dele.

— Agora sim podemos terminar de regar as plantas – completou antes de pegar a mangueira e começar a molhar os lírios e, consequentemente, a mim de novo.

Era nessa cena que pensava hoje enquanto estava deitada em meu quintal, sentindo o vento no rosto e a ternura dos raios solares até que uma sombra tampou o sol. Ao abrir os olhos, vi que Benjamin estava a minha frente.

Seus horários são completamente malucos. Às segundas e terças-feiras, Benjamin fica até tarde no colégio. Às quartas, permanece somente poucas horas até depois do almoço, e às quintas e sextas não tinha períodos a tarde.

Ele se sentou ao meu lado, usando a mochila que carregava nas costas como apoio.

— Cara, como você consegue gostar de História mesmo? – Benjamin perguntou depois de alguns segundos em silêncio. Sorri.

— Como você consegue gostar de matemática mesmo? E de química? E física? – retruquei e me virei para encará-lo que, para minha surpresa, já estava me observando. Aqueles olhos verdes estavam destacados pela luz do sol que batia no rosto dele e pude ver meu reflexo ao olhar para eles.

A pele de Benjamin, como já disse, é bronzeada, mas além disso, é completamente lisa, sem nenhuma espinha ou cravo – e eu o odiava por isso. O garoto é bonito, divertido, engraçado e ainda tem uma pele boa.

— Touché — foi só o que ele respondeu. Passamos um período em silêncio até que me cansei e sugeri que fôssemos jogar videogame, o que ele aceitou sem pestanejar. Colocamos Crash Course, um jogo infantilizado de corrida, mas que permitia várias risadas. Estávamos no meio de uma fase quando ele jogou a bomba em mim:

— Sexta-feira vou trazer a Mari aqui – disse se referindo a sua namorada. E aquilo doeu. Doeu mais do que eu queria admitir. Era horrível estar aproveitando os momentos com Benjamin como se ele fosse a única pessoa do mundo e ele não considerar a mesma coisa. Respirei fundo e contei até três.

— Legal – era só o que conseguiria dizer, o aperto no meu peito não permitia mais nada. Minha vontade era contar para ele, na cara dura, o quanto era apaixonada e como comentários assim me machucavam.

Mas eu não poderia fazer isso.

Benjamin era um garoto especial e eu tinha sorte em ser sua amiga. Não era como as garotas com quem ficava nas festas, da qual ele somente contava as aventuras e não os nomes –principalmente porque não lembrava o da maioria. Eu sei o quanto ele me considera, da pra ver em seus olhos, que o sentimento de amizade que eu sinto sentia (porque isso evoluiu, mas você já sabia disso Diário) é recíproco. Além disso, tem outro detalhe que eu evito pensar, porque dói mais do que tudo.

Benjamin não tem interesse em mim. Não teria como. Nos conhecemos há tempos e ele nunca tentara nada e nem tentaria, porque Benjamin só sai com um determinado tipo de garotas –aquelas que têm mais massa em outras partes do corpo do que no cérebro – e eu claramente não faço parte dele.

Sim, eu estou na Friendzone, me julgue.

Já ouvi justificativas para isso, onde algumas pessoas dizem que “Friendzone não existe, você somente não possui os atrativos necessários para fazer aquela pessoa gostar de você”. Para mim, isso é a maior bobagem e é somente uma forma de se consolar –mesmo tendo um fundo de verdade.

Seguimos jogando e rindo, sendo que as vezes ele trapaceava e eu atrapalhava seu jogo. É assim a maioria de nossas tardes e eu espero que continue assim para sempre, mas sinto que um pequeno detalhe chamado Namorada do Benjamin vai mudar essa rotina.

Torça para que eu esteja enganada, Diário.

Lívia.

2º Defeito: Benjamin tem a pior mira de todas.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!