30 motivos para odiar Benjamin Lacerda escrita por Huntress


Capítulo 1
15 de junho (terça-feira) – 1º Defeito


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindo(a) e espero que goste!
O começo é mais parado, mas é apenas uma introdução de personagens.



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15 de junho (terça-feira) – 1º Defeito

Olá, Diário.

Isso foi horrível, eu sei. Desculpa.

Acontece que eu nunca escrevi um diário ou algo do tipo. Sempre odiei remoer coisas do passado – especialmente se fossem acontecimentos tristes –, mas atualmente isso está acontecendo muito e eu preciso desabafar, mesmo que seja com um conjunto de folhas costuradas com uma capa rendada na qual está escrito “Diário”.

Meu nome é Lívia Campos Nogueira. Sou uma garota de altura mediana e, creio eu, perfeita para uma garota de dezesseis anos. Possuo cabelos castanho-claros longos e que, como eu costumo dizer, possuem “vida própria”, sendo que a cada dia estão diferentes: completamente lisos, enrolados, cheios de nós... Sempre variando. Os olhos são castanhos também, puxados para um mel, mas nada especial. Não uso roupas apertadas e que mostram as curvas (até porque as minhas não são grande coisa) e prefiro uma boa maratona de filmes de terror a festas com música de estourar o tímpano.

Você terá muito tempo para entender minhas manias e gostos, então não vou acabar com a graça agora. Vamos ao que interessa, ao que me motivou a escrever esse diário.

O nome desse motivo é Benjamin Camargo Lacerda, meu vizinho e melhor amigo (mas não o deixe saber que eu realmente admiti isso). Benjamin tem dezessete anos e se mudou para a casa ao lado há mais de um ano. Quando ele chegou à vizinhança, não dei muita importância, então só fomos nos conhecer uns quatro meses depois, quando ele invadiu o meu quarto.

Não, você não leu errado.

Eu estava sentada na cama, com as luzes apagadas, uma bacia de pipoca e uma lata de Pepsi assistindo A morte do demônio. Estava chovendo lá fora então a porta de minha sacada se encontrava fechada. Era uma cena tensa, na qual a protagonista encontrou o livro e estava prestes a abri-lo... Quando Benjamin pulou de sua sacada para a minha e bateu no vidro, resultando no maior susto da minha vida.

Tudo isso porque a porta de seu quarto emperrou. Sério Benjamin?

Desde então invadimos o quarto um do outro todo dia. Já era normal chegar em casa e encontrá-lo lá, conversando com meus pais ou jogando meu videogame (o que eu nunca aceitei de verdade). Benjamin entrou (literalmente) na minha vida sem bater, sentou no sofá e está lá até hoje, ocupando um espaço cada vez maior.

E foi aí que eu comecei a perceber que sentimentos errados estavam aparecendo em horas erradas. A minha sorte é que eu sou uma ótima atriz e sei encobri-los muito bem. Mas tudo tem limite e é aí que você entra, Diário.

Eu descobri estar apaixonada por meu melhor amigo há pouco mais de cinco meses e vem sendo o pior período da minha vida. Enquanto para ele os gestos, olhares e sorrisos são naturais, para mim é o contrário: tudo tem um significado.

Felizmente consegui aperfeiçoar minha técnica de mascarar emoções durante os meses que seguiram a descoberta desse sentimento, sendo que me considerava uma profissional no assunto. Mas hoje de manhã, tudo desmoronou.

Havia acabado de chegar em casa e, como sempre, Benjamin estava sentado no meu quintal, esperando minha chegada. Ele sorriu ao me ver e veio em minha direção, esmagando-me num abraço. Seu cheiro era uma mistura de loção pós-barba e amaciante de lavanda, simplesmente inebriante.

Benjamin é alto, mais de 1,80m, e dono dos olhos verdes mais intensos que já vi. Seu cabelo é escuro e os fios negros são rebeldes e meio espetados, sendo que ele nunca os penteia (ele diz que sim, mas eu sei que não). Ele é meio bronzeado devido ao tempo que passa jogando futebol com o time da escola, que eu nunca vi, pois ele teima em não me levar pra assistir nem um mísero treino. Tem um nariz reto e lábios finos geralmente curvados em um sorriso irônico ou malicioso – depende do momento.

Entrei em casa, com ele logo atrás de mim. Benjamin almoça comigo todo dia antes de seguir para seu segundo período de aula que acontece à tarde, ou seja, ele depende da minha comida.

Benjamin é péssimo na cozinha. Sério, não o deixe sozinho naquele ambiente. É provável que ele destrua o micro-ondas ou queime tudo com a ajuda do fogão. Ele não sabe quebrar ovos, fazer miojo e nem pipoca, pedindo sempre comida por telefone ou comendo salgadinho quando sente fome e eu não posso ajudá-lo.

Depois que sua mãe presenciou um desses desastres, pediu para que deixasse Benjamin almoçar comigo. Na primeira semana, pude perceber que ele comia emburrado, como se detestasse aquela situação ou algo do gênero, mas que amava minha comida e não admitia –diferente de hoje em dia.

Benjamin se jogou no sofá e ligou a TV, colocando na Netflix e procurando um filme enquanto eu preparava um simples macarrão na manteiga. Enquanto cozinhava, ele permaneceu quieto, algo inusitado e muito suspeito quando se trata dele.

— Benjamin, ‘tá pronto – chamei enquanto colocava o macarrão em um prato e pegava a garrafa de refrigerante na geladeira. Ele sorriu fracamente, colocou sua comida e começou a devorar o macarrão. Sem pronunciar uma mísera palavra.

Franzi o cenho enquanto o analisava, coisa que ele percebeu. Meu olhar dizia exatamente o que queria falar: alguma coisa estava errada. Benjamin apenas ignorou e seguiu comendo.

Passado isso, fui lavar a louça. Ouvi alguns passos atrás de mim e, quando olhei, Benjamin estava apoiado à mesa, batucando levemente o dedo na superfície vermelha. Desviei o olhar e ouvi sua respiração pesada.

— É melhor me contar agora, seja lá o que for – falei e o ouvi rir. A resposta veio em seguida.

— Tenho uma novidade – disse e pude sentir uma leve agitação em sua voz.

— Diga.

— Eu estou namorando – deixei o garfo que estava lavando cair, o que resultou em um copo trincado. Respirei fundo e pensei no que ia dizer, tentando disfarçar o que acabara de acontecer.

— Uau. Parabéns.

Nossa, Lívia, sério isso? Que péssima amiga você é. Arrume isso.

—Finalmente encontrou uma garota que goste de você?

— Encontrei mais uma. Já tenho você, esqueceu? – ele perguntou, provocando, e eu fui obrigada a sorrir.

— Eu não gosto de você. Eu te aturo. Tem diferença, Benjamin – expliquei e virei para trás, encarando-o desafiadoramente. Ele colocou a mão no peito, fingindo-se ofendido.

— Suas palavras me machucam, Lívia Nogueira – ri com sua fala.

Não mais do que as suas Benjamin. Era o que queria dizer, mas ele é lerdo demais para compreender qualquer um dos sentidos dessa frase.

Depois que ele foi para a aula, fui até a livraria aqui perto de casa. Estava procurando um livro – obviamente – que me distraísse, mas nada tirava de minha cabeça o fato de que Benjamin estava de fato namorando.

Eu sei que ele saía com algumas garotas de sua escola. Benjamin é muito popular lá, exatamente por isso agradeço por somente morar perto dele. Aposto com qualquer um que, se estudássemos na mesma escola, Benjamin desprezaria minha existência. Seu grupo era muito descolado para uma garota como eu, cujo pijama era um shorts cinza e uma blusa velha do Pacman. Às vezes eu odeio o quanto a vida dele é fácil.

Eu guardava minhas crises de ciúmes para depois, quando estivesse sozinha em meu quarto. Toda semana era uma garota diferente e eu tinha vontade de estrangulá-lo por contar isso dessa forma tão natural.

Não que eu não saia com ninguém. Costumo sair com alguns garotos uma vez ou outra, mas busco não avançar nada. É uma coisa minha, não estava buscando compromisso (não com nenhum deles, pelo menos).

Avancei pela livraria com um romance policial cujo título não me interessou. Estava na fila quando o vi. Esse mesmo diário em que estou escrevendo agora estava no canto do balcão, com outros do mesmo modelo, alterando somente a cor. Decidi comprar o azul, por ser minha cor favorita e por ter sido o primeiro que vi. Passava por aquele lugar toda semana, mas nunca reparei em nada que estivesse em cima do balcão. Por que justo hoje?

Paguei e fui para casa, subindo direto para meu quarto, onde estou agora, escrevendo. Daqui a alguns minutos, o carro do colega de Benjamin vai parar em frente a minha casa, quando ele virá me chamar. Deseje-me forças Diário.

Amanhã escrevo de novo (provavelmente depois do jantar, deve ser um horário melhor).

Lívia.

1º Defeito: Benjamin não sabe cozinhar absolutamente nada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui. Espero que tenha gostado!
Até o próximo...