Equinócio escrita por karoreis


Capítulo 19
Acidentes acontecem




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Ta legal, por que hoje todo mundo resolveu acordar estranho? Olhei pra baixo procurando encontrar alguma coisa errada, estava tudo no lugar, blusa, calça, os tênis não estavam trocados, o zíper não estava aberto. Passei a mão discretamente no cabelo, não tinha nada. No rosto, limpo também. Mas que diabos?

         - Oi Nessie.

         - Ai meu Deus! Oi Thomas. – eu respondi enquanto segurava meu coração contra o peito devido ao susto.

         - Esta tudo bem? – ele perguntou desconfiado.

         - Hmm. Acredito que sim. – eu parei de andar e me virei para ele – Esta tudo bem?

         - Acho que sim. – ele disse erguendo uma sobrancelha, a confusão tomou conta de seu rosto pálido.

         Eu estava convencida de que minha família estava infectada por algum vírus, alguma epidemia, abdução, macumba, meu deus, eu estava surtando. NESSIE. Controle-se! 

         Eu entrei nas aulas e acho que fui às aulas certas pelo menos, não consegui prestar atenção em nenhuma delas. Rabisquei três folhas inteiras no meu caderno enquanto pensava, e cheguei a várias conclusões.

         Pra começar, o que a minha família tinha era diferente do que o que eu tinha. Eles eu não sabia o que era. Quanto a mim, só havia uma coisa que pudesse ser: Jacob. É claro. Eu estava acostumada demais a tê-lo por perto, eu apenas lembrava que ele não estava do meu lado quando eu falava alguma coisa, e virava furiosa pronta pra perguntar por que ele não me respondia. Ele nem estava ali. Mas eu não assumiria o motivo da minha loucura, então se perguntassem por que eu estava falando sozinha, o que eu diria?

         “Oh, desculpe, eu estava falando com meu Jacob imaginário. Sempre que o real some eu imagino um para me distrair

         Hospício para mim. Eu precisava pensar em alguma resposta. Jacob estava me deixando literalmente maluca. Por que não podia ser da maneira convencional? Do jeito que ele sempre insistiu em fazer? Pelo amor de deus, aquele jeito arrogante dele, escandaloso, as risadas estridentes demais, e como ele sempre é melhor em tudo, como ele consegue tudo, sabe de tudo, já viu de tudo. O jeito que ele gosta de me irritar, quando conta alguma coisa minha, ou quando me carrega a força para algum lugar da sua forma mais carinhosa, às vezes nos ombros, como sacos de batata. Ou ainda pelos pés, me deixando de ponta cabeça.

         - Bonito desenho. – em tom de zombaria.

         Eu parei, congelei, petrifiquei. Não sei o que aconteceu, meu corpo não respondia aos meus comandos. Será que eu estava pensando alto? Eu estava enlouquecendo, definitivamente.

         - Nessie?? – a voz estava preocupada, e parecia mais próxima. O que tinha acontecido comigo?

         Eu senti todo o meu corpo sacudir.

         - AI MEU DEUS! – eu berrei saindo do transe em que me encontrava. O corpo ao meu lado simplesmente caiu levando mais duas mesas e uma cadeira junto. A sala estava vazia, quando tempo eu tinha perdido ali? Será que dava tempo de eu sair correndo embora? Aproveitar o movimento do intervalo para fugir? Eu podia conseguir né? Ou não?

         - Renesmee, você esta ficando louca? O que você tem hoje afinal? – a voz veio se aproximando, eu não queria abrir os olhos.

         - Não se aproxime. – eu disse entre dentes.

         - Porque não?

         - NÃO CHEGA PERTO DE MIM THOMAS! – eu berrei ao perceber que ele continuava vindo em minha direção.

         Consegui abrir os olhos e fitá-lo, estático, as mãos para o alto, os olhos saltando para fora das órbitas.

         - Me desculpe. – eu disse relaxando as mãos que apertavam a beirada da mesa, a qual eu nem reparei que havia segurado tão forte. Ele não se mexeu. - Bem, eu estou doente, e só fiquei preocupada que você pudesse adoecer também. – eu inventei depressa.

         - O que você tem? – ele disse já agachado ao meu lado. Eu não disse pra ele não chegar perto de mim? Ele era idiota ou o que?

         - Gripe. – eu disse no reflexo, Thomas riu. Não, eu devia ter dito qualquer coisa mais séria, quem se importa em pegar gripe? Ai meu deus. Ai meu deus. Preciso ir embora.

         - Vem logo, vamos comer. – ele disse guardando meus cadernos e tentando puxar minha mão, que a essa altura já estava novamente firme na mesa. Ele me olhou erguendo uma sobrancelha sem entender. – Nessie.

         - Não estou com fome Thomas. – eu menti.

         - Mas. Você. Nessie. Você deve estar mesmo doente...

         Como assim? Por que? Eu comia demais? É isso? Não entendi.

         - Olha só pra você. – ele continuou, chegando perto demais. – Essas olheiras. – ele disse passando os dedos suavemente ao redor de meus olhos. Espera ai? O que ele esta fazendo?! Eu vou matar esse garoto. Não faz isso Thomas. Pra que tão perto? Thomas, sai, sai, sai daqui! – Seus olhos. Renesmee vá a um médico, pegue um atestado, pelo amor de deus. – não fala tão perto de mim assim seu idiota, esse bafo quente na minha cara, meu deus, socorro, alguém me salva. – Nunca vi seus olhos tão escuros, eles costumam ter uma cor tão bonita. - Ele disse com a mão em meu rosto. Ok. Agora ele estava abusando, eu já estava esquizofrênica, faminta, e ele ainda decide se aproveitar da situação.

         Thomas estava perto demais, eu voltei a me agarrar firme na mesa, uma de suas mãos segurava a minha nuca, a outra mão estava no meu maxilar. Eu quase ri lembrando as mãos gigantes de Jacob, que eram capazes de envolver minha cabeça inteira, mas rir não era boa idéia, não agora. O polegar de Thomas começou a contornar meus lábios. O que eu faria? Se eu abrisse a boca para tentar pedir para que parasse, o ar ia vir como uma rajada, e todo aquele cheiro. Minha garganta ardia, o sangue dele fluindo tão perto das minhas narinas, ali, na minha boca. Seu rosto próximo demais. A respiração ofegante.

         Ai meu deus, o que esse maluco está fazendo? Ele surtou, ele vai morrer, eu vou matar ele aqui agora. Como vou esconder o corpo? Deus me ajuda, manda uma força divina, ilumina essa criatura, você não quer que ele morra agora. Por favor, não quer, tenho certeza disso.

         A boca quente de Thomas estava encostada na minha. Meu deus, que boca quente, e tremia, ele todo tremia por sinal. Estava nervoso, a respiração estava ofegante demais, isso estava piorando as coisas. Ele ainda estava tentando soltar uma de minhas mãos, querendo me envolver.

         É agora. Não dá, preciso comer, e esse ser aqui, resolveu ignorar os meus avisos. Ai, o que é isso? Ai meu deus? Porque ele ta beijando minha orelha? Ai não, como assim? Vai ser mais fácil do que eu pensava.

         O pescoço dele pulsava quase rente a minha boca, eu não ia precisar fazer praticamente nada, com ele ali, distraído, ninguém por perto, era só uma mordidinha. Minha garganta ardia, eu fui seguindo meus instintos.

         Foco Renesmee, Foco. Solta o ar bem devagar.

         Quando inspirei novamente foi tudo muito rápido. Mil coisas passaram na minha cabeça. Houve gritos, e um corpo se debatendo em meus braços, mas não durou muito.

 

--

 

         - Por favor, me perdoem. – eu dizia entre soluços.

         - Está tudo bem! – Carlisle é quem me consolava.

         - Vô, eu juro, eu não queria te decepcionar, nem a ninguém aqui. Por favor, eu preciso ser perdoada.

         - Não se preocupe meu anjo. – anjo? Meu avô ainda tinha coragem de me chamar de anjo?!

         - Minha filha no que você estava pensando?

         Hãm? Rápido, rápido, pensa em alguma coisa.

         - Artes...

         Todos ergueram a sobrancelha. Certo, hoje estava longe de ser o meu dia, voltei a chorar só por lembrar que ainda não havia acabado. Meu avô me abraçava no sofá, todos estavam na sala. Quanta humilhação.

         - Renesmee Carlie no que você estava pensando.

         - Em matar a aula. – dessa vez eu consegui mentir melhor.

         - Eu disse que você não devia ter ido. – Alice se intrometeu.

         - Em matar a aula para ficar sozinha. – eu corrigi.

         - Sozinha para que minha filha? – perguntou minha mãe já próxima. Eu devia ter bolado as respostas antes.

         - Para pensar. – eu disse olhando para meu pai.

         - O que você tem para pensar que não possa ser ouvido por mim? – meu pai perguntou desconfiado.

         Mas que azar!

         - Pai!

         - Edward. – minha mãe disse quase ao mesmo tempo que eu. – Privacidade é bom às vezes.

         - Você queria era ficar com o namoradinho né?! Dar uns beijinhos... – minha tia disse zombando. Ok. Hoje a tia Alice estava completamente fora de si. É claro que a essa altura meu pai já estava bufando de raiva.

         - Vocês estão mudando o foco da conversa. - A voz rouca sem emoção soou, eu me encolhi no sofá assim que ela me atingiu. Carlisle me apertou um pouco mais.

         - Nessie minha filha por que você não foi caçar? – Era uma boa hora.

         - Bella minha mãe, por que vocês me deixaram sozinha para trás?!

         - Você não estava sozinha e...

         - Não justifica. – interrompi meu pai

         - Renesmee!

         - Pai! – eu disse interrompendo-o novamente. – Não estou reclamando por ter ficado sozinha com Jacob – se não fosse pelo incidente, teria sido ótimo. – O problema é que eu já estou cansada de todo mundo escondendo as coisas de mim.

         - E eu estou cansado de ter que esconder as coisas também. – a voz rouca se pronunciou novamente.

         Eu não entendi por que, mas aquilo pareceu ofender o meu pai, e ele ficou furioso.

         - Saia daqui Jacob!

         - Por que? – eu perguntei aturdida enquanto Jacob simplesmente saia pela porta.

         - Eu estou cansada. Querem esconder as coisas de mim?! Fiquem a vontade. – eu disse me soltando dos braços de Carlisle e saindo pela mesma porta que Jacob. Ouvi meu pai chamar meu nome. “Não venha atrás de mim, por favor, eu preciso ficar sozinha. Te amo, me desculpe mais uma vez”

         Funcionou, quando olhei para trás, não havia ninguém alem da imensa casa. Eu não precisava andar muito, eu só queria sair do campo do meu pai e ficar sozinha, de verdade dessa vez.

 


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