(…) Eles não são um casal perfeito, daqueles de cinema. Brigam muito, ficam um tempo sem se falar e nesse intervalo ainda rola uma guerra de indiretas, cada um querendo ser o dono da razão. Mas no fundo eles sabem que é tudo  joguinho bobo de orgulho, e que por detrás daquelas caras fechadas e bicos não se aguentam de saudade. Tudo bem que eles passam a imagem de cão e gato, mas uma coisa é certa....Eles se amam mais do que qualquer coisa.... (…)  

Rosalya Miller 

Meu olhar se mantém surpreso. O que raio, Kayla Angels faz á minha frente, em toalha de banho, mais surpresa por nos ver a nós do que nós a ela?? Pisco os olhos duas vezes e olho para Rosalya que está branca como a cal e de boca aberta, tentando entender o que ela faz ali na nossa frente. O que mais me incomoda não é o facto de ela estar ali, mas sim ela estar ali DE TOALHA DE BANHO. Olho nela com atenção. O cabelo negro como a noite cai sobre a tolha húmida e o meu olhar segue os pingos de água que caem para o chão. O silêncio invade completamente aquele hall de entrada e o ambiente começa a ficar estranho. De repente, o som de passos firme sobre a madeira envernizada acabam com o silêncio e Castiel aparece....somente de toalha de banho... 

—Porque não entraram com a chave?  

É a única coisa que ele pergunta, na maior da inocência como se aquela situação fosse a mais normal do mundo. Eu olho nele, com um "asério?" estampado na testa em letras bem grandes e gordas mas ele nem reage. 

—Entraríamos se tivéssemos chave – respondo curta e grossa, ainda á espera que alguém me explique a presença de Kayla na minha frente EM TOALHA DE BANHO.  

—O que ela faz aqui? - pergunta Rosalya num tom agressivo e desconfiado. Eh! Eu também quero saber!  

Antes que Castiel dissesse algo, Christina entra na sala limpando as mãos ao avental e nos olha com uma cara repreensiva 

—Os vossos tios vêm jantar connosco, quero que se arranjem e tenham modos por favor. Rosalya, já cumprimentas-te a tua prima? 

O meu queixo cai até ao chão nesse preciso momento, o ar que eu tinha guardado nos meus pulmões somente para meu consumo é me roubado com esta noticia. A KAYLA É PRIMA DELES?? WTF???  

—Era o que eu ia explicar agora.... - sussurra Castiel meio sem jeito 

Olho na Rosalya, e a mesma parece o emoji de desespero do whatsapp. A minha cara de espanto também não deve ser a melhor mas ela para parece que levou um tiro no peito.  

—Eu também não sabia que era vossa prima, foi uma surpresa para mim também. Eu vou me vestir, estou a apanhar frio  

Kayla vira costas e sobe as escadas até lá acima sem fazer barulho. Cruzo os braços inquieta. Castiel está bem na minha frente em toalha de banho, sua pele parece feita de pequenos diamantes reluzentes devido aos pingos de água que escorrem pelo seu corpo musculado e sarapintado. Porque ele tem que estar deste jeito na minha frente? 

—Eu vou me arranjar.... 

Rosalya sai, deixando-me sozinha com ele... 

—Sobe, quero falar contigo – pede, fazendo sinal para eu o seguir 

Não resisti e acompanhei-o até ao seu quarto e fechei a porta devagar atrás de mim quando entrei. Castiel bagunça o cabelo encharcado e alguns pingos de água caem no chão de madeira envernizada e, irritada, reviro os olhos esperando que ele acabe com a lapdance e que me diga logo o que tem a falar. 

—A noite de ontem foi atribulada... - sussurra olhando pro chão e desviando logo o olhar sobre mim 

—A quem o dizes – respondo séria, metralhando-o com os olhos enquanto mantenho os braços cruzados  

—Desculpa...eu ontem não estava em mim... - me olhou triste_ Por favor não acabes com tudo  

—Tarde demais, já acabei... - me virei  

—Lake!!!  

Seu grito arrepiou até os mortos. O meu peito dói de desgosto, e seguro as lágrimas com todas as minhas forças para não chorar.... 

—Dormiste com ela não dormiste....? - pergunto, ainda voltada de costas para ele com a cabeça baixa 

— …......  

Castiel não responde..... 

—Dormiste com a Debrah não dormiste?!?! - grito fula  

—Lake... -Oiço seus passos aproximarem-se de mim e sinto os seus braços envolverem os meus 

—Não me toques! Eu odeio-te!! - encosto a minha cabeça na parede e assim fico, chorando com força enquanto ele se mantém atrás de mim e oiço-o fungar 

—Me perdoa..... eu estava furioso por me teres deixado ali e quis-te magoar da pior forma e com a pior pessoa para o fazer. Mas eu amo-te Lake... oh garota eu te amo tanto...  

Sua voz está fraca e rouca, como se também chorasse. Respiro fundo e engulo o choro, enxugo as lágrimas e olho nele sem saber o que dizer. Ele desiludiu me muito... 

—"Se olhares nos olhos dela verás um céu cinzento, e quando ela chora, parece um dia de chuva" 

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Castiel começou a cantar.... 

All alone she was living 
In a world without an end or beginning 
Baby girl was living life for the feeling 
But I don't mind, I don't mind 
And all the wrongs she committed 
She was numb and she was so co-dependent 
She was young and all she had was the city 
But I don't mind, I don't mind 

And I know that she's capable of anything, it's riveting 
But when you wake up she's always gone, gone, gone 

In the night she hears him calling 
In the night she's dancing to relieve the pain 
She'll never walk away (I don't think you understand) 
In the night when she comes crawling 
Dollar bills and tears keep falling down her face 
She'll never walk away (I don't think you understand)…. 

Eu devia odia-lo. Eu devia odia-lo tanto. Mas aquela voz rouca e os lábios pálidos hipnotizam-me de uma maneira assustadora. Suas mãos faziam carinho no meu cabelo enquanto eu escutava sua voz, agora doce e calma, como eu escutava o meu avô contar histórias quando eu era pequena. Fechava os olhos delicadamente e escutava ele cantando para mim ainda com cara de choro e triste. Quando ele acabou, abri os olhos e olhei diretamente nos dele. 

—Os meus "dias de chuva".... - sorriu calmo e aliviado, referindo-se aos meus olhos chorosos de cor cinza como os dele 

—Não penses que me tens assim tão facilmente... - disse decidida 

—Eu sei que não, mas tenho que começar por algum lado 

Saí dos seus braços e olhei para a porta. Eu tenho que me despachar para o jantar... 

—Eu tenho de ir tomar banho e me arranjar para o jantar... devias fazer o mesmo 

Sem dizer mais nada, saio do seu quarto e atravesso o corredor para chegar ao meu, e, quando abro a porta, sou recebida por um espetáculo pouco conveniente. 

—Heyyy!! Estás maluca?? Bate á porta antes de entrar!! - grita Kayla se tapando, eu quase que a vi nua 

—Estás a brincar?? Este quarto é meu! O que fazes aqui? Hey esse vestido é meu!! 

Minha voz está agressiva, muito mais do que o normal e isso faz-se transparecer de imediato. Kayla está me olhando torto de cima a baixo como se a errada ali fosse eu.  

—Não me olhes assim, quem está mal aqui és tu – respondi séria 

—Ah eu? Tu é que não bateste-te antes de entrar! - devolveu 

—Desde quando é que eu tenho que pedir autorização para entrar no MEU quarto? - rebati, já deitando fumo pelas orelhas 

—Christina disse que por hoje este era o meu quarto. Os meus pais e eu vamos dormir cá hoje por isso sai. Quanto ao vestido, vou usa-lo no jantar. 

—Desculpa? Ouve, eu não me importava de te emprestar o vestido se mo pedisses com modos, não é chegar ao meu quarto e começar a vasculhar as minhas coisas.  

—Pensei que não te importasses.... pensei que éramos amigas - sussurrou  

—Eu não sei se posso te considerar minha amiga, é raro tu conviveres comigo, assim como com os outros – disse mais calma 

O rosto dela relaxa um pouco e o olhar fica mais leve. Sem dizer nada, Kayla pega no vestido que se encontra sobre a cama e mo entrega nas mãos 

—Toma, tens razão, eu devia ter pedido autorização. Me desculpa 

Sinto o arrependimento na sua voz e suspiro pesado. Se calhar não devia ter sido tão bruta. 

—Podes vesti-lo, deve ficar-te melhor do que a mim. Mas para a próxima pede por favor 

Ela sorri fraco e assente. Não vou armar confusão por um vestido pelo amor de Deus. Entro no banheiro e ligo a água quente para me despachar, os pais da Kayla já devem estar a chegar para jantar.  

(…)  

Depois de ter tomado banho voltei para o quarto para me arranjar. Kayla já estava tinha vestido o vestido e estava á procura de uns sapatos legais, mas pela cara dela, nada combinava. Olhei no meu armário e peguei umas botas de salto alto estilo Romano e dei nela. 

—Toma, experimenta estas, acho que te serve. Eu tenho o pé pequeno. 

—Obrigado  

Não perco mais tempo e me vou arranjar. Passados 20 minutos, estou completamente pronta assim como Kayla. Um vestido preto justo só com um ombro, botas de salto alto, maquilhagem simples e uns pequenos acessórios como brincos, relógio e anel. A campainha toca e todo o mundo desce até lá abaixo. Rosalya mudou o seu estilo gótico de manhã e voltou aos seus conjuntos rosinhas e tons claros. Não vou mentir, acho que prefiro vê-la assim do que gótica. Parece mais ela. Castiel não se arranjou nem um pouco KKKKK jeans pretas descaídas com cinto e t-shirt vermelha folgada está bom para ele, juntamente com o seu maravilhoso perfume a homem. Christina e Nate, todos arranjados também, abrem a porta apressados e diante de nós aparece um casal com uma garotinha com os seus 7 anos, não mais que isso.  

A mulher, é loira de olhos castanhos claros e o homem moreno de olhos azuis. Faz-me lembrar muito o Kentin. A garotinha é igual á mulher, só que com os olhos cor cinza como os meus e de Castiel. Traz um vestido estilo lolita azul escuro muito fofo e uma fita no cabelo da mesma cor.  

—Bem-Vinda Jenny, Bruce e Lily - Christina cumprimenta o casal e em seguida dá uma piscadinha para a garotinha que sorri doce. Ela olha para a Kayla e vai na direção dela como um foguete  

—Mana! - Kayla pega na Lily ao colo e dá-lhe vários beijinhos no rosto seguidos. A pequena sorri alegre. 

—Quem é a garota? - A mulher, Jenny como Christina lhe chamou, me olha com desconfiança.  

—É a namorada do meu filho, faz parte da família - respondeu Christina

Ela não fala nada, apenas me olha com aquele olhar de desprezo e puro desinteresse. Saímos de casa em direção ao restaurante, pelos vistos não vamos jantar em casa. Mal entramos, sentamo-nos numa mesa e a minha cara abriu-se num perfeito "0" quando vi quem era o empregado. Olho na Rosalya, petrificada e com cara de quem vai morrer neste preciso momento. 

—Lysandre?

—Nós precisamos de falar.....