No segundo dia da metamorfose de Bella eu percebi como eu estava com sede. Eu não tinha deixado o seu lado um momento sequer – não que passar alguns dias sentada fosse um desafio – mas eu definitivamente não queria estar fraca quando ela acordasse como um incrivelmente forte recém-nascido. Eu tinha planejado sair para caçar com ela, mas então, infelizmente, no terceiro dia, a dor tornou-se insuportável. Confiei em Edward e Esme para vigiá-la, beijei a testa de Bella suavemente antes de abandonar a sala e correndo em direção ao verde que rodeava nossa casa. Uma vez que já estava entre os espessos carvalhos e pinheiros, eu realmente tive uma oportunidade de esticar minhas pernas, sentindo o ar refrescante correndo através do meu cabelo e sobre o meu rosto. Eu respirei profundamente, os aromas amplificados pelos meus sentidos super apurados serviram para esvaziar minha mente um pouco. Aproveitei o momento de tranquilidade para prever mais uma vez o que iria acontecer dali em diante, para ter certeza de que Bella continuaria a salvo como da última vez que vi. Ou pelo menos eu queria ter certeza.

Percebi a presença de outra pessoa e imediatamente me forcei de volta ao presente. Sua mão pousou em meu ombro, só levantando um pouco quando me virei para encará-la. Eu ofereci um sorriso e não me surpreendi quando apenas um pequeno esboço de sorriso me foi devolvido. Rose e eu sempre tínhamos nos encaixado melhor do que com a maioria dos outros, com exceção de Emmet, é claro. Seus olhos dourados encontraram os meus pretos.

"Você está preocupada mesmo já tendo visto a vitória com seus próprios olhos." Era uma simples afirmação, que não poderia ser ignorada ou desmentida. Eu não queria mentir, e nem poderia. Ela sempre sabia quando eu estava escondendo alguma coisa dela.

"Sim", respondi, pouca coisa poderia ser dita naquele momento.

Embora minha mente estivesse realmente perturbada, era impossível não se sentir importante quando Rosalie agia assim, quando ela abria. Mesmo que muitas pessoas não reconhecessem isso – que era provavelmente como que ela queria que fosse – Rosalie era uma das vampiras mais carinhosas que eu já conheci. Só leva algumas décadas para quebrar o bloqueio de gelo que distorce sua verdadeira personalidade. Uma vez que você consegue, de repente sente uma enorme e gratificante sensação de amizade e companheirismo, o que é relativamente raro para nossa espécie

Sem muito pensar, deixei-me cair em seus braços e ela me recebeu sem hesitação.

"Eu continuo esperando acordar", confessei com minhas palavras meio abafadas pela sua camisa. "Quando Chelsea mexeu com nosso relacionamento quando ainda estávamos na Itália eu senti que finalmente minha mente tinha voltado à realidade..."

“Você merece ela, Alice.”Rosalie disse num tom seguro.

“Mas será que ela merece isso?" perguntei olhando para a minha irmã, cada pedacinho da minha pequena altura parecia evidenciado ali. "Eu tirei-"

"Substituiu," Rosalie corrigiu com uma pitada de agitação em sua voz. "Você substituiu a vida humana dela por uma mais forte e eterna ao seu lado. Como isso poderia ser ruim?" Embora eu tenha apreciado suas palavras, senti como se a pergunta fosse mais voltada para ela mesma.

"Você ainda sente falta de ser humana, não é?", eu disse, recostando-me nela com um suspiro. Ela não respondeu, apenas empurrou-me para longe dela. Sessão Rose Compreensiva tinha terminado. Eu tinha tocado no seu ponto mais fraco. Ela começou a andar na minha frente, mas eu vi que ela ainda pretendia caçar comigo

"Apenas agradeça por ser isso o que ela quer", foi tudo o que ela disse pelo restante da viagem.

Estávamos cuidando do segundo urso quando ouvimos Edward correndo em nossa direção.

"Alice!" Ele chamou com uma certa urgência em sua voz. Foi fácil alcançá-lo, mesmo estando a uns bons 20 quilômetros de distância

"O que foi?" Rosalie perguntou enquanto eu tentava ver o que estava acontecendo. Até que vi.

"Ela está acordando!” gritei mas meus pés já estavam quilômetros à frente de minhas palavras, que ficaram no ar entre Rose e Edward enquanto eles trocavam um breve olhar antes de virem atrás de mim. Eu não podia acreditar. Era verdade! Minha radiante Bella, minha incrível e inteligente humana – não! Vampira – finalmente era minha para sempre. Eu juro que nunca me senti tão leve em toda minha vida, o seu novo ser me puxava para ela como a gravidade, mas ainda mais forte. Indo a uma velocidade que eu não tenho certeza se mesmo Edward alcançaria, eu vi nossa casa se aproximando rapidamente, apenas parando uma vez que eu já estava lá dentro. Ela ainda estava deitada no sofá. Ótimo, eu não tinha perdido nada. Carlisle estava fazendo um exame rápido, mas parou quando me viu. Ele sorriu, dando a entender que a mudança tinha corrido bem. Numa fração de segundos eu estava ajoelhada ao seu lado, olhando seus cílios esvoaçantes, que estavam significativamente maiores do que eu lembrava. Seus olhos vermelhos eram muito mais atraentes do que eu imaginava e de alguma forma ainda mantinham um pouco de sua cor marrom de quando era humana. Eles saltavam do rosto de porcelana, fazendo-me arfar.

"Ei, Spikes", disse ela quase inaudível. Sua voz estava vinte vezes mais impressionante mesmo como um sussurro. Eu não conseguia responder, todas as reações possíveis se desmanchavam com a simples visão dela. Depois de alguns minutos de meu olhar tolo, ela riu – um som dourado que me deu borboletas no estômago – e bagunçou meu cabelo, sentando-se. Sua ação finalmente arrancou-me do meu torpor inicial, permitindo-me fechar a minha boca em embaraço. Eu sabia que ela seria perfeita mas... nossa.

Seus braços nus eram brancos feito leite, seu cabelo ondulado caindo sobre os ombros de forma que os comerciais de shampoo prometiam, embora nenhum humano – nem supermodelos ou nada parecido – chegasse ao pés disso. Suas feições estavam mais definidas, cada curva fluia de uma forma que me deixava com água na boca. Ela olhou para baixo, para mim, obviamente confusa.

"Alice? Você está bem?"

Felizmente Edward podia ver que eu estava longe de possuir um vocabulário adequado para respondê-la e entrou na “conversa”

"Como se sente, Bella?"

"Eu me sinto..." ela trouxe sua mão na frente do rosto, impressionado com a quantidade de detalhes que ela podia ver agora, e como sua pele era pura. "Fantástica. Sério, eu nunca me senti tão bem antes."

Carlisle assentiu com a cabeça. "A transformação leva embora todos os defeitos de sua vida passada, substituindo por tudo mais forte..."

Eu sabia que Bella não estava ouvindo uma palavra do que ele disse. Sua atenção estava subitamente fixada no canto da minha boca. Ela avistou um pouco de sangue que eu tinha esquecido de limpar na minha pressa para chegar até ela. Já vendo o que ela faria, eu estava preparada quando ela me abordou -ai!- E começou a lamber todo o sangue visível. Uma vez terminado, eu poderia dizer que ela ainda estava insatisfeita. Preocupada que ela pudesse começar a procurar dentro da minha boca por algum outro gosto (o que teria sido ótimo se estivéssemos sozinhas), eu a puxei para cima comigo, acariciando suas costas para tentar acalmá-la. Fiz um gesto para Jasper e ele começou a usar da sua magia para acalmar toda a sua excitação. Uma expressão estranha atravessou o rosto de Bella, meio cautelosa e meio curiosa.

"Ela precisa caçar"

Edward veio conosco só para o caso de Bella ficar muito fora de si. Ele seria capaz de ouvir seus impulsos antes que esses se transformassem em ação. Ela desfilava por entre as árvores como se tivesse sido uma corredora olímpica enquanto humana. Edward e eu mantínhamos um ritmo constante a poucos metros atrás dela, nunca perdendo-a de vista, mas ainda permitindo-lhe algum espaço. As primeiras caças poderiam eram um tanto quanto territoriais para um recém-nascido. Ouvindo uma manada de veados a poucos quilômetros, eu apressei para levá-la a eles, mas fiquei surpresa quando Edward me segurou. Sem explicação nenhuma, apenas um sorriso torto. Quando nos aproximamos dela, havia dois cervos já mortos a seus pés e ela estava bebendo freneticamente. Meu queixo caiu. Edward riu da minha reação e de meus pensamentos.

"Parece que ela pode se cuidar sozinha", disse ele, pulando em outro veado, rasgando a garganta de uma só vez. O animal caiu e ele bebeu seu sangue. Fui sentar em um galho alto numa árvore próxima, olhando orgulhosamente como Bella atacava um terceiro veado. Eu não lembrava de ter bebido tanto, embora os primeiros dias de um recém-nascido fossem bastante confusos. Quando se deu por satisfeita, ela cheirou o ar, procurando algo. Eu ri baixinho e a cabeça dela virou para me encontrar. Apesar da parte de baixo de seu rosto estar coberta em grande parte de vermelho, seu sorriso ainda era capaz de quebrar corações. Escalando na árvore de quinze pés em apenas dois passos, ela pousou ao meu lado quando lhe ofereci minha mão.

“Você foi muito bem, querida", eu disse carinhosamente, puxando-a para meu colo. Ela ainda era leve como uma pena, mas agora sua pele tinha a mesma temperatura que a minha, o que era muito confortável. Ela se aninhou mais, seus braços ao redor de mim. Sorri quando percebi que ela começava apertar um pouco forte demais.

"Lembre-se você é quase uma usina de força agora, Bell", eu disse a ela com firmeza. "Você tem que ser gentil..." Ela olhou para mim, entendendo o que eu queria dizer. Um sorriso se fez em seus lábios quando ela se inclinava para mim. Recebi o beijo de coração, embora não tanto para que ela não ficasse muito excitada. Não era uma boa ideia brincar com emoções muito fortes perto de recém-nascidos. Embora ainda fosse Bella, ela tinha um lado completamente novo de si mesma para se acostumar.

"Ei, pombinhos!" Edward nos chamou lá de baixo. "Desçam daí! Temos que voltar para o ninho de verdade!" Ele riu, empolgando ainda mais quando ouviu o que eu estava pensando em fazer com ele. Pegando a mão de Bella na minha, sorri e pulei do galho, com uma enorme satisfação ao vê-la cair e pousar com tanta graça quanto eu. Nada mau, pensei, sorrindo para ela. Mas então aquela mesma expressão estranha atravessou seu rosto, a mesma de quando decidimos que ela precisava caçar. Era uma mistura de curiosidade e desconfiança, talvez até um pouco de medo.