Inglaterra, 1930.

Céu limpo e pastos de puro verde até onde a vista alcança. O clima agradavelmente quente trazia aos pescoços ingleses o prelúdio de mais um verão frutífero naquela cidadezinha pacata e remota, localizada no Sul da Inglaterra. A dramática Dartmoor.

Matando o tempo, sentada embaixo de um espinheiro branco, lá estava uma bela e enérgica garota de treze anos de idade. Aimee Holder era seu nome completo; ela tinha nos olhos castanho-claros a determinação de cem guerreiros furiosos e, na vitalidade feminina, o deslizar das madeixas acobreadas sobre a pele clara. Suas ambiciosas aspirações eram grandes demais para aquela tão frágil cidade, lotada de agricultores fúteis e facilmente impressionáveis.

Aimee picotava uma folha verde do espinheiro enquanto olhava para o grandioso céu e ponderava a ousadia de seu sonho. Ser uma rainha, uma poderosíssima rainha. E como qualquer garota, ela imaginava seus cabelos adornados de perfumadas flores e um lindo vestido para usar todos os dias. Nisto, sua mente vagueava tão alto que nem percebeu que Oliver, seu grande amigo, havia chegado e sentado ao seu lado naquele pedaço de chão.

— Oi — foi a palavra que a arrancou de seus devaneios.

— Oi — foi a resposta, e logo em seguida, um silêncio.

Aimee era a jovem moça que mexia com o íntimo de Oliver. Apesar de, nos seus quinze anos de idade, ainda estar aprendendo o que é amor, ele tinha plena certeza de que amava a garota sentada ao seu lado.

O clima ameno, a aproximação física, a magia do sol vibrante no meio do céu anil; o silêncio. Tudo colaborava para um beijo entre dois adolescentes debaixo de um espinheiro branco solitário. Mas a vida as vezes engana.

— O que é que você tem? — questionou Aimee, ao perceber os reflexos ansiosos de seu amigo.

Ela nunca fora — e nunca seria — uma menina doce, nem tão pouco romântica.

Retraído pela frustração, Oliver retomou sua postura comum.

— Nada. Eu só vim ver aonde você estava — verbalizou, compondo calma e controle a seus olhos azuis. — A Sra. Holder quer que você vá ajuda-la com as roupas.

Enfadada, Aimee rasgou os últimos pedacinhos da folha do espinheiro e se levantou do chão, impulsionando seu corpo com uma das mãos. Um suspiro pesado lhe escapou por entre os lábios.

Ela colocou as mãos na cintura e ajeitou os ombros, em uma postura notável de realeza.

— Você verá, Oliver, um dia eu não terei mais de lavar essas roupas imundas, ou sequer ajudar na colheita. Eu irei me tornar uma rainha, tenho certeza disso — determinou, e se foi ao encontro da mãe trabalhadora.

Oliver, o garoto franzino, continuou sentado na grama macia, com os olhos grandes e azuis atentos em Aimee, observando-a partir.

"Se ela for a rainha, eu preciso ser o rei" — resolveu ele, com o coração pulsando na garganta.