30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 13
27 de junho (domingo) – 13º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Agradecendo aqui a Karolayne, Miss Fortune, Tatá Ribeiro, Izzy, Beatriz e Coffee pelos reviews. Vocês melhoram meu dia ♥
E um beijo especial para a Coffee que RECOMENDOU a história. Garota, to esperando para te dar um abraço. Sério, amei ♥ Muito obrigado mesmo. Só não te dedico esse capítulo porque gosto muito mais do que vem a seguir e acho que você merece o próximo.
Por enquanto, contentem-se com esse aqui.
Boa leitura ♥



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27 de junho (domingo) – 13º Defeito

Minha mãe está considerando a escola de Benjamin.

Ela decidiu me jogar essa bomba no café da manhã, um horário sagrado para mim. Não satisfeita, ainda disse que quer visitar a escola.

Além disso, tenho quase certeza que estou de TPM, Diário. Você não está entendo o estresse e a vontade que sinto de matar o meu vizinho, a namorada dele e o garoto que me beijou e nunca mais ligou. A necessidade de encontrar amigos novos é grande e continua crescendo.

Tem o Daniel, mas ele é o melhor amigo do Benjamin, então não dá certo. Nada do que eu sei e pelo o que passo pode ser mencionado para ele porque tem a enorme chance de ser contado para o meu vizinho. Entretanto, achei muito divertido descobrir que sei de coisas sobre Benjamin que Daniel nem imagina. Ele comentou que meu vizinho nunca vai com os amigos no parque andar de bicicleta aos domingos e eu sorri ao ler a mensagem. Nem o melhor amigo de Benjamin sabe que ele não consegue andar de bicicleta. Aquele era realmente um segredo meu e dele.

Por possuir a grande habilidade de variar o que fazer durante o dia, fiquei jogando videogame como sempre. Claro que, antigamente, eu costumava ter um amigo com quem jogar, mas não vou chamá-lo e deixá-lo sentir que tem razão e que está certo em fazer drama. Além do mais, eu podia cruzar com Mariana na casa dele. Melhor não arriscar.

Depois do almoço, quando subi para o quarto, escutei o som de notificação de mensagem e uma gotinha de esperança surgiu em mim, fazendo-me ir até o aparelho. Não segurei o suspiro triste ao ver que não era de Vinícius. Desbloqueei o celular e li a mensagem.

Carol: Por que não me contou que ia ter um encontro com o Vini?!

Engoli em seco e pensei no que iria escrever. Por que não comentei mesmo? Caramba, como eu fui deixar isso acontecer? Benjamin passando tempo demais na minha cabeça e nervosismo tomando conta do meu cérebro, com certeza. Eu devia ter comentado com Carol, mas... Como será que ela descobriu?

Eu: É que ele me chamou para sair e, como eu não sabia se iria virar alguma coisa, nem comentei.

Carol: Por que não contou? Eu sou sua melhor amiga, caramba!

Eu: Desculpa mesmo, Carol! Eu fiquei com medo, não sabia o que fazer e poderia dar tudo errado, aí deixaríamos de ser amigos e podia afetar nosso grupinho...

Carol: Eu desculpo, Lívia... Mas não esqueça que eu estou aqui para ajudar, cabeça-dura.

Eu: Obrigada. Mas, já que estamos falando disso... Como descobriu?

Carol: Vini comentou quando ligou avisando que ia viajar no sábado para a casa do avô.

Respirei, aliviada, por ter uma explicação. Então o desaparecimento de Vinícius se devia ao fato de ter ido para a fazenda do avô, naquele fim de mundo que não tem internet. Agradeci mentalmente por não ter feito nada para estragar o encontro e por ainda ter uma chance.

Isto é, até lembrar que Vinícius chamou Carol para o baile há mais de um mês.

Toda aquela esperança murchou dentro de mim. Desesperei-me um pouco, pensando nos possíveis acompanhantes que aceitariam o convite de uma garota não tão popular e interessante, já que o baile se aproximava cada vez mais e menos garotos estariam livres. Depois de calcular um pouco, descobri que minhas chances de encontrar alguém eram quase nulas, especialmente porque já era no próximo sábado.

Não respondi mais Carol ou conferi se havia outras mensagens. Joguei-me na cama, não contendo minha careta de tristeza enquanto tentava me convencer a desistir de ir ao baile. Não é como se minha presença fosse ser notada mesmo. Além disso, festas interessantes acontecem toda hora, posso marcar de sair com a Carol qualquer dia.

Decidi refletir mais sobre o assunto depois, pensando em algo para fazer. Não iria ao parque depois do que aconteceu ontem, caso estivesse amaldiçoado e Mariana decidisse aparecer por lá, e minha mãe não me levaria a lugar nenhum, então decidi passar na casa de meu vizinho rapidamente. Não para vê-lo, é claro. Iria ver Tina e nos divertiríamos juntas – já que a considero uma irmã mais nova –, mas também aproveitaria essa brecha para conferir o humor atual de Benjamin. Além de estar fazendo manha com aquela história do shopping, ainda tinha o acontecimento de ontem.

Bati algumas vezes na porta e foi justamente a loirinha que abriu, esboçando um sorriso ao me ver. Ela me abraçou e logo me puxou escada acima, arrastando-me até seu quarto, decorado como o de uma princesa. Sua cama é baixa, com um lençol rosa cheio de estampas de fadas. A parede é bege, exceto uma, do mesmo tom de seu lençol e ela possui uma mesa para as lições de casa e uma televisão, coisa que eu sonhava em ter na idade dela.

Sentei-me em seu tapete branco, lotado de Barbies espalhadas pelo caminho. Claro que, depois de conhecer Mariana, as bonecas deixaram de ser vistas como coisas boas por mim, mas não deixaria isso atrapalhar e começamos a brincar. Tina tem uma das maiores coleções que já vi. Pouco depois, quando ela cansou e começou a pedir para brincarmos de outra coisa, peguei-a no colo, coloquei-a em minhas costas e começamos a correr pelo quarto com os braços esticados enquanto Tina ria e tentava imitar o barulho produzido por um avião. Tudo estava indo bem, na verdade.

Até ver Benjamin na porta.

— Ben! – gritou a loirinha, pulando das minhas costas e me fazendo apoiar na parede para não cair. Ele estava com uma calça moletom cinza e uma blusa do Nirvana, além de completamente suado e descalço. Benjamin sorriu fracamente para a irmã, pegando-a no colo e começando a brincar, e fechou a cara ao olhar para mim, roubando meu lugar  com sua irmã e  praticamente ignorando minha presença naquele cômodo e minha existência em si.

Eles riram por um tempo e ele a ergueu nos ombros, caminhando por todos os lados. Eu fiquei como uma estátua ali, mais invisível do que nunca, enquanto os irmãos brincavam como duas crianças. Isso seguiu assim por mais um tempo até Tina ficar cansada e dizer que iria tomar banho. Assim que deixou o quarto, evitei contato visual com Benjamin porque sou a pessoa mais fraca do mundo perto dele e comecei a guardar algumas das Barbies, sentindo o olhar do meu vizinho acompanhar todos os movimentos que fazia. Quando terminei, já estava saindo quando o escutei me chamar.

— Lívia, posso falar com você?

Maldito. Às vezes eu me pergunto se ele causa essa tensão entre nós dois de propósito porque sabe que minhas pernas bambeiam sempre que escuto sua voz naquele tom. Suspirando, assenti, e ele me levou até o quarto ao lado, o seu.

Benjamin é muito bagunceiro e não, não estou exagerando. Já encontrei de tudo nesse quarto e cada dia as coisas estão em um lugar diferente. Ele já me pediu para pegar uma camiseta usada, que ele colocava na cadeira, e alguns dias depois, quando pediu a mesma coisa, disse que a pilha ficava embaixo da pia do banheiro. Já fiquei com frio na casa dele e fui pegar um moletom, encontrando um sanduíche criando raízes no bolso. Fora a bagunça nos cadernos e na mesa. Cada dia é um lápis e uma borracha novos, porque perde algum desses toda semana nos buracos negros existentes no seu quarto. Os livros ficam jogados nas prateleiras da forma mais desleixada (dói, Diário, dói muito) e Benjamin nunca arruma a cama, deixando o quarto num estado pior do que se um furacão tivesse passado para dar um ‘oi’.

Ele se sentou na cadeira, jogando as roupas que estavam ali no chão. O quarto estava com as cortinas fechadas, havia um travesseiro jogado em cima do criado-mudo, além de vários papéis de bala espalhados pelo chão, o que não parecia incomodá-lo. Revirei os olhos e estendi a colcha de sua cama, como se arrumasse o único lugar limpo daquele chiqueiro, ajeitando-me lá enquanto ligava a televisão.

— O que foi aquilo com a Mari? – ele perguntou enquanto girava na cadeira em que estava sentado. Benjamin estava sério, bem mais do que  eu esperava. Segurei a vontade que tinha de responder algo como “odeio sua namorada” ou "não me arrependo" porque a situação já estava tensa o suficiente e eu não precisava cutucar a ferida. Além disso, não me deixaria abater por aquela garota que já estava me dando nos nervos.

— Depende de qual história ela inventou – falei tão naturalmente que só fui descobrir que tinha feito descaso da namorada dele quando meu vizinho parou de rodar na cadeira e me encarou com certa raiva e surpresa contida.

Lembrete: Benjamin não é Daniel.

— Como é que é? – ele indagou, levantando-se da cadeira e se jogando na parte vazia da cama, à minha frente. Engoli em seco.

— Nada, Benjamin – sorri, cínica, e ele cerrou os olhos, como se tentasse entender se eu estava sendo sarcástica ou não, algo difícil para ele. Eu já sabia que nada do que dissesse o traria para meu lado, já que é sempre a namorada que ganha. Depois de um bom tempo em silêncio, decidi mostrar que ainda não havia me esquecido da presepada que fez na sexta-feira.

— Minha vez de perguntar? Ótimo – falei, nem o deixando abrir a boca para responder. – Por que atrapalhou meu encontro?

Benjamin torceu o nariz e se mostrou claramente irritado por ter que voltar naquele assunto, como se me ignorar o dia inteiro fosse apagar da minha memória o que ele fez. Meu vizinho começou a trabalhar em sua resposta enquanto eu me sentava à sua frente e cruzava os braços, balançando freneticamente a perna e o deixando cada vez mais desconfortável, o que pude perceber pelo modo como me encarava.

— Por que jogou água na Mari? – questionou e eu revirei os olhos.

— Por que atrapalhou meu encontro? - indaguei e foi a vez dele de revirar os olhos. – Não faça essa cara, como se tivesse razão, porque você não tem, Benjamin. Já pensou que poderia ter atrapalhado e feito tudo dar errado? 

— Como assim "dar errado"? O que quer dizer? O que "deu certo"? – começou a despejar essas perguntas, fazendo aspas com a mão. Seu rosto estava vermelho e ele se mexia, agitado, até parar e me encarar, os olhos verdes demonstrando incredulidade. – Não me diga que você beijou esse tal de Vinícius. 

Eu abri a boca, mas nada saiu porque não esperava ter que falar sobre isso com meu vizinho. O olhar de Benjamin escureceu e eu soube que nem precisava responder. Senti meu rosto esquentar, mas me recompus em seguida, torcendo para que ele não tivesse visto isso. 

— Por que invadiu meu encontro? 

— Por que fez aquilo com a Mari? 

Cerrei os punhos enquanto contava até dez, tentando me acalmar. Infelizmente, eu já estava no trinta e não deu certo. Peguei a almofada próxima a mim e comecei a bater com ela no meu vizinho, descontando minha raiva. 

Benjamin foge do assunto quando não tem argumento (desculpa, Diário, mas vai ter um defeito extra). Ele está escondendo algo ou envergonhado demais para me contar porque fez aquilo, mas tem que se explicar! Não é a primeira ver que isso acontece, já que Benjamin muitas vezes não sabe o que rebater quando eu uso um bom argumento ou quando odeia o assunto que estamos conversando, mas esse encontro foi importante para mim. Ele podia levar isso em conta antes de dar um chilique. Imagina se tivesse estragado tudo? Eu estaria mais furiosa do que já estava.

— O que está fazendo, Lívia? – perguntou, tirando a almofada de mim e tentando me impedir de bater nele com minhas próprias mãos.

Não sei o que deu em mim, eu só queria enchê-lo de tapas e descontar minha fúria. Benjamin me confunde, deixa maluca, namora a pior garota do universo e... E eu gosto dele e não sou correspondida. Tenho motivos suficientes. Claro que ele estava me achando maluca, já que não sabia as motivações, mas eu não ia explicar. Por isso mesmo, Benjamin segurou meus pulsos e começou a me empurrar enquanto pedia para eu parar de tentar acertá-lo. Deitou-me na cama e se posicionou sobre mim, prendendo minhas pernas com as suas.

— Sai de cima de mim, Benjamin! – esbraveci, mas ele permaneceu impassível.

Enquanto eu tentava me espernear para sair dali, Benjamin mal se movia, já que ele é forte – e muito. Meu vizinho deve isso ao fato de jogar no time de futebol americano da sua escola (que, se eu for muito mais azarada do que já sou, vai ser a minha também) e ao tempo que passa treinando. Ainda espero o dia que ele me chamará para assistir um jogo, coisa que não fez porque, como sempre, foge do assunto quando pergunto. Ele diz que esse esporte não é para mim, que eu não vou gostar nem entender e outras desculpas esfarrapadas do tipo, mas ainda não me convenceu. Benjamin não tem sobre mim o feito que tem sobre outras (quer dizer, talvez só um pouco), isso porque já identifiquei sua técnica. Ele coloca as mãos nos bolsos e inclina um pouco a cabeça, passando depois uma das mãos no cabelo enquanto começa com a ladainha para convencer de que está certo ou para chamar alguém para sair com ele (eu suponho, porque ele nunca tentou o último comigo).

— Não saio enquanto não explicar.

Ele falou isso com o rosto próximo esbanjando malícia e eu agradeci mentalmente por estar brava ao ponto de não corar com aquilo. Soltei um som que pareceu um rosnado e o fuzilei com o olhar, coisa que ele não aguentou ver sem sorrir. Se eu não estivesse furiosa, meu coração já teria derretido com aquele sorriso e eu agora estaria rindo junto, além de tentando dar um abraço naquele garoto. Continuei tentando sair e acabei afrouxando a distância entre nossas pernas, o que me deu uma ideia.

— Eu sinto muito, Benjamin.

Ele franziu o cenho, claramente confuso com a minha fala, mas não pode perguntar do que eu estava falando, devido a joelhada que recebeu de mim naquela área. Não planejei que fosse muito forte, mas pela cara do meu vizinho, deve ter causado um belo estrago. Benjamin deitou ao meu lado na cama, respirando pesadamente e eu logo saí para a varanda dele e pulei para a minha, fechando a porta assim que entrei em meu quarto.

Minha vaga de melhor amigo está definitivamente aberta.

Lívia.

13º Defeito: Benjamin é a bagunça em pessoa.

Defeito extra: Benjamin foge do assunto quando
não tem argumentos.


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Notas finais do capítulo

Coffee, obrigada de novo ♥

Então, o que acharam?
Vinícius falou com a Carol e não com a Lívia sobre a viagem? O quê?
E só eu que apoio o Daniel ocupar essa vaga de melhor amigo?
Bom, até o próximo!