30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 10
24 de junho (quinta-feira) – 10º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Décimo defeito? Já?
Agradecendo rapidinho à QUEEN (Seja bem-vinda ♥), Tatá Ribeiro (♥), Guilianaamoedo (Que bom que voltou ♥), TheAleatory (Gracinha ♥) e Lana Walker (Sumida ♥) pelos reviews.
Boa leitura.



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24 de junho (quinta-feira) – 10º Defeito

O dia na escola não podia ser mais tedioso. As férias estavam quase chegando e ninguém tinha ânimo para ouvir as explicações dos professores. Entretanto, posso afirmar que, mesmo que as férias estivessem longe, não prestaria atenção devido às preocupações maiores que tinha na cabeça.

Estava louca para chegar em casa e ver se aquela esperança que se espalhava pelo meu corpo seria comprovada ao ver que Benjamin ia almoçar comigo. O resultado disso foi não ter mais unhas para roer à medida que o horário de saída se aproximava. Eu torcia muito para que ele fosse, muito mesmo. Até se me ignorasse e comesse ser erguer os olhos uma única vez para mim, já seria um avanço.

Mas ele não foi.

Juro, Diário, que se pudesse eu mudava meus sentimentos por Benjamin. Imagina: Ele, com o protótipo de Barbie, feliz – mesmo achando impossível ser feliz com alguém como Mariana –, e eu com meu namorado (ainda inexistente e perdido pelo mundo), que eu amaria mais do que tudo. Infelizmente, essa realidade é praticamente impossível e eu estou condenada.

Mas já decidi que não posso ficar esperando Benjamin abandonar sua lerdeza e perceber que eu realmente gosto dele e que Mariana não é a garota certa – não que eu vá dizer isso na sua frente. Apesar de uma grande parte do meu cérebro ficar me lembrando que não era por Vinícius que meu coração acelerava, ignorei essa vozinha e disse para mim mesma que vou dar uma chance a ele e nada vai me fazer mudar de ideia.

Depois que cheguei em casa e toda minha alegria murchou ao ver que Benjamin não apareceria, acabei sem ter o que fazer, já que fiquei planejando o que fazer se ele viesse, pensando no que eu e ele faríamos juntos. Meu cérebro é otimista demais para o meu gosto. A tediosa tarde passou rápido, principalmente porque não tinha nada para me entreter. Fiquei idealizando maneiras de voltar a falar com meu melhor amigo enquanto procurava filmes e jogava videogame.

Estar apaixonada é horrível, e é ainda pior quando você discute com a pessoa, porque parece que você se lembra dela o dobro de vezes durante o dia. Não importa o que esteja fazendo, seja escovando os dentes ou tomando café da manhã, você sempre vai pensar naquele que ama. Pode ser que veja algo e relacione à pessoa, mas muitas vezes nem precisa disso. Às vezes você só está olhando para o nada e seu cérebro evoca memórias inconscientemente, fazendo aquele embrulho agradável no estômago brotar enquanto o rosto da pessoa volta a sua mente e você só fica pensando no quanto gosta dela.

Porém, tudo ficou mais interessante quando anoiteceu. Eu estava na sala, lendo o livro Star Wars – O retorno do Jedi, que Benjamin esquecera aqui semana passada. Era como se ele estivesse me chamando da prateleira. Um tempo depois, minha mãe chegou em casa e começou a preparar o jantar, enquanto permaneci jogada no sofá. Ela parecia estar ficando menos brava, mas ainda estava chateada por eu e Benjamin não estarmos nos falando.

Foi então que a campainha soou e minha mãe abriu a porta.

— Ben! – ela falou alto, com o intuito de me fazer ouvir. Larguei rapidamente o livro e comecei a prestar atenção à conversa.

— Boa noite, Carla – ele cumprimentou e minha mãe sorriu. Ela sempre detestou que a chamassem de ‘Tia’ ou outras coisas desse tipo, então simplesmente adorava a forma como Benjamin a tratava. – Posso falar com sua filha?

— Claro, claro – falou sorrindo para ele. Entretanto, ao se virar para mim, seu rosto se fechou e ela me encarou com seu olhar intimidador. – Lívia, venha aqui.

Levantei-me rapidamente e fui em direção à porta, podendo perceber que meu vizinho estava achando aquilo muito divertido. Eu queria poder revirar os olhos ou brigar com ele por querer rir, mas não arriscaria nada, então apenas me aproximei em silêncio. Benjamin somente me encarou, caladamente, e perguntou para minha mãe se eu poderia ir com ele dar uma volta, o que ela permitiu sem pensar duas vezes.

Saímos de minha casa e começamos a caminhar. Ele não falou nada, mas pude identificar o caminho que estávamos fazendo e soube que Benjamin estava me levando ao parque. Ele usava seu jeans escuro e uma jaqueta cinza devido ao vento gelado que batia, mas aquela brisa noturna apenas fazia seu cabelo escuro balançar de uma forma estilosa enquanto o meu voava para minha cara e formava três nós por minuto.

Eu segui caminhando enquanto descontava meu nervosismo na manga esgarçada do meu moletom, pois queria ao máximo evitar que uma cena como a de ontem se repetisse. O que ele teria achado do meu bilhete na foto? Algo bom, senão não estaria ali comigo, certo? Temendo que pudesse falar alguma besteira e estragar tudo, permaneci calada enquanto olhava para frente, mas pude perceber que às vezes ele olhava para mim.

Chegando lá, parei em um dos postos na estrada e aluguei uma das bicicletas enquanto Benjamin apenas observava em silêncio, equilibrando sua vontade de rir e revirar os olhos. Sem esperar mais alguma reação, montei e comecei andar devagar para ele poder acompanhar.

Benjamin não sabe andar de bicicleta.

Esse defeito merece destaque.

Sim, eu também ri quando descobri. Ele pode ser o rei do futebol americano na sua escola, sair com as futuras modelos da Victoria’s Secret, mas não consegue dar uma simples volta de bicicleta. Já gargalhei muito devido às tentativas de Benjamin para aprender, que ele teimava em só fazer no parque – e só nós dois, porque nenhum de seus amigos poderia saber disso – e dos vários tombos que ele levava, levantando em seguida parecendo um pimentão de tão vermelho pela vergonha.

É exatamente por isso que o presente de aniversário dele (que é dia 31 de julho) vai ser uma bicicleta. Um presente bem mais caro que o normal, mas Benjamin merece e eu não podia perder essa chance. Tenho certeza que, depois de me encarar de forma cética, ele vai rir e adorar, principalmente porque ela vai vir com rodinhas.

— Lívia.

Benjamin me chamou e eu segurei minha respiração pelo nervosismo. Antes de me aproximar e ter que ouvir aquele sermão que não sabia se queria escutar ou não, dei mais uma volta, respirando fundo e tomando coragem. Decidi contornar rapidamente o parque, que estava quase vazio, tirando alguns casais que andavam de mãos dadas e vendedores ambulantes sentados na grama.

Durante a volta, meu cérebro vagava entre as possíveis conversas e seus rumos. Uma parte minha queria explicar tudo para Benjamin, desde meus sentimentos até o que Mariana disse para mim. Eu sei que você já ouviu – ou leu – essa frase muitas vezes, mas é a verdade. O problema é que eu temo muito o que posso escutar saindo da boca dele.

Esse diário já está virando roteiro de um drama adolescente.

O que é mais difícil de engolir é o fato principal que complica toda a minha vida: Benjamin é feliz com Mariana. Essa é uma verdade inevitável. Qualquer um percebe isso, seja olhando as fotos dos dois ou até mesmo o comportamento do meu vizinho. Benjamin parece estar mais... Leve, de uma forma que nunca vi enquanto era solteiro e, infelizmente, nem quando estava comigo.

É por isso que não posso contar. A culpa que sentiria se estragasse com a felicidade de meu melhor amigo iria me acompanhar para sempre, porque, de uma maneira ou outra, ele teria que escolher – e, sendo sincera, não acho que tenha muita chance. Mariana pode ser uma idiota completa, mas é ela que está fazendo Benjamin feliz como nunca antes. Por isso, prefiro ter que diminuir nossa intimidade a vê-lo triste ou ter que me afastar por não ser correspondida.

Completei a volta, aproximei-me dele e meu vizinho disse para sentarmos na grama. Deixei a bicicleta de canto e acostei-me ao seu lado, mas mantendo uma distância segura. Ele se virou e ficou de frente para mim, encarando-me com aqueles olhos que pareciam ainda mais escuros, somente iluminados pela luz do poste mais próximo.

— Olha, Lívia... – Benjamin suspirou. – Eu não aprovo seu afastamento e nem esses segredos, já deixo claro.

Permaneci em silêncio, apenas encarando-o e esperando. Era óbvio que Benjamin diria algo assim. Parecia que esconder algo dele era uma grande ofensa, como se estivesse questionando seu comprometimento com essa amizade ou algo do tipo. 

— Mas eu entendo, pelo menos um pouco, que certas coisas você não goste de comentar – ele ficou quieto e pareceu esperar minha resposta, porém continuou logo em seguida. – Lívia... Só não esqueça que eu estou aqui com você e para você, ok? Você se fecha nesse mundinho e acha que está sozinha nessa sua “batalha contra o mundo” – falou, fazendo aspas com as mãos –, mas sabe que eu batalho junto, não importa com quem. Então eu vou aceitar por um tempo esses seus segredos, mas depois chega disso, está combinado?

Foi como se todo meu interior derretesse um pouco a cada palavra que saía de sua boca e eu soube que teria me apaixonado por ele naquele momento se já não estivesse. Ele não desistiria de mim e, melhor, disse que estava do meu lado para o que eu precisasse. Benjamin e eu não costumamos falar sobre nossa amizade, acho que nós apenas a demonstramos, já que tudo parece óbvio entre nós, mas escutar isso fazia um bem para o meu ego e ajudava a me sentir única. Eu nunca achei que estava sozinha, mas ter a confirmação de que Benjamin Lacerda está comigo fez meu coração pular uma batida. Lembrando então que ele havia me perguntado sobre o combinado, assenti com a cabeça e parti para um abraço, enterrando meu rosto em seu pescoço e logo depois o recostando em seu ombro, ficando assim por um tempo.

— Que tal uma volta de bicicleta?

Ele perguntou e eu logo me virei, sorrindo que nem uma boba enquanto ele se levantava e me estendia a mão. Meu vizinho andou até a bicicleta que eu aluguei e se sentou, fazendo aquela cara de sério que sempre surgia quando Benjamin estava determinado a conseguir algo.

Benjamin tentou umas dez vezes e sempre caia, fazendo com que engasgasse com meu sorvete em todas as vezes e batesse palmas e gritasse “Muito bem!” de forma irônica. Ele simplesmente mostrava a língua e continuava a tentar, mantendo aquela insistência típica.

No caminho da volta, o clima estava muito melhor. Ele ficava dizendo que a culpa era minha por não ensinar direito como andar de bicicleta enquanto eu imitava as caretas que ele fazia após cair. Quando ficamos em silêncio, uma parte minha pensou em comentar sobre meu encontro com Vinícius amanhã, para mostrar que estava realmente aberta a contar as coisas, mas uma parte maior falou que a Lívia não parecia ter coragem para falar desse tipo de assunto com ele. Optei então por ficar quieta.

Benjamin decidiu dar mais uma volta pelo bairro enquanto contava sobre sua escola – mas não tocou no assunto Mariana, o que agradeci mentalmente. Não é porque tenho que engoli-la, que tenho que fazer isso de bom grado, não é mesmo?

Assim que terminamos a segunda volta, ele me acompanhou até a porta e parou à minha frente, colocando as mãos no bolso e sorrindo. Aquela visão, Diário, causava um formigamento em minha pele quase inexplicável e eu não sabia como não ficava exposto o quanto Benjamin mexe comigo. Quando Benjamin abriu a boca para falar algo, porém, a porta atrás de mim foi escancarada e uma animada Carla surgiu.

— Achei que tinha escutado passos – comentou, claramente curiosa sobre o que tinha acontecido. Eu engoli em seco e dei o melhor sorriso forçado que pude, visando mostrar o meu desconforto.

— Eu e Lívia só estávamos terminando de conversar – Benjamin comentou, passando carinhosamente o braço por meus ombros, o que fez o sorriso da minha mãe alargar de uma forma quase assustadora. – Bom, eu já vou indo.

— Oh, não, Ben. Fique para o jantar – ela pediu e torci o nariz para Benjamin. Ao encarar meu vizinho novamente, pude ver aquele sorriso presunçoso surgir, acompanhado de um olhar brincalhão para mim.

E, dessa vez, eu soube que poderia revirar os olhos para ele.

— Pare com essa careta, Lívia – Benjamin falou. – Todo mundo sabe que você estava louca para ter a minha companhia no jantar.

Eu ri de seu comentário.

— De onde tirou isso, Lacerda? Da sua mente conturbada? – indaguei.

 Benjamin revirou seus olhos e me deu um tapa na cabeça, ao qual respondi com uma cotovelada em sua lateral. Ele fez uma careta e logo sorriu maldosamente, saindo correndo em direção a mesa, sentando no canto que meu vizinho sabia ser meu. Fuzilei-o com o olhar e ele piscou para mim.

Benjamin Lacerda é um péssimo melhor amigo. Ainda assim, é meu melhor amigo.

Lívia.

10º Defeito: Benjamin NÃO sabe andar de bicicleta.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando.
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