[POV Jacob]

         - Onde está Renesmee? – Por que ela não estava comendo com o resto do pessoal?

         - Ela esta estranha hoje, acho que ficou na sala, parece doente.

         Nessie estava doente? Estranha? É claro que me enchi de preocupação e sai quase voando do refeitório. Eu nem sequer sabia qual era a sala que ela estava, devia ter perguntado. Eu nunca prestava atenção, Nessie era quem nos guiava na maioria das vezes. Que dia era hoje mesmo?

         – Nunca vi seus olhos tão escuros, eles costumam ter uma cor tão bonita.

         Espera um pouco, conheço essa voz. O QUE ELES ESTÃO FAZENDO?! Nessie não me viu na porta, eu podia ter feito sinal de fumaça que ela não teria visto. A princípio eu não estava entendendo nada, mas não demorou muito para que a visão se tornasse um pouco mais clara.

         Thomas estava tentando envolve-la, provavelmente achando apenas que a reação de Nessie fosse nervosismo. Confesso que chegou a ser engraçado, ele era meio desajeitado.

         Essa não, o que é isso? Ela voltou a respirar, por que ela não estava respirando antes? “Nunca vi seus olhos tão escuros, eles costumam ter uma cor tão bonita.” Por isso ela não me via ali, ela estava prestes a almoçar seu namoradinho. Não que eu não achasse uma boa idéia, mas ela não podia.

         Eu pulei por cima das mesas e antes que Thomas pudesse se mover, ou que Nessie fechasse sua boa já aberta e preparada, eu puxei o rapaz para junto do meu corpo, com dificuldade. Ele gritou reclamando, deveria era me agradecer. Não havia tempo para explicação alguma. Eu peguei a bolsa de Nessie, e soltei as mãos dela com delicadeza. Espero que Thomas não tenha parado para reparar no amassado do metal que contornava a mesa, nas marcas perfeitas dos dedos de Nessie. Coloquei-a no ombro, como um saco de batata e corri para o carro.

         Ela começou a chorar desesperadamente. Eu parei o carro antes de chegar na residência Cullen, desci do carro e contornei, abrindo a porta do passageiro, ela se jogou em meus braços. Porem, eu não me movi um milímetro sequer. Se meche idiota!

         Ela me soltou e olhou constrangida, murmurou um “me desculpe” e se encolheu no banco do carro. O que eu estava fazendo? Eu fechei logo a porta e voltei pro banco do motorista. Levei-a para casa o mais rápido que pude, e tratei de ir pensando no que vi, antes mesmo de entrar na casa. Edward veio correndo ao nosso encontro.

        ...

- Você queria era ficar com o namoradinho né?! Dar uns beijinhos... – Alice zombou. Namoradinho? Beijinhos? Será que eu tinha perdido alguma coisa? Ela teve forças suficientes para agüentar um beijo, deixou que ele se intimidasse mais. Por que não lhe arrancou logo os lábios de uma vez?!

         - Vocês estão mudando o foco da conversa. – Eu disse simplesmente, e notei que toda vez que eu falava alguma coisa, Nessie se encolhia mais nos braços de Carlisle.

         - Nessie minha filha por que você não foi caçar? - eu engoli um seco! Mas não me permiti pensar ali perto de Edward.

         - Bella minha mãe, por que vocês me deixaram sozinha para trás?! – Sozinha?

         - Você não estava sozinha e...

         - Não justifica. – Nessie interrompeu Edward.

         - Renesmee!

         - Pai! Não estou reclamando por ter ficado sozinha com Jacob – eu fui mesmo um babaca, se não fosse por mim, ter estragado tudo, teria sido ótimo. – O problema é que eu já estou cansada de todo mundo escondendo as coisas de mim.

         - E eu estou cansado de ter que esconder as coisas também. – disse me intrometendo na conversa.

         - Saia daqui Jacob!

         - Por que? – eu já estava passando pela porta quando ouvi Renesmee perguntar.

         Edward já havia lido muito dos meus pensamentos quando chegou, e sabia de algumas das minhas intenções. Os anos de convivência estavam me ensinando como ocultar algumas coisas do poder inconveniente dele. Renesmee também me dava dicas. Eu a ouvi saindo logo depois de mim. Perguntei-me se ela estaria me seguindo, fiquei imóvel, escondido, fitando-a.

         Ela também entrou na floresta, passou por mim sem me notar e se sentou no chão, onde havia muitas folhas secas, encostou-se ao grosso tronco de uma árvore colossal, fitando o vazio.

         - No que está pensando? – eu perguntei me aproximando.

         - Se quisesse que soubessem os meus pensamentos teria ficado em casa.

         - Me desculpa. – eu disse dando meia volta.

         - Não. Desculpe-me você. Eu. Eu não queria. Jacob! – eu parei, mas sem me virar.

         - O que aconteceu com a gente? – ela disse numa voz melancólica.

         Com você nada Nessie, agora o que havia acontecido comigo eu não sabia.

         - Não sei. – respondi apenas. Ali no meio do mato, eu podia ouvir muito melhor, cada pequeno movimento de seu corpo, então foi fácil notar a dificuldade que ela estava tendo para respirar. Eu voltei e me sentei ao lado dela, que permaneceu imóvel. Eu sabia que depois de ter tentado me abraçar no carro e eu tê-la rejeitado, ela não tentaria aquilo de novo. Agora eu podia apostar que o mesmo nó que tinha na garganta dela, nascia em mim também, a respiração estava difícil, e eu dei o braço a torcer.

         Ela desabou a chorar no mesmo instante em que a apertei em meus braços, junto ao meu corpo, meu rosto escondido em seus cabelos, no seu ombro, pescoço. Ela era tão cheirosa e macia. Eu chorei também.

         - Por que tudo isso tem que estar acontecendo comigo?

         - Todos nós temos problemas Nessie.

         - O que você esta escondendo Jake?

         - Muitas coisas.

         - Que tipo de coisas? – ela insistiu.

         - Coisas que envolvem a vontade dos outros. Como não interferir no destino de ninguém, ou como eu devo me comportar diante de certas situações. Mudanças que não fazem parte do que eu sou.

         - E quem você é? – ela disse enquanto se afastava de mim a fim de me olhar nos olhos. Eu era Jacob Black, um lobisomem. Apaixonado por alguém, que teimavam em achar que devia seguir sua vida sem minha interferência. Ela não me deixou responder.

         - Quem sou eu Jake? Quem somos nós? Que diabos de vida estamos tendo?

         Eu a puxei para perto de mim novamente.

         - Tudo isso uma hora vai passar. Eu prometo.

         - Mesmo? – ela choramingou.

         - Claro. – eu disse me colocando de pé, levantando-a delicadamente, segurando em sua pequena mão, entrelaçando nossos dedos. – Vem comigo, vamos caçar.

--

[POV Renesmee]

         O tempo passou rápido demais, quando eu vi já era sábado de novo. E estavam todos muito mais ansiosos que o normal. Eu já não agüentava mais aquela situação. Eu estava estressada demais, a única coisa que me confortava é que eu e Jacob não estávamos mais tão afastados. Não era como antes, mas era melhor do que nada.

         Estava um entra e sai na casa tremendamente irritante. Eu simplesmente desliguei a televisão e me levantei do sofá, Jake resmungou, eu apenas o peguei pela mão e o puxei para fora. Eu não sabia nem onde meu pai e minha mãe estavam então tive sorte em encontrar com Esme na varanda.

         - Vó, estou indo dar uma volta com o Jake está bem? Voltamos logo.

         - Claro querida. – ela me disse beijando minha testa e o ombro de Jake, que era o máximo que ela alcançava.

         - Aonde vamos? – Jake me perguntou confuso. Eu apenas entrei no carro, e sentei na direção.

         - Anda. Entra no carro! – eu disse enquanto ele ainda me olhava em pé ao lado da porta aberta.

         Eu segui para La Push, o dia estava bonito, por incrível que pareça. Tinha parado de chover, e o ar estava abafado, anunciando que logo a tempestade voltaria logo, mas não hoje. O sol chegava a ser visível entre as nuvens.

         - Vem Jake. Até parece que você nunca veio aqui. – Eu disse abrindo a porta do carro e o tirando de lá a força. Segurei em sua mão grande e quente, entrelaçando nossos dedos, e seguimos passeando pela praia.

[POV Jacob]

Era um déjà vu. Com certeza, eu só esperava que não terminasse no mesmo desastre que havia sido na primeira vez, quando sonhei. Andávamos de mãos dadas pela praia, não estava tão ensolarado, mas de qualquer maneira, a paisagem estava muito bonita. Principalmente com Nessie ao meu lado.

         Eu podia tentar seguir os acontecimentos do meu sonho, na tentativa de chegar pelo menos perto do que aconteceu, mas eu não estava certo sobre isso.

         - Então... – eu disse a fim de quebrar o silêncio. – Como Thomas está?

         No que eu estava pensando em falar justamente dele?

         - Bem, eu acho. – ela disse indiferente, fitando o chão e chutando uma pequena concha. Puro déjà vu!

         - Nessie? Eu costumava vir muito aqui com sua mãe – eu disse tentando olhar seu rosto, mas ela virou para o lado oposto, evitando meu olhar.

         - Eu sei... Vocês eram... Bom... Vocês dois... – porque ela tinha tanta dificuldade em falar?

         Eu esperei que ela continuasse, mas ela não continuou então eu parei de andar, segurando sua mão e puxando-a para perto quando tentou evitar a parada. Eu não falei nada, apenas esperei.

         - Você a amava certo? – ela disse se rendendo a minha espera.

         - E ainda amo.

         - Eu sei...

         - Qual o problema?

         - Bom, eu digo, antes, você a amava de verdade né? Amor mesmo, tipo, vocês eram, quase namorados.

         Onde ela queria chegar?

         - Mais ou menos. Éramos quase como somos eu e você agora. – eu estava mentindo, era completamente diferente.

         - Eu acho que não... – ela disse cabisbaixa.

         - Tem razão, você não tropeça tanto! – eu disse descontraído. Ela riu.

         - Eu sei. – disse sorrindo.

         - Não há com o que você se preocupar Nessie, tudo vai ficar bem.

         - Eu sei

         - Vai poder contar comigo sempre. – por que eu estava mentindo para ela?

         - Eu sei...

         - Nessie, se você falar mais uma vez ‘eu sei’ vai me deixar irritado.

         Ela deu um sorriso malicioso que me deixava desnorteado, e citou mais um ‘eu sei’.

         Déjà vu! Déjà vu! Déjà vu! Déjà vu! Eu só rezei pra que chegasse onde eu queria, era só o que eu precisava.

         Antes que eu pudesse, ela correu, mas não tão rápido como podia, eu não estranhei, eu já tinha visto aquilo antes no meu sonho, então corri até alcançá-la, me jogando da forma mais delicada que eu conseguia, caindo no chão, me posicionando de forma que ela não se machucasse na queda, como eu sempre fazia. Ela deu uma cotovelada em minhas costelas com força, exatamente como eu queria, eu teria soltado-a mesmo se ela não tivesse tido força o suficiente, fiz um pouco de cena no chão, eu me estiquei, depois voltei a me encolher para o outro lado, aproveitando para sorrir enquanto ela não podia ver meu rosto.

         - Jacob! – ela gritou preocupada. Eu adorava o jeito preocupado que ela se dirigia a mim, como se ela pudesse me machucar, tão pequena e indefesa, tão linda. Perfeito, é agora!

         Eu me virei para ela, tentando mostrar dor. Exagerando nas caras, e nos gemidos, ela se sentou ao meu lado rindo e me dando alguns tapas, eu ri novamente. Eu adorava rir da cara dela, embora ela se enfurecesse com isso, ela se ajoelhou ao meu lado.

         Déjà vu! Déjà vu! Déjà vu! Déjà vu!

         Tentou novamente me dar um soco, dessa vez no estomago, mas eu segurei seu punho, fazendo-a perder o equilíbrio, seu corpo caiu sobre o meu. Eu não estava chocado, mas meu corpo enrijeceu do mesmo jeito, só pelo fato de tê-la daquela maneira em meus braços. Então ela começou a rir, soltando seu peso sobre mim. Eu ri junto, e apertei seu corpo contra o meu. Talvez fosse um pecado me aproveitar das situações, enquanto ela não via maldade nenhuma nisso. Eu precisava daquele momento, eu precisava aproveitar toda e qualquer oportunidade que surgisse. Eu não desperdiçaria mais nada que envolvesse Nessie.

         Nós ficamos deitados na praia, até o sol se pôr, quando então propus voltar pra casa. Assim que chegamos Nessie foi informada de que sairíamos, e foi tomar banho. Alice veio completamente desnorteada, quase cambaleando na minha direção de tanto nervosismo.

         - E então, então? Jacob, e então???

         - Ela esta completamente perdida no tempo. – eu disse rindo da reação da baixinha.

         - Ótimo, ótimo! Nossa, que bom! – ela saiu saltitando.

         Estavam todos muito elegantes, e eu me sentei no sofá da sala vazia. O agito no segundo andar estava grande. Edward e Bella vieram me fazer companhia. Bella largou uma caixa grande ao meu lado e sorriu. Edward sentou, me fitando, sabendo o que estaria por vir!

         - Estou de partida. – disse tentando não passar nenhuma emoção. Era difícil com Edward por perto, mas eu tentaria.     Vi Bella erguer uma sobrancelha confusa se sentado ao lado de Edward. Ela olhou para o seu marido esperando alguma explicação.

         - Se você quer mesmo ir, não lhe impediremos, mas não precisa falar nada. – ele disse, respondendo aos meus pensamentos.

         - Edward, eu preciso...

         - Não, você não precisa. – ele disse me interrompendo.

         - Posso saber o que esta acontecendo aqui? – Bella disse frustrada.

         - Ele vai embora. – Edward respondeu sem desviar os olhos de mim.

         - Acho que isso eu já sei! – Ela respondeu revirando os olhos. Ele suspirou e se virou para ela.

         - Ele pretende contar para Renesmee.

         - Jacob?! – Bella procurava o motivo daquilo em meus olhos, mas ela não encontraria.

         - Bella, tente entender, eu preciso...

         - JÁ DISSE QUE NÃO PRECISA. – Edward me interrompeu novamente, dessa vez berrando.

         - VOCÊ PODE QUERER MUDAR O DESTINO DA SUA FILHA, MAS EU NÃO POSSO MUDAR O MEU EDWARD! – Eu disse no mesmo tom de voz que ele. Pude vê-lo abrir a boca, mas eu não permiti que ele falasse, então continuei depressa, mais calmo. – Pelo amor de Deus. Justo você. Edward, você viu a importância de Renesmee em minha vida, sabe a necessidade que tenho dela. Ela pode fazer escolhas, decidir que caminho tomar. Mas eu não posso, para mim não há mudanças, precisa enxergar como deveríamos ser uma coisa natural, que não pode ser mudada. Deveríamos ser um do outro, assim como o sol esta para o dia ou como a lua esta para a noite. Diga-me o que aconteceria se houvesse sequer uma noite ensolarada, ou um dia enluarado. É a força na natureza que fez o dia e a noite assim. Da mesma maneira como fizeram Renesmee para mim. Bella, Edward. Não é por ela que estou indo embora, é por vocês.

         - Não queremos que vá Jake. – Bella me disse visivelmente chocada.

         - Mas não querem que eu interfira nas escolhas de Nessie, e não consigo mais suportar isso. Ter de ver o meu destino ir embora, só pra agradar vocês, é difícil para mim. Eu podia ignorá-los, mas nós devemos muito uns aos outros. E eu não quero perder a lealdade, a confiança que depositaram em mim.

         - Jake? – ela olhou para mim e depois para a caixa em cima do sofá.

         - Não se preocupe Bella, eu vou à festa. – eu disse pegando a caixa e saindo dali.