All I Want escrita por Bolha


Capítulo 11
Compreensão




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Don't let the darkness eat you up

 

"Minha mãe sabia que iria morrer. No fundo, acho que todos nós sabíamos que o fim dela estava próximo, só escolhemos não aceitar aquela difícil realidade. 

Minha mãe era forte, sempre admirei muito essa característica dela. Ela me fazia acreditar que não havia nada para temer, que poderíamos enfrentar tudo e todos, que éramos invencíveis. Mas então, ela ficou doente. 

O câncer veio como um tapa na cara de todos nós. Um choque de realidade. Lembro perfeitamente do dia em que meus pais vieram me contar as novas. Eu tentei ser forte, tentei segurar o choro mas naquele momento eu não só havia descoberto que minha mãe estava com uma doença incurável. Eu também havia descoberto a fragilidade das pessoas. 

Antes eu nunca havia parado para pensar. Um dia estamos aqui e no outro, apenas deixamos de existir. Estamos respirando e de repente, puff, não estamos mais. Eu entrei em pânico. Como a vida pode simplesmente se esvair? Como uma pessoa pode estar viva e no próximo segundo não estar mais? Como tudo pode estar uma correria e no próximo segundo apenas silêncio? 

Segundos antes de eu sair correndo para chorar no banheiro eu olhei nos olhos de minha mãe. Foi por um breve momento, mas foi o suficiente para eu ver seu coração se quebrando. Ele não se quebrou apenas pela reação que eu tive, mas também porque naquele momento ela soube que não era invencível. 

Certos momentos eu escolho acreditar que minha mãe era uma mentirosa. Que ela sabia o quão frágil o ser humano pode ser. Porque a verdade é mais dolorosa do que a mentira. Eu não fui o único dentro daquela casa a ter uma revelação sobre a vida e suas fragilidades. Até hoje eu me pergunto o que doeu mais: ela saber que o fim estava próximo ou saber que viveu uma ilusão. 

Eu era pequeno. Não pequeno, mas novo. Muito novo. Mas eu sempre fui inteligente, esperteza era a minha característica admirável. Então eu entendia, entendia tudo o que estava acontecendo e deixei bem claro para minha mãe que se ela se fosse eu não seria capaz de superar. Dependendo do dia o discurso mudava, às vezes eu não seria capaz de perdoa-la, ou de continuar.

Minha mãe, muito sábia, começou a preparar o terreno para o que estava por vir. Durante essa preparação, o que eu me recordo melhor é dela falando "Estou feliz por estar indo primeiro, um filho deve enterrar seus pais, não o contrário. Deus sabe que eu não aguentaria a maior dor do mundo, a dor de perder um filho.". Eu achava um completo absurdo aquela fala dela. Eu sentia que ela estava menosprezando meus sentimentos, porque sem nem pensar duas vezes, eu morreria em seu lugar.

Mas então, eu perdi meu filho.

Lydia, você sempre me cobrou sobre eu me abrir mais em relação a minha mãe. Você sempre soube que a perda dela é uma dor ainda viva dentro de mim. Você sempre disse que queria me ajudar a carregar a dor que eu sinto, que queria compreender como eu me sinto... Se alguma vez eu fiz você se sentir uma pessoa que não era digna dos meus sentimentos ou algo do tipo, me perdoe. A verdade é que eu nunca consegui pôr em palavras o que a perda dela significa para mim. Isso o que eu escrevi acima é apenas uma gota da tsunami de sentimentos que eu tenho a respeito dela. E a tsunami da perda dela não se compara a da perda do nosso filho. Eu queria poder falar algo que seja tão imenso e devastador quanto uma tsunami para tentar resumir, mas eu simplesmente não consigo.

Apenas entenda que para mim a dor da morte da minha mãe não é nada comparado a da morte do nosso bebê. Eu infelizmente a compreendi, Lydia."

Lydia finalmente havia lido a última carta. Seus olhos estavam vermelhos por conta do cansaço e esbugalhados por conta de cada palavra que havia lido.

A ruiva realmente não queria mais chorar. Mas sua vontade não foi levada em consideração a partir do momento em que ela começou a ler as cartas. E agora que havia terminado, seu coração estava simplesmente despedaçado. Comparando tudo o que sentiu desde que voltou, aquilo ali era o que realmente estava machucando a ruiva. Ela sentia dificuldades para respirar. Lydia poderia se sentir culpada por tudo o que aconteceu, mas ela também poderia perceber que ela foi apenas o fogo que fez a bomba explodir.

Pela primeira vez ela compreendeu o tamanho da dor de Stiles.

Lydia finalmente permitiu que seus olhos corressem pelo resto do quarto até que finalmente encontrou o relógio no criado mudo que marcava 2pm. Ela havia ficado a noite toda acordada e passado a manhã inteira lendo aquelas cartas com todo o cuidado e atenção do mundo. 

Ela saiu das cobertas quentes que a aqueciam e permitiu que seus pés descalços encontrassem o tapete macio. O choque térmico fez com que os pêlos do cordo da ruiva ficassem eriçados. Lydia sentou-se e suspirou pesadamente sentindo a exaustão tentando consumi-la. A ruiva espreguiçou-se e se levantou procurando por roupas já que ainda estava nua.

Após se arrumar de forma bem básica, a ruiva saiu andando nas ruas da cidade. Parou em uma cafeteria apenas para comprar um grande copo de café antes que continuasse sua caminhada esclarecedora. Mas antes mesmo que a ruiva pudesse dar por si, Stiles estava parado diante dela.

Lydia não percebeu quando caminhou em direção a sua casa, a ruiva nem mesmo percebeu quando tocou a campainha. A realidade só se fez presente quando Stiles abriu a porta. 

E lá estava ela, sem saber ao certo o que dizer ou fazer. Mas seus instintos haviam levado a ruiva ali, ela deixaria eles comandarem os próximos minutos. 

— Se você quer divórcio, você o terá. Não irei discutir com você em relação a isso, você é grandinho o suficiente para fazer suas próprias escolhas.  Mas...- Lydia respirou fundo antes de prosseguir. — Eu te peço por um mês. Um mês vivendo sob o mesmo teto, só isso. E se você ainda quiser o divórcio após esses 30 dias, eu não irei impedi-lo. Depois de tudo o que passamos... você me deve isso. Então, o que me diz, Stiles. Você aceita?


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