30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 15
29 de junho (terça-feira) – 15º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Já está tarde, mas é sexta, certo?
Quero agradecer aqui a Julia, Miss Fortune, Giulianna Valadares, Coffee, Tatá Ribeiro, QUEEN, Vina, Karolayne, Giulianaamoedo e AnnaP pelos reviews ♥ Sério, o que foram esses comentários? Um mais perfeito que o outro. Querem acabar com meu coração, só pode. Amei ♥
Quero agradecer também a todos que favoritaram e aos que estão acompanhando. Só de ver que tem gente aguardando capítulo já fico feliz. Fiquem à vontade para deixar comentários, viu? Preciso saber o que estão achando para ver qual será o rumo da história.
Esse capítulo é meio que uma "transição", até porque a Lívia está meio alone, mas logo ela volta com todas as provocações e cenas normais. Fiquem tranquilos.

Metade dos defeitos? Já? O que é isso, produção?
Boa leitura ♥



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29 de junho (terça-feira) – 15º Defeito

Terças-feiras são quase tão desprezíveis quanto segundas-feiras. Hoje, isso foi comprovado.

Acabou sendo o dia do ano que menos falei com Carol e eu não estou brincando. Às vezes, durante a aula, olhava para minha amiga de onde eu estava e sorria para ela, que retribuía em seguida, mas era só isso acontecer e eu sentia aquele peso em meus ombros aumentar. Aquele olhar de Carol ontem martelava em minha consciência e meu cérebro tentava pensar no que fazer.

Ei, desculpa ter beijado o garoto que eu acho que você gosta. E desculpa também por eu ser a pior amiga de todas e nunca ter desconfiado dos seus sentimentos”. Você me perdoaria, Diário? Com certeza, não.

Por isso, a hora de ir embora nunca foi mais bem-vinda. Dei-lhe um abraço, como se aquilo expressasse de forma silenciosa o quão confusa e perdida eu estava, e ela retribuiu, sem exatamente saber tudo o que eu queria dizer. Acenei de dentro do carro e sorri de leve para meu pai quando ele acelerou, fechando-me em meu mundo novamente depois disso. Estava gastando mais neurônios com isso do que com muita prova por aí.

E isso me acompanhou até depois do almoço. Fiquei na sala tentando assistir televisão e acabando com minhas unhas, refletindo sobre tudo aquilo. Porém, isso só durou até eu escutar uma alta música vindo do lado de fora. Deixando a curiosidade existente em mim se expressar, caminhei até minha janela e espiei por uma fresta da cortina.

Não me surpreendi ao ver um carro estacionado à frente da casa de meu vizinho. Repleto de adolescentes que riam e cantavam a música juntos, era o mesmo modelo que deixava Benjamin em casa antigamente e me surpreendi ao vê-lo deixar o veículo e acenar. Não o suficiente, abriu a porta do banco de trás e ajudou sua Barbie a sair. Não controlei minha careta e logo pensei que Benjamin fez aquilo porque sabia que eu estaria espiando e entendeu que a melhor forma de me manter longe é trazer Mariana. Tipo luz do sol e vampiros.

O casal então entrou na casa de meu vizinho, mas o carro permaneceu no mesmo lugar. Reconheci um cabelo loiro no banco da frente e sorri ao ver Daniel conversando animadamente. Nós nos falamos ontem à noite quando ele veio perguntar se Benjamin havia brigado comigo da mesma forma que com ele. Respondi que não, o que não era mentira, já que não estávamos conversando para ele realmente vir brigar comigo.

Franzi o cenho ao perceber que era cedo demais para Benjamin estar em casa, mas logo lembrei que hoje começavam as férias em seu colégio. Isso levaria então ao sumiço de meu vizinho por boa parte do mês, já que ele saia muito nessa época. Mariana e Benjamin logo voltaram, ambos com roupas para festas, e entraram no carro em seguida. Seria a primeira de muitas.  

O carro então acelerou. Sorri fraco para mim mesma como forma de lidar com aquele nó em minha garganta formado de inveja e ciúme. Apoiei a cabeça na janela, pensando em Benjamin, como sempre, e em Daniel. Eu e o loiro, na conversa de ontem, começamos a falar sobre começos de amizades e isso fez aquela pergunta voltar a ocupar minha cabeça:

Por que Benjamin virou meu amigo?

Não estou me desmerecendo, Diário, estou sendo realista. É diferente, acredite ou não. Eu aceito que minha posição na hierarquia social, sei que é diferente da de Benjamin e não a mudaria, principalmente se isso significasse perder meus amigos. Mas para alguém como eu, que não tem um lugar de destaque, é muito comum imaginar como seria viver a vida do meu vizinho: cumprimentar à todos e eles saberem seu nome, sentar na mesa restrita aos populares e ser reconhecida por todos na escola, assim como os jogadores.

Essa é apenas mais uma diferença entre nós que ambos parecemos ignorar quando começamos essa amizade. Como eu sei que Benjamin tem tudo isso? Se pudesse vê-lo, Diário, ia entender que para alguém como meu vizinho não poderia ser diferente. Porém, já tive a confirmação quando me levou à uma festa de Halloween ano passado. Era de alguma amiga muito rica, que decorou a casa inteira com aranhas e teias falsas, tecidos em tons de preto e roxo, caldeirões e morcegos de borracha.

Era a primeira vez que me chamava para algo que envolvesse conhecer e conversar com pessoas da sua escola. Benjamin já havia dito como era seu colégio, contara sobre seus amigos e seu time, mas nunca tinha me convidado para ingressar nesse seu mundo nem que por um breve momento. Eu estava assistindo Game of Thrones quando ele chegou da escola e pulou para a minha sacada, abrindo a porta em seguida e entrando. Benjamin chegou falando todo animado que tinha conseguido convencer a dona da festa – que eu me lembre ela se chamava Paula – a deixá-lo levar uma acompanhante.

— E é uma festa à fantasia, Lívia. Nem pense em aparecer usando essa calça de moletom e esse blusão – comentou sério e eu o encarei.

— E se eu quiser ir de adolescente depressiva? – indaguei.

— Aí você simplesmente não vai — respondeu. – Meus amigos querem te conhecer, então use uma fantasia legal e cause uma boa impressão, Nogueira.

Balancei a cabeça, rindo, e concordei em seguida.

— E você vai do quê? Freddy Krueger?

Depois de perguntar isso, esbocei meu melhor sorriso irônico enquanto meu vizinho se virava lentamente. Gargalhei então ao ver o olhar mortal que ele lançou. Caso não tenha entendido, Benjamin tem medo do Freddy Krueger. Medo não, pavor. O filme A hora do pesadelo é bem antigo e os novos nem são tão assustadores, mas quando chamei Benjamin em um feriado para assistir todos comigo, ele nem pestanejou e aceitou direto, escondendo seu medo até começar o filme.

No dia, eu fechei as cortinas, peguei um balde de pipoca e um cobertor e sentei ao lado de Benjamin para assistir, que parecia um tanto agitado. Meus pais tinham ido passar esses dias sem trabalho em Minas Gerais, então fiquei sob a supervisão da família Lacerda. Já era de noite e estava chovendo pesadamente, mas não me incomodava nem um pouco – apenas criava um clima ainda mais legal.

Obviamente meu vizinho não pensava a mesma coisa e eu fui descobrir isso logo na primeira cena que o vilão apareceu. Assim que Freddy deu as caras, Benjamin enrijeceu a postura e trincou o maxilar, mostrando-se claramente desconfortável, arrumando a posição no sofá e evitando olhar para a televisão.

Comecei a encará-lo pelo canto do olho e percebi que assistir um filme de terror com meu vizinho estava saindo muito mais engraçado do que o planejado. Benjamin dava pulos no sofá, tampando disfarçadamente os olhos cada vez que a câmera focava no rosto queimado de Freddy. Não podendo perder a oportunidade, aproveitei quando Benjamin estava com o balde de pipoca no colo e decidi gritar e assustá-lo, resultando em uma chuva de pipoca em cima dele.

— Parece que quem tem pipoca no cabelo é você! – gargalhei alto depois de dizer isso, vendo-o colocar toda a raiva que sentia naquela imensidão verde que possuía no lugar da íris. A brincadeira acabou lembrando do dia que nos conhecemos e eu me senti vingada. Benjamin, pelo contrário, não gostou e balançou a cabeça, tirando a pipoca do cabelo e me encarando, bravo. – Que bonitinho, você tem medo do Freddy!

— Não tem a menor graça, Lívia – falou e cruzou os braços, virando-se para a frente e puxando todo o cobertor para seu lado. Eu continuei rindo enquanto assistia a cena que passava. Dava para ler na testa de Benjamin que eu havia ferido o orgulho do meu vizinho, que encarava emburrado a televisão e se segurava para não me observar disfarçadamente. Continuei rindo por um tempo até perceber que Benjamin tinha ficado mesmo chateado.

— Ei, eu só estava brincando! – comentei enquanto me aproximava, virando o rosto de Benjamin para mim. Ele fez uma careta de descontentamento antes de voltar a olhar para a televisão. – Benjamin, para de ser dramático, por favor.

Pedi, rindo, mas ele me ignorou, abraçando-se ao cobertor como se sua vida dependesse daquilo. Aproximei-me mais enquanto tentava tirá-lo de Benjamin, mas ele puxou forte o cobertor e eu não era louca o suficiente para brincar de cabo de guerra com meu vizinho. Coloquei-me então à sua frente, deixando sua pernas entre as minhas e segurando seu rosto, fazendo aquele olhar confuso e aquela ruga na testa aparecerem no rosto de meu vizinho.

— Sai, Lívia – mandou, enquanto inclinava a cabeça para os lados, tentando fingir estar vendo o filme. Apertei suas bochechas com as mãos e ele revirou os olhos. – Você está me atrapalhando – disse de forma engraçada devido à forma como apertava seu rosto.

— Não saio.

Ele então parou quieto e se calou ao escutar minha resposta, desviando os olhos da televisão para meu rosto. Benjamin me analisou de uma forma intensa, permitindo-me ver aqueles olhos verdes que já me hipnotizavam naquela época. Isso me fez corar instantaneamente, mesmo não estando apaixonada por ele ainda, apesar de parecer impossível. Benjamin sempre me pareceu um daqueles bad boys que os pais querem longe das filhas, mas estas os querem bem perto porque misturam o sentimento de rebeldia e conforto que elas tanto buscam. Se no dia que nos conhecemos eu não estivesse irritada com ele, teria ocupado grande parte dos meus pensamentos indagando porque algumas pessoas são tão bonitas assim.

— Ajuda no seu processo de aceitar minhas desculpas se eu disser que tenho medo daquela garota do filme O grito? — indaguei e ele ergueu a sobrancelha, formando um sorriso irônico quando soltei seu rosto.

— Por quê? – perguntou, rindo. Eu dei de ombros, não saindo da posição.

— Não me julgue, ok? – pedi. – Foi o primeiro filme de terror que assisti e o único no qual o vilão matava as pessoas que estavam embaixo do cobertor! – expliquei.

— E daí?

— E daí que nessa época feliz da minha infância o cobertor era minha proteção mágica contra todos os seres malignos e a Kayako Saeki estragou tudo!

Eu havia acabado de lhe contar um dos meus traumas de infância. É isso que dá passar as férias com seus primos adolescentes quando se tem nove anos. Acabei tendo que dormir com a minha avó – e não consegui mesmo assim. Benjamin ficou sério por alguns segundos, como se processasse o que eu acabara de contar e, como um péssimo amigo faria,  gargalhou forte em seguida.

— Você só pode estar brincando, Lívia! – falou, balançando negativamente a cabeça, como se o que eu disse fosse inacreditável. Encarei-o, boquiaberta.

— E quem é você para falar? – indaguei, cruzando os braços.

— Ei, o Krueger te mata enquanto dorme – explicou. – Se morrer no pesadelo, morre na vida real. Eu tenho motivos para ter medo.

— E a Kayako te persegue até a morte! - argumentei. 

— Só se visitar a casa dela... No Japão! - ele rebateu.

Ficamos assim, discutindo por um bom tempo. Benjamin não reclamou de eu ter sentado sobre suas pernas e passei a conversa inteira ali. Cada um defendeu a si por um longo período, terminando só quando sabíamos que aquilo viraria uma briga se não acabasse. Claro que Benjamin ganhou essa discussão, até porque iríamos continuar para sempre se eu não desistisse, mas tive minha vingança pessoal ao ver a reação do meu vizinho ao perguntar da fantasia.

— Engraçadinha você, Lívia. Vai de Kayako então – respondeu de nariz torcido e eu balancei a cabeça negativamente, ainda rindo.

— Vamos fazer assim: – comecei. – Se você for de Freddy Krueger, eu deixo você escolher que fantasia usarei.

Benjamin me ergueu uma sobrancelha e passou a mão pelo queixo, como se ponderasse a sugestão. Ficou andando de um lado para o outro no meu quarto até se virar para mim.

Qualquer fantasia? –perguntou, depois de um tempo. Assenti com a cabeça, um tanto desconfiada.

Aquele sorriso malicioso surgiu nos lábios de Benjamin e eu engoli em seco. Será que dava para voltar atrás?

— Então está combinado. Mostro sua fantasia sábado.

E foi o que ele fez. Só pude ver a roupa que teria que usar às vésperas da festa. Claro que, se eu soubesse que seria aquela fantasia, nunca teria sugerido a ideia de deixá-lo escolher. Não confie em Benjamin Lacerda.

Meu vizinho deixou a sacola com a fantasia que comprou na minha cama e escreveu um bilhete, dizendo que teria que chegar mais cedo para ajudar Paula e os garotos a organizar tudo. Tirei o conteúdo e franzi o cenho ao ver que havia pouca coisa e tive vontade de espancar Benjamin quando entendi do que era aquela roupa.

A fantasia era a roupa de coelhinha da Playboy.

Eu revirei a sacola, claramente achando ser uma brincadeira sem graça de Benjamin, mas assim que percebi que era mesmo aquela, a ideia de comprar um daqueles bonecos voodoos e espetar o coração de meu vizinho veio à minha cabeça e pareceu agradável. Felizmente para mim e para ele, Benjamin não comprou um maiô propriamente dito, e sim algo que se assemelhava a um daqueles maiôs com perna que usam em hidroginástica, branco com detalhes em preto e com um rabinho de coelho de mentira preso atrás. Havia também uma meia calça-branca, uma tiara com orelhas de coelho e uma coleira com o símbolo da Playboy.

Eu olhei para aquela fantasia, considerando colocar ou não, pensando se Benjamin cairia na mentira de que eu havia acidentalmente jogado aquilo no lixo. Quando já estava dando a hora, coloquei-a do mesmo jeito e desci as escadas, vendo minha mãe erguer os olhos e prendê-los em mim.

— Lívia... O que é isso? – perguntou-me.

— Uma fantasia, mãe – respondi e ela revirou os olhos.

— Tem certeza? Parece mais uma tentativa de causar um ataque cardíaco no seu pai – comentou, misturando aquele tom de repreensão e sarcasmo. Isso, porém, durou pouco, pois seu rosto se iluminou em seguida. – Ah, claro, Benjamin vai estar lá, não é?

Bati com a mão na minha testa.

— Vai, mãe, mas não é por causa dele que estou usando – expliquei. – Quer dizer, é, mas não por esse motivo que você está pensando.

— Claro, claro... – Carla disse, claramente ignorando a última parte. – Vamos, vou te levar. Ah, Lívia, os garotos vão babar ao te ver assim!

Revirei os olhos.

— Mãe, não vai ter garoto nenhum!

— Que besteira, Lívia. Sempre tem! - comentou. - Você lembra das regras certo? – questionou-me. – Sem aceitar bebidas de estranhos, não importa quão bonitos eles sejam; não ande muito sozinha, apesar de ser mais fácil de um garoto se aproximar assim; e não vá para um quarto, Lívia, porque...

— Mãe! – cortei-a enquanto entrávamos no carro. – Já sei disso tudo. Nenhum garoto vai se aproveitar de mim, até porque vou ficar com Benjamin o tempo inteiro e ninguém vai...

Carla riu alto.

— O que foi? – perguntei.

— Minha filha, se Ben não se interessar por você vestida assim — enfatizou a última palavra enquanto apontava com o olhar para a minha roupa, o que me fez querer correr de volta para casa e colocar uma calça moletom e a blusa bem larga que Benjamin esqueceu em casa e que se tornou minha. – ele não se interessa por garota nenhuma.

Gargalhei devido a fala de minha mãe, que me acompanhou, logo voltando a falar sobre garotos – e um em especial. Quando Carla estacionou na frente daquele local infestado de pessoas na puberdade ingerindo álcool, dei-lhe um abraço. Ela me desejou uma boa festa (e boa sorte também) e eu deixei o carro, pegando meu celular e procurando o contato de Benjamin o mais rápido que pude.

Eu: Onde você está?

Pouco tempo depois, meu celular vibrou.

Benjamin Lacerda: Eu estou dentro da casa, perto do bar. Já chegou?

Eu: Sim, eu estou indo aí.

Digitei essa mensagem enquanto caminhava pelo jardim frontal da casa, como uma técnica para evitar os olhares das pessoas e não ser obrigada a reagir aos assobios que faziam ou aceitar que alguns dos cochichos eram sobre mim. Segui puxando aquela roupa cada vez mais para baixo, o que a esgarçaria com certeza, enquanto andava pela enorme sala transformada em salão. O interior estava mais cheio do que o lado de fora, com aquelas luzes estragando minha visão e a música alta perfurando meus tímpanos. Por um momento, achei que voltaria para casa com apenas três dos cinco sentidos.

Depois de andar um tempo e não encontrar o maldito bar, pensei em parar e perguntar se alguém sabia onde estava Benjamin Lacerda, o que não deveria ser muito difícil. Felizmente, nem precisei. Quando o encontrei, ele estava apoiado no balcão, encarando-me de olhos arregalados e com a boca aberta, claramente surpreso. Abracei-me como forma de vencer a vergonha que brotava em mim e tentei caminhar, mas minhas pernas não obedeciam. Foi então que um dos amigos, que descobri depois ser Daniel, bateu no queixo de Benjamin, sinalizando que ele tinha que fechar a boca.

Meu vizinho vestia a blusa listrada do Freddy e uma calça preta, além de ter feito alguns machucados com sangue falso e usar uma luva com o desenho das lâminas afiadas do vilão. Ele então recobrou os sentidos, sorrindo para mim, que tinha parado no meio do caminho, e aquilo deveria ser considerado um insulto de tão atraente. Por um minuto, fiquei sem ar.

Aproximei-me de Benjamin, que me abraçou, e me apresentou para os quatro garotos que estavam com ele, os seus melhores amigos. Todos eram legais e simpáticos, mas foi com Daniel com quem mais conversei. O loiro estava vestido de gladiador enquanto outros três amigos, Matheus, Lucas e Bernardo, estavam vestidos de Batman, Capitão Jack Sparrow e Superman, respectivamente.

— Então você é a famosa Lívia? – Daniel perguntou em meu ouvido devido à música alta pouco depois de Benjamin me apresentar. Eu ergui uma sobrancelha e ele deu um sorriso, que só aumentou ao olhar para a cara de meu vizinho, fazendo sinal de rendição logo em seguida. Olhei para Benjamin, que estava ao meu lado, tentando entender porque Daniel teve aquela reação, mas ele apenas sorriu para mim.

Era um dos dias que teria voltado atrás e dito para a Lívia do passado que ela tinha duas opções: Continuar levando as provocações de Benjamin na brincadeira e não perder essa amizade ou beijar aquele garoto ali, no meio da festa mesmo, se decidisse se apaixonar por ele. A primeira opção é a mais segura, mas tenho certeza que nem a Lívia atual nem a do passado iriam escolher essa.

Passei parte da noite conversando com os meninos sobre os mais diversos assuntos, sempre com Benjamin ao meu lado. Depois de um tempo, apenas Daniel e meu vizinho ficaram por ali, mas isso só durou até Benjamin me puxar dali dizendo que tinha mais gente para quem queria me apresentar.

E coloca gente nisso.

Rodamos aquela festa, interrompendo grupos de conversa ou sentando em mesas lotadas. Benjamin sorria, leve e descontraído, enquanto eu tentava imitá-lo, falhando belamente. Foram milhares de nomes e rostos que eu não seria capaz de memorizar nem se tentasse, mas que meu vizinho mostrou nem precisar se esforçar para lembrar. Fui apresentada para muitas garotas – como a dona da casa –, que abraçavam Benjamin e apenas me cumprimentavam com um sorriso falso e me analisavam da cabeça aos pés em seguida, saindo aos cochichos depois. Claro, meu vizinho estava distraído demais para perceber isso, mas eu sabia que elas me viam como ameaça. Especialmente do jeito que estava vestida.

Poderia até dizer que essa foi a pior parte da festa, mas teria que desconsiderar a perseguição de Benjamin a noite inteira. Mesmo gostando dele, sou obrigada a admitir que aquela situação chiclete era um pé no saco. Não importava onde eu fosse, lá estava ele. Não podia me afastar mais de meio metro de Benjamin que ele logo passava a mão pela minha cintura ou pousava o braço sobre meu ombro, como se maior distância que aquela fosse abrir uma brecha para alguém se aproximar. Se meu pai estivesse ali, bateria palmas para Benjamin porque, literalmente, nenhum garoto se aproximou de mim naquela noite – exceto meu vizinho e seus amigos (mas estes mantendo distâncias seguras).

Então, lembrando de tudo aquilo, eu não parava de me perguntar por que Benjamin teria virado meu amigo. Não seria falta de opção como Mariana acusava, certo? Porque sei que meu vizinho me considera sua melhor amiga – e não se pode fingir isso. O problema é que aquela pequena parte do meu cérebro tende a me comparar com aqueles que estudam com Benjamin – o que é horrível para minha autoestima – e a fazer com que só enxergue como pareço uma anomalia naquele círculo de amizades composto por Kens e Barbies da prateleira principal.

Suspirei pesadamente, sorrindo com as memórias desse dia enquanto aquele sentimento de nostalgia e tristeza me invadiam. Fiquei um tempo encarando o novo hematoma que adquiri na perna depois de ter caído na aula de Educação Física enquanto minha mente vagava entre os vários sentimentos que surgiam em mim ao pensar em meu vizinho.  

Quando já estava anoitecendo, depois de cumprimentar meus pais e tomar banho, sentei-me em uma das cadeiras de minha sacada, como se esperasse poder pegar Benjamin de surpresa enquanto ele tentava tomar coragem para falar comigo. Porém, quando vi que a luz de seu quarto não acenderia, soube que meu vizinho provavelmente nem retornaria para casa.

Depois de uma hora sentada lá, decidi mandar uma mensagem para Carol.

Eu: Carol, está afim de sair da rotina?

Carol: Quem é você e o que fez com minha amiga? Já vou avisando que não tenho dinheiro para pagar o resgate.

Eu: Deixa de graça e responde logo, Carol.

Carol: Eu adoraria. O que sugere?

Eu: Sabe de alguma festa nessa semana?

Carol: Sem contar o baile do prefeito?

Eu: Isso.

Carol: Vou ver, mas não posso prometer convites.

Eu: Sem problema. Entramos de penetra mesmo.

Carol: Lívia, você bebeu ou algo do tipo?

Eu: Não que eu saiba, só estou muito afim de ir em uma festa.

Ela não disse mais nada. Desci para jantar e subi para meu quarto em seguida, onde estou escrevendo nesse momento. Recebi a resposta de Carol agora há pouco, dizendo que teria uma festa na quinta-feira em uma daquelas casas do condomínio mais chique da cidade e que sua prima tinha sido convidada, além de ter concordado em nos dar uma carona.

Detalhe: A festa é à fantasia.

Lívia.

15º Defeito: Benjamin morre de medo do Freddy Krueger.


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Notas finais do capítulo

Opa, opa, opa. Alguém disse festa?
Até o próximo!