Torna-te Minha Rainha escrita por kalliope


Capítulo 3
CAPÍTULO II {O Poder do Grande Rei}




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— Meu nome é Lizzie Harper, sou a nova empregada do Palácio de Buckingham — alegou Aimee, com firmeza. Ela tinha em mãos a carta de contratação que garantiria seus serviços. Aquela carta que não era sua, não originalmente.

Ada, a chefe das empregadas, era uma mulher rechonchuda e espontânea. Principalmente espontânea, até um pouco demais para alguém que se diz inglês. Ela deslizou indiscretamente seus olhos por toda a extensão do corpo jovem de Aimee, depois, cochichou alguma coisa no ouvido do mordomo principal. "Não vai aguentar" — foi o que Aimee conseguiu ouvir. Naquele momento, ela havia decidido que Ada teria de sofrer.

O mordomo se pronunciou.

— Srta. Harper, por favor, me acompanhe.

Aquele mordomo era provavelmente o homem mais clássico e bem vestido que Aimee já vira. Tudo nele era milimetricamente preciso e perfeito, desde as roupas ajustadas até a barba bem feita.

O homem a conduzia pelos corredores a passos apressados e, ao mesmo tempo, controlados. Enquanto isso, Aimee sentia um turbilhão de emoções em seu corpo a cada pouco que andava naqueles corredores vermelho-dourados repletos de quadros e esculturas. Era a sensação aprazível daquele lugar grandioso e encantador se juntando a terrível que era de ter matado.

"Ah, Liz, você iria adorar ver tudo isso" — ponderou enquanto o mordomo a indicava todos os majestosos quartos e salas.

Naquele mesmo momento, no mesmo corredor, vinha uma escolta de quatro guardas ingleses, e no meio daqueles homens armados, o mais novo rei. Um homem jovem e vigoroso; tinha os cabelos louros bem arrumados e os olhos azuis focados e sérios.

— Vossa Majestade. — O mordomo curvou-se. — Senhorita, queira curvar-se à presença do soberano — sugeriu, num tom imperativo.

Aimee não se curvou. Ficou a encarar a face do rei com dita presunção e desafio, tal como uma criança rebelde. Com fogo nos olhos, o rei a encarou de volta, impondo sua incontestável autoridade sem fazer uso de sequer uma palavra. Apenas para evitar problemas com os guardas, Aimee deu ao rei uma leve mesura, o que o fez voltar relativamente satisfeito ao seu caminho até a sala do trono.

Antes de voltar a seguir o mordomo, Aimee olhou para trás, para o rei, e mordeu seu lábio inferior com força, só para extravasar a emoção que o monarca havia causado em suas entranhas. Era ele o homem mais importante da Inglaterra, e também aquele que tornaria seu sonho realidade.

— E aqui, senhorita, é o seu aposento — sinalizou o mordomo para um quarto pequeno e com pouca iluminação natural. Havia apenas uma cama, um armário repleto de uniformes de faxineira e um espelho quebrado na parede escura. — Fique pronta e comece a limpar o 2º andar exatamente às 14:30 — com precisão, ele ordenou, e se foi.

Já vestida com aquele uniforme ridiculamente padrão, Aimee subiu as escadas de mármore branco até o segundo andar. Eram 14:19. Ela queria mostrar serviço, chamar a atenção do rei ou algo parecido. Graciosamente, ela pôs a vassoura, o espanador e um balde cheio d’água num canto daquela sala gigante e reluzente. Prendeu os cabelos castanhos em um coque muito mal feito e olhou ao redor, escolhendo por onde começar. Nesse ínterim, a chefe Ada havia entrado na sala.

— Não vai começar logo? — questionou ela, sem qualquer delicadeza.

Aimee virou-se para Ada e não hesitou em se defender.

— Mas o mordomo disse...

— Não responda sua superior, sua peste. Eu bem sabia que eles não deveriam ter trazido esses aldeões de Dartmoor para cá — ofendeu Ada, havia um tom irritantemente alto em sua voz, que ecoava em toda aquela sala de branco marfim.

Naquele momento, era oficial, Ada deveria sofrer.

Em um momento de fúria e desequilíbrio, Aimee alcançou rápido o objeto mais pesado que conseguira e acertou na cabeça de sua chefe, que caiu no chão desacordada ao mesmo instante. Um pouco surpresa pelo efeito de sua raiva passageira, Aimee foi até Ada, no chão, e verificou que ainda haviam sinais de vida.

"Se eu deixar que ela viva, provavelmente vai me entregar e então serei expulsa do Palácio" — foi o que ela, friamente, refletiu.

— Você não vai acabar com as minhas chances de ser rainha, sua vaca gorda — tachou Aimee, posicionando seu pé na garganta dela — Não vai mesmo.

Descarregando todo um ódio destruidor para a planta de seu pé, Aimee sufocou a pobre mulher, que relutou involuntariamente após alguns segundos sem ar. Após conferir a pulsação, ela suspirou de alívio. "Morta" — constatou. Para completar o feito, despejou um pouco de água daquele balde de limpeza sobre o rosto dela, para contar a história de que ela passou mal com os produtos e acabou se afogando sozinha.

Uma brisa gelada correu entre as persianas daquela sala e chegou na pele da menina de Dartmoor sem quase nenhum efeito. Ela estava eletrizada. Eram duas mortes em menos de uma semana. Foi até estranho quando um sorriso brutalmente satisfeito tomou seu rostinho de dezenove anos.

— Por Deus! — exclamou um guarda que estava a rondar o corredor e, por um acaso, se deparou com aquela situação.

Num instante, Aimee pôs-se de joelhos ao lado do corpo e começou a chorar, compulsivamente. Estava fazendo o papel de vítima traumatizada, e o fez muito bem, tanto que o guarda chamou reforços, primeiramente, para dar assistência à "Srta. Lizzie Harper" e depois comunicou os agentes oficiais para um protocolo forense. Trêmula, ela se abraçou a um outro guarda que havia chegado ao local, o mesmo a cobriu com uma manta quente e ficava sussurrando que ia ficar tudo bem enquanto os profissionais retiravam o corpo de Ada do local para a perícia. Lágrimas cobriam boa parte de suas bochechas rosadas, o medo gravado em seus olhos era legítimo demais para ser contestado.

Passados alguns dias da investigação, a versão de Aimee acabou por ser aceita pela Perícia, o que a fez permanecer no afortunado Palácio Inglês. Afinal, em quem eles acreditariam, em uma jovem simpática, ou uma emprega morta? E não haviam provas suficientes para provar que alguém teria feito aquilo além dos produtos fortes que a teriam feito desmaiar e se afogar num balde d’água.

Duas semanas depois daquele ocorrido, uma homenagem passou a ser organizada em celebração à Edward VIII, o novo rei. Aquela era a oportunidade em que Aimee maquinava algum jeito de se fazer notável ao monarca, ou seja, algo além de limpar um monte de salas e tirar o pó dos objetos caríssimos.


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Notas finais do capítulo

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