30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 12
26 de junho (sábado) – 12º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Karolayne, Tatá Ribeiro, AnnaP, Kylla, Miss Fortune e Izzy, um super obrigada pelos reviews maravilhosos. Sério, era um mais lindo que o outro! Esse capítulo é especial para vocês.
E quem estava com saudades da Mari?
*silêncio constrangedor*
Oi? Alguém?
Bom, ela tá de volta!
Boa leitura ♥



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26 de junho (sábado) – 12º Defeito

Diário, ontem fui dormir tarde devido a agitação dentro de mim. Uma parte do meu cérebro ficava revendo a cena do cinema e a outra projetava aquele aceleramento maluco no meu coração quando pensava em Benjamin. É normal sentir culpa por beijar um garoto legal apesar de o dono do seu coração ser um idiota? Uma parte minha considerava que sim, beijar Vinícius ontem foi como se eu tivesse traído o meu vizinho. Sério, o que tem de errado comigo?

Um outro problema é que eu comecei a alimentar drasticamente a minha esperança e, acredite, em nenhum cenário isso é bom, porque você sempre será a que se machuca mais se o fizer. E isso só piorou depois da cobrança de minha mãe sobre convidar Vinícius para o baile, já que aquilo ficou na minha cabeça e eu decidi que seria legal tê-lo lá comigo. Mas tinha um detalhe muito importante:

Vinícius não me ligou.

Na verdade, ele não fez nenhuma forma de contato, e olha que até sinal de fumaça era aceitável comparado com a minha ansiedade. Desde ontem à noite não consegui tirar os olhos do meu celular e isso continuou até hoje de manhã, quando decidi começar o dever de sociologia. Além disso, não parei de morder a ponta da tampa da minha caneta (que provavelmente vai para o lixo depois de eu terminar de escrever aqui) enquanto checava meu celular a cada trinta segundos, caso o som de notificação tivesse falhado. Nunca se sabe. 

Depois de olhar de novo e não ver nada no visor, decidi que precisava me ocupar com outra coisa para não surtar de nervosismo, então decidi ir correr no parque. Coloquei um short legging azul e uma blusa branca, saindo logo em seguida com meus fones de ouvido, meu celular preso na cintura e uma garrafa d’água.

Deixei minha casa e segui a pé. Assim que cheguei no parque, percebi uma grande movimentação e pude ver que um enorme grupo de adolescentes com camisetas brancas sujas de tinta e com caixas de ovos e de arrecadação em mãos.

Era uma tradição da cidade. Todos os que cursavam o terceiro ano faziam movimentos para arrecadar dinheiro para a formatura e quem não cooperava era ameaçado com os ovos. Entretanto, eles sabiam que realmente lançar nas pessoas não ia fazer muito sucesso, então os estudantes atiravam uns nos outros como forma de diversão.

Mas o que me fez tentar passar longe foi o símbolo na camiseta, o que já estava parecendo perseguição. Era o mesmo da escola de Benjamin. Felizmente, ele não estaria lá, já que hoje é sábado, mas, infelizmente, outra pessoa estava. E, infelizmente, essa pessoa me reconheceu.

Virei-me de costas e comecei a caminhar um pouco mais rápido, torcendo mentalmente para que não decidisse se aproximar. Aumentei muito o volume para evitar ouvir qualquer palavra que ela pronunciasse, já que nada bom sairia dali.

— Quem é vivo sempre aparece, não é?

Virei-me para Mariana, que falou depois de segurar meu braço, fazendo-me parar e abaixar a música em seguida. Que vontade que tinha de revirar os olhos para aquela garota. Ela podia fazer um favor à nós duas e fingir que não me conhece, como eu tentei fazer, mas aparentemente ela gosta de me fazer gastar saliva com quem não merece. Mariana estava com aquele cabelo loiro sem graça preso em um rabo de cavalo e com a roupa completamente manchada, além de ter seu rosto muito maquiado, o que achei um exagero considerando que ainda eram nove horas da manhã.    

— Bom dia para você também, Mariana.

Cumprimentei-a com um sorriso cínico, que ela retribuiu no mesmo nível de falsidade. A caixa de arrecadação dela estava cheia e, na outra mão, a caixa de ovos também. Fiquei imaginando o que Benjamin faria se estivesse ali, presenciando aquela cena, mas decidi não perder mais tempo na presença do Protótipo de Barbie.

— Agora, se me der licença, eu tenho uma caminhada a completar – comentei, já passando pela namorada do meu vizinho.

— Um minuto. E a sua doação? – Mariana indagou e eu respirei fundo, colocando o sorriso mais falso que pude em meu rosto, com a intenção de que ela percebesse o meu desagrado de estar ali.

— Não saio para correr com dinheiro – foi o que respondi. Era a mais pura verdade, mas mesmo que tivesse acabado de roubar um banco e carregasse a bolsa cheia de dinheiro, a única coisa que daria a ela era um pé na bunda. – Desculpa.

Mariana pareceu não gostar de ver que alguém sabia lidar com a sua falsidade e, ainda por cima, devolvê-la no mesmo nível. Só de perceber aquilo, podia afirmar que o meu dia estava melhor.

— Então você terá de ser punida.

Mariana falou isso com sua melhor voz de princesa e mostrando sua melhor cara de desentendida enquanto passava a mão pela caixa de ovos. Revirei os olhos, claramente descrente de seu gesto, e sorri cinicamente para ela.

— Eu seria punida pelo quê, exatamente? Por não ter colaborado com a formatura ou por continuar conversando com Benjamin?

Claro, aquilo não era a mais pura verdade, até porque ontem meu vizinho foi embora furioso do shopping e eu não sabia se nossa amizade continuava no mesmo nível. Porém, quando vi a feição de Mariana ser tomada por ódio, percebi que não importava o que acontecesse, eu já tinha ganhado meu dia. Um à zero para Lívia.

— Pelos dois.

Essa foi a resposta de Mariana e, antes que pudesse rebater, a loira pegou dois ovos e os quebrou bem na minha cabeça, fazendo com que a clara escorresse pelo meu rosto e entrasse em contato com a minha boca. Escutei algumas risadas ao longe e senti meu sangue ferver de raiva.

— Qual é o seu problema? – indaguei gritando e acabei atraindo alguns olhares curiosos do grupo de adolescentes.

Mariana sorriu, vitoriosa. Infelizmente, ela havia empatado o jogo.

Obviamente, eu não ia deixar barato. Peguei minha garrafa e joguei toda a água em seu rosto, pegando um dos ovos em seguida e quebrando-o naquele conjunto de fios ensebados que Mariana chamava de cabelo.

— Sua idiota! O que foi que você fez? – foi a vez dela de gritar, passando a mão pela cabeça e dando um daqueles gritos agudos que eu nunca fui capaz de imitar. Aquilo só atraiu mais olhares e eu me permiti sorrir ao ver a reação da loira. Mariana tentava desesperadamente limpar o rosto sem borrar a maquiagem, mas falhou repetidamente.

— Apenas limpei seu rosto dessa maquiagem exagerada, querida – respondi. Comecei a tirei o excesso de ovo e os pedaços das cascas do meu cabelo enquanto algumas meninas se aproximavam para acudir Mariana e segurá-la para não me matar ali mesmo. Passei por ela e virei-me rapidamente para fazer o último gol aos quarenta e cinco do segundo tempo:

— E mande um beijo para Benjamin por mim.

Ah, a vitória. Como ela é boa.

Mesmo com o cheiro de ovo tomando conta do meu olfato, com o estado horrível do meu cabelo e com os cochichos que me rondavam, a caminhada foi bem agradável. Fiz o percurso ao som de We are the champions, enquanto me imaginava recebendo uma salva de palmas, como se o que fiz foi um momento marcante para todos que passavam por ali. A vida me pareceu bela naquele momento.

Ao chegar na minha rua, já completamente suada e vermelha, estava quase entrando quando vi uma pessoa saindo da casa ao lado da minha. Essa pessoa estava com a camiseta branca manchada de tinta e com aquela típica cara de sono que tem quando é sábado. Benjamin ergueu uma sobrancelha ao ver meu estado, mas logo retomou sua cara de poucos amigos.

— Vai me explicar o que foi aquilo ontem? – perguntei, colocando-me à sua frente e não permitindo que passasse, deixando Benjamin com aquela cara do tipo “Saia do meu caminho ou passo por cima”.

— Com licença – meu vizinho pediu da forma mais grossa que podia, desviando para a esquerda  e tentando passar, mas eu o imitei, obstruindo sua passagem. Tentou então ir pela direita, mas eu o segurei pela camiseta, fazendo-o parar.

— Benjamin, por que está com essa cara de quem comeu e não gostou? – indaguei e ele revirou os olhos. – Que eu saiba, quem tem o direito de estar bravo não é você.

— Lívia, não posso falar agora. Eu tenho planos e você está atrapalhando – falou, esboçando um sorriso cínico e jogando o peso do corpo para a perna esquerda. Chocada com a fala de Benjamin ironizando nossa conversa na sexta-feira, quando ele invadiu meu encontro, fiquei boquiaberta e ele aproveitou essa chance para passar por mim.

— Nossa, quanta maturidade, Benjamin! – falei, batendo palmas para o garoto que já estava de costas para mim. Pude vê-lo dar de ombros e seguir em direção ao ponto de ônibus. Estava entrando em casa quando decidi me virar e gritar, sem me importar com os vizinhos:

— Você e a Mariana se merecem!

Segui para dentro e bati forte a porta de minha casa, bufando. Sério, o que estava acontecendo entre eu e meu vizinho? Já perdi a conta de quantas vezes brigamos nesses dias. Será que é apenas uma coincidência ter começado com a entrada de Mariana? Bom, acho que estou deixando de acreditar em coincidências. Essa tensão entre eu e meu melhor amigo tem que ser arrumada. Não aguento mais a variação repentina de humor de Benjamin e eu sei que ele não aguenta mais a minha.

Depois de tomar banho, fui olhar novamente meu celular e quase não fiquei surpresa por não ter nenhuma mensagem. Bufei e decidi não checar mais, apesar de meus dedos parecerem coçar de vontade de pegar meu celular. No almoço, meu pai fez um churrasco no quintal e convidou a família Lacerda. Entretanto, Valentina e seus pais já estavam indo em direção ao parque quando minha mãe foi chamar. Eles estavam indo apoiar o filho e a futura “nora” deles, de acordo com a brincadeira de Renata. Coitados.

Pouco depois do almoço, já cansada de ficar lá embaixo, subi para o meu quarto. Enquanto jogava Need for Speed, uma notificação chegou em meu celular. Pausei rapidamente e fui checar, meu coração já pulando dentro de mim. Estava esperando uma mensagem do Vinícius.

Desconhecido: Eu só acho que você está muito afim de ter a Mariana como inimiga.

Revirei os olhos. Não, ninguém merece isso. Ou meu número estava sendo distribuído por aí ou as pessoas da escola de Benjamin tinham uma matéria que ensinava a descobrir o telefone dos outros. Respondi rapidamente, desabafando com quem supus ser uma das amigas do Protótipo de Barbie.

Eu: Olha, desconhecido (a), eu não tenho tempo para essas brincadeiras sem graça que aparentemente fazem muito sucesso aí na sua escola. Não enche.

Pouco tempo depois, recebi uma resposta.

Desconhecido: Eita, Lívia. É assim que você trata os garotos para quem deve uma dança?

Depois de ler a primeira vez, franzi o cenho, um tanto confusa. Porém, quando caiu a ficha, desesperei-me e logo adicionei o contato. A história da Mariana conseguir meu número me irritou tanto que devo ter ficado traumatizada.

Eu: Ai. Caramba. Desculpa, Daniel!

Daniel: Relaxa. Eu só vim agradecer pelo belo estrago que você fez na Mari. Melhorou muito meu dia.

Eu: Uau. Tudo isso por causa de uma maquiagem borrada e um cabelo estragado?

Daniel: É que você não viu o escândalo que ela fez quando o Benjamin chegou. Ele deve estar uma fera com você.

Nem ligo. Era o que queria falar. Cheguei até a digitar, mas apaguei em seguida. Devido à proximidade de Daniel com Benjamin, era muito provável que ele mostrasse a mensagem, então decidi não ariscar.

Isso me lembrou de algo.

Eu: Como conseguiu meu número?

Daniel: Benjamin empresta o celular para qualquer um. Felizmente, eu sei a senha. Além disso, foi bem fácil achar seu contato, já que “Baixinha esquentada” se destaca dos nomes comuns.

Eu: Não acredito que o Benjamin colocou esse nome! Mas, felizmente, eu também coloquei um belo apelido no contato dele.

Daniel: Posso saber qual?

Eu: Quem sabe um dia.

Continuamos conversando por um bom tempo e eu passei a gostar de Daniel ainda mais. Eu já o considerava o amigo mais legal de Benjamin, mas o loiro conseguiu melhorar ainda mais sua imagem. Além de percebermos que gostamos dos mesmos jogos e filmes, descobri que Daniel não é chegado ao Protótipo de Barbie. Ele é um ótimo partido, não acha?

Não satisfeito o bastante, Daniel ainda acabou me lembrando do defeito que tenho que destacar hoje. Quer dizer, eu podia pensar em vários devido à minha raiva, mas o de Daniel foi uma boa sugestão – não que ele tenha comentado de propósito.

Benjamin só presta atenção no que o agrada e olha que quem mais sentiu isso nem fui eu. Daniel disse que estava namorando uma garota chamada Vanessa, mas que depois de uma enorme confusão ela terminou com ele. O loiro contou que foi desabafar com o melhor amigo, Benjamin, que apenas respondeu “Ah, sim” e “Nossa!” repetidamente até dizer que tinha que chamar uma garota para sair. Além disso, Daniel já teve que fazer vários trabalhos sozinhos, organizar as falas das apresentações de Benjamin e explicar a matéria porque meu vizinho só serve para alguma coisa se ele se interessar. Basicamente, ele não aceita ser obrigado a nada.

E eu tenho minhas próprias situações também. Certa vez, eu estava muito ansiosa sobre uma apresentação e pedi para Benjamin assistir enquanto explicava. Eu sentia que estava me ajudando, isto é, até olhar e ver que meu vizinho estava dormindo. Outra vez, Renata me contou que teve que ir até a escola falar com o professor de inglês porque Benjamin estava jogando uma bolinha de papel para cima repetidamente e, após parar por um período depois que o professor pediu, voltou novamente a fazer e só cessou com as brincadeiras ao proferir alguns palavrões em inglês que o fez ir para a sala do diretor. Lá, justificou que estava entediado e já sabia toda a matéria, então não tinha por que prestar atenção.

Passei a tarde falando com Daniel e só fui me despedir quando meus pais me chamaram para irmos a um restaurante. Quando saímos de casa, pude ver que as luzes da casa de meu vizinho estavam todas apagadas. A família Lacerda deve ter levado a norinha querida para jantar. Revirei os olhos para a onda de ciúmes que me atravessou e entrei no carro. Meus pais estavam me levando para jantar comida japonesa em um novo estabelecimento que abriu há uma semana.

Ou seja, tinha alguma coisa acontecendo.

Quando você conhece bem alguém, sabe quando tem algo por trás dos atos. Meus pais fizeram um churrasco, deixaram-me ficar o dia inteiro no quarto sem reclamar nenhuma vez e ainda estavam me levando para comer meu prato favorito. Desculpe o linguajar, mas eu sabia que vinha merda por aí.

Eu só não esperava que fosse uma tão grande.

— Então Lívia... – minha mãe começou, depois de ter pedido os pratos. Ela olhou de esgueira para meu pai e eu cerrei os olhos, desconfiando ainda mais. – Eu sei que você tem seus amigos na escola, mas eu e seu pai estamos passando por um período... Conturbado no trabalho e, bom, como você já reclamou várias vezes das coisas que acontecem lá e de certos professores...

Eles nem haviam terminado e eu já estava entendo o que estava acontecendo. Não. Não. Mil vezes não. Aquilo não podia ser sério, não é? Eu já estava buscando uma reação no rosto de minha mãe que mostrasse que era uma simples brincadeira.

— Decidimos tentar achar outra escola – Carla disse a temida fala.

— O quê?! – perguntei um pouco alto e algumas pessoas olharam para nossa mesa com caretas de repreensão.

— Lívia! – meu pai advertiu.

— Mas e a Carol e o Vinícius? – questionei. – E... Para qual escola eu vou? Ainda nem terminei o bimestre e...

— Eu sei Lívia, calma. Não vai ser agora. O último bimestre começa em outubro, então até setembro você continua na mesma – minha mãe explicou.

Abri a boca diversas vezes, mas eu não sabia o que dizer. Decidi não insistir ou tentar mudar a decisão porque pude ver a expressão de meus pais. Eles não estavam felizes em ter que ver a filha descontente. E sim, eu sei que sempre reclamei da minha escola, mas é um processo natural da adolescência. Todo mundo reclama de alguma coisa do colégio, mas, quando chega a hora de mudar, quase ninguém quer sair porque tem os amigos lá.

Assenti em silêncio, escondendo meu bufo de desagrado, e minha mãe logo voltou com a sua animação natural. A comida chegou e, enquanto eu brincava com o hashi, ela começou a falar sobre os possíveis descontos e bolsas que poderia ganhar devido às minhas notas, além de comentar sobre algumas opções que já tinha olhado.

Eu só espero que ela não considere a escola onde um certo vizinho meu estuda.

Lívia.

12º Defeito: Benjamin só presta atenção no que quer.


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Notas finais do capítulo

Daniel não gosta da Mariana. Lívia poderia querer alguém melhor?
Acho que não.
Comentem o que acharam!
Até o próximo ♥



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