- E isso é o que acontece quando vocês não sabem lutar direito. – Lyon disse assim que embainhou sua espada novamente em seu cinto.

 Ele e Gray Fullbuster haviam acabado de derrotar Nullpudding e Kurohebi, que entraram em seu caminho tentando impedi-los de prosseguir, sabe-se lá o porquê.

 - Vamos, Lyon. Temos que seguir em frente. – O moreno disse alcançando os cavalos dos dois e montando no seu, começando a trotar logo em seguida, deixando dois corpos desacordados em um canto na rua.

 - Para onde vamos? – O rapaz de cabelos brancos perguntou. – Gray! Acho que não é uma boa ideia irmos por ali! – Ele apontou para o horizonte da direção que os cavalos estavam indo. – O céu está caindo ali de tanto chover!

 E realmente estava certo, o céu estava com uma cor de chumbo, bem escuro, e não havia nenhum pássaro voando por ali.

 Gray ponderou a ideia, depois riu de si mesmo.

 - Lyon! Eu não tenho medo de chuva! Vamos logo! Esses dois vieram daquela estrada, pode ter alguma coisa que possa nos ajudar a saber sobre os assassinos dos Lockser! – E soltou mais a rédea do seu corcel, o fazendo correr, sendo acompanhado por Lyon.

 Estavam bem distantes da taverna que pararam para almoçar, quando encontraram uma ponte destruída no meio do caminho, os impossibilitando de passar adiante.

 - Gray. – Lyon o chamou e o rapaz se virou. – Está estranho comigo, o que foi que eu fiz? – Ele perguntou arqueando uma sobrancelha.

 - Esquece. – O moreno resmungou. Ele nunca fora bom em demonstrar o que ele estava pensando ou sentindo, e isso é uma característica dos Fullbuster: o coração era muito fechado, tanto o pai quanto o filho.

 - Sabe que não vou esquecer. Fale agora pra darmos meia volta e irmos pra longe dessa chuva. – Lyon falou se ajeitando na cela de seu cavalo.

 Gray respirou fundo.

 - Não gosto muito da ideia de se casar com a Lockser. Acha mesmo que isso vai favorecer sua Casa? Quero dizer... Com essa guerra toda seria melhor se ela fizesse algum outro tipo de acordo com alguém diretamente relacionado ao rei, para conseguirmos proteger o reino da ameaça que está atacando o país. Alguém como...

 - Você? – O colega de Gray disse com desdém, deixando o moreno sem palavras.

 - Claro que não! – Ele contestou. – Já me viu casado com alguém? Já me viu junto com alguém? – Ele perguntou para Lyon. – Apenas acho que seria melhor se ela tivesse algum acordo com alguém relacionado ao rei, assim o Litoral estaria mais protegido.

 Lyon engoliu em seco. Gray tinha razão, os dois sabiam disso, mas Vastia era orgulhoso demais para assumir isso. Ele sabia que seu pai não estava se importando com a proteção do reino, estava apenas preocupado com o dinheiro que iria ganhar com esse futuro casamento e com a frota de navios que a Casa iria herdar.

 - Vamos voltar para o castelo. Com essa chuva lá na frente fica impossível achar alguma coisa. – O rapaz disse contrariado e virou seu cavalo, colocando ele para correr logo em seguida. Gray fez o mesmo.

 Dessa vez, não pararam nem por um instante até chegarem a Magnolia á noite, bem depois do jantar.

~~~~~~~~~~

Lucy estava em um deserto, não tinha água, nem lugar para onde se esconder do Sol... Nada. Ela sabia que era um sonho, mas conseguia sentir o gosto da areia quente em sua boca, a secando e a trincando mais ainda.

 - O-Onde estou... – Sua voz saía como um sussurro distante. Ela não enxergava nada além das dunas de areia e o céu azul em cima de sua cabeça.

 “Ela está chegando.”

 Lucy se virou para trás. Tinha ouvido uma voz feminina e doce. Ela não se lembrava de quem era, mas tinha certeza de que já a ouvira em algum lugar.

 - Quem? – Ela perguntou para o nada. – Quem está chegando?

 E nisso, ela encarou o horizonte, onde nuvens começaram a se formar bem longe dela e um vento frio começou a soprar em seus cabelos. Porém, magicamente, elas começaram a vir em sua direção com velocidade, aumentando cada vez mais e se tornando cada vez mais escuras. Antes que Lucy pudesse fazer mais alguma coisa, ela já se vira no meio dessas nuvens, com o barulho dos trovões e com o vento levantando a areia clara, que se misturava com seus cabelos Teve de fechar os olhos, mesmo sabendo que não era real, sentiu um incômodo em seus olhos. Com a chuva prestes a cair, ela ouviu a voz novamente.

 “Ela.”

 E nisso ouviu-se um estalo de trovão que fez Lucy gritar de susto.

 Automaticamente, ela acordou em sua cama no palácio. Estava sentada, com o travesseiro e seus cabelos molhados de suor. Era mais um de seus sonhos malucos.

 Saiu rapidamente dali e correu em direção á janela. O céu noturno estava tão limpo que era possível ver todas as estrelas do céu. A lua brilhava como nunca vira brilhar antes.

 - Foi só um sonho, Lucy. Foi só um sonho. – Ela sussurrou para si mesma encostando sua testa no vidro frio, sentindo o frescor percorrer sua pele alva.

 Através da janela, ela conseguiu ver Gray Fullbuster e Lyon Vastia chegando de sua viagem, e com caras não muito boas. Os dois estavam extremamente sérios e não cumprimentaram ninguém.

 Lucy achou isso estranho. O fato de os dois terem chegados sem Ur e Ultear com eles, e de Mirajane ainda não ter voltado de sua missão. Mais cedo ela foi perguntar para Makarov o sumiço da albina, porém ele apenas disse que ela estava em boas mãos. E é claro que ela não acreditou completamente nisso.

 Assim que se acalmou um pouco, voltou a dormir.

~~~~~~~~~~

 Natsu acordou com frenéticas batidas em sua porta. Mesmo depois que o rapaz acordou, o batido continuou firme.

 - Natsu! – Era a voz de Erza.

 Levantou-se preguiçosamente, desviando de seu gato Happy, um gato azul e preguiçoso que estava dormindo entre as suas cobertas junto com ele, e foi atender a porta.

— O que foi, Erza? – O rapaz perguntou preguiçosamente.

 - Seu pai está te chamando. Temos uma reunião de urgência. – Ela apenas disse isso e saiu pelo corredor, deixando um Natsu ali, com sono e sem entender muita coisa.

Natsu já estava usando calças azuis escuras, portanto apenas teve o trabalho de colocar uma camisa de algodão de mangas compridas por cima e botas pretas.

 Depois de terminar de se arrumar, saiu de seu quarto e foi em direção á Sala do Trono.

 Era uma sala gigante, com o piso de mármore claro, e quase tudo brilhava ali, já que a maioria das coisas eram feitas de ouro ou alguma outra pedra preciosa. Natsu achava escandaloso, mas tinha que admitir que tinha um certo charme extravagante naquilo tudo.

 Seu pai, o rei Igneel estava sentado em seu trono, porém usava roupas bem simples, parecidas com as que o príncipe estava usando, então não combinou muito bem o ambiente com o homem.

 - Pai. – Ele disse caminhando decidido até o trono, onde ficou em pé no primeiro degrau. Erza Scarlet, Gray Fullbuster, Silver Fullbuster, Makarov Dreyar, Lyon Vastia e Mirajane Strauss estavam ali também, porém mais distantes do trono do que Natsu. Ele encarou Mirajane. – Como foi sua missão, Mira?

 - Minha missão foi... Bem sucedida, digamos. – Ela disse toda contente de si mesma.  – Acabei de chegar, paramos em uma estalagem para dormir no caminho.

 - Mas agora temos assuntos mais importantes. – Erza disse séria. Ela parecia incomodada com alguma coisa. – Como se não bastasse tudo... Agora temos que lidar com isso também...

 - O que aconteceu? – Natsu perguntou levemente irritado. Ele odiava ser o ultimo a saber das coisas.

 - Bem... Durante a nossa viagem, brigamos com dois caras, e eles pareciam ser suspeitos. – Lyon começou.

 - Fizemos uma pesquisa sobre eles depois, e descobrimos algumas coisas. – Gray disse entregando um pergaminho fechado para o rapaz. Natsu abriu rapidamente, mas sem antes encarar seu pai, que permanecia com uma expressão séria no rosto.

 Havia dados sobre esses dois.

 - Eu e Lyon fomos procurar informações sobre esses dois ao redor da vila que os encontramos. E vimos que tanto Nullpuding quando Kurohebi são ladrões, não que sejam grande coisa... Mas tem uma série de pessoas comentando sobre roubos e furtos que eles e mais pessoas relacionadas a eles realizaram. – Gray disse encarando o amigo, que não tirava os olhos do papel.

 - E não é só isso. – Erza disse dando um passo a frente. – Acabei de chegar do cartório de onde eles oficializam as sociedades legais de Fiore, e tentei achar o nome dos dois. Eu os encontrei, mas não nas listas de sociedades legais... E sim das ilegais que o Conselho descobriu que existiam. Os dois fazem parte de uma sociedade ilegal, onde o dinheiro que roda por lá é todo por furtos e roubos, e quem sabe até por assassinatos.

 - Assassinatos? Acha que eles em alguma coisa a ver com o assassinato dos Lockser? – Natsu perguntou.

 - Bem... É uma possibilidade, mas é distante. Não encontramos nenhum registro de assassinato cometido por ninguém dessa sociedade... Ou melhor, por quase ninguém. – Erza comentou.

 - E quem seria essa exceção? – O rosado perguntou arqueando uma sobrancelha.

 - Entre um deles... Gajeel Redfox. – Erza falou olhando para o chão.

 Natsu prendeu a respiração. Gajeel era capaz de matar pessoas.

 - Acha que foi ele que matou os pais de Juvia? – Desta vez ouviu-se a voz de Igneel.

 - Acho que não. – Erza falou convicta. – Senão ele não estaria tão desaparecido assim, e encontraríamos pistas dele, principalmente no Norte. E fora que, de acordo com os dados, Gajeel não fornece dinheiro para essa sociedade há bastante tempo. Não acho que tenham uma relação muito próxima para fazê-lo chegar a esse ponto.

 - E tem mais. – Lyon falou. – Erza também viu que Gajeel não participa de uma sociedade, mas sim de duas ao mesmo tempo.

 - Qual o nome delas?

 - A sociedade clandestina se chama Raven Tail. E... Por coincidência ou não, imita muito o nome de Fairy Tail.

 - E eu sei por que. – Makarov falou pela primeira vez. – Todo o pessoal da Raven Tail tem uma rixa com a Fairy Tail, assuntos e conflitos passados. Uma longa e antiga história, que não merece ser dita agora. – Nisso ele abaixou a cabeça, deixando Erza continuar.

 - E a segunda se chama Phantom Lord. É bem parecida com Fairy Tail. – Ela disse apenas isso. – E é legalizada, sem nenhum indício de que tenham cometido algum crime grave, apenas que são bem... Ameaçadores.

 - Então já temos pistas sobre Gajeel. – Natsu disse sério.

 - Bem... Quase isso. – Gray disse colocando suas mãos em seus bolsos. – Fomos procurar alguma coisa a mais dele, e a ultima vez que ele fora visto fora em Porto Hargeon... Há três anos atrás.

 - Ele praticamente sumiu. – Lyon disse baixinho.

 - O que vamos fazer agora? Precisamos daquele livro para saber o porquê Gajeel está com ele, e o que ele tem. Cada dia que passa tenho mais certeza de que tem alguma coisa que nos interessa e muito. – O rosado disse se sentando no degrau, ao lado de seu pai. Natsu poderia muito bem se sentar em seu trono, que ficava ali também, porém mais para o canto, mas sempre preferiu evita-lo.

 - Bem... Temos Lucy. – Mirajane disse tentando amenizar a tensão no ar. Todos ali sabiam que o cerco estava se fechando, e eram eles que ficariam presos nele.

 - Lucy Heartfilia pode ter um dom extraordinário, mas ainda não sabe controlar isso, e força-la pode acabar a machucando, até mesmo a matando. – Makarov disse. – Igneel, está quieto todo esse tempo, o que tem a nos dizer, Majestade?

 Igneel ponderou a ideia de continuar quieto, mas todos ali estavam o olhando, exceto Natsu, que continuava a ler o pergaminho atentamente.

 “Como ele ficara parecido com sua mãe.”— Ele pensou rapidamente e quase sorriu, mas pensou que aquilo não era o apropriado no momento. Os cabelos rosa eram iguais aos de Ayumi, e o olhar brincalhão e solene dele lembrava muito os olhos de sua esposa quando estava feliz.

 - Devemos esperar Ur e Ultear chegar. – Ele disse se levantando, deixando todos confusos.

 - O que elas têm a ver com isso? – Natsu perguntou, não entendendo nada. Olhou para Gray, achando que pudesse saber de alguma coisa, mas o moreno estava igualmente confuso.

 - Eu entreguei uma missão para elas. – Ele falou caminhando devagar até a porta.  – E elas podem resolver alguns de nossos problemas.

 - Que missão, Majestade? – Lyon perguntou tentando não transpassar sua curiosidade.

 - Não eram apenas ir para lá para confortar Juvia Lockser? – Erza perguntou.

 - Não. Havia mais uma coisa que pedi que fizessem. E espero que ela tenha aceitado... – Ele comentou. – Pedi para elas fazerem um negócio por mim, já que não poderei estar lá a tempo suficiente.

 Pela primeira vez naquela reunião, Silver mudou sua feição, deixando o clima mais tenso.

 - Permitiu que elas fizessem aquilo? – O homem perguntou.

 - Sim. Elas vão trazê-la para cá. Disse que podíamos oferecer qualquer coisa, que tenho certeza que para ela é muito importante. – Igneel falou parando na porta do salão. – A reunião está suspensa até segunda ordem.

 E saiu caminhando até seu escritório, onde Silver Fullbuster o seguiu e não se vira mais os dois depois. Depois disso, alguns guardas vieram chamar Lyon, avisando que seu pai queria encontra-lo naquele momento. Assim que o rapaz se despediu de todos e saiu, Gray pôs-se a reclamar.

 - Uma missão secreta? – Ele resmungava. – Não sabia que as duas eram cheias de missões secretas assim.

 - Bem... Parece ser bem importante isso que elas foram fazer... – Mirajane comentou. – Erza... Tem algum nome Lockser em algumas das sociedades que você descobriu?

 - Não cheguei a olhar. – Ela disse olhando para baixo séria. Todos ali tinham certeza que sua cabeça estava a mil, pensando em diversas possibilidades de ideias que Igneel poderia ter tido quando mandou Ur e Ultear visitarem a mansão dos Lockser. – Mas a família toda é envolvida no comércio, com certeza deve ter alguma coisa deles.

 - Investigue isso, por favor, Erza. – Natsu falou se levantando abruptamente. – Gray, preciso que vá até Fairy Tail e veja com Reedus se ele pode fazer mais uma cópia da foto de Gajeel. Ele me entregara uma, preciso que fique com outra. Vai me ajudar a procura-lo.

 Gray ficou um tempo encarando Natsu, atônito. Ele nunca conversara tão sério assim com ninguém, isso deve ter realmente o abalado. Ele nunca agira tão parecido com o pai na vida.

 - Claro. – O moreno disse saindo da sala, acompanhando por Erza.

 - E você, Natsu? – Mirajane perguntou. – O que vai fazer?

 - Bem... Acho que vou tentar achar alguma coisa na biblioteca, se é que ainda sei o caminho pra ir para lá... – Ele comentou, o que fez Gray suspirar de alívio e rir por dentro. Ainda era o Natsu.

~~~~~~~~~~

 Lucy nunca leu tantos livros em Língua Antiga em toda sua vida, mesmo quando estava aprendendo a ler esse idioma.

 Estava ela e Aquarius no quarto da loira, enquanto a mulher grasnava com ela para ler melhor e traduzir mais rápido.

 - Lucy! Mais rápido! – Ela dizia enquanto Lucy trocava as palavras mais uma vez naquele dia, porém, quando sua visão já estava cansada e já estava até trocando as letras, ela se desviou um pouco do livro. A azulada percebeu que a loira estava cansada e decidiu deixa-la descansar um pouco.

 Aquarius se levantou e ajeitou a saia justa de seu vestido. Com o tempo que estava passando ali, a loira percebeu que o estilo de roupa que sua tutora mais gostava era os que tinham a cintura justa, e mais solto para baixo do joelho, destacando bem sua cintura.

 - Lucy, por hoje estamos acabadas. Vou conversar com Igneel sobre sua próxima reunião com o Conselho. – Ela disse caminhando até a porta. – Não que ele esteja muito preocupado... Com tudo isso que está acontecendo no reino... Ele nem deve se lembrar. Bem... Descanse agora.

 Assim que ouviu a porta bater, Lucy caminhou pesadamente até sua cama e se aninhou por entre as cobertas e os travesseiros. Olhando pela janela, percebeu que um clima forte de chuva se formava perto da cidade, e estava vindo em direção ao castelo.

 - Se está em Magnolia... Não deve demorar muito para que chegue no castelo, já que ficamos praticamente do lado da cidade... – A moça suspirou.

 Se lembrou da conversa que teve com seu pai mais cedo na enfermaria, antes de Aquarius aparecer e leva-la para seu quarto. Jude já estava bem melhor, conseguia até se sentar sozinho agora, e não ficava tomando tantos remédios assim quanto antes.

 Ela disse sobre Gajeel, sobre o desenho de Reedus. Natsu mostrou a loira o desenho que o jovem lhe entregara e ela achou o desenho bem parecido com o sonho que ela teve, o que lhe causou alguns sonhos estranhos com esse rapaz mais tarde, como ele andando pela cidade, cavalgando... Como se tudo parecesse real.

 Seu pai admitira que tudo ali era muito estranho, e que ele nunca ouvira falar de Gajeel Redfox, mas também concordara que aquele poderia ser ele, apesar de nunca tê-lo visto. Ele disse que Layla também tinha sonhos desse tipo. Ela nunca vira a pessoa, mas mesmo assim sabia seu rosto. Lucy ficou curiosa com aquela conversa, mas Jude não quis falar mais sobre isso. Também ficou muito triste quando soube que os Lockser haviam morrido. Ele também perguntara da carta de Layla, que Lucy estava guardando, desde que Aquarius entregara o papel.

 Tanta coisa estava acontecendo em sua cabeça, que ela nem se lembrava dessa carta, e, no fundo, não queria abri-la agora. Ela sabia do que poderia estar escrito, que era importante, mas sentia que havia coisas mais importantes para lidar agora. A carta teria que esperar um pouco.

 Se levantou de sua cama e foi até a janela. Lucy tinha uma visão perfeita do enorme jardim do castelo Dragneel, juntamente com o portão de entrada dali. Ele sempre ficava aberto e cercado por guardas. Mas hoje ele estava fechado, e tinha mais soldados que o normal ali.

 - Desça.

 Ela se virou rapidamente para ver quem estava atrás dela, mas não viu ninguém.

 - O que? – Ela começou a se desesperar. Estaria ficando louca? – Quem disse isso?!

 - Desça.

 A voz suave e feminina disse novamente, forçando a moça a olhar pro outro lado.

 - É tudo na sua cabeça, Lucy... Não se preocupe... – A loira disse tentando. – Descer? Para onde? Por quê? – Ela disse. – Ah, céus... Já estou ficando maluca... Além de imaginar vozes, ainda discuto com elas! – Ela falou saindo do seu quarto. – Mas por via das dúvidas...

 Assim que saiu, percebeu que o corredor estava vazio, sem nenhum guarda, e os quartos estavam todos com as portas fechadas. Passou ao Salão de festas e havia apenas alguns senhores conversando em um canto. Olhou pelo vitral e viu que uma fina chuva começava.

 Não sabendo o porquê, seu coração gelou, como se estivesse esperando ansiosamente por alguma coisa, mas o que?

 Saiu até o jardim e se sentou em uma das cadeiras que ficavam na parte coberta dali, como se fosse um coreto. Viu que Mirajane também estava ali, olhando para o céu chuvoso, mas via que sua mente estava a quilômetros de distância.

 - Mirajane? – Ela chamou a moça, o que a fez desviar de seus longínquos pensamentos. – Incomodei?

 - O q... Não, Lucy. De forma alguma. É só que... Não acha que os guardas estão esperando alguém em particular?

 - Bem... Olhando como eles estão... – Lucy comentou analisando um pouco os soldados que estavam todos na frente do portão. Todos ali tinham seu uniforme, que consistia em calças pretas e um casaco grosso em vermelho escuro, com uma faixa branca atravessada na parte da frente da roupa.

 Todos ali estavam em silêncio, e pareciam estar concentrados em alguma coisa fora dos portões.

 Nisso, Erza Scarlet chegou e se sentou do lado de Mirajane. Trajava um vestido leve, e tinha uma espada embainhada na cintura e seus cabelos longos e vermelhos estavam úmidos devido ao suor. Lucy julgou que estaria treinando.

 - Erza, sabe o que está acontecendo? – Mirajane perguntou para a ruiva.

 -Não sei ao certo, mas duas pessoas ainda não chegaram de suas missões. Ur e Ultear. – Ela falou séria, cruzando as pernas.

 Num relance, no meio de todos os guardas, Lucy viu uma coisa familiar ali. Bem... Uma coisa que estava começando a se familiarizar. Cabelos cor de rosa.

 “Natsu deve saber o que está acontecendo! Não é normal fecharem os portões e se comportarem dessa maneira.”— A loira pensou, e quando percebeu já estava indo em direção ao rosado, por entre os guardas.

 Estava quase o tocando no ombro, quando um guarda puxa seu braço com força, fazendo com que ela se afastasse uns três passos dele. A chuva fina estava engrossando, fazendo o mormaço dos dias quentes subir, deixando a roupa da loira bem molhada com seu suor, e com a água.

 - O que a senhorita está fazendo aqui? – O homem devia ter uns quarenta anos de idade, e tinha a barba toda mal feita. Ele apertava o punho de Lucy, e ela se sentiu como se fosse uma criança sendo pega fazendo alguma travessura. – Não deveria...

 - Ei! – Ela ouviu a voz de Natsu no meio do tumulto de homens. – Solte-a. - Natsu estava sério (Lucy estranhou aquilo), e tinha uma espada nas mãos. O guarda hesitou por um instante, o que fez com que Natsu se irritasse um pouco. – Eu ordeno que a solte!

 O homem assim fez de prontidão depois da segunda vez que fora obrigado.

 - Desculpe, alteza. – Ele se curvou. – Desculpe, senhorita. – Se virou para Lucy, que apenas fez um aceno com a mão, mostrando que aquilo não era necessário, ela já havia o perdoado pelo inconveniente.

 - Volte para seu posto. – Natsu disse mais calmamente. Assim que o guarda se distanciou, Lucy sentiu a mão quente de Natsu pegar seu punho novamente e a arrastar para perto do portão, onde ele a colocou entre dois guardas, a impossibilitando de sair. - O que está fazendo aqui? Poderia se machucar.

 - E-Eu... – E foi aí que Lucy pensou realmente no que estava fazendo. O que ela estava fazendo ali? Era para, no máximo, Erza estar em seu lugar e olhe lá! – Bem... – Ela tentou formular uma resposta, mas foi interrompida por um barulho do lado de fora do castelo.

 Uma carruagem se aproximava, acompanhando por quatro cavaleiros dos lados. Atrás, vinham Ur e Ultear Milkovich correndo com seus cavalos e molhadas pela chuva, que estava se tornando mais densa.

 - Quem está vindo? – Mirajane gritou do coreto de onde estavam. Ela e Erza já estavam de pé, tentando ver por entre as grades prateadas dos portões. Lucy percebeu que, por um instinto talvez, Erza já estava com a mão em cima da espada embainhada na sua cintura.

 - Abram os portões! – Natsu gritou e saiu andando, tirando Lucy dali também e a levando para onde Erza estava. – Erza... Cuide dela... Não deixe q... – Mas foi interrompido pelo barulho dos cascos de cavalo nos paralelepípedos da entrada do jardim.

 A carruagem que acabara de chegar era coberta, e toda trabalhada nas cores azul escuro e cinza. Na porta havia um símbolo que Lucy fez certo esforço para se lembrar de onde já o viu. Uma gota de chuva prateada.

 - Uma gota? – Lucy perguntou confusa. Quando foi se virar para conversar com Natsu, uma tontura a atingiu.

 “De novo, não.”— Ela pensou, mas era tarde demais.

 Uma visão apareceu em sua mente. Era uma moça de cabelos longos e azuis, com os olhos igualmente da mesma cor. Ela estava andando pelos jardins do castelo, porém estava chovendo muito, e ela estava sem nenhuma proteção. Mas o mais curioso é que ela não parecia se molhar completamente, ou se estava, não era nítido de se ver, com seu rosto molhado apenas por suas lágrimas. Ela, de alguma forma sabia quem ela era, já que seus olhos pareciam bem familiares.

 - Mas quem é? – Natsu perguntou com um misto de confusão e raiva em sua voz, afinal, ele não gostava de ser pego desprevenido. – Lucy! – Ele olhou para a loira, e seus olhos estavam com um brilho dourado. – Não desmaie! Não agora! – Ele disse entrando em pânico. Se a situação fosse outra, ela até riria da cara de confuso do rapaz para ela.

 Ela rapidamente voltou ao normal, e viu que só estava com uma fraqueza grande nas pernas e uma dor de cabeça, porém ficou feliz por não ter desmaiado desta vez. Logo foi amparada por Natsu, que segurou em seus braços e ela se apoiou em um dos ombros do rapaz, com a outra mão no coreto. A chuva ficava mais espessa a cada segundo, e dificultava a visão de todos ali, impossibilitando de verem quem estava saindo da carruagem, sendo protegida por um guarda-chuva cor de rosa, com detalhes em dourado nas bordas.

 - Quem é? – Natsu perguntou alterando o tom da voz, por conta do barulho da chuva. Mas, mesmo ela estando forte, ninguém ali havia se escondido ou fugido da chuva, curiosos demais para saber o que estava acontecendo ali.

 O vestido de Lucy já estava pesado e ensopado quando ela viu uma silhueta feminina saindo da carruagem, com um semblante sério e triste. A loira perdeu o ar por um instante ao achar o rosto dela tão familiar. Lucy já havia sonhado com ela. Lucy sabia que era ela. Era a moça da visão que teve segundos atrás.

 - Quem é ela? – Natsu perguntou para Lucy novamente. – Você a conhece?

 - Ela... Ela é a chuva que chegou em Magnolia,... E vai ficar por um bom tempo. – A loira disse encarando a moça com uma seriedade perigosa. Não sabia de onde aquelas palavras vieram, mas tinha certeza que o que falara era a mais pura verdade.

 Mas não era para menos, Juvia Lockser tinha muitas respostas para os segredos de Fiore, porém a mesma ainda tinha seus próprios mistérios, e que ninguém imaginaria que tal jovem moça poderia ter.