Kings And Queens escrita por Nina Black


Capítulo 43
Chapter 41 - Orações Nunca Foram Tão Bem-Vindas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora e não poder responder os comentários do capitulo passado!! Juro que tentarei ser mais... Organizada kkkkk
Aproveitem o capitulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/689084/chapter/43

 Natsu nunca sentiu tanta dor igual aquele momento.

 Seu corpo não respondia seus movimentos, e ele não enxergava nada nítido, e fora a dor excruciante em seu peito. Toda vez que respirava, sentia cheiro de sangue e tinha um gosto metálico absurdo em sua boca.

 Tentava chamar por seu pai, mas nada saía de sua boca a não ser gemidos altos de dor. Sentiu seu corpo extremamente quente, de um jeito que incomodava até o mesmo, que nunca tinha tido problemas com o calor. Mas aquele definitivamente não era o momento para pensar em tal coisa.

 - Natsu! – Ele ouviu uma voz abafada. Não conseguia distinguir quem era.

 - O ajudem! – Ouviu-se outro grito. Um borrão vermelho apareceu em sua visão, e até mesmo naquela situação ele conseguia saber que era sua grande amiga Erza.

 Não sabia quanto tempo havia passado, perdera a noção do tempo e de espaço. Mas não conseguia mais ouvir a voz dos gritos inimigos, nem do choque de espadas. Conseguia ouvir barulhos de pessoas comemorando, mas depois falas preocupadas e murmúrios tristes. Não estava entendendo muita coisa, mas estava desesperado. Não sentia seu corpo, estava doendo demais. Pensou que iria morrer ali mesmo. Tentou ao máximo ficar são.

 Erza se ajoelhou ao lado do amigo, e levantou levemente seu pescoço com a mão, como forma de ele conseguir respirar melhor.

 - Natsu, por favor! – Ela chorava desesperada, e suas mãos tremiam descontroladamente e estava extremamente gelada. – Por favor, não!

 - Filho! – Ouviu a voz de Igneel perto de si, e logo depois sentiu que estava sendo levantado. O rei atravessou um braço de Natsu pelas suas costas, e Silver Fullbuster fez o mesmo, porém do outro lado.

 - Vamos sair daqui! – Igneel gritou para todos os guardas, com uma voz desesperada.

 Depois disso, o príncipe apagou. Não sabia como havia saído dali, nem onde estavam. Conseguia ouvir passos rápidos, e Silver trocando poucas palavras com Igneel, palavras como “rápido” e “primeiro”. Ouvia passos atrás de si, mas não sabia identificar quem era.

 - Argh! – O rapaz gritou de dor ao sentir uma pontada aguda em seu peito.

 - Ele está perdendo muito sangue! – Ouviu Silver dizer preocupadíssimo.

 Bem, o que acontecera, e o que o jovem príncipe á beira da morte não sabia, era que Igneel e Silver estavam o carregando até a clareira, onde seu acampamento estava montado. Lá se encontrava Grandine, a médica real. Ela teria que salvar Natsu a qualquer custo, o que naquela hora seria um milagre.

 O rei colocou seu filho em suas costas, não se importando que estava se encharcando do sangue que saia pelo corte feio e profundo do peito de Natsu, e pôs-se a correr com o cavalo o mais rápido que podia.

 - Natsu! Aguente firme, filho! – Ele gritou para o jovem com a voz embargada. O príncipe tentava resistir, tentava respirar e se controlar, mas era praticamente impossível, lágrimas de dor desciam á medida que o rapaz tentava respirar, mas conseguia pouco ar. Natsu estava morrendo.

 Correu o máximo que podia. Não se importou se estava forçando demais o cavalo que pegara, apenas queria que Natsu sobrevivesse. Chegou ao acampamento com metade do tempo que levaria em uma cavalgada normal.

 - Grandine! – Ele gritou para a mulher, que tomava conta do acampamento. – Grandine!

 Ela saiu de sua cabana correndo, tentando ver o que estava acontecendo. Assim que viu o estado deplorável de Natsu, se assustou.

 - Meu Deus, Igneel! Traga-o para cá! – Ela disse apontando para uma grande cabana. – Logo!

 O homem pegou seu filho, já desacordado no colo e saiu correndo com ele, enquanto chamava incessantemente pelo nome do rapaz, como forma de mantê-lo acordado.

 A cabana onde Grandine já estava o esperando era um pouco maior que as outras, com umas cobertas no centro, e em volta, vários baús contendo diferentes tipos de plantas frescas e remédios já prontos.

 Igneel colocou o jovem em cima das cobertas e se ajoelhou ao seu lado, enquanto a mulher preparava uma mistura de plantas e óleos do outro, numa rapidez espantável.

 - Segure-o. – Ela disse ao rei informalmente. Aquele não era o momento para se lembrar de prestar respeito á Majestade, quando nem mesmo ele estava se importando com isso. Assim Igneel fez. Grandine pegou a mistura lamacenta que tinha preparado e colocou em volta do machucado. Não fez o efeito que tinha que fazer, por conta da grande quantidade de sangue em volta, mas fez Natsu gritar e se contorcer de dor.

 - O que você fez? – O rei perguntou assustado com a reação do filho.

 - Coloquei isso para não causar infecções no caminho para o palácio. – Ela disse colocando mais um pouco do conteúdo. Igneel olhou desesperado para ela. – O que? Acha mesmo que vou conseguir fazer alguma coisa aqui, nesta cabana? Isso é perigoso até mesmo para ele. – Ela perguntou pegando um frasco de vidro com um líquido cor de rosa de um dos baús, e derramou sobre a ferida, o que fez o príncipe, mesmo com os olhos fechados, derramar lágrimas.

 Um grito sufocou sua garganta, mas ele não o fez, não porque não queria, mas não conseguia mais gritar. Grandine o olhou preocupada.

 – Ele está ficando sem forças... Igneel, ouça-me. Esse líquido que coloquei em sua ferida vai estancar bastante o sangramento, mas o corte é muito profundo e ele já perdeu muito sangue... Precisa leva-lo ao castelo. Lá, deixei a enfermaria real sob os cuidados de minha irmã Porlyusica. Ela é uma excelente médica. Leve-o até ela se quer que ele tenha um suspiro de vida a mais! Não posso fazer nada aqui, não com esse tipo de corte. Eu...

 Nesse momento, alguém irrompeu a cabana. Era Silver Fullbuster, e estava todo suado e ofegante, carregava uma tocha consigo, iluminando mais ainda o local, já que estava de madrugada. Grandine fez um curativo muito rápido, porém bem fimre no peito de Natsu. Não iria funcionar completamente, mas já adiantaria alguma coisa.

 - Igneel! – O moreno disse colocando uma mão no ombro do amigo. – Eu não quero te dizer isso, mas... – Nesse meio tempo, Gray, que já havia sabido da triste notícia, e mal acreditara no que ouviu, e Erza, que estava toda descabelada e suada, apareceram na tenda. – O senhor tem que ficar aqui.

 A moça colocou uma mão na boca ao ver o seu amigo de infância desacordado daquela forma. O jovem, filho do General parecia estar vendo uma cena de um filme de terror.

 - Natsu! – Gray gritou, se ajoelhando aos pés do amigo. – Não acredito... – Ele disse se engasgando com as próprias palavras.

 Era difícil demais ver seu melhor amigo, com que praticamente nasceu e cresceu junto á ele, naquele estado, atravessando o véu da morte.

 - Eu tenho que ir, Silver. – Igneel disse aos prantos. – Meu filho pode morrer! – Ele estourou. Ninguém contradiria sua atitude, afinal, o homem amava muito seu filho, e não poderia perder mais uma pessoa importante em sua vida, não daquela forma.

 - Os soldados... Eles precisam de você. Nós precisamos de você, meu rei. – Silver disse chorando também. Tudo estava acontecendo muito rápido para todos, e isso acarretou um desespero geral sobre o que aconteceria em seguida.

 Nisso, Gray se levantou, e olhou para Erza. Em apenas um olhar, já bolaram um plano. E esse plano não iria falhar.

 - Eu o levarei. – O moreno disse para os dois homens e para Grandine. – Eu o levarei para o palácio o mais rápido que eu puder, nem que eu tenha que o carregar em minhas próprias costas!

 Igneel olhou para o jovem, e então para Silver, que concordou com a cabeça. Os dois confiavam em Gray, e mais ainda, sabiam que Natsu confiava cegamente nele. Essa era a solução. Era a única solução.

 - Que seja feito isso, então. – O rei se levantou. – Me ajude a pegá-lo.

 Gray atravessou um braço de Natsu em seus ombros, e Igneel o pegou do outro lado.

 O levaram para fora da tenda, onde todos os soldados, Lyon, Weisslogia, Skiadrum e Ur estavam lá, apreensivos. Assim que viram o estado do príncipe, ficaram ainda mais assustados.

 Gray e Igneel o colocaram atrás de cela do cavalo mais rápido e forte que havia lá, que era o do General, Silver Fullbuster. Gray montou no animal, e se preparou para partir.

 - Eu irei também! – Erza disse se aproximando do cavalo, já montada em sua égua branca, preparada para correr. – Irei garantir que os dois chegarão a salvo em Magnolia, Majestade. É uma promessa.

 Gray puxou o corpo de Natsu, a fim de não deixa-lo cair, e sentiu o peso do corpo do amigo em suas costas. O rosado já estava desacordado, e parecia que não acordaria por um tempo, suspirando descontroladamente e soltando dolorosos gemidos de vez em quando, e isso era ruim, muito ruim.

 - Gray, escute bem. – Igneel disse perto do moreno. – O que você está levando consigo é a coisa mais importante pra mim. Por favor, eu lhe imploro, salve o meu filho!

 Gray encarou o rei estupefato. Nunca vira o homem tão alterado e assustado. Normalmente ele sabia de todas as possibilidades que poderiam acontecer em uma batalha, e tinha certeza que ele calculava todas minuciosamente. Mas claro que a possível morte de seu filho nunca era cogitada por ele.

 O moreno apenas concordou com a cabeça e colocou o cavalo para correr no meio da noite, com Erza atrás dele, segurando um candeeiro para iluminar a estrada. E assim, os três sumiram na escuridão em questão de segundos.

 Igneel estava muito inquieto. Queria partir dali logo e ir ver seu filho. Não tinha a menos ideia do que poderia acontecer nesse meio tempo em que os dois estavam afastados. Silver caminhou até o homem, que foi notar sua presença apenas quando ele já estava cutucando seu ombro.

 - Meu amigo. Natsu irá ficar bem. Peço que confie em meu filho. – Ele falou e abraçou o rei, que estava mais perdido do que nunca. – Mas agora, preciso lhe dizer que alguns de nossos soldados estão bastante feridos, e que precisam de ajuda médica.

 - Eu os ajudarei. – Grandine disse saindo da tenda. Igneel percebeu que seu vestido branco estava com manchas vermelhas, assim como suas mãos. Era o sangue de Natsu. – Ordene á eles que venham até aqui, assim cuidarei de todos que puder, até o dia amanhecer, e assim partiremos.

 - Vocês ouviram Grandine! – Silver gritou para os guardas reais. – Todos os que precisarem de cuidados médicos se dirijam á tenda de Grandine agora!

 E assim se fez. Todos que estavam com algum membro machucado, ou deslocado, ou sangravam por alguma parte, fizeram uma fila desorganizada em frente á cabana, esperando por sua vez.

 Igneel ainda estava com o coração na boca. Não conseguia se concentrar em nada. Ur olhou desconfiada para ele. Precisava conversar com o rei, mas achava que aquela não era a ocasião mais apropriada.

 - Outra coisa, Igneel. – Silver chamou o amigo de novo. – Skiadrum e Gray capturaram um fugitivo.

 - Um fugitivo? – O rei arqueou uma sobrancelha. – Bem, o amarrem e coloquem em cima de nossa carruagem. Sem comida nem bebida. Levaremos ele até o castelo para interrogatório. É um dos soldados?

 - Não. Era a espécie de conselheiro daquele homem, que parecia ser o chefe do castelo. Ele vai nos dar respostas.

 - Ah, o jovem metido á besta. – Igneel sorriu com sarcasmo. Não estava para brincadeiras naquele momento. – Faça o que eu mandei. Partiremos ao amanhecer. E lembre-se, sem água, nem comida. E se ele resmungar ou ficar muito agitado, sabe o que fazer.

 - Sim, Igneel. – Silver se retirou rapidamente, e ordenou que dois soldados que ainda estavam bem fizessem o que o rei pedira.

 Quando estava ali, sozinho, deixou-se derramar a última lágrima aquele dia.

 “Me desculpe, Ayumi. Eu não consegui proteger nosso filho dessa vez.”— Ele pensou, imaginando a figura de sua amada esposa e em Natsu, fruto de seu amor. – “Por que não está aqui quando preciso de você mais do que nunca?”

~~~~~~~~~~ No dia seguinte~~~~~~~~~~

 Lucy não estava conseguindo dormir bem. Desde que tivera aquela visão, tinha certeza que alguma coisa muito ruim aconteceu, e a agoniava ainda mais não ter notícias de ninguém.

 Tentou se concentrar em ler livros que Aquarius a mandava, ou treinar um pouco com Mirajane. Já tinha evoluído bastante em sua capacidade de luta e tinha aumentado sua resistência física. Mas nada tirava aquele mal estar em seu corpo. Era um frio na barriga indescritível.

 “Tudo vai ficar bem, Lucy.”— Ela se repreendeu. – “Natsu e os outros vão voltar, e tudo vai ficar bem.”

 Achava que o que sentia por Natsu era apenas um sentimento de carinho imenso, que mais tarde se transformaria em amor. Achava que era uma coisa simples. Mas não. Era amor, intenso e avassalador, que chega devagar, e quando vê já te derruba. E nenhum tipo de amor é uma coisa simples. Está muito longe de ser uma coisa simples.

 Sentia a fundo a ausência dele naquele castelo. Tinha saudade de ouvir sua risada e suas palavras engraçadas as crianças dali. Até mesmo das brigas do rosado com Gray de vez em quando ela sentia falta.

 Mas pelo que estava por vir ela não esperava. Não estava preparada quando ouviu a voz desesperada de Erza gritando com todo o ar de seu pulmão por ajuda pelos corredores.

 Estava sentada em um dos sofás de uma das grandes salas de visitas, conversando com Eva Evergreen, quando ouviu o estardalhaço. Seu coração se apertou.

 - Mas já chegaram? – Evergreen perguntou curiosa abrindo a porta, dando de cara com uma ruiva toda suja e com olheiras debaixo dos olhos, e um olhar preocupado. – Erza! O que aconteceu?!

 - É o Natsu, ele está morrendo! Me ajudem a achar Porlyusica! – Ela disse voltando a correr e a gritar o nome da mulher. Evergreen foi atrás da ruiva, a ajudando, mas Lucy, irremediavelmente, foi para o lado oposto. Estava com medo do que estava para ver, mas precisava encarar.

 “Não é possível! Natsu? Mas minha visão foi o rei morrendo, e não Natsu?! O que aconteceu?!” — Seu cérebro entrou em colapso, e ela se pôs a chorar. No caminho para a enfermaria, que julgou que o príncipe estaria lá, topou de cara com Juvia.

 - Lucy! O que aconteceu? – Ela perguntou segurando nos ombros da jovem. Havia acabado de sair da biblioteca, então não ouviu nem viu Erza.

 - É o Natsu... – Ela disse em prantos. – Alguma coisa aconteceu com ele... Preciso vê-lo.

 - Vamos. Vou com você. – A azulada segurou na mão de sua nova amiga e a guiou rapidamente através dos corredores até a enfermaria, tentando ajudar Lucy. Não podia deixa-la ir sozinha naquele estado. E pelo que entendeu, imaginou que uma coisa muito grave poderia ter acontecido.

 Assim que chegaram na enfermaria, encontraram Gray sentado em uma poltrona, ao lado de uma cama, que estava coberta por uma cortina.

 - Gray? – Juvia perguntou imaginando o que seu mais novo marido estaria fazendo ali.

 - Juvia? – Ele perguntou para a moça, a encarando como se fosse uma miragem. Percebeu que o moreno estava com uma aparência muito cansada, mas parecia estar preparado para qualquer coisa. A azulada ficou preocupada com isso.

 - O que aconteceu? – Ela perguntou se aproximando mais do rapaz, e assim também Lucy. Colocou uma de suas mãos no ombro do rapaz. Viu que sua camisa estava encharcada de sangue nas costas, mas não parecia ser dele.

 - Encontramos o covil deles... Mas... Natsu foi... – Ele não terminou. Lucy abriu a cortina da cama, revelando um Natsu completamente desacordado e muito, muito pálido, porém com uma gigantesca mancha vermelha manchando quase todo o seu corpo. – Estávamos lutando, e isso aconteceu... – Gray completou com dor na voz.

 Lucy ficara parada ali, na frente dele, o olhando completamente pasma. Não acreditava em seus olhos. Era um pesadelo que estava presa.

 - N-Natsu... – Ela disse caminhando lentamente até o corpo, que um dia brilhava com os raios de Sol, e naquele momento estava custando respirar. – O que fizeram com você... – Ela sussurrou, sem forças para gritar, ou chorar.

 Se sentou ao lado da cama, pegando na mão, que antes era extremante quente, como uma fogueira trepidando, mas agora mais parecia uma vela prestes a se apagar. A colocou em seu peito, a beijando em seguida. A apertou contra si. Não acreditava naquilo. Não poderia ser verdade. Lágrimas corriam incessantemente, e seu coração doía muito.

 - Isso não pode ter acontecido... – Juvia disse pasma, ficando mais pálida que o normal ao encontrar o curativo, já vermelho de sangue, no peito do jovem.

Nisso, as portas da enfermaria foram abertas, e Lisanna e Mirajane Strauss apareceram. Estavam ofegantes e com o olhar assustado.

 - Não... – Mirajane gemeu de tristeza quando seus olhos azuis encontraram o corpo de Natsu, enchendo de lágrimas logo em seguida. – Natsu, não...

 - Natsu! – Lisanna gritou, apavorada, correndo até a cama. Seu coração quase saltara da boca. Estava totalmente desesperada. – Por favor... Que isso não seja verdade! – Ela se ajoelhou aos pés da cama, não tendo mais forças para se levantar.

 Mas não é para menos. Ver o grande amor da sua vida morrendo na frente de seus olhos pode ser uma visão infernal. E tanto Lucy quanto Lisanna sabiam muito bem disso.

 Mirajane se aproximou, com lágrimas molhando seu rosto. Lucy apertou mais ainda o braço do jovem contra si.

 - Como isso aconteceu...? – Ela perguntou em meio aos soluços, tocando levemente os cabelos de Natsu, que pareciam estar até mais desbotados. Ela olhou para Gray, que encarava fixamente o corpo de Natsu com culpa no olhar. Mas também com cansaço. Parecia que toda aquela coragem dele desaparecera, restando apenas a exaustão em seu corpo. – Gray... Você...

 - Eu estou bem... – Ele disse tristemente.

 Juvia interviu, ficando ao lado do moreno.

 - Ele esta cansado demais. – Ela disse preocupada olhando para o esposo, que não mexeu um músculo sequer.

 Ouviram as portas da enfermaria sendo abertas novamente, e desta vez, vinha Erza e uma mulher de aparência muito semelhante á de Grandine, porém seu olhar era muito mais carrancudo e ignorante do que a da médica real.

 - O que me fez sair do meu chá da tarde?! – Ela perguntou resmungona se aproximando. Quando viu o estado do Dragneel, seu olhar se assustou um pouco, mas logo depois voltou a ser fechado como de costume.

 - Quem é você? – Juvia perguntou.

 - Meu nome é Porlyusica. Sou irmã gêmea de Grandine e também sou médica. Agora, me deem licença, deixem-me sozinha com ele. – Ela disse espantando todos, que foram embora aos poucos. Lucy foi a que se demorou mais para sair. Não queria ter que deixa-lo mais uma vez, e Natsu só piorava cada vez mais. No fim, a médica ficara com um pingo de pena da moça, que chorava incessantemente, e permitiu que ela e Gray ficassem.

 Os dois tomaram uma distância razoavelmente boa, dando espaço para Porlyusica trabalhar. Ela retirou o curativo e fez uma careta.

 - Meu Deus... Você tem muita sorte que não morreu na hora, garoto... – Ela resmungou. – Passou a centímetros do coração... Mas não o atingiu. Em compensação, é um corte muito feio. – Ela se virou para Gray. – Quanto tempo faz desde que ele foi atingido?

 - Umas oito horas, eu acho. – O moreno disse sem emoção. Mesmo com várias coisas passando em sua mente, e muito preocupada com Natsu, Lucy conseguiu perceber que Gray não estava bem também. – Ele veio cavalgando durante umas seis, sete horas. Tentei vir o mais rápido que pude.

 A velha arregalou os olhos.

 - Ele está sangrando há oito horas?! Ele é muito forte... – Ela comentou examinando de novo o machucado.

 - O que quer dizer com isso? – Lucy perguntou.

 - Que era pra ele já estar morto.

 Os dois jovens engoliram em seco.

 - Cuide dele, por favor... – Gray disse tenso. – Ele não pode morrer.

 - E eu irei dar meu máximo. Mas não sou uma milagreira, sou uma médica. Ele está mais morto do que vivo nessa cama. Não estou dizendo o pior, mas sim para se prepararem, pois talvez seja inevitável. – Porlyusica disse pegando um pedaço de pano e molhando em uma tigela de água ali perto e limpando todo o sangue, depois de rasgar a camisa que Natsu estava usando e tirá-la de seu corpo, vendo o quão pálido ele estava. – Meu Deus, como ele está imundo... E pálido.

 Depois de ter limpado, aplicou uma pomada em volta, para não ter contato com nenhum tipo de bactéria. Lucy encarava tudo com atenção, na expectativa de Natsu voltar a abrir os olhos novamente.

 - Irei ter que cuidar de tecido por tecido... E isso pode demorar... – Ela começou a resmungar nomes de plantas e antídotos que Lucy nunca ouvira falar na vida. Logo depois ela se virou para os dois. – Pronto. Já viram que ele ainda está vivo, então, saiam daqui e me deixem trabalhar em silêncio!

 E com apenas essa única bronca, os dois saíram da enfermaria.

 Lucy estava desolada. Não sabia o que fazer, e sua barriga estava doendo muito, como se fosse colocar todo o chá que tomara agora a pouco com Evergreen para fora de uma vez. Assim que apareceram na porta, viram que todos estavam ali, procurando por respostas.

 Lucy apenas olhou para todos. Elfman, Lisanna, Mirajane, Erza, Juvia, Laxus, Evergreen, Freed, Bickslow e até mesmo o pequeno Romeo estava lá no meio, abraçado e chorando nas pernas de Mirajane, que afagava sua cabeça, tentando consolá-lo.

 - E aí? – Laxus perguntou claramente preocupado.

 - Porlyusica disse que o machucado é muito profundo... Mas vai fazer o possível para ajuda-lo. Mas ele não acordou... Nem com os remédios que ela colocara na ferida... Ele não fez nenhum movimento... – E nisso se destampou a chorar novamente. Seu desespero tinha chegado ao seu ápice. Não conseguia pensar direito. Evergreen foi até a moça e a abraçou, tentando consola-la.

 Gray ficara maior parte do tempo de cabeça baixa. Ninguém ousava dirigir uma palavra sequer ao rapaz. Todos ali sabiam que os dois eram melhores amigos, e estava sendo muito doloroso pra Gray ver Natsu morrendo daquela forma, lenta e dolorosamente. Saiu andando até seu quarto, não olhando para ninguém, nem chamando ninguém.

 Mas também, nenhum deles havia notado que ele tinha sumido, todos estavam preocupados em saber mais notícias sobre Natsu.

 Todos exceto uma pessoa.

Certa mulher de cabelos azuis.

~~~~~~~~~~

 Juvia achava que era hoje que Gray iria mata-la, ou que se separaria dela, mas não se importava com o que ele poderia dizer. Estava muito preocupada com o que o moreno estava sentindo. Sentia que alguma coisa não estava certa, e iria até o fim para saber o que havia acontecido.

 Viu que Gray entrara em seu quarto, sem perceber que a azulada estava o seguindo discretamente, e deixara a porta entreaberta. Juvia caminhou até ela e a abriu mais um pouco, sendo possível para que ela passasse e entrasse pelo local lentamente.

 O cômodo estava iluminado pelas luzes dos candelabros no teto, e as cortinas estavam fechadas, apesar do dia lindo que fazia lá fora. Ela fechou a porta atrás de si em um ruído baixo e rápido, porém audível o suficiente para ele perceber que ela estava ali.

 O Fullbuster se encontrava sentando na ponta de sua cama, com as costas um pouco curvadas, encarando os próprios pés.

 - Não quero falar com ninguém. Saia. – Ele disse para quem quer que estivesse na porta. Não queria ser perturbado com absolutamente nada naquele dia, apenas com notícias de Natsu.

 Juvia ignorou a atitude dele. Afinal, já era de se esperar do homem de gelo chamado Gray Fullbuster. Caminhou lentamente até ele e se ajoelhou no chão, na sua frente, deixando que seu vestido de seda roxa se espalhasse pelo carpete, o cobrindo por inteiro.

 O moreno encarou os olhos azuis da azulada por um bom tempo, e depois voltou a olhar para baixo. Juvia não fazia ideia do que se passava na cabeça dele.

 - O que você quer? – Ele perguntou em um sussurro. A moça se levantou.

 - Seu braço.

 - O que?

 - Seu braço. Ele está machucado. – Ela disse indo até o banheiro do rapaz, e depois de alguns segundos viu que ela razia consigo uma bandeja de prata com curativos limpos.

 Gray olhou para seu antebraço direito, e viu que sua manga estava ensanguentada. Não estava sentindo nenhuma dor, devido á alta adrenalina que tinha passado horas atrás.

 A moça se sentou ao lado dele, tentando evitar sentir medo do olhar frio de Gray sobre si. Mas ao contrário do que ela poderia ter imaginado, ele deixou que ela cuidasse de seu ferimento, porém sem pronunciar uma única palavra.

 Cortou a manga com uma tesoura de prata, e desinfetou a área, logo depois começou a trabalhar em enfaixar aquela área.

 Gray estava com o olhar vago, perdido em pensamentos que Juvia não soube dizer o que era exatamente. Ele se culpava por não ter chegado ainda mais rápido. Culpava-se por não ter protegido Natsu quando realmente deveria. Nem ao menos reclamou da dor quando a mulher encostou um pedaço de algodão molhado em álcool em sua pele ferida.

 Assim que terminou o curativo, colocou a bandeja de um lado e ficou ali, ao lado do rapaz, não sabendo ao certo se deveria dizer alguma coisa. Mas pensava que ele não poderia ficar ali sozinho se culpando.

 Depois de alguns poucos minutos, Gray levantou seu olhar para a moça.

 - Você não vai sair daqui, não é? – Ele perguntou.

 - Não. – Ela apenas respondeu isso. – Não enquanto não me disser o que te corrói por dentro. Consigo perceber isso em seu olhar.

 Juvia estava nervosa em falar aquilo, não sabia da reação de Gray. O rapaz olhou para as mãos pálidas da azulada, e viu o anel de ouro brilhando timidamente e seu dedo. Ela realmente estava usando a aliança. Olhou para sua mão esquerda, e viu que o anel idêntico ao de Juvia também estava ali. Suspirou, e, por alguma razão, achou que devia isso á ela. Não queria preocupa-la ainda mais.

 - Eu poderia estar lá com ele. Eu poderia ter visto aquele desgraçado antes dele, e ter matado ele antes de tudo isso acontecer... Eu poderia... – E ele se desabou em lágrimas. Percebeu que era um peso enorme que estava o esmagando.

 - Gray... – Juvia disse com pena do rapaz. Delicadamente colocou sua mão no rosto dele. Porém não imaginou que o jovem, chorando como uma criança, iria buscar conforto em seus braços, encaixando sua cabeça na curva do pescoço da jovem. Juvia o apertou mais contra si.

 Sentia que ele precisava disso. Precisava de um abraço e precisava descarregar tudo aquilo que o sufocava. Era muita coisa para apenas uma pessoa carregar. Ele molhava a pele pálida e alva da mulher, mas nenhum dos dois se importava. Ela apenas queria que Gray se sentisse melhor.

 - Quero que se lembre de que não é sua culpa. Você fez o que pôde, independentemente de Natsu ficar bem ou não. – Ela sussurrou em seu ouvido.

 - Não...

 - Não é sua culpa, Gray. Não é. – Ela falou antes mesmo que o rapaz dissesse alguma coisa. – Natsu tem muita sorte de te ter como amigo. Você o salvou.

 De cabeça baixa, o rapaz se desfez do abraço da azulada. Juvia sentiu que era hora de ele ficar sozinho um pouco. Se levantou devagar e o ajudou a se deitar na cama.

 - Descanse um pouco. – Ela disse baixinho, o cobrindo em seguida. – Qualquer coisa que acontecer com Natsu, eu prometo que irei correr até aqui para lhe acordar. Mas, enquanto isso, durma.

 Caminhou até a porta do quarto em silêncio, percebendo que o rapaz não dissera nada, porém parou assim que ouviu a voz dele.

 - Ei, Juvia... Obrigado.

 - Eu não estou fazendo mais do que deveria por você. – Ela disse e, se o rapaz pudesse enxergar o rosto dela na porta, veria um discreto e singelo sorriso em seu rosto.

 E saiu do quarto, fechando a porta e deixando Gray no escuro.

~~~~~~~~~~

 Já de noite, logo depois do jantar ser servido, ao qual ninguém compareceu, todos ouviram um tumulto no pátio de frente ao palácio. Lucy estava no corredor, de frente á enfermaria, esperando á horas por alguma notícia, mas Porlyusica não dera as caras ali. Estava há cinco horas cuidando de Natsu.

 Lisanna e Erza também se encontravam ali com a loira. A albina já havia melhorado um pouco, mas ainda chorava de vez em quando, e Mirajane ajudou Erza a tomar um banho depois que Gray e Juvia sumiram, vendo que a ruiva estava muito fraca e debilitada. Depois disso, as três ficaram ali, esperando por alguma luz.

 Ao ouvir o barulho no pátio, Lisanna olhou pela janela.

 - O rei chegou. – Ela avisou as três, que apenas levantaram a cabeça.

 Minutos depois, Igneel, Skiadrum e Weisslogia aparecem correndo pelos corredores, ofegantes e com cara de dor.

 - Onde está Natsu? – Igneel perguntou para Erza, que era a que estava mais próxima dos três.

 - Ele está na enfermaria com Porlyusica desde que chegamos, Majestade. – Ela falou com a voz cansada.

 O rei olhou para seus companheiros, que estavam cansados demais para falar alguma coisa, e depois encarou a porta. Decidiu entrar, sem nem bater. E o silêncio voltou.

 Lucy estava mais ao fundo. Já estava cansada de ficar ali, de pé. Não estava com fome, nem tomara banho ainda. Não queria sair dali. Não era que queria ser a primeira, não queria ter que acontecer nada para ser a primeira a saber. Sentia um pouco de frio, e se lembrou que não trouxera casaco.

 Weisslogia e Skiadrum disseram em poucas palavras que iriam se retirar, cada um para seu quarto, mas avisaram que se qualquer coisa acontecesse, era para chama-los.

 Lucy não queria chamar ninguém. Apenas queria ver Natsu acordar novamente. Era isso o que ela mais queria.

 Silver apareceu no começo do corredor, juntamente com Ur ao seu lado, procurando por Gray. Não vira seu filho desde que chegara.

 - Ele saiu e foi para seu quarto. – Erza avisou ao homem.

 - Ah. – Ele suspirou. – Bem... Então acho que irei me retirar também. – Ele disse com tristeza na voz.

 Orar nunca foi de muito feitio para algumas pessoas naquele castelo, nem mesmo para o rei Igneel. Porém todos, nem que fora por um segundo, ou até menos que isso, fizeram alguma prece silenciosa, de coração, para, sabe-se quem ou o quê estivesse ouvindo, atendesse o pedido de todos e fizesse Natsu ficar bem.

 Isso sim seria um milagre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até o próximo!
PS: muito obrigada a SAlucardcstlS por recomendar a fanfic!!! Muito obrigada mesmo!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kings And Queens" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.