30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 17
1º de julho (quinta-feira) – 17º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu estou viva.

Bom, estou seguindo aqui, com um computador compartilhado, mas felizmente o meu já foi para o conserto e existem grandes chances de tudo ser recuperado. Cruzem os dedos! Quero agradecer aqui a todas que escreveram comentando sobre suas situações parecidas e se mostraram aptas a conversarem se eu precisasse. Sério, que leitoras perfeitas ♥

O mais engraçado é que, agora que estou sem meu notebook, um monte de ideias para histórias novas surgiram e eu estou louca para escrever (mas dessa vez, salvando tudo em outro lugar). Já falando nisso, queria saber se, por acaso, eu decidisse postar outra quando a 30mpoBL já estivesse quase finalizada, vocês estariam interessadas. Só para saber mesmo ahsauhsuahsau.

Gente, vinte e nove pessoas favoritaram a história. Quase um para cada defeito. Lívia estaria orgulhosa. Obrigada mesmo ♥

E um obrigada cheio de corações para a Eduarda Rocha, a eterna Miss Fortune, que recomendou a história apesar dos empecilhos. Sério, estou indo aí te dar um abraço, pode? Ela, que já me conquista com esses reviews perfeitos, decide me presentear com essa surpresa. Simplesmente amei ler aquele texto e ver que você realmente gosta tanto assim da minha historinha ♥ ♥ ♥

E outro obrigada cheio de corações para paísdasmaravilhas, que também recomendou a história! Sério, você não sabe a alegria que é ver um leitor novo já se mostrar assim, tão presente e já deixando claro que gostou da fanfic. Muito obrigada mesmo, viu? Amei ♥ ♥ ♥

Quero agradecer também a Vina, Tatá Ribeiro, Giulianna Valadares, May Winsleston, Eduarda Rocha, MayPotter, Mia, QUEEN, paísdasmaravilhas, Izzy, karolayne, AnnaP e Coffe pelos reviews maravilhosos de cada uma de vocês, que conseguem melhorar sempre meu dia ♥

Boa leitura ♥



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1º de julho (quinta-feira) – 17º Defeito

A animação hoje pelos corredores era excessiva. Burburinhos fora das salas e mais cochichos durante a aula, cada um falando sobre seus próprios assuntos, mas todos interligados em um único tema: férias. Para quem não ficou de recuperação, hoje foi o último dia de aula. Sim! Sem mais torturas na Educação Física, professores te segurando o máximo possível na sala ou aulas com slides cuja única função é testar sua capacidade de ficar acordado. Finalmente, férias.

Claro, porém, que nem tudo foi maravilhoso. Eu mal conseguia encarar Vinícius direito, que pareceu um tanto receoso depois de ver minhas reações iniciais. Eu ignorava todas as indiretas, escapava de brechas e tentava ao máximo não ficar sozinha com ele. Carol, curiosamente, apenas observava calada e me mandava olhares repreensivos, como se não quisesse que eu o magoasse. 

Depois de inventar uma desculpa qualquer para Vinícius, a fim de fazê-lo aceitar passar o intervalo sozinho, arrastei Carol para a biblioteca, decidida a me abrir da mesma forma que ela fez ontem. Minha amiga parecia contrariada, mas se deixou ser levada por mim até a parte mais nova e moderna da escola, tirando alguns exemplares de livros já com páginas amarronzadas e uns computadores velhos. 

— É melhor que seja importante – Carol disse, assim que nos enfiamos em um corredor afastado. 

— Você disse que queria saber sobre Benjamin, certo? 

Pronto. Foi escutar isso e a cabeça de minha amiga se virou bruscamente em minha direção, os óculos incapazes de esconder o brilho que surgiu em seus olhos. Não foi necessário, mas Carol ainda assim assentiu com a cabeça, sinalizando que isso parecia ter se tornado seu assunto favorito, empatado com handebol. 

— Por onde eu começo? – perguntei, mais para mim mesma do que para ela. Um longo suspirou acompanhou essa pergunta enquanto eu andava de um ponto a outro, meu lábio inferior já quase sangrando pela força com a qual o mordia. Carol fez questão de responder: 

— Que tal dizer quando isso começou? 

Eu ri.

— Nem eu sei isso direito – falei com sinceridade. – Lá para o começo do ano. 

— E ele não desconfiou mesmo? – questionou-me, dando ênfase na última palavra. Eu parei de andar e a encarei, uma sobrancelha erguida, assentindo em seguida. Carol revirou os olhos. – O quê? Só estou tentando aceitar o fato de Benjamin ser realmente tão lerdo.

— E é difícil de acreditar?

— Muito – comentou. – Você é um livro aberto, Lívia.

— Claro que não sou! – falei, o tom de voz alto e irritadiço.

— Acredite no que te fizer dormir melhor à noite - comentou, dando de ombros, e eu ri. – Então, por que não contou nada para ele?

Acho que nunca gargalhei tão alto. Escutei pedidos de silêncio ao longe.

— Carol, que pergunta! Contar para Benjamin? O dia que meu nome não for mais Lívia, você pode considerar isso – falei, já exaltada. – Não vou contar nunca. Imagina, jogar isso no colo dele, especialmente agora que meu vizinho está namorando aquela Barbie produzida nas profundezas do Tártaro e...

— Benjamin está namorando?

— Ah, eu não contei? – perguntei, fazendo-me de boba. Claro que não havia comentado. Minhas reações podiam ficar mais estampadas do que, de acordo com Carol, já ficam. – Eu não sei o que deu nele. E tinha que ser a Mariana? Qual crime cometi na minha última encarnação para merecer essa garota?

— Tem certeza que não é o seu ciúme falando?

— Ah, Carol... – comecei, um sorriso maldoso brincando em meu rosto. – Você não conheceu aquela criatura das trevas. Mariana me ameaçou, jogou ovos em mim quando fui caminhar e quer porque quer que eu me afaste de Benjamin!

— Que vadi... – começou, quase gritando, mas eu tampei sua boca antes que proferisse completamente um palavrão, o que faria a Sra. Marques nos caçar pela biblioteca inteira. Assim que tirei minha mão, ela continuou: – Mas você não está dando esse gostinho a ela, certo?

Eu planejava dizer que eu realmente não estava deixando Mariana provar do gosto da vitória, mas quem eu queria enganar? Há quantos dias não falava com Benjamin? Esse deve ser o nosso maior período ser conversar. Por isso mesmo, minha boca ficou aberta enquanto eu pensava no que responder, mas logo Carol falou:

— Você só pode estar brincando, Lívia!

— Desculpa, ok? Mas Benjamin vem se saindo um belo idiota. Fora o fato de ter começado a namorar bem agora. Sabe como foi difícil achar alguém que aceitasse ir comigo naquele bendito baile? A minha sorte é que o Dani estava...

— Dani? — Carol perguntou, o olhar esbanjando malicia, o que só contribuía para o sorriso brincalhão em seu rosto. Senti meu rosto se aquecer e soube que estava corada. Por um momento, foi como encarar uma mini Carla. Revirei os olhos.

— Ah, não. Você também, não! – exclamei. – Daniel é só meu amigo.

— E de onde você conhece ele? 

— De uma festa... - comecei. – Que fui com Benjamin. 

Ela riu. 

— Ah, então não tem nenhuma tentativa de vingança aí no meio? 

Eu travei, claramente confusa. Ergui sugestivamente uma sobrancelha e ela revirou os olhos.

— Tem certeza que não quer testar o ciúme de Benjamin? – perguntou e eu fiquei boquiaberta. 

— Não! Não estou usando o Daniel! 

— Mas poderia, você sabe – ela disse. – Juntar o útil ao agradável. 

— Você nem o conhece, Carol! 

— Sim, mas já estou começando a ficar dividida! – exclamou e logo colocou a mão no queixo, mostrando pensar em algo. – Benjívia ou Liviel? 

Franzi o cenho. 

— O quê? 

— Não gostou desses? Pode ser Liviamin ou Danívia. Esses também dão!

— Eu não estou entendendo nada, Carol – expliquei. 

— Shipps, Lívia, conhece? Estou criando! – esclareceu e eu revirei os olhos. 

— Eu vou fingir que não ouvi isso – falei. – Vamos voltar à minha história? 

Decidi então contar tudo desde o início. Falei sobre o rebuliço em meu estômago que começou a aparecer, comentei que não fazia ideia sobre como lidar, contei sobre os gestos do meu vizinho e a importância exagerada que eu dava a eles e confessei que logo fui me apaixonando. Isso seguiu até chegarmos ao acontecimento de ontem, não sem uma breve interrupção cheia de palavrões vindos de Carol ao ler as mensagens de Mariana, quando Benjamin não me chamou para aquela reunião de amigos em sua casa. A única coisa que ficou de fora da conversa foi esse diário. Carol ficou calada na maioria das vezes, demonstrando sua surpresa com expressões faciais, como quando Benjamin invadiu meu encontro e ficou bravo depois sem motivo aparente. Quando acabei, ela respirou fundo e começou a explicar seu ponto de vista.

— É meio óbvio que Benjamin teve um ataque de ciúmes no dia do shopping – comentou e eu assenti, entendendo que meu vizinho deveria estar achando que eu o substituiria pelo Vinícius. Porém, era claro que Benjamin ia continuar a ser meu melhor amigo. – Acho que ele percebeu que sentia algo a mais por você.

Retiro o que disse. Essa foi a vez que mais gargalhei. Logo fui repreendida pela bibliotecária.

— Claro que não, Carol. – falei. – O amor platônico parte de mim para ele, e não o contrário – ela conseguiu rir e balançou negativamente a cabeça em seguida.

— Acredito que seu contato com Benjamin te fez contrair a lerdeza dele – comentou. – Lívia, na época que você via seu vizinho só como amigo, você pensou em invadir algum encontro dele?

Era uma boa pergunta. Benjamin sempre comentou sobre garotas e sobre seus encontros, até de forma exagerada, mas eu nunca parei para pensar nas minhas reações. Acho que eu assentia ao escutar seus comentários ou simplesmente revirava os olhos. Lembrando que Carol havia feito uma pergunta, franzi o cenho e balancei negativamente a cabeça.

— Então, garota!

— Carol, nem comece com essas teorias – falei, gesticulando com as mãos. – Além de não adiantar nada, porque não estamos mais nos falando, só me confunde ainda mais. Benjamin não gosta de mim.

Carol deu de ombros, não sem antes deixar claro que não concordava com isso, e logo voltou a falar suas impressões sobre as situações – e sobre Daniel principalmente. Um bom lado dessa conversa foi como Carol parecia já odiar Mariana sem nem ter me esperado pedir, xingando-a uma hora ou outra. 

Quando o sinal tocou, voltamos para a sala, encontrando um emburrado Vinícius pelo caminho. Infelizmente, ele chegou bem no meio da conversa, quando estava perguntando qual fantasia Carol ia usar hoje.

— Fantasia para quê? – indagou, colocando-se no meio de nós duas e apoiando um braço em meu ombro e o outro, no de Carol.

— Para uma festa que vamos hoje – comentei, tentando não olhá-lo, mas ele logo se virou para me encarar. Então tive uma ideia. – Carol disse que falaria com você – ele a encarou e ela arregalou os olhos para mim, estrangulando-me mentalmente até raciocinar e entender que essa era minha deixa para ela o convidar.

— Ah, sim... – começou. – Queria saber se não quer ir conosco nessa festa à fantasia.

Vinícius sorriu. Infelizmente, virou-se para mim ao responder.

— Eu adoraria – disse e eu abaixei o olhar de novo, apressando o passo e me desvencilhando de seu braço. Sentei-me rapidamente no meu lugar à frente do professor, seguida por uma Carol um tanto desanimada, mas que ainda assim sorriu para mim e me abraçou, fazendo a mesma coisa na saída.

Ela combinou então de passar primeiro na casa de Vinícius e depois na minha, sendo que era sua prima, Bruna, que iria nos levar até lá. A festa é de um rapaz chamado Arthur e aparentemente ele dá uma dessas por mês. Eu só torcia para que pelo menos Benjamin não o conhecesse. Encontrá-lo lá era o que menos queria.

Já em casa, comi as poucas sobras da janta e me entupi da torta que havia feito, esta que estava simplesmente perfeita depois de um bom tempo na geladeira. Decidi levar um pedaço depois para Tina, que afirmava que essa era sua torta favorita. Aproveitaria também para ver se Benjamin tomaria coragem e pediria desculpas, contribuindo para curar meu orgulho ferido.

Durante a tarde, fiquei conversando no grupo que tinha com Carol e Vinícius enquanto finalizava Gotham. Assisti com o quarto completamente escuro e já conseguindo montar uma pirâmide com todas as latas de refrigerante que bebi. Férias são sensacionais. O melhor é saber que você pode não fazer nada o dia inteiro sem ninguém vir lembrar que tem aula amanhã.

O problema é que, quando fazemos algo que não gostamos, o tempo vira um instrumento de tortura, parecendo que o ponteiro do relógio demora horas para mudar de lugar (como acontece na aula de química, por exemplo); mas quando estamos fazendo algo que gostamos (como assistir séries), o tempo teima em passar rápido demais. Foi exatamente o que aconteceu. Quando me toquei, Carol e Vinícius já tinham ido se arrumar e somente eu ainda estava mandando mensagens naquele grupo.

Decidi então tomar banho, colocar minha fantasia e me maquiar. O vestido era vermelho, com um gorro da mesma cor e um corpete preto. Coloquei uma meia calça branca e uma sapatilha preta, passando rímel e lápis de olhos em seguida – valorizando o que para mim é a melhor parte do meu rosto e fazendo uma sombra leve esfumaçada, passando um brilho labial simples. Rápido assim, estava pronta.

Peguei minha bolsa e celular, mandando uma mensagem para Carol, e despedi-me dos meus pais, dizendo que ficaria esperando na calçada. Eles, obviamente, passaram o sermão sobre festas um pouco mais rápido e disseram que eu estava linda. Pais agindo como pais. Estava quase saindo quando lembrei da torta. Coloquei um pedaço bem grande em um tupperware e saí em direção à casa de meu vizinho.

Toquei a campainha e esperei, passando a mão por meu vestido para ajeitar o tecido como forma de lidar com o nervosismo. Logo ouvi alguns passos apressados e pouco depois a porta foi aberta. Quando ergui o olhar, pude ver um Benjamin travado ao me ver. Ele percorreu meu corpo com aqueles olhos verdes, que faziam borboletas surgirem em meu estômago instantaneamente, sem dizer nada.

— Lí-Lívia... – gaguejou, sem tirar os olhos da minha roupa.

Sentindo meu coração disparar e, ao mesmo tempo, a raiva em meu peito crescer por Benjamin ainda ser capaz de fazer isso comigo, abaixei o rosto. Torcia que ele não percebesse a vermelhidão em meu rosto. Eu esperava que terminasse de falar enquanto apenas balançava impaciente a perna e focava em qualquer coisa que não fosse meu vizinho e sua mania de ficar em casa usando apenas aquela bermuda e causando inveja em todos que observam aquele abdômen que nunca terão.

— Vo-você... Você... – ele tentou continuar. Ergui a sobrancelha e olhei-o nos olhos.

Eram raras as oportunidades em que eu poderia presenciar esse momento, quando o todo poderoso Benjamin Lacerda perdia a pose. Ele, que tinha que sempre saber o que falar em uma conversa e o que dizer em uma apresentação de trabalho, conseguia se enrolar todo às vezes, porque Benjamin gagueja quando é pego de surpresa e essa é uma cena muito difícil de ver. Meu vizinho tem a habilidade de sempre ter uma resposta na ponta da língua e são raras as situações em que o vejo perder as palavras, porque ele não costuma deixar algo inesperado afetá-lo a ponto de transparecer.

Ele já fez isso quando me viu com a fantasia de coelhinha e quando foi pego fazendo coisas escondidas, fora quando me levou para o clube em que é membro e ficou todo vermelho ao ver as garotas de biquíni olhando para ele e não conseguiu formular uma frase. Entretanto, Benjamin sempre recuperava a pose depois, como se aquilo fosse apenas um deslize, e terminava com algo repleto de sarcasmo.

— Benjamin, não precisa falar nada – interrompi-o, recuperando-me ao perceber que ele não falaria nada. Vê-lo ali apenas reativou todas as lembranças do que ele fez nesses últimos dias. – Vim aqui só para entregar um pedaço da torta que eu fiz para sua irmã – eu disse, passando por ele e indo até sua geladeira, que é cheia de fotos da família e dos amigos na lateral.

— Lívia... – Benjamin começou novamente, já recuperado.

— Não vou perder meu tempo te ouvindo, Benjamin – falei, seca. – Senão é provável que eu me atrase para a festa – continuei, enquanto guardava a torta, seguindo logo para a porta. – Mas não fique triste, é só chamar seus amigos – completei antes de sair.

— Mas... 

— E nem precisa se preocupar em me convidar, eu vou estar muito ocupada.

Bati a porta de sua casa, não sem antes enviar para meu vizinho um último olhar de raiva, e logo segui para o meu gramado, onde fiquei de pé enquanto esperava. Não arriscaria sentar ali. Pouco tempo depois, um carro vermelho parou em frente à minha casa e uma animada Carol vestida de Mulher Maravilha acenou da janela. Sentei no banco traseiro, sendo que a direção era ocupada pela prima de Carol, Bruna, que usava uma fantasia de fada e sorriu para mim. O passageiro era uma amiga de Bruna, que depois descobri se chamar Ana, e esta usava uma fantasia de Alice no País das Maravilhas. Carol então se colocou no meio e do seu lado esquerdo estava Vinícius, usando uma fantasia de policial. Os dois me cumprimentaram e logo fomos para a festa.

Chegando no condomínio, o guarda nem perguntou para onde iríamos, porque muita gente já tinha entrado e todos tinham o mesmo destino. A casa do garoto é enorme e, à primeira vista, parece ser térrea, mas descobrimos ao entrar que a casa tinha um andar inferior que dava acesso para o jardim ao fundo e às três piscinas, além de ser ali que todos estavam. Tinha um bar próximo às escadas e um rapaz em frente a um mixer controlador, escolhendo as músicas.

Carol e Vinícius me seguiram, o que nos fez deixar Bruna e Ana seguirem rumos diferentes do nosso. Ficamos na pista de dança, onde começamos a rir que nem malucos porque nem sabíamos o que fazer primeiro. Pouco tempo depois, já estávamos dançando, eu tentando ao máximo deixá-los próximos da forma mais disfarçada possível enquanto eles conversavam tranquilamente. 

Foi então que começou a tocar uma música lenta e, antes que Vinícius pudesse considerar a ideia de me chamar, afastei-me e fui até o bar. Aproximei-me do balcão e, antes que pudesse pedir qualquer coisa, o atendente deixou um copo cheio até a boca com um líquido avermelhado. Olhei ao redor, apenas para conferir se não era de ninguém, e logo o peguei, dando um gole. O líquido era tinha um cheiro forte e fez minha garganta queimar, como se inibisse momentaneamente meus sentidos. 

Dei de ombros e continuei bebendo. Tinha gosto de morango misturado com o gosto do álcool e era muito gostoso, devo admitir. Desculpa, Diário, não beba se tiver menos de dezoito e não me tenha como exemplo, mas eu estava sofrendo de amor platônico e comemorando minhas férias, podia ter um momento mais oportuno? 

— A Chapeuzinho Vermelho não carregava uma cesta cheia de doces? 

Virei-me na direção da voz e logo dei de cara com um cara com aparência de aproximadamente vinte anos. Seus cabelos castanhos bem escuros eram repicados em cima e raspados na lateral da cabeça. Ele possuía alargador em uma das orelhas e olhos azuis, algo que só pude perceber pela luz do bar. 

— Não essa aqui – respondi, apontando para mim mesma. – Olha a minha cara de quem sairia carregando uma cesta. 

— Então você substituiu os doces na cesta por... Uma batida de morango e vodca? – indagou e aquela parte minha já afetada pelo álcool me fez rir, o que apenas o encorajou. 

— Por quê? Está interessado? 

— Só na sua companhia – disse-me e eu sorri. 

— A Chapeuzinho entrega a cesta sozinha, sabe – lembrei-o.

— Mas encontra o Lobo Mau pelo caminho – explicou e eu abri a boca para rebater, mas não consegui. Ri novamente, desistindo de continuar, e estendi-lhe o copo, fazendo um brinde. 

— Posso saber o nome do Lobo Mau, pelo menos? 

— Otávio. E a Chapeuzinho chama...? 

— Lívia. 

Ele então sorriu e me convidou para sentar em uma mesa, que depois descobri estar ocupada por outros três amigos seus, dos quais nem sequer lembro o nome. Envergonhada, ajeitei-me próxima a ele, que logo pediu mais bebidas no bar e colocou na mesa, estendendo um copo para mim também. Seguimos então conversando e rindo. Rindo muito. Os amigos deles buscaram mais rodadas e eu já sentia minha bochecha doerem de tanto rir.

A partir daí a noite ficou meio embaçada e os detalhes se perderam naqueles copos com álcool. Não sei quantos bebi, mas não sou forte com bebida alcoólica. Lembro-me de ter passado um bom tempo com aqueles garotos, com quem conversei sobre tudo e ri de mais coisa ainda. Também me recordo de ter visto Carol se aproximar, saindo emburrada em seguida. Vinícius também foi até a mesa, porém nada aconteceu. A única coisa que me lembro foi de ter dito para que fosse embora.

Agora, a última coisa que me lembro foi ter visto Carol usando um telefone e pronunciando a frase “Obrigado, Benjamin”, desligando logo em seguida. E eu tenho certeza de que vi aqueles intensos olhos verdes em algum momento na festa. 

Lívia.

17º Defeito: Benjamin gagueja quando é pego de surpresa.


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Notas finais do capítulo

1. Sim, a Lívia é uma adolescente irresponsável.
2. Sim, o capítulo acabou assim mesmo, não me matem. Juro que no próximo está tudo explicado, mas fiquem à vontade para discutir teorias comigo nos comentários.
3. Desculpem qualquer errinho, mas estava com pressa devido o meu atraso.

Até o próximo ♥