Kings And Queens escrita por Nina Black


Capítulo 44
Chapter 42 - O Prisioneiro


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que eu sumi, me desculpem!!!
Prometo postar o outro o mais rápido possível. Não tive tempo para responder os comentários, mas juro que irei, prometo!!
Boa leitura!



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 Uma semana.

 Há exatamente uma semana Natsu estava naquela situação.

 Porlyusica havia conseguido reconstituir a maioria dos tecidos do corpo de Natsu. Mas o rapaz ainda estava em um estado sério. Ele não acordara há dias, o que dificultava na reconstrução da pele, já que ele não comia nem bebia nada a não ser quando Porlyusica colocava uma espécie de caldo e água fresca garganta abaixo do rapaz. Ele ainda estava pálido, mais pálido que o normal, mas a médica dizia que isso era passageiro.

 E não era apenas o príncipe que estava mal.

 O rei Igneel já não mais atendia os camponeses no palácio, agora ficava trancado o dia inteiro em seu escritório, saindo de lá apenas para ver seu filho na enfermaria. Emagrecera bastante e pegara uma gripe forte. Parecia muito mais cansado que o normal, com olheiras fundas, resultado de noites inteiras sem dormir ao lado de Natsu, esperando algum movimento do rosado.

 Gray Fullbuster passava maior parte do dia treinando, tentando esquecer o que acontecera, mas era quase impossível. Depois disso ele voltava para seu quarto para dormir até o outro dia, só se alimentando quando Juvia chegava para lhe entregar alguma comida. A azulada estava muito preocupada com o rapaz.

 Erza já não mais saía para suas cavalgadas matinais. Acordava cedo para saber dos resultados de Natsu, que eram mínimos. Descobrira que havia um prisioneiro novo, inimigo que estava no castelo que invadiram há uma semana, mas não queria ver a cara do infeliz. Não suportaria.

 E Lucy. Ah, pobre Lucy. Ficava dias a fio na enfermaria, só que desta vez não era cuidando de seu pai, mas sim olhando Natsu. Esperando desesperadamente que ele abrisse os olhos e sorrisse para ela como antes. Já estava desesperada, não sabia do porquê que ele não acordava, já que Porlyusica disse que metade do trabalho em seu corpo já estava pronto. Ficava ali, sentada em uma poltrona ao lado da cama. Ou contava histórias de infância para o jovem escutar, ou lia uma história interessante que achara em um dos mil livros da biblioteca real. Faria de tudo para que Natsu acordasse com o doce som de sua voz.

 Quando Igneel, ou Gray chegavam para ver o rapaz, ela se retirava discretamente. Achava que cada um tinha seu momento com Natsu, e não queria atrapalhar isso. Seus olhos carregavam olheiras roxas, manchando sua pele branca como marfim e dando um ar de palidez á moça. Já não dormia, com medo de ter pesadelos com o possível futuro de Natsu. E já não comia mais, quando percebera que absolutamente nada parava em seu estômago, a fazendo vomitar de vez em quando.

 Loke de vez em quando insistia á ela para voltar para seu quarto para, pelo menos, tomar um banho. O jovem a levava até seus aposentos e a deixava ali, preocupado com a moça. A loira costumava se banhar rapidamente e se trocava, logo depois saindo novamente até a enfermaria.

 Certa tarde, no oitavo dia que Natsu não dava nenhum sinal, Lucy estava lendo um conto de fadas para ele. Era sobre piratas arruaceiros, que invadiam cidades e saqueavam portos, porém em um dia o capitão dele se apaixonou pela princesa do lugar, o fazendo sair da vida de ladrão e se dedicar á proteger a moça. Não era o tipo de história que Natsu gostava, mas a achara interessante para ler para o rapaz.

 - ... E então eles viveram felizes para sempre. – Ela terminou sua leitura com uma voz melancolia e doce ao mesmo tempo. Olhou para Natsu. Seu rosto emagrecera um pouco, e ele ainda estava pálido demais. Já fazia alguns dias que não tomava Sol, o que afetou um pouco em sua pele também. – Ah, Natsu... – Ela pegou na mão do rapaz. – Por que você não acorda...?

 Suas grossas mãos ainda estavam um pouco geladas, mas a loira não se incomodou com isso. Ouviu as porta da enfermaria se abrindo, e, julgando ser Igneel vindo visitar o filho, se levantou e colocou o livro de capa de couro marrom no criado mudo ao lado da cama. Deu três passos para longe da cama, quando viu quem estava a sua frente.

 - Lucy? – Ela perguntou desconfiada.

 - Lisanna. – A jovem disse. Se lembrou que ainda não haviam conversado sobre um assunto que deveriam já ter esclarecido uma pra outra a muito tempo. Natsu. – Veio ver Natsu?

 - Sim. Mas também preciso falar com você. – Ela disse cruzando os braços, com vergonha. – Podemos ir á um lugar mais privado, não acha?

 - Claro. – Lucy disse para albina, saindo primeiro do recinto, com ela atrás.

 Foram até uma das salas de visita do castelo. Elas definitivamente precisavam conversar depois do ocorrido no casamento de Gray e Juvia.

 Lucy havia visto Lisanna segurar as mãos de Natsu, e ela não achava que os dois eram apenas bons amigos. Bem, pelo menos não se dependesse da albina. Achava que tinha mais coisa por aí.

 As duas se sentaram, uma de frente para outra, em uma sala pequena e confortável. Com as paredes de um tom de marsala e os sofás todos com tecidos verdes ou marrons. Lisanna combinara bem com o local, usando cores neutras em seu vestido rodado e comprido. Lucy se destacava, com uma roupa azul, e com seus cabelos loiros presos em um coque, com flores brancas entre os fios.

 - O que queria falar comigo, Lisanna? – Lucy perguntou cruzando as pernas. A outra moça fez o mesmo.

 - É sobre o Natsu.

 Lucy ficou quieta, esperando a continuação e no que iria da aquela conversa.

 - Eu... – A albina continuou, ligeiramente mais nervosa do que antes. – Eu e Natsu nós... Bem... Nós crescemos juntos. Meu pai sempre vinha tratar de assuntos comerciais aqui, e trazia Elfman, Mira e eu para passarmos o tempo. Éramos muito sozinhos em nossa casa. E as crianças daqui também eram. Gray, Erza, Ultear e Natsu... Ele era o mais sozinho de todos. – Ela relembrava os bons momentos com um sorriso no rosto.

 - E...? – Lucy a incentivou a continuar.

 - Bem... Logo fizemos amizade. E depois de um tempo para nos acostumarmos uns com os outros, fazíamos tudo juntos. Fizemos novas amizades com novas pessoas, como Cana e Levy, por exemplo. E fomos nos aproximando ainda mais. E foi aí que quando eu era criança, um sentimento novo me foi apresentado. Um sentimento que não queria que aparecesse. Eu descobri que eu amava Natsu.

 Lucy arregalou os olhos ao perceber no que estava se metendo. Não era uma simples paixonite de meses, mas sim um amor de anos.

 - Amor? – Ela perguntou para a albina, que concordou sorrindo.

 - Eu era muito pequena, então não sabia o que significava as borboletas no estômago, nem a vergonha de sentar perto dele, ou de fazer alguma coisa errada para ele. Era um amor inocente. E isso foi crescendo cada vez mais conforme o tempo foi passando, eu me tornei uma moça. E aí eu descobri que não era apenas uma coisa passageira. – Ela se inclinou. – Ouça, Lucy. Eu estou presa. E eu gosto disso. Percebi que eu gosto mais de estar no anonimato para Natsu do que colocar meu rosto na luz e receber uma resposta que eu não goste. Eu, Lisanna Strauss, quis que fosse assim.

 - Lisanna... – Lucy disse confusa. – Por que está me dizendo isso? Onde quer chegar?

 - Eu quero que saiba que eu amo Natsu, e eu sei que Natsu me ama. Porém são amores completamente diferentes. Eu o vejo como um homem, e ele me vê como a pequena amiga dele, que sempre estava do seu lado. Mas mesmo assim... Não fico triste com ele. Não escolhemos por quem nos apaixonamos. Mas eu... – Seus olhos se encheram de lágrimas. – Eu escolhi nem tentar fazer parte da vida amorosa dele por medo. Eu me dava tempo. Tola eu era... Achava que tinha todo o tempo do mundo com ele. Mas percebi que estava muito enganada quando vi que você chegou aqui no castelo.

 - Eu? – A loira perguntou.

 - É. Na noite em que você chegou, eu vi que as coisas mudariam. Se lembra como chegou aqui, Lucy?

 Um arrepio subia na espinha da loira. Não gosta de se lembrar do pânico que passou em sua primeira noite no castelo, nem como fora parar ali.

 - Você chegou mobilizando á todos. Literalmente. Todos queriam te conhecer e te ver. E quando seu dom veio á tona... Você foi o centro das atenções. A preciosidade de Fiore. E com Natsu não foi diferente. Vocês se simpatizaram um com o outro de uma forma tão rápida que eu nunca vou entender. Eu ignorei, nunca fui uma pessoa que sentia ciúmes. – Lágrimas escorriam dos belos olhos azuis de Lisanna, manchando sua maquiagem. – Mas eu fui percebendo que eu perdia espaço no pouco que tinha no coração de Natsu. Ele se importava demais com você. Quando o reino foi atacado... Você não estava no lugar que ele te deixara... Meu Deus... Ele quase morreu de tanta preocupação. Nunca havia o visto daquela forma.

 - Isso foi porquê eu saí de lá ás pressas! – Lucy protestou. – Meu pai estava quase morrendo.

 - Eu sei disso. – Lisanna continuou, mantendo a calma. – E se eu estivesse no seu lugar faria o mesmo. Apenas estou querendo dizer que Natsu já te amava antes mesmo dele saber desses sentimentos. Enquanto eu tentava entrar aos poucos, você já apareceu nos pensamentos de Natsu, iluminando tudo de uma vez.

 Lucy estava estupefata. Nunca ouvira nada parecido de ninguém. Lisanna estava sendo verdadeira com ela de uma forma que a loira nunca a viu agir assim com ninguém. Ficara preocupada com o que se passava na cabeça dela.

 - Lisanna... Eu...

 - Não, Lucy. Por favor, me deixe terminar. Criei muita coragem para me abrir dessa forma, e agora não quero mais parar. Eu vim lhe pedir uma coisa. Um favor que é muito precioso para mim.

 - Qual? – A moça perguntou. Lisanna limpou seus olhos com as mangas de seu vestido.

 - Eu quero que, quando Natsu acordar, que ele te veja, e que depois disso, faça-o feliz da forma que puder. Eu não sei o que irá acontecer com cada um de nós aqui. Sinto que alguma coisa grande está por vir, mas, por enquanto, ajude Natsu da forma que puder.

 Heartfilia perdeu o ar. Nunca esperava uma coisa dessas. Porém para ela, esse dia estava sendo de muitas surpresas e coisas que ela nunca imaginava que iriam acontecer com ela.

 - E-Eu... Não sei o que dizer... – Lucy disse surpresa.

 - Apenas diga que sim. Você vai conseguir fazer Natsu feliz de uma forma que nem eu, em meus mais perfeitos sonhos com ele, conseguiria. Então é isso que eu peço, que o faça muito feliz. Ele merece.

 E dizendo isso, se levantou e caminhou apressadamente até a porta, deixando Lucy com seus pensamentos conturbados. Antes de Lisanna virar o corredor, Lucy a chamou um tanto quanto desesperadamente. A Strauss se virou, e seu semblante já estava mudado. Não havia nenhum rastro de lágrimas, apenas sua sombra mais borrada e os olhos um pouco mais vermelhos. A loira se levantou e caminhou até ela, ficando frente a frente.

 - Por que está me pedindo isso? Farei de bom grado, sabe que farei. Sabe que tenho esses sentimentos por Natsu também. Mas por que veio me dizer essas coisas? Por que quer que Natsu seja feliz sozinho, e não com você, se o ama tanto assim?

 Lisanna sorriu docilmente e tocou as mãos de Lucy. Viu o tanto que eram macias.

 - Porque eu o amo. E quando você ama alguém... Você tem tanta, mas tanta vontade de ver a pessoa feliz, que a sua felicidade já não importa mais. Irei dar uma volta nos jardins, até mais tarde. – Ela disse soltando-se de Lucy, depois de um leve apertar de mãos, e começando a andar lentamente pelo corredor vazio.

 Lucy ficou olhando-a virar no primeiro corredor, e viu por um relance, que Lisanna ainda tinha aquele ar apaixonado e sonhador que ela sempre teve. Sempre a considerou uma amiga sua, mas, a partir daquele momento, tinha respeito por ela. Começara a admira-la por ser forte daquela forma, e ter um aspecto tão frágil. Não é fácil dizer tais palavras assim, as quais ela desabafara em Lucy. A moça sorriu um pouco.

 - Obrigada, Lisanna. Tentarei ao máximo cumprir sua promessa. – Ela disse sorrindo e caminhando na direção oposta. Daquela vez, não foi ficar com Natsu. Foi tirar um cochilo. Um necessitado cochilo.

~~~~~~~~~~

 Gray Fullbuster voltava todo suado para eu quarto. Depois de seu longo treino com Erza, o que ele mais queria era um banho. Desde o terceiro dia que voltaram de viajem que ele voltara a fazer suas atividades normais. Estava aproveitando o momento em que ainda não era Lorde. Ainda.

 Mesmo se casando com Juvia Lockser, Gray precisa assinar um contrato, afirmando que ele é o Lorde das Terras do Litoral. E quem tem esse contrato era o juiz da cidade, que, coincidentemente, estava em uma viagem de negócios em Veronica, um pequeno país localizado nas montanhas ao norte, fazendo fronteira com Fiore. Então, tecnicamente, Gray ainda não era dono de nada.

 Não estava ansioso para isso. Queria sua liberdade, e não ter que se preocupar com problemas. Mas ele sabia que isso era o caminho mais fácil, e não o certo. E tem tanta convicção disto que escolheu se casar com lady Juvia Lockser corretamente. Não saía mais á noite com tanta frequência quanto antes, nem cantava as belas moças de vestidos decotados que se ofereciam para ele.

 Desde o desaparecimento de Jenny Realight, raramente vira os outros frequentadores de Blue Pegasus. Ficava quase todo o seu tempo em Fairy Tail.

 Mas essa semana ele não apareceu por lá. Estava preocupado demais com Natsu para isso. Não era como quando ele se feriu. Gray não corria um risco sério de vida. Mas Natsu, por um milagre, não foi morto. Mas agora não acordava por nada. Ia de vez em quando à enfermaria e trocava poucas palavras com o rosado, na esperança que ele acordasse, mas em vão. Decidiu não ficar no quarto o dia inteiro, e convenceu Erza a ir com ele todos os dias aos campos perto do palácio para treinar, ou pelo menos tentar tirar aquela noite de suas mentes.

 Quando voltava, sempre tomava um longo banho, e encontrava Juvia o esperando em sua cama, para ver como o seu machucado recém-curado estava, apenas por precaução. E assim aconteceu nesse dia.

 Juvia cuidou dele com carinho, e logo depois saiu dos aposentos do marido em silêncio. Antes, Gray não se importava muito, mas agora estava começando a se preocupar do por que Juvia agia dessa forma de vez em quando, se fechando para os outros e ficando em seu próprio mundo. Não que ele fosse a pessoa mais sociável do mundo, mas aquilo o deixara intrigado.

 Decidiu não ficar muito grudado na azulada, não era de seu feitio, e achava que iria assustar Juvia se começasse a fazer perguntas demais do nada para ela.

 Alguns minutos depois, ouviu a porta de seu quarto se abrir novamente. Se virou, e viu seu pai, Silver Fullbuster, se aproximar lentamente. Vestia sua costumeira roupa, uma armadura de prata reluzente, o que o fazia parecer maior do que já era.

 - Oi, filho. – Ele disse se sentando do lado de Gray na cama. – Vi Juvia acabando de sair daqui... Vocês estão se dando bem?

 O jovem moreno suspirou.

 - Melhor do que antes. É só que... – Ele parou antes que pudesse dizer alguma coisa que se voltaria contra ele depois.

 - Que...? – Seu pai o incentivou. Gray suspirou novamente. Estava confuso.

 - Com tudo o que aconteceu, não tivemos tempo para conversar. É como se fossemos um casal, mas completos estranhos um para o outro. Não conto nada de minha vida para e ela, e mal sei sua história. Como posso estar casado com alguém dessa forma...? – Ele resmungou. Silver entendeu.

 - Então você quer conhecer Juvia melhor, é isso? – Ele perguntou sorrindo para o moreno.

 - Ah... Não é bem isso, é só que... – Ele se embasbacou em suas próprias palavras. – Bem... Acho que sim. Ela não se parece muito com as moças daqui... Aliás, com nenhuma garota que eu já tenha conhecido.

 - Ah... É mesmo? – Silver disse com um olhar malicioso e divertido para o filho. Nunca vira Gray assim e estava sendo engraçado ver o filho não entender seus próprios sentimentos.

 - Ela é estranha. – Gray cortou o ânimo do pai. - Parece ser uma mulher de verdade, mas ao mesmo tempo eu ainda vejo uma menina nela. É fria, mas ela dá a entender que não é por vontade dela. Eu não a entendo. – Ele disse confuso, bagunçando seus cabelos.

 - Eu também não entendia sua mãe. – Silver disse olhando para o nada, e de repente um sorriso sincero brotou em seus lábios ao se lembrar de Mika. – Mas ela não era dessa forma. Sua mãe era muito nervosa. Vivia gritando comigo por ser um molenga, e que não a ajudava a limpar a casa. De vez em quando eu pensava que se ela fosse a General das tropas e não eu, seríamos o reino mais temido de toda a Earth Land.

 Gray soltou uma risada. Era a primeira vez que ria depois do que acontecera com Natsu.

 - Não sei se me lembro muito bem dela... – Ele comentou baixinho.

 - Bom, você era muito pequenino. Não é sua culpa se não se lembrar. – O homem mais velho disse com tristeza na voz, mas logo em seguida tratou de melhorar seu humor. – Acho que você e Juvia precisam se conhecer melhor.

 - Como iremos fazer isso? Ela tem sua vida aqui no castelo, e eu não sou Lorde ainda... E fora que quero ficar aqui até Natsu ficar bem. – Gray disse se sentando novamente. Silver pensou um pouco.

 - Bom... Podemos fazer o seguinte. Assim que Natsu melhorar, chamamos o juiz de Fiore, ele te declara Lorde e Juvia é declarada oficialmente uma Lady, oficialmente, e depois podem ir para sua lua-de-mel.

 Agora Gray tinha entendido onde o pai queria chegar.

 - Pai... Não temos essa intimidade. E não, não quer ser pai.

 - Ora, Ur não disponibilizou a casa de campo dos Milkovich? Podem ir para lá ficar alguns dias e se conhecerem melhor. Será melhor do que ficar aqui no castelo cheio de gente olhando vocês o tempo todo. – O pai se levantou. – Tem que conhecer Juvia como ela realmente é. Interprete isso como quiser. Bem... Agora vou ir interrogar nosso prisioneiro.

 E nisso Gray se lembrou que ele e Skiadrum haviam capturado o conselheiro do chefe daquele castelo. Havia se esquecido totalmente do homem, por conta de estar preocupado demais com o estado instável e perigoso de Natsu.

 - Ele já disse alguma coisa?

 - Nem mesmo seu nome. Mesmo com todos os nossos métodos... Está tão sujo que mal consigo enxergar seu rosto. Mas não sou eu que vou limpá-lo, isso nunca.– Ele suspirou pesadamente. – Bem... Acho que não temos outra escolha a não ser pegar um pouco mais pesado.

 Gray se arrepiou. Ele sabia que seu pai não era de pegar leve nem no início dos interrogatórios, e agora ele disse que iria pegar mais pesado ainda. Começou a sentir uma ponta de dó da pessoa que estava nas masmorras, logo abaixo do castelo, no subsolo. Mas se lembrou que era por causa deles que muitos soldados estavam feridos e que o príncipe estava inconsciente.

 - Apenas me deixe a par de tudo, por favor.

 - Ah, Ur me disse que descobriu umas coisas, mas não me contou exatamente o que era. Ela já se retirou para seu quarto agora, fale com ela amanhã, sim?

 O filho concordou prontamente. Desde que voltaram da missão, via Ur e Ultear muito poucas vezes. A filha da Lady estava mais inquieta que o normal, indo visitar o prisioneiro várias vezes por dia. A mãe começou a desconfiar um pouco, então levava a moça para dar uma longa volta á cavalo várias vezes por dia, para distrair tento uma quanto a outra. Também não tinha mais notícia dos Lordes Skiadrum e Weisslogia. Eles voltaram para seus respectivos castelos duas noites depois que voltaram da missão.

 Igneel ficava em seu escritório praticamente o dia inteiro, e quem olhasse para o homem via-o triste e cansado, com grandes olheiras abaixo dos olhos castanhos. Gray não trocava muitas palavras com ele, e quando fazia isso, era para contar alguma coisa em relação á Natsu.

 Pediu para que algumas criadas trouxessem o seu jantar em seu quarto. Minutos depois de anoitecer, sentiu o cheiro de um guisado de coelho delicioso em cima de uma mesa que ficava em seu quarto, e seu estômago fez muito barulho. Estava faminto. Devorou a refeição em meio á luz de velas.

 Ainda com a barriga cheia, desabou em sua cama, dormindo logo em seguida.

~~~~~~~~~~

 Era de madrugada, e Lucy acabara de sair da enfermaria. Igneel chegara minutos antes e avisara que ele iria passar a noite ali com seu filho, como fez nessa semana. Estava cansada, mas mesmo assim conseguiu chegar até seu quarto em passos lentos e preguiçosos.

 Rapidamente se despiu no meio do caminho para seu banheiro, onde a gigantesca banheira de lá estava cheia. A água não estava muito quente, mas nem fria. Mesmo com o vento gelado que entrava em seu quarto pela anela, ela não se incomodara em não se esquentar completamente. Estava cansada demais para pedir que os poucos criados que ainda estavam acordados fizessem isso por ela, e também não achava justo com eles.

 Entrou com tudo na água, molhando seus longos cabelos. Percebera que fazia um tempo que não os cortava, com eles chegando a sua cintura. Pensava se alguém no castelo poderia cortá-lo, mas não pensou em ninguém.

 Hoje o dia foi de muitas surpresas para a loira. Não esperava ouvir Lisanna dizer com todas as palavras que amava Natsu. E ainda que desistiria dele para vê-lo feliz com a loira. Lucy se sentiu um pouco insegura. Ela seria capaz de cuidar de Natsu dessa forma?

 Continuaria pensando se conseguiria ou não, mas uma dor de cabeça a atingiu subitamente, a fazendo se desequilibrar e se apoiar na borda da banheira.

 - Ai... – Ela gemeu com a mão em sua têmpora. Aos poucos seu corpo foi ficando dormente. – Não... De novo não... – Ela resmungou. Ela percebeu quando seu corpo caiu na água, e teve apenas o segundo para prender sua respiração. Não importava a força que fizesse, não conseguia se levantar.

 E em um piscar de olhos, tudo ficou escuro para ela.

 Estava em uma sala toda branca. Não tinha móveis ali, nem nada do tipo. Era um cômodo todo branco, e perto das paredes havia várias estátuas de gesso de pessoas nuas. Algumas eram homens, outras eram mulheres. Mas todos os seus rostos estavam cobertos por um véu cinza, impedindo de ver seus rostos.

 Lucy percebeu que conseguia mover seu corpo, onde quer que estivesse. Estava ciente de seus passos. Sentiu o chão de mármore gelado tocar seus pés descalços. Caminhou por entre as estátuas, não se atrevendo a tocá-las.

 Quando se colocou no centro da sala, viu que no fundo, tinha um pano vermelho, que parecia tapar um quadro, ou alguma coisa do tipo. Caminhou até lá, e se sentiu tentada a tirar aquele pano dali. Era o único diferente, e queria saber o que ele escondia. Com apenas um movimento, retirou o grande tecido, revelando um espelho grande, com a moldura dourada.

 A loira viu que atrás de si tinha mais uma pessoa, e se virou rapidamente, assustada. Não havia ninguém ali a não ser ela. Seu coração estava a mil, que tipo de visão era aquela?!

 Olhou novamente para o espelho, e a sombra da pessoa ainda estava lá, na mesma posição. Depois de alguns segundos, ela caminhou para perto do reflexo de Lucy, revelando seu rosto. A moça arfou.

 Ela nunca vira aquele rapaz na vida, mas sentia que conhecia, ou já ouvira falar dele. O que era estranho, pois ninguém tinha aquela tatuagem peculiar na parte direita de seu rosto como ele, nem os cabelos azuis tão vivos quanto os dele.

 - Quem é você? – Ela perguntou, com o rapaz já com o corpo colado no da moça, que não parava de encarar o espelho, estupefata. Não sentia ninguém atrás de si. Não sentia nenhum calor, nenhuma respiração, era como se ele existisse só naquele espelho que Lucy estava vendo. Era como se apenas ela podia ver ele.

 Ele abaixou um pouco sua cabeça, e cochichou duas palavras em seu ouvido.

 Como um choque, assim que ele acabou, Lucy sentiu sua cabeça revirar. Estava enojada, mas mesmo assim conseguiu parar de pé no outro ambiente que fora parar. Era um lugar um tanto quanto familiar. Uma sala escura, iluminada apenas pela luz de uma lareira ao canto, o que mostrava uma poltrona bem a sua frente. A moça pensou que estivesse sozinha novamente, mas dessa vez seu corpo não se movia como ela queria. Estava presa em si mesma novamente.

 Estava se forçando para mover uma de suas pernas, quando viu á sua frente todas as sombras do local se juntando, formando uma só em particular.

 - Você. – Lucy disse séria ao se reencontrar com a sombra que tinha visto há tempos. Desta vez os olhos dele estavam vermelhos como sangue.

 - Ora, ora. Então Natsu quase morreu... Que pena, não? – Ele disse com escárnio na voz. – Quase tive pena de você, Lucy Heartfilia. Quase.

 A sombra se levantou, projetando-se em uma forma masculina. Caminhou até ela em passos preguiçosos, e parou ao seu lado. Lucy não conseguia entender muito o que estava acontecendo. Estava com ânsia de vômito e sua cabeça ardia, como se seus cabelos estivessem pegando fogo.

 - Tsc. Tsc. – A sombra disse em negação. A loira viu aquele parecia achar graça de toda a situação. E sabia de tudo o que tinha acontecido, de alguma forma. – Se não estivéssemos de lados tão opostos, você poderia ser uma bela aliada. – Sentiu um frio percorrer sua bochecha quando foi tocada por ele, não sentindo a matéria em si, só uma sensação de frio e agonia.

 - Quem é voc... – Ela dizia, mas parecia não ter mais forças para pronunciar nada.

 - Se acalme, Lucy. Tudo isso é uma Visão, se lembra? – A sombra disse calmamente, mas Lucy sentiu aquela sensação em suas bochechas, como se ele estivesse acariciando-as. – Não se esqueça que o destino de todos já está escrito. Inclusive o seu. E nada que você faça vai mudar.

 E com isso, sentiu uma escuridão irromper seu olhar, e começou a se sentir sufocada. Tinha voltado á consciência do mundo real, e estava se afogando. Em um movimento rápido, voltou a superfície ofegante. Ainda estava meio tonta e sua cabeça doía. Mas ela tinha que sair dali. Descobrira uma coisa muito importante.

 Ouvira hoje mais cedo, quando estava na biblioteca, dois guardas conversando, e dizendo que o prisioneiro se negava a falar alguma coisa, e seria castigado por isso. Tudo estava se encaixando em sua cabeça.

 Se levantou da banheira e saiu correndo, se secando e colocando o primeiro vestido que viu. Foi um branco de cetim, com uma faixa violeta percorrendo a cintura. A vestimenta estava mais comprida que o normal, já que era uma peça nova e ela ainda não havia mandado para fazer os devidos ajustes em seu corpo, mas iria com ele mesmo assim. Não podia perder tempo. Tinha os cabelos ainda molhados quando saiu descalça pelos corredores limpíssimos do palácio.

 Quando estava descendo as escadas, se lembrara de um pequeno trecho da carta de sua mãe.

 “Você no futuro irá achar um homem. Um jovem cuja face está cheia de culpa e amargura, mas não o deixe cair nas profundezas. Ofereça ajuda á ele, mesmo quando ninguém mais oferecerá.”

 Só poderia ser ele. Não sabia o porquê, mas sabia que isso tinha uma conexão. Seja quem aquele homem for, ele não estava naquele castelo por acaso. Correu o mais rápido que podia, segurando a barra no vestido para não tropeçar nele, o que aconteceu uma ou duas vezes. Chegou ao Salão Principal e virou um dos corredores, esse era diferente dos outros. Tinha ainda a mesma elegância, mas era mais estreito que a maioria. Nunca havia passado por ali, e por isso sabia que estava no caminho certo, afinal, nunca fora ás masmorras.

 No final daquele corredor tinha uma porta grossa de madeira, diferente das elegantes que havia por todo o restante do castelo. Era rústica e grande. Só poderia ser ali. Tinha uma grande argola de metal presa em uma de suas extremidades. Com toda a força que ainda tinha, Lucy puxou aquilo, abrindo a porta, que rangia estridentemente, mas ela não se importava. Apesar de estar fraca e cansada, deu graças aos céus por as visões que teve não terem tirado toda sua energia, como algumas outras fizeram, a deixando apenas um pouco trêmula.

 Assim que abriu a porta por completo, viu uma grande escadaria escura de pedra, que descia para o subsolo do castelo, sendo iluminada apenas por algumas tochas pregadas na parede, mais nada. Sentiu um arrepio em sua espinha, mas mesmo daquela forma, se arriscou a descer sozinha. Degrau por degrau, ela gastou bons segundos na enorme escadaria, ouvindo barulhos de insetos correndo pelas gretas das paredes e ratos guinchando por todo lado. Mas por fim, chegou a um corredor, onde as paredes eram todas de grades, e ela conseguia ouvir pessoas roncando.

 Estava tremendo muito quando atravessou aquele lugar. Suas mãos estavam geladas e ela estava começando a se arrepender por agir tão impulsivamente quanto agiu naquela noite. Mas agora não poderia recuar.

 - Ei. Psiu. – Ela ouviu alguém sussurrando para ela, olhou de canto de olho e era um senhor. Tinha uma cicatriz em seu rosto, mas que não escondia o olhar faminto e malicioso em cima da loira, que com aquele vestido parecia mais um anjo. – Vem aqui, gracinha. Estou faminto... Venha aqui cuidar de mim, vem. – Ele repetia aquilo. A loira apenas prosseguia, não olhando para os lados, sentindo um suor gelado correr pelas suas costas.

 A loira então viu dois guardas no final do corredor e correu até eles.

 - Ei! – Ela chamou a atenção dos homens, que se viraram prontos para ataca-la com as lanças em suas mãos. Porém assim que viram quem era, recuaram, confusos. – Calma, homens.

 - Srta. Heartfilia? – Eles perguntaram. – O que fazes aqui sozinha? Isso não é um lugar para uma moça como a senhora...

 - Escutem bem. Não vim aqui á toa. Preciso conversar com o prisioneiro de guerra que trouxeram de sua missão á Floresta Leste. Eu preciso vê-lo urgentemente.

 - Sinto muito. Não estamos autorizados a deixar ninguém entrar. – Um deles disse com convicção. A loira suspirou.

 - Escutem bem. Se o rei descobrir que não me deixaram ver o prisioneiro, irão acertar as contas com ele. Querem deixar Vossa Majestade furioso, depois de tudo o que aconteceu com o príncipe Natsu? – Lucy perguntou colocando suas mãos na cintura, tentando parecer forte e decidida. Os dois negaram prontamente. – Bem... Então me deixem falar com ele rapidamente. Eu prometo que não farei mais nada do que olhar no rosto daquele miserável.

 Eles se entreolharam, e depois guiaram a moça por outro corredor, ainda mais estreito que o anterior. Pararam mais ou menos no meio, e um deles tirou um bolo de chaves de um dos bolsos e abriu a cela. Depois disso deram passagem para a loira entrar.

 - Ele está acorrentado, então não há perigo algum. – Um deles falou para Lucy, quando a loira já estava na porta.

 - Ah. Antes que eu me esqueça... – A moça se virou para os dois. – Acho que não seria muito conveniente incomodar o rei com um assunto tão fútil como esse, certo rapazes? Ele já está com tantos problemas... E não me demorarei, eu prometo. – Ela disse com toda a doçura que podia, e os homens acabaram concordando. Afinal, quem não concordaria com uma Lucy Heartfilia fazendo charme?

 Respirou fundo e adentrou na cela. Era toda feita de pedra, e o chão parecia estar úmido, de tão gelado que estava. Não tinha nenhuma iluminação ali como janelas. Conseguia enxergar o caminho por conta de duas tochas colocadas nas paredes laterais da cela.

 E ali ela o viu. Estava todo algemado, e suas roupas pareciam ter sido rasgadas, o deixando com uma aparência moribunda, fora os cabelos e rosto, que estavam machucados e sujos. Tinha correntes presas nas duas paredes ao lado dele e na de trás. Uma estava prendendo seus dois pés, o deixando de joelhos, e as outras prendiam suas mãos, cada uma prendia uma mão, deixando-as elevadas do corpo. Ele estava totalmente imobilizado.

 A loira se aproximou devagar do corpo, o que não via seu rosto ainda, pois ele estava com o mesmo abaixado, como se já estivesse cansado de sustentar seu próprio peso e estivesse entregue ao que vier. Olhou mais atentamente suas mãos, e elas estavam sangrando, e as algemas também não ajudavam muito. Seu peitoral exposto estava sangrando em algumas partes, e ele tremia de frio. Sua perna parecia estar bem pior, com um ferimento aberto e um curativo muito mal feito, e não parecia ser muito recente. Ele estava sofrendo com essa ferida há um tempo.

 Mesmo sabendo que ele era um inimigo, e que por conta dele, ou pelo menos dos soldados dele Natsu quase morrera, sentira um pouco de dó dele. Era seu fraco. Não conseguia ver pessoas boas sofrendo. Mas ele não era uma pessoa boa, era? Bem, era isso que ela ia descobrir.

 Se ajoelhou, ficando apenas um pouco mais baixa que ele, e, suavemente, tocou em seus cabelos , que, ao tirar um pouco do barro e do sangue, viu que eram azuis. Ele recuou um pouco, mas parecia fraco, e não entendia o que estava acontecendo.

 - Fique tranquilo. Eu não vou te machucar. – Ela dizia com uma voz doce para ele, acariciando seus cabelos com suavidade. Tentava ignorar os pensamentos que levava ela á conclusões como ele ser um bandido e um assassino. Estava curiosa sobre ele, e iria ajuda-lo, se sua intuição, e a carta de sua mãe, estiverem certas.

 - Quem é você? – Ao contrário de seu corpo ferido, sua voz passava muita vivacidade e segurança, porém estava mais rouco que o normal.

 - Meu nome é Lucy.

 - Não irei dizer nada. Nem que me matem. Não posso dizer nada. – Ele começou a se mexer mais do que o normal. Lucy tentou acalmá-lo.

 - Ei. Ei. Não vim aqui te perguntar nada. Vim apenas te conhecer. E eu sei o seu nome, mesmo que não tenha me contado.

 - Como?

 - Eu tenho um dom. E ele me revelou o seu nome. Não vim assustá-lo, apenas vim vê-lo. Já tive uma visão com você, mas somente agora posso realmente ver quem você é... Jellal Fernandes. – Lucy disse levantando com delicadeza a cabeça do rapaz, deixando que a luz das chamas vermelhas das tochas beijassem sua marca no rosto com intensidade, mesmo com a sujeira, ela sabia que ela estava ali.

 E ele chegara ao castelo, como estava previsto.

 Lucy teria que protege-lo, mesmo que isso fosse ser a coisa mais difícil que ela já tenha feito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Até o próximo!!