Quero você escrita por Miss Luh


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bom gente, espero que gostem desse cap. Decidi escrever na visão da nossa querida Lou só pra terem uma ideia de como é a vida dela depois do Will, de como ela ta reconstruindo a vida dela. Não vou postar sempre um cap-Lou, só vou fazer isso quando achar necessário, e não vai ser algo continuo.
Depois volto a postar na visão do Will. Aproveitem e comentem pfv, quero saber a opinião de todos.



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Capítulo 2

— Louisa

Dois cappuccinos. Duas torradas com mel. Acrescentei também qualquer coisa que o casal poderia gostar de colocar ou pedir mais tarde. Olhei para os dois com certa relutância. Era um pouco injusto. Eu sei. Mas toda vez que via duas pessoas juntas, de aparência bacana, comendo alguma coisa antes de tomar um voô, ainda me causava certa dor e até arrepios. Não por eles, obviamente. Mas sim por causa de que eu ainda me via ali, naquela mesma cadeira, sentada ao lado dele, ajudando com as refeições diárias enquanto ele perguntava a respeito do que eu achava da notícia que tinha saído do jornal e eu, como se estivesse pronta para um debate político com os membros do parlamentos, dizia em coro palavras pensadas. Era impossível não sorrir com aquele pensamento, ainda tão vívido e recente, acompanhado das lembranças. Mas foi justamente pelas lembranças que não sorri, afinal eram apenas lembranças. Só dolorosas lembranças. De que me valiam?

Balancei a cabeça, afastando qualquer coisa, qualquer pensamento e lembrança que viesse a minha cabeça. Suspirei fundo, esquecendo-me provavelmente da outra mesa recém ocupada que deveria prontamente atender. Eu era tão incompreensível.

Eu jamais conseguiria reconstruir minha vida se eu permitisse que aquele lindo álbum de memórias viesse á tona novamente, tão irresistível e persuasivo, chamando-me até mesmo nos meus sonhos e pesadelos.

— No que está pensando? – perguntou Sam, sentando no banquinho da bancada perto ao caixa.

— Absolutamente nada. – respondi, hesitante, surpreendendo-me ao vê-lo ali tão cedo, e mais ainda por me sentir pega em pensamentos que não o incluíam.

Odiava aquilo.

Olhar para meu passado, para meu antigo emprego de cuidadora, para a casa bem próxima do castelo, para os retratos antigos e conservados, para as viagens, o mergulho e o doce sabor do mar.

Olhar para Will.

E quando eu mergulhava e me afundava em pequenos sonhos, me sentia ainda mais culpada.

— Não me diga. Está pensando tanto assim em mim, srta. Clark?

Sorri, esquecendo-me de tudo que poderia me fazer infeliz ou deixar-me em uma maré arrebatadora de calafrios e lágrimas.

— Em quem eu poderia pensar? – sorri alegremente.

— Céus. – disse Lilian, a funcionária do próximo turno, aproximando-se e entrando na dispensa. – Parecem um casal de adolescentes.

— Me desculpe, mas não sou eu quem pareço um adolescente aqui, Lil. – disse Sam, olhando-a de cima a baixo, ironizando os cabelos tingidos, a camiseta de uma banda de rock desconhecida, calças jeans rasgadas e justas, e o pobre all-star surrado.

— Talvez por que eu seja bem jovem. – disse ela, virando-se de costas e posicionando-se em frente ao caixa, encolhendo os ombros, parecendo cansada e entediada, virando o olhar para mim. – Pode ir Lou, eu fico.

— Tem certeza? – perguntei, já tirando meu avental e segurando-o demoradamente, pronta para cobrir horas extras e ganhar mais algum dinheiro no final do mês.

— O seu namorado está aqui. Se fosse eu, sairia correndo. Vai, pode ir.

— Concordo plenamente com você. -  disse Sam, entrelaçando os dedos nos meus, puxando-me com vontade.

Ao descer do ônibus, contei outra vez os cento e oitenta passos do ponto de ônibus até minha casa. Olhei para Sam, que por sua vez, parecia sentir dificuldade em se equilibrar no chão. Senti várias vezes seus olhos castanhos e grandes, com cílios espessos negros, sobre mim, me analisando vez ou outra.

Ele tinha ficado quieto o trajeto todo, como se estivesse assim como eu, em pensamentos profundos. Cheguei até a pensar que ele estava chateado comigo, mas o simples fato de ter entrelaçado minhas mãos na dele e ter a acariciado repetidamente no banco do ônibus me convenceu que o meu falante paramédico não estava irritado ou chateado, mas preocupado com alguma coisa.

O pior era que eu sentia que essa preocupação estava relacionada comigo.

— Essa neve é tão profunda e espessa. Não acha difícil contar nelas? – perguntou Sam, esbravejando, segurando minha mão ainda mais profundamente.

— Estou contando perfeitamente bem. Isso se chama prática. – afirmei, rindo, aliviada por ele ter dito algo antes que eu me convencesse que o problema era justo eu.

— Em que número você está? Quero só ter uma ideia, porque eu ainda estou no setenta. – disse ele.

— O que? Está brincando? – perguntei, dando outra vez um riso ao ver sua expressão de pura frustração. – Eu já estou no cento e vinte. Veja! Logo naquela esquina estaremos em casa.

Sam era uma das únicas pessoas que sabiam de um dos meus hábitos incomuns. Ainda me lembro em como ele havia descoberto aquilo e dado um riso medonho em seguida, achando aquilo super engraçado.

Lembro daquele dia, nós dois estávamos exatamente ali, caminhando cambaleantes, completamente bêbados depois de um happy hour com alguns outros médicos amigos dele, depois de sair de um pub não muito longe do aeroporto, na época eu que era nova contratada do Café Marais. Fazia apenas 2 meses que o tinha conhecido na época. Tínhamos bebido tanto que ao invés de Sam fazer uma cara de espanto ou estranheza, deitou no gramado dando uma risada. E eu acabei cedendo aos risos e soluços que dessa vez não me levaram a tristeza e dor, apenas alegria. Foi naquele dia que minha amizade por Sam tornou-se algo a mais, que eu percebi assim como ele, que eu não era uma amiga e ele não era só fonte de palavras sutis.

Talvez eu nunca esqueça do dia de bêbados no gramado porque foi a primeira vez que ele me beijou. E desde esse dia, tornamos praticamente um só. Dificilmente estou sozinha sem ter meu namorado por perto, mas isso na verdade é por uma outra questão.

— Só estou enfrentando essa neve toda por que estou pensando no sabor daquele peru. – disse ele. – Por que se fosse por mim, estaríamos na casa quentinha dos meus pais em Londres.

— Não me faça sentir culpa. – cortei-o antes que dissesse qualquer outra coisa e me fizesse sentir a pior pessoa. – Eu já disse que preciso economizar dinheiro. É por pouco tempo.

— Eu sei disso, mas meus pais estavam ansiosos para revê-la. Eles te adoram. – disse ele, parando-me na neve, segurando os meus dois braços, olhando para eles precisamente. – Eu entendo que você precisa trabalhar e foi por isso que adiei minhas férias para o começo do ano.

— Eu sei. Você faz muito por mim, tanto que até me pergunto se sou suficiente pra você. – afirmei, franzindo o cenho.

— Você é. – disse ele, acariciando meu rosto, olhando com uma franqueza que não pude descrever. – Não sabe o quão especial você é.

— Toda vez que olho pra você, sinto que também preciso fazer algo por você. – disse a ele, abraçando-o com delicadeza mesmo com os casacos grossos atrapalhando o contato, gostando de ficar ali, mesmo congelando no frio, aninhada com seu corpo esquio e alto. – Nunca me deixe.

— Por que está me dizendo isso? – perguntou ele, se desvencilhando para me encarar, enquanto arrumava a touca e empurrava os cabelos escuros para trás.

— Por que você é uma das únicas que me fazem feliz. Feliz de verdade. – disse a ele, com um sorriso de ponta a outra.

Ele ficou parado bem ali, abaixando-se em direção ao meu ouvido direito, fazendo cócegas na minha orelha avermelhada pelo frio.

— Não vou embora até você me dizer para eu ir. Eu estou aqui. – disse ele, prestes a dizer palavras as quais eu ainda não tinha coragem de repetir. – Eu te amo.

Meu pai se levantou logo depois de ver Sam, como se um ídolo estivesse passando a sua frente, completamente orgulhoso. Fazer meu pai levantar durante um jogo de futebol era difícil, mas somente Sam conseguia isso. Talvez por que os dois compartilhassem tantos hábitos em comum, Richard Clark tinha uma certa admiração por ele e pelo que ele é como pessoa. Sam entra tanto na minha casa, quase todos os dias, que meus pais estranham em certos dias me ver chegar sozinha depois de um longo dia de trabalho.

Na realidade, o meu maior medo nesses últimos tempos fosse que meu pai convidasse Sam para morarmos na mesma casa (acredite, não estava tão longe).

Revirei os olhos quando eles começaram a falar sobre futebol outra vez, apostando em qual time seria vencedor, e senti pena do vovô, que não poderia fazer seu sudoku em paz.

Observei minha mãe colocando a mesa e fui ajuda-la, entediada em ouvir outras apostas e as conversas de que só Sam e meu pai conheciam. Parecia que os dois estavam em outro planeta. E o sr. Richard Clark ficava tão sociável e brincalhão que chegava a me dar arrepios. Tinha vontade de me dar um tiro cada vez que ele jogava indiretas como “vocês formam um lindo casal”,“deveriam sair mais juntos”, “é incrível como se formou como médico, eu queria ter sido um.”, “ Queria ter um médico assim na minha família” “Sinto tanta falta de Thomas aqui, principalmente quando era pequeno, seria tão bom ver uma criança correndo por essa casa outra vez, não acha Josie?”

Mas eu não poderia reclamar. Pelo menos, meu pai tinha bom senso. Escolheu a hora certa para me empurrar de vez para alguém, já aos 27 anos, com obrigação de se virar sem os pais e formar sua própria vida. Meu pai era mais do que ninguém aquele que mais desejava que Sam se tornasse um membro da família (se bem que já é) e desconfiava que não era só por minha causa.

Minha mãe, por outro lado, era mais sensível. Achava Sam um bom homem e considerava o fato dele me fazer feliz suficiente. Eu concordava com ela.

— Pronto, queridos. – disse minha mãe, ao colocar o peru temperado na mesa. – Estão servidos.

Meu pai e Sam imediatamente interromperam o jogo de futebol ao sentir o cheiro delicioso exalando daquele peru que minha mãe havia cozinhado. Sam sentou-se o mais rápido possível, como se a fome o atingisse por completo naquela noite.

— E Treena? Não veio mesmo? – perguntei, olhando para a mesa com apenas 5 cadeiras.

— Não. Ela decidiu passar o Natal na casa dos pais do namorado com Thomas. – disse ela, fazendo uma careta desagradável. – De qualquer forma, não quero falar sobre isso.

— Katrina e seu namorado. Pessoas que não vimos há um bom tempo aqui em casa. – meu pai ironizou, sorrindo ao receber o peru no prato.

— Ela viveu aqui a vida toda, parem de exigir muito. – disse, tentando defender Treena já que eu sabia que ela não tinha culpa.

— Ela não tem mais tarefas da faculdade, Lou. Por que Treena não traz o namorado aqui? Não traz a família dele então? – disse minha mãe, infeliz.

— Eu também estou sem ver minha família por um bom tempo, sra.Clark. Não gostaria que meus pais pensassem assim de mim, então eu tentaria compensar com alguma coisa. – falou Sam, dando uma mordiscada no pedaço de peru. – Por isso eu e Lou vamos para Londres assim que chegarem nossas férias do começo de ano.

— Oh, Meu Deus, isso é ótimo. – disse minha mãe, ficando exultante. – Finalmente vão viajar juntos, isso é muito bom. Só espero que não demore muito.

Olhei para minha mãe de esguelha, perguntando-me como uma pessoa poderia pensar uma coisa e dizer outra. Quando fui morar com Patrick ano passado, ela chorou rios de lágrimas e não me permitiu ir, mas quando ia sair de casa por um tempo indeterminado, ela dava de ombros e parecia a mulher mais feliz do mundo. Meus pais queriam tanto assim se livrar de mim?

Dei um sorrisinho forçado.

— Também achei uma ótima idéia. Londres não é tão longe assim. Talvez possamos ir depois e conhecer seus pais, não é Sam? – disse meu pai, sendo repreendido pelo olhar penetrante da minha mãe.

— Richard, é uma viagem com o namorado. Não com os pais.

Dei um riso ao ver a expressão de desapontamento do meu pai ao olhar para minha mãe, como se ela tivesse acabado com uma ideia maravilhosa.

— Já que não poderemos viajar todos juntos, podemos ir ver uma corrida de cavalos. – sugeriu meu pai, já olhando pelo canto do olho o calendário.

— Para apostar? – perguntou minha mãe, fazendo cara feia.

— Se formos apostar, é melhor impedi-lo sra.Clark, sou sortudo desde que conheci Lou. – disse ele, com um sorriso.

Balancei a cabeça, esboçando um leve sorriso, que foi bem capturado por Sam, que continuou a me olhar fixamente.

— Posso, sr.Clark? – perguntou ele, sem desviar o olhar.

— Á vontade. – disse ele, cruzando os braços e relaxando na cadeira.

Ele levantou-se. Olhei para minha mãe, que balançava a cabeça, contente. Já eu estava literalmente em pânico.

— Sempre que me olhava no espelho, srta.Clark, pensava em como minha vida era vaga. Minha família mora em Londres, fizeram de tudo para que eu estudasse medicina, e meus irmãos estavam formando suas próprias famílias.  Mas eu ainda continuava a ver o Samuel de sempre, morando sozinho em uma pequena casa perto do hospital. E desde o dia que saí e te conheci, senti que ela começava a tomar o rumo. Eu não tinha objetivos, minha vida estava boa do jeito que estava. Mas hoje fico abismado de pensar que estou cada vez mais propenso a deixar essa vida de correria e trabalho para formar a minha própria vida.

Ele se ajoelhou. Franzi o cenho, confusa com o choque e surpresa que atolavam as emoções só de uma vez. Tirou uma caixinha de veludo preta do bolso, daquelas do tipo clássico. Fiquei fascinada com o brilho, o ouro tão bem lapidado e ajustado, com as iniciais do meu nome e de Sam no cetro daquele dourado de ouro puro. Era simples, mas a coisa mais simples que já tinha visto.

— Quer fazer parte dessa vida? Você quer se casar comigo?

Suspirei fundo, sentindo o ar entrando pelas minhas narinas, não conseguindo mais distinguir o cheiro do peru temperado e ar fresco do aquecedor. Engoli em seco, sem saber o que dizer.

Olhei para minha mãe, meu pai e meu avô que me observavam curiosos.

Disse a primeira palavra com três letras que saiu da minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

Então gente, realmente espero que vocês tenham adorado assim como o capitulo 1, que comentem mais por favor, leiam e deixe um comentário.Quero acompanhar o que vocês pensam e o que acharam dos capítulos. Continuarei postando!



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