- Isso é um absurdo, Igneel! - Ur reclamava assim que o rei disse que a única e legitima herdeira da família Lockser era uma garota de dezoito anos. - Uma garota não consegue controlar uma região grande como a que está em jogo! O Litoral é muito extenso!

 - Ur tem razão. - Skiadrum disse sombriamente. De uma forma estranha, ele se misturava perfeitamente com a sombra que as cortinas da janela faziam, como se elas pertencessem a ele, de alguma maneira.

 Estavam reunidos Ur, Silver Fullbuster, Lorde Skiadrum e Igneel no escritório do rei. Acabaram de descobrir que mais dois nobres estavam mortos, e que o Ocidente estava metido nisso.

 - Não posso tirar essas terras dela. - Igneel falou pensativo. - E ela não sabe governar dessa forma... O que faremos?

 - Bem... Ela ainda é solteira. - Silver apontou esse fato. - Se casasse com um Lorde de confiança, poderíamos ter mais controle nessa situação complicada. Afinal, o reino está em jogo, ela entenderia.

 Igneel e Ur se remexeram inquietos.

 - Está falando de casamento forçado, Silver, e sabe que sou totalmente contra esse tipo de coisa. - Ur disse séria para o amigo. – Tem que ter alguma outra saída.

 - Sei disso. Mas seria um milagre se ela se apaixonasse em tão pouco tempo, que é o que temos, até talvez menos.

 Ur olhou brava para Igneel. Ela não poderia aceitar isso sem reclamar, afinal, casamento arranjado para ela era a pior coisa que se poderiam fazer numa situação como essa.

 - Vou considerar sua opinião, Silver. - O rei disse olhando para baixo.

 - Igneel! - Ur o repreendeu. - Isso acontecer iria abalar mais ainda o emocional da garota! Temos que lembrar que seus pais morreram hoje de uma maneira brutal!

 - Claro que penso nisso, por isso irão prestar as devidas condolências a ela quando forem ao Norte, você e Ultear. Queria poder ir, mas acho que serei mais útil se ficar e tentar descobrir mais coisas sobre esses assassinos. Pretendo viajar até Crocus para resolver isso, e mandar alguém para o Ocidente, para tentar descobrir alguma coisa. Já mandei alguns espiões, mas receio que as poucas pessoas que estão lá não são o suficiente. - Igneel disse saindo do recinto. - Quanto ao casamento, que isso fique somente nessa sala, até que alguma coisa concreta se forme. Skiadrum, preciso conversar com você sobre as terras do Sul, tenho alguns papéis para você assinar.

 - Claro. - O homem disse seguindo o rei.

 - Você sabe que isso não vai ser um “período”, certo, Majestade? – Ur perguntou se virando para Igneel, que olhou de relance para ela.

 Havia um misto de confusão e incerteza em seus olhos.

 - Não podemos dizer isso. – E virou o corredor com Skiadrum.

 Nisso, Ur se virou para Silver, completamente revoltada.

 - Por que disse para ele sobre casamento? Não vê que isso vai ser pior para a moça. Ela vai se casar com um completo desconhecido, sabe-se lá quem vai ser. – A morena falou colocando as mãos na cintura, enquanto Silver a analisava.

 - Sei que é contra isso, mas é a melhor coisa que a garota pode fazer. Se não fizer isso, o Conselho de Fiore vai empurrá-la para o primeiro que aparecer, como forma de não sobrecarrega-la, afinal, ela é apenas uma moça. E pode ser qualquer um.

 Em Fiore, além do Conselho de Igneel, existe um outro Conselho, o Conselho de Fiore, responsável por tomar partido de assuntos que o rei não conseguiu resolver e por realizar a maioria dos julgamentos do reino. São conhecidos por não terem misericórdia com ninguém.

 - Silver... Não se esqueça de que eu também sou uma moça, e Lady das Terras do Norte, que por sinal é uma das áreas mais bem protegidas de Fiore. Se eu consigo ser as duas coisas, outras mulheres também conseguem. – Ela disse caminhando até a porta. – Apenas precisamos dar apoio á essa menina e tempo para ela amadurecer, e depois voltamos a falar disso.

 - Não temos tempo, Ur! – O homem esbravejou.

 - Temos que ter! Fale o que quiser, Silver, mas eu nunca vou apoiar Juvia se casando com um completo desconhecido. Isso pode ser perigoso para todos nós, nunca se sabe o que eles podem fazer.

 E assim saiu, deixando Silver ali, sozinho.

 - Por que será que estou com uma má impressão sobre isso tudo? – Ele comentou sozinho, sentindo um formigamento no peito.

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 Depois do jantar, Lucy voltou para seu quarto, onde ficou deitada um bom tempo em sua cama, depois de se trocar e colocar uma camisola mais solta, sem nada a apertando na barriga.

 Estava quase caindo no sono quando ouviu batidas na porta. Acabou se assustando, afinal fora uma das últimas pessoas que deixara o salão, e achava que todas as outras já estavam em seus quartos. Depois que o rei saíra rapidamente dali, todos ficaram preocupados e Makarov decidiu não prolongar muito o jantar, e por fim acabou indo até seus aposentos, o que desanimou todo mundo.

 Levantou-se devagar e arrumou sua camisola de seda rosa e seus cabelos loiros, que estavam amassados. Quem poderia ser numa hora dessas?

 - Pois não...? Ah. – Ela soltou uma exclamação quando viu o príncipe Natsu Dragneel escorado no portal de sua porta. Ele era a última pessoa que ela esperava ver hoje.

 Natsu estava com seus cabelos bagunçados, e sua camisa estava desabotoada, assim como no jantar, mas a garota percebeu que ele estava com o olhar cansado, e parecia não ter conseguido dormir.

 “Será que tem alguma coisa a ver com seu pai?”— Ela se perguntou, mas decidiu não tocar no assunto.

 - Olá. Espero não ter te acordado. – Ele falou passando a mão nos cabelos.

 - Eu não estava exatamente dormindo... –Ela falou dando espaço para ele entrar. Não era bom se alguém visse uma moça como ela conversando com o príncipe no corredor tarde da noite. Ele entendeu o recado e entrou vagarosamente. Depois se sentou em uma cadeira perto da cama, e Lucy voltou para o lugar de onde estava antes de ele chegar. – Aconteceu alguma coisa?

 - Não... Apenas vim agradecer. – Ele falou sorrindo para ela. – Muito obrigado por me ajudar hoje de manhã. Digamos que eu estava com muita dor de cabeça, e não conseguia raciocinar direito.

 - Ah... Bom... Você me assustou, mas fora isso... Bem, pro que precisar, estou à disposição, Alteza. – Ela falou sorrindo para o rapaz, que sorriu de volta, ficando em seguida um silêncio constrangedor. Pelo menos ela estava um pouco incomodada, mas ele parecia absorto em seus pensamentos. Depois de algum tempo ele começou a falar.

 - Meu pai estava estranho depois que voltou para seu quarto agora a pouco... O que acha que deveria ter acontecido?

 Lucy arregalou os olhos com a surpresa da pergunta, ela certamente não esperava por isso essa noite, afinal, o que ela poderia saber sobre o rei Igneel e seus assuntos? Certamente achava que Natsu tinha mais conhecimento disso do que ela, mas parecia estar enganada.

 - Bem... Logo depois o General Fullbuster e Lady Milkovich foram chamados, então parece ser alguma coisa ligada á segurança do reino e o Norte... Talvez? – Ela chutou.

 - É, pode ser... – Ele comentou olhando para baixo, e depois de alguns segundos prosseguiu. – Acho que não é uma coincidência.

 - O que?

 - Acho que não é uma coincidência você aparecer aqui do nada com seu pai ferido por uma pessoa desconhecida, e as mortes dos nobres ficarem mais frequentes. E fora que Silver dobrou minha quantidade de treinamento e da maioria dos soldados, inclusive do filho dele, Gray.

 - Gray Fullbuster, certo? – Ela perguntou. Pôde ver que poderia tirar algumas dúvidas sobre o moreno que a intrigava tanto depois do sonho que teve.

 - É. Eu e ele somos amigos de infância. Sempre morou aqui... Eu acho. – Ele comentou olhando para Lucy.

 - Por que acha?

 - Bem, a mãe dele faleceu quando era pequeno, então desde esse dia ele mora aqui no castelo com Igneel, e seu pai também. Não sei onde eles moravam antes, ele nunca me falou.

 - Ela morreu? Do que? – Lucy perguntou tentando fingir um pouco de desinteresse na vez, o que não deu muito certo, mas parece que Natsu não percebera isso.

 - Bem... – Ele abaixou seu tom de voz, como que o que ele viesse a falar a seguir fosse alguma coisa muito proibida, que nem os quadros de seu quarto pudessem ouvir. – Os dois não falam muito disso, mas o que ele já me contou é que teve um ataque na cidade em que eles moravam... E a mãe deles não conseguiu fugir a tempo, sendo assassinada por um dos soldados das forças especiais do Ocidente.

 - Do Ocidente? Então eles têm briga com Fiore há muito tempo?

 - É o que parece, mas agora tem algumas pessoas matando gente inocente mais frequentemente... O assassino que matou Mika Fullbuster não tem um nome, pelo menos é o que dizem. Ele parece um monstro de tão feio e sanguinário, era conhecido por Deliora. Ele matou uma vila inteira, sobrando só Gray e seu pai. Ela foi uma das que fora morta misteriosamente, sem saber a razão, mas seu corpo não foi levado, sabe-se lá por que.

 - Meu Deus... – A loira colocou a mão na boca. – Que coisa mais horrível! – Ela disse espantada.

 - Foi uma experiência muito triste para os dois... Depois de algum tempo fiquei sabendo desse soldado... Ele fora morto nas terras do Norte por Ur.

 - Ur? A Ur que conhecemos, que vive aqui? – Lucy perguntou.

 - Sim. Ela sabe lutar muito bem, assim como Erza e Mirajane. – Natsu falou sorrindo e Lucy arregalou os olhos. Então mulheres podiam lutar tão bem quanto homens...

 Para ela isso era um espanto, já que no interior não existe nenhuma mulher que ela saiba que sabia lutar, nem sequer como manejar uma espada, e ela era uma dessas. Logo, um desejo apareceu em sua mente, ela queria aprender a se defender, mas logo foi esquecido com o fato de que seu pai nunca deixaria isso acontecer.

 - Uau... Nunca pensei que mulheres podiam lutar páreo com um homem. – Ela disse sorrindo instintivamente. Ela percebeu que Natsu tocara seu ombro esquerdo com esse comentário e fez uma careta.

 - Bem... Mais do que você pode imaginar... – Ele comentou baixinho, porém a loira ouviu. – Ei, por que você não me acompanha amanhã para ver um treino? Erza pode te mostrar alguns golpes.

 A empolgação no olhar do rapaz fez Lucy rir.

 - Não sei se seria capaz de acompanhar o ritmo de vocês. Afinal, vocês lutam desde sempre. – Ela comentou e ele deu de ombros.

 - Nunca é tarde para tentar. - Natsu se levantou e foi caminhando até a porta. – Até amanha, Lucy.

 - Até amanhã, Alteza. – Lucy disse se inclinando um pouco, o que fez o rapaz sorrir. Ele abriu sua boca para falar alguma coisa, mas depois acabou por desistir e foi embora.

 Assim que a porta foi fechada, Lucy desabou em sua cama.

 - Por que ele veio falar comigo? – Ela se perguntou. – Ele parecia cansado... Me pergunto se tenha acontecido alguma coisa...

 Porém antes mesmo de concluir seu pensamento, uma dor de cabeça a atingiu. A fazendo gemer de dor.

 - O que é isso? Do nada... – Ela se perguntou tentando se levantar, mas não conseguiu. – Ai...

 No meio de tanta dor, Lucy conseguiu apenas ver uma imagem. A imagem de uma pessoa. Era um rapaz alto e bem forte, tinha cabelos negros e rebeldes e tinha várias pecinhas de metal grudadas no corpo, principalmente na área das sobrancelhas e nas orelhas. Ele estava olhando seriamente para uma casa. Parecia ser um lugar bem simples onde estava, como se fosse um campo, mas Lucy não conseguiu ver nada mais que isso, já que sua visão foi completamente borrada.

 Assim que tudo ficou mais nítido em sua cabeça, ela vira um castelo gigante de pedras, e em cima a noite estrelada predominava maior parte da paisagem que estava vendo. Lucy teve a sensação de estar sentindo a brisa leve que carregava o lugar, o que fez seu corpo arrepiar. Nos grandes portões de madeira negra desse castelo tinha um brasão, mas ela não conseguia ver o que era, nem de onde.

 - Espero que Natsu consiga me encontrar. – Uma voz masculina disse atrás dela, e ela se virou rapidamente. Lucy sabia que era a mesma sombra com quem sonhara na noite que sua casa foi atacada. – Bem... Acho que seu pai está vivo... Infelizmente.

 Era uma sombra preta, porém tinha o formato de um corpo masculino, onde se era possível ver que era mais alto que ela e tinha os músculos rígidos, porém não tão á mostra. Seus olhos estavam prateados dessa vez.

 - Quem é você? – Lucy perguntou, e percebeu que sua voz provocara um eco na sua cabeça, como se ela estivesse a metros de distância dela mesma, se é que isso fazia algum sentido.

 - Eu? Sou uma sombra. – Ele disse com ternura na voz. Lucy não sabia quem era ele, mas sua voz tinha alguma coisa familiar, e ele não parecia querer machuca-la, mas mesmo assim essa sombra emanava uma aura de medo que Lucy não conseguia explicar. – Bem... Por enquanto, é o que precisa saber sobre mim.

 - O que? – Ela perguntou se aproximando, mas a imagem foi se dissipando conforme ela andava. Por um instante ela conseguira até sentir o cheiro do local de onde estava, o perfume de jasmim misturado com o cheiro de madeira queimada. O campo parecia muito real em sua mente, assim como o castelo e a sombra. – Como sabe do meu pai? O que sabe sobre mim?! – Ela começou a se desesperar.

 - Ah, eu sei muito mais do que você pensa, Lucy Heartfilia, filha de Layla e Jude. A única herdeira da casa da Casa do Sol e das Estrelas, e ainda tem o dom da Visão, assim como sua mãe. Isso realmente é ter sorte. - A sombra disse calmamente. – Posso lhe falar tudo o que desejo, que uma guerra está por vir, que as pessoas que você mais ama serão usadas como armas e escudos, que eu estou no Ocidente agora, que você é a peça mais importante de meu jogo... Mas você não vai acreditar, não é mesmo? Afinal... Foi tudo um sonho.

 As últimas palavras dele ficaram ecoando em sua mente, como se quisessem sair de sua cabeça. E com um frio na barriga e um susto rápido, Lucy voltou em sua sã consciência, percebendo que alguém a embalava nos braços e não parava de chamar seu nome.

 Essa pessoa era Natsu Dragneel.

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 Natsu mal acabara de sair do quarto de Lucy Heartfilia, quando deu de cara com Lisanna no corredor.

 - Olá, Lis. – Ele a cumprimentou e ela sorriu para o rapaz de forma rápida.

 - Natsu! Não te vi desde o jantar. Estava indo á cozinha pegar um pouco de água para Mira... Não quer me acompanhar? – Ela perguntou e o garoto acabou cedendo. Porém, antes de começarem a seguir até a cozinha, ele perguntou á moça:

 - Achei que você e Mira não iriam dormir aqui hoje, e sim na mansão Strauss.

 - Bem... Digamos que meu pai ficou até tarde resolvendo alguns assuntos com os Lordes daqui, e Makarov insistiu que dormíssemos essa noite no castelo e que partíssemos amanha cedo. – Ela disse distraída. – Não está satisfeito de nos ver aqui?

 - Você sabe que não é isso. – Ele falou sorrindo. - Só que achei que não iriam dormir aqui.

 A albina pareceu estudá-lo. Natsu estava com suas roupas todas amassadas por conta de ficar se remexendo por um tempo em sua cama, e seus cabelos estavam um pouco bagunçados. Lisanna deveria ter concluído de que Natsu estava em algum quarto com uma criada qualquer, e desfez um pouco seu sorriso. Mas Natsu a deixaria pensar isso, já que explicar que estava no quarto de Lucy Heartfilia até uma hora dessas parecia ser uma ideia muito pior.

 - Bem, então vamos descer antes que fique tard... – A voz doce da albina foi interrompida por um grito agudo e desesperado vindo do quarto de Lucy.

 Natsu não viu se Lisanna estava o seguindo, só percebeu que a albina estava em sua cola quando abriu a porta do quarto dela com um estrondo. Nesse tempo, Gray Fullbuster apareceu também com a cara toda amassada e vestindo apenas uma calça cinza larga, e Erza, usando uma camisola amarela que ia até os joelhos.

 - O que aconteceu? – A ruiva perguntou quando viu que todos estavam parados na porta do quarto de Lucy.

 - Ouvimos um grito e... – Lisanna disse assustada. Natsu entrou correndo no quarto enquanto Gray entrava atrás dele. Erza ficou na porta e Lisanna correu para buscar reforços.

 Natsu ficou meio frustrado quando viu que a loira estava apenas deitada em sua cama, de costas viradas para os três.

 - Ah, fala sério que ela só está dormindo! – Gray resmungou enquanto Natsu caminhava até a cama, se sentando do lado dela.

 - Vamos, Lucy, acorde... – Ele falou esticando a mão para tocar seu ombro, e nesse Makarov apareceu no quarto, junto com Grandine, a enfermeira chefe do castelo.

 Ele tocou em seu ombro e percebeu que não tinha nada normal ali. Ela estava tremendo muito e suando frio.

 - Lucy! – Ele a virou e percebeu que ela estava com seus olhos abertos, porém estavam vazios, como se estivesse em um transe, mas todas as emoções em seu rosto pareciam reais. Ela estava com olhar de pânico.

 - Ela morreu? – Gray perguntou se aproximando.

 - Não idiota, ela parece estar em um transe... – Erza disse enquanto Natsu a pegava no colo, a levando para fora do quarto. – Natsu, espere!

 - Os olhos dela! – Makarov exclamou.

 - O q...? – Natsu perguntou levantando um pouco a cabeça da moça, tendo um perfeito vislumbre dos olhos dourados de Lucy, o encarando com desespero. – Lucy?