CAPÍTULO 21 – LAÇOS FRATERNOS

(POV NESSIE)

Fiquei imaginando tudo que estaria passando na cabeça do meu pai naquele instante. Ele teria de decidir se deixava sua filhinha de pouco mais de seis anos se casar com um lobisomem que no passado tinha sido apaixonado por sua esposa e com o qual mantinha uma relação conturbada. Não era uma decisão fácil.

Eu, apesar de me estressar com suas crises de ciúmes, entendia o desespero de meu pai.

Oito pares de olhos o fitavam, naquela sala, esperando ansiosamente que ele desse o veredicto final. Realmente não queria estar em seu lugar. Ele estava acuado, parecia que desmoronaria a qualquer momento.

- Pai, gostaria de conversar a sós com você antes de dar sua resposta. Vamos dar um passeio? – Não agüentei, tinha de tirá-lo dali ou ele não suportaria tanta pressão. Eu o amava muito para permitir que o torturassem daquela forma.

Ele me olhou com uma expressão de alívio. Segurei sua mão e saímos da sala. Olhei rapidamente para Jake, que fez um sinal de que estava tudo bem, mostrando que concordava com minha atitude.

Corremos em silêncio até estarmos longe da casa o suficiente para termos privacidade. Sentei-me embaixo de uma árvore e o puxei para que fizesse o mesmo.

- Pai, eu me sinto muito mal por estar causando tanto sofrimento a você. Nunca quis fazer isso. Eu o amo mais que tudo e me machuca muito vê-lo se desesperar por minha causa.  – Tentei evitar, mas chorona como era, não pude parar as lágrimas que insistiam em cair.

- Nessie, meu amor, – ele me puxou para que eu deitasse a cabeça em seu colo – você nunca é motivo de sofrimento para mim. Ser pai foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Você e sua mãe são as maiores alegrias que eu tenho. Desculpe-me meu ciúme exacerbado. É muito difícil ver você crescendo tão rápido, deixando de ser minha garotinha. – Sua voz era mansa, mas podia ver o quanto ele estava abalado.

- Eu também não queria ter crescido tão rápido, pai. Isso tudo me deixa muito confusa. Mas mesmo não querendo, eu cresci. Meus sentimentos por Jake mudaram e agora são tão fortes, que não é fácil resistir aos impulsos e necessidades do meu corpo. É muito constrangedor ter de compartilhar estes sentimentos com você – falei, um pouco envergonhada. – Queria poder mentir, dizer que nunca tinha havido nenhum tipo de intimidade entre nós, como a maioria das adolescentes fazem, mas com você não dá. Ainda mais com a incapacidade de Jake de controlar seus pensamentos...

Meu pai riu.

- Ele acha que eu o hipnotizo - falou, em tom de gozação.  – Mas ele é como uma criança grande, basta eu olhar duro que ele entrega tudo.

- Nessie, – ele continuou, agora sério – apesar de querer matá-lo por não conseguir controlar seus impulsos, sei que Jacob é um ótimo rapaz. Ele é honesto, íntegro, justo, bom filho, bom irmão, amigo e te ama mais que a si próprio. Eu falo porque o conheço profundamente. Ele vai te fazer muito feliz, filha. Só não queria que fosse tudo tão rápido. Tinha esperança que você fosse ficar mais tempo conosco... Como posso autorizar que se case, se para mim ainda é uma criança, ainda é aquele bebê que eu tirei do ventre de sua mãe, no momento mais difícil da minha vida, como? – Se ele pudesse, provavelmente estaria chorando também.

- Pai, mesmo me casando, não vou embora, vou só me mudar para a cabana de Jake. É tão perto que se fizer um esforço pode nos ouvir. – Estremeci com aquela possibilidade. Talvez fosse melhor nos mudarmos para mais longe, pensei, me lembrando dos barulhos que fizemos enquanto fazíamos amor.

- Nessie, não faz isso, por favor!!! – Meu pai pediu desesperadamente, se referindo a meus pensamentos

- Desculpe-me.  Nem percebi o que tinha pensado. Desculpa mesmo, pai. – Falei, vermelha como um pimentão.

- Isso vai ter de parar, pai. Já pensou quando me casar? Ah, não!!! Acho que vou me mudar pra Ilha de Esme – falei brincando. – Pai, posso te perguntar uma coisa? Você... – Ele nem esperou eu terminar.

- Sim, Nessie, a resposta infelizmente é sim. – Falou, passando as mãos na cabeça.

- Nossa, pai, que barra. Não queria estar no seu lugar.

- Eu também não gostaria que você estivesse, minha filha – ele falou rindo. – Sou como Jake, também não controlo muito meus pensamentos.

Eu tinha perguntado se ele também via algumas transas do vovô e da vovó.

Rimos um pouco daquilo. Deu até para relaxar um pouco.

Ele me levantou, me puxando também. Deu-me um abraço forte, cheio de amor e falou:

- Nessie, queria muito que você tivesse novas experiências de vida quando concluísse seu desenvolvimento. Espero que freqüente uma universidade, que viaje, que tenha amigos, enfim, que faça tudo que uma garota de sua idade faria. Esse é meu sonho. É o que desejo para seu futuro... Mas se tiver engravidado, não terá tempo para isso e talvez tenha de se isolar novamente, por causa do desenvolvimento acelerado do seu filho, sem falar que poderá ter uma gestação dolorosa como a da sua mãe, afinal é meia humana também. Era isso que tentei evitar, mas acho que não fui muito eficaz. – As palavras do meu pai me calaram fundo. Ainda não tinha visto as coisas sob aquele prisma.

- Não tinha pensado nisso, pai – disse, meio assustada.

- Claro que não pensou. Sei muito bem onde estavam seus pensamentos, mocinha... Infelizmente eu sei. - Ele falou, colocando o dedo carinhosamente na minha testa. - Se o seu namoradinho não tivesse agido como um moleque irresponsável, não se preocupando em se prevenir, não estaríamos todos passando esse sufoco agora. – Ele estava irritadíssimo com Jake.

- A culpa foi minha, pai. Eu que me esqueci de tomar o comprimido – falei, tentando limpar a barra de Jake.

- Não, a culpa é dele. Ele tem idade e maturidade suficientes para saber que você é inexperiente e que ele é que teria de se preocupar em evitar uma gravidez indesejada. Minha vontade e quebrar a cara dele por isso.

- Pelo amor de Deus, pai, não brigue com Jake. Eu não agüentaria ver vocês dois lutando. Se tem alguém que sairia aos pedaços desta briga, esse alguém sou eu – falei, quase chorando.

- É só por isso que ele ainda está vivo, Nessie... Só por isso. – Ele soltou um longo suspiro de impaciência.

- Você diz isso, mas acho que no fundo gosta muito dele. Já teve milhões de motivos para matá-lo e nunca o fez.

- Tem razão, Nessie. Ele me tira do sério, mas devo a sua vida e a de sua mãe a ele. Ele nos defendeu e esteve do nosso lado todas as vezes que precisamos. Sei reconhecer e sou eternamente grato a ele por isso. Mas isso não muda o fato de ele ser um prego no meu sapato. Nunca uma ajuda foi tão cara... – Falou, dando risadas.

- E então, pai, qual vai ser sua decisão? Poderei me casar com Jake? – Perguntei serenamente, procurando não deixá-lo pressionado de novo.

Ele ficou um tempo em silêncio, segurando minhas mãos.

- Vou esperar para ver se engravidou, Nessie. Só se isso acontecer que permitirei que se case. Mas não se preocupe, não vou mais impor limites ao seu relacionamento com Jacob. Até porque não adianta mesmo, né? O lobo não se controla mesmo... Nem a vampirinha. – Ele me olhou com um olhar reprovador, mas sorriu depois. – Só pediria que mantivessem seus pensamentos sob controle, pelo amor de Deus!!

- Vamos tentar pai, juro que vamos, mas você também podia dar uma folga para o Jake, coitado.

Ele apenas riu.

- E vai me prometer que pedirá a seu avô que lhe receite anticoncepcionais... Não acredito que estou falando isso para minha filha com essa calma toda!! Sou uma vergonha para minha espécie – falou, dando seu sorriso torto que o deixava o pai mais lindo do mundo.

 Esse era meu velho... Atrás de toda aquela fúria, havia um gatinho manso que não conseguia me negar nada.

Me atirei em seus braços e o abracei com toda minha força. Eu o amava tanto...