[POV Jacob]

  No entanto outra pessoa bloqueou a visão da irritante Steh. Que ótimo, trocando uma insuportável pela outra. Eu estava na porta da sala da Nessie, escorado na parede, esperando-a como sempre fazia, quando aquela garota esbelta loira, a pele bronzeada, artificialmente ao que parecia, suas roupas sempre muito justas. A riquinha metida, Thiffany se não me engano. A maioria dos garotos a julgavam como a mais bonita da escola, eu não via nada demais. Ela fazia parte do grupo da Steh, das que não poupam esforços em chamar a atenção.

         - O que vai fazer hoje bonitão? – ela me disse se aproximando demais de mim.

         - Não sei. – eu respondi, apenas por educação.

         - Eu tenho algumas propostas! – ela disse maliciosa.

         - É mesmo? – eu respondi indiferente.

         - Claro, meus pais não estarão em casa essa noite.

         Certo, ela queria que eu fosse até a casa dela? Por que tinha garotas que faziam isso? Como se davam ao respeito dessas coisas?! Assim tão fáceis, por que existiam os rapazes que não poupavam esforços em recusar convites como esses? Como podiam gostar dessa vulgaridade toda?

         Ela não parava de colocar a mão em meus peitos e braços, eu estava ficando irritado, onde diabos estava Nessie que não aparecia logo?

         - E então Jake? – Jake? O que aquela folgada estava pensando? Que intimidade ela tinha pra me chamar de Jake?

         Um trio se aproximou, e as vozes familiares me fizerem me desconectar da loira na minha frente, me fazendo prestar atenção nas palavras rápidas e nervosas.

         - Quer saber, você tem razão, eu vou lá, olha só pra ele, é um babaca e eu não tenho medo. – eu estremeci ao ouvi-lo, só então me dei conta de que a loira se esticava nas pontas dos pés, debruçada sobre mim, fazendo biquinho convencida de que iria me beijar.

         - Você vai mesmo beijar ela assim na frente de todo mundo?

         - Vou.

         - Então melhor ir, ela esta vindo lá, olha só.

         Eu quis procurar Nessie, mas meu impulso foi o de imediatamente jogar a magrela pro lado e avançar em Thomas, não seria nem necessário me transformar, ele era tão fraco que eu seria capaz de machucá-lo sem muito esforço.

         Quando ele entrou no meu campo de visão eu me choquei contra ele, eu nem sei o que aconteceu com a loira, mas eu o firmei contra a parede, seu corpo bateu com força e quebrou alguma coisa, eu segurei firmemente seus braços.

         - O que você estava fazendo? – eu perguntei entre os dentes sacudindo seu corpo com força, apressado em ter uma resposta.

         Mas tudo mudou de uma hora para outra, eu estava deitado, e Nessie estava embaixo de mim. Meu deus, o que ela estava fazendo ali? Era óbvio que ela tinha colocado aquelas coisas na minha mente, tornando meu sonho perfeito no pior pesadelo.

         - O. Que. Você. Estava. Fazendo? – eu repetiu pausadamente, dando ênfase a cada palavra.

         - Me desculpe. – ela sussurrou enquanto seus olhos se enchiam de lagrimas,

         - Nessie! – me espantei saindo do estado de choque em que tinha entrado, afrouxei minhas mãos imediatamente, e me perguntei o quanto eu teria machucado. Eu nunca tinha ousado usar um quinto sequer da minha força, e agora ela tinha provado o que... Uns três quartos dela pelo menos.

         Ela estava completamente paralisada então seus olhos anunciaram que não havia mais espaço para lágrimas, e ela começou a chorar. Eu era um idiota, um babaca como dizia Thomas, eu me apressei em abraçá-la.

         - Pelo amor de deus, o que você queria fazer? – eu sussurrei em seus ouvidos. Puxei seu corpo rápida e delicadamente, aconchegando-a em meu colo, eu procurava as palavras certas para concertar a grande burrada que eu havia feito. Eu secava seu rosto molhado pelas lagrimas salgadas que rolavam seus olhos lindos olhos cor de chocolate. Então uma reação que eu não esperava, mas que me parecia adequada, ocorreu.

         Nessie levantou em um pulo e mais rápido do que podia se chocou contra a parede no outro lado do quarto, longe demais de mim. Ela tinha um misto indecifrável de emoções passando pelo seu rosto. Ela tonteou um pouco e eu me preparei para pegá-la caso caísse, ela chorava demais, e todo o seu corpo sacudia com o choro. Entendi a confusão em seu rosto quando seus olhos confusos e desesperados se lançaram para a porta do quarto, eu sabia que ela não queria fugir.

         - Estão todos caçando. – eu me apressei em responder.

         Ela rosnou pra mim, e aquilo me deixou pasmo, eu sentia o ódio fluir do seu corpo, os dentes expostos, a vontade de me dilacerar preenchia todo o seu olhar. Eu era um baita de um babaca. Nessie tremia muito, e seu choro era desesperador, eu estava preocupado demais com ela, para pensar nas formas que eu poderia usar para me punir depois.

         - Nessie... – eu tentei dizer, mas ela me interrompeu com um silvo baixo.

         Eu me odiava, mais do que qualquer coisa no mundo, mais do que eu podia pensar que era possível. Ela nunca mais ia querer olhar para mim de novo. Notei umas manchas em seu braço. Eu tinha feito aquilo, eu ia deixar Edward arrancar minha cabeça quando visse aquilo, eu merecia, e talvez assim eu sofresse menos com Renesmee, eu não teria mais que lutar para aceitar que ela podia escolher uma vida, na qual eu não estivesse fazendo parte. Aceitar que, agora mais do que nunca, ela escolheria alguém bom, Thomas talvez, para ser o homem dela. Alguém que faria tudo o que eu sempre sonhei em fazer.

         Eu escondi meu rosto nos joelhos, cruzei as mãos por trás da nuca, forçando minha cabeça a permanecer ali, chorando e implorando para que Edward entrasse naquele momento e me destruísse da pior maneira, que me torturasse antes de preferência, embora eu soubesse que eles demorariam a voltar.

         A morte era muito mais aceitável era menos dolorosa do que uma vida inteira sem Renesmee. Eu tinha sido feliz ao longo desses seis anos, mais feliz do que eu podia imaginar. Mesmo considerando o futuro imprevisível que eu tinha nas mãos, até hoje pelo menos, até agora, quando eu consegui estragar tudo. Eu não podia aceitar essa vida, longe de seu sorriso, sua voz, seu calor, eu não suportaria aquilo me matava. E era pior do que se eu estivesse morrendo de verdade.

         Seus braços pequenos de repente me envolveram, forçando o máximo que podiam, o calor da pele dela sempre me provocava uma série de sensações. Eu esquivei do abraço dela assustado, eu teria me arrependido de fitá-la apavorado com o rosto molhado do choro. Mas eu precisava disso, eu precisava de humilhação. Embora a confusão ainda fosse maior do que qualquer outra coisa. Principalmente nos olhos de Renesmee. Ela me olhava incrédula, e eu imaginava alguma das perguntas que passavam pela sua mente. A que falava mais alto era o motivo de eu ter me comportado daquela maneira.