Adrian disse que precisava me ver. E quando chego à escola, ele está no estacionamento e me olha estranho. Ele não está sorrindo como de costume e sua expressão é algo que nunca vi. É sombrio e frio. Ele parece com raiva. O Adrian que eu conheço não é assim.

— Bom dia. – digo tentando disfarçar a tensão na minha voz. – Você disse que quer falar comigo?

— Está com ele? – ele pergunta entre dentes. Franzo o cenho.

— Como é?

— Eu vi Sofi.

— O que?

— Você e o Aléxis. No bar. Eu vi Sofia. Por que diabos você não me contou? O Aléxis Sofia? Sério?

— Eu não quero te ofender Adrian, mas isso não é da sua conta. – digo ficando com raiva do seu tom. Esse não é o Adrian que eu conheço.

— No cinema, foi ele não foi? Ele te deu aquele chupão! Merda! Como eu não vi?  - aperto meus olhos para ele não gostando do tom.

— Se foi, o que diabos você tem a ver com isso?

— Merda! Sofia! Por que você não me disse? – ele grita. Sinto meu coração bater meus forte e o som enche meus ouvidos.

— Não era da sua conta, tá legal! Ou você sai me contando cada vez que transa com alguém?

— Transar? Não vai me dizer que... Foda-se Sofia, você não dormiu com ele? Merda! É o Aléxis! Porra! Ele vai usar você e jogar fora! Você sabe disso, viu o que ele faz com as mulheres? Quando foi que ele manteve alguém? Você acha que é especial? Você acha que vai mudar ele? Eu não achei que você fosse tão idiota. – ele diz. Suas palavras bem poderiam ter sido tapas, doeu. Doeu como um inferno. Meu coração gelou no peito. Adrian esteve comigo por mais de dez anos, a única pessoa que eu achei que estaria lá por mim em qualquer ocasião. Eu estava errada.

— Você não entende. – comecei a dizer. Por que ele não entendia. Eu nunca esperei nada de Aléxis. Nunca pensei que ele mudaria. Nunca me permiti pensar que ele ficaria comigo. Eu não esperei que ele mudasse por mim. Eu simplesmente não tinha expectativas. Mas, Adrian não sabia disso. Não sabia nem da metade.

— Eu entendo! Porra. Entendo sim. Você é como essas menininhas que vivem babando em cima dele, esperando que ele note, mas eu tenho novidades pra você Sofia! Ele não vai notar! Ele vai foder você e vai cansar e então vai ti jogar fora!

— Por que está gritando comigo por causa disso? – pergunto aos gritos. – É meu problema!

— Você estava  apaixonada por mim! – ele grita. Eu congelo. Ele sabia? Ele sabia dos meus sentimentos. – Eu sabia.

— Quem? - pergunto em um sussurro. 

— Ninguém, eu vi o jeito que você olhava para mim, eu não sou idiota!

— Então por que não disse nada?

— Por que eu não queria perder sua amizade.

— Você dormia ao redor, e na minha frente Adrian! Como no inferno você acha que isso era manter a amizade? – ele olha para mim. Seus olhos verdes um dia me trouxeram conforto agora me deixam com o estômago gelado.

— Olha Sofi... eu....

— E você se atreve a me falar sobre Aléxis? Sério Adrian? 

— Você parou de me olhar daquele jeito. – ele afirma. – Está apaixonada por ele? – merda, eu estou? É algo que eu não quero pensar aqui, agora. Minha garganta aperta. Eu sinto que estou prestes a me acabar de chorar.

— Eu... – então antes que eu responda Adrian faz algo que eu nunca achei que ele faria. Ele me beija. Eu tinha esperado isso desde os meus quinze anos. Adrian finalmente me notar. Notar algo mais do que a Sofi, melhor amiga, que era quase uma irmã. A Sofi, que estava sempre ao redor, sempre lá, sempre correndo com a vida louca. Seus lábios apesar de macios, não me causaram o que eu esperei por anos. Ao contrario. Ele tentou invadir minha boca com a língua e me pareceu errado. Só errado. Meu estômago afundou de um jeito ruim. Muito ruim. Sinto um frio descendo pela minha espinha. Eu o empurrei com todas as forças que eu tinha. Ele deu dois passos parar trás e me olhou transtornado. – Que merda você está fazendo? - pergunto limpando a boca com as costas das mãos. Minha voz está embargada e eu engulo o choro. 

— Você queria a mim! – ele diz. Ele tem razão. Eu queria. Passado. Eu não sou mais aquela Sofi. Eu mudei. Em algum momento aquela Sofia se foi. Eu sou outra pessoa. Adrian, não é mais o cara pelo qual eu estive apaixonada. E ele também não é o meu melhor amigo. – É ele não é? Você se apaixonou por ele não foi? Eu não pensei que você fosse idiota assim! – Ele grita.

— Eu não sei o que você quer de mim!

— Eu quero você! – ele diz. Meu coração salta. Se ele tivesse dito isso a alguns meses atrás...

— Por que agora Adrian?! . – Eu grito. Por que diabos ele me quer agora?

— Eu não sei! Tá legal! Mas eu tenho sentimentos por você sempre tive. Eu tinha medo de ti dizer e tudo acabar! Dê uma chance para mim Sofia! Eu sou melhor que ele você sabe disso! Ele vai ti machucar. Eu sou seu melhor amigo, você sabe que eu vou sempre estar aqui para você! Deixa eu provar pra você.

— É muito tarde agora, Adrian. Você é um maldito covarde! – Digo não refreando o que eu sinto. – Se você não fosse tão covarde tudo poderia ser diferente! Mas agora Adrian, olha pra nós! Você achou que ia restar algo de nós depois disso?

Eu ando para longe. Minhas mãos estão tremendo quando entro na escola.  Eu não tenho cabeça para estar aqui. Tenho vontade de ir para casa, me enfiar no meio da cama e afundar a cabeça nas cobertas. Mas afinal aonde é minha casa?

Ainda assim me encaminho para sala.  Minha amizade de dez anos ficou no estacionamento. Meu melhor amigo, está perdido, talvez a tempo demais e eu estive distraída demais para ver. Meu coração está partido.