Mesmo eu insistindo para que ela me dissesse o porquê da necessidade súbita de romper comigo em primeiro lugar, dava para ver o quanto ela estava cansada e insisti para que ela fosse dormir. Continuaríamos a conversa pela manhã. Eu hesitei quando ela pediu, mas acabei abraçada com ela em sua cama durante a noite inteira, sentindo seu cheiro enquanto ela sonhava com nós duas. Era o mesmo sonho que tinha tido no avião indo para a Itália. Nós simplesmente andávamos pela floresta, nossas mãos morbidamente pálidas entrelaçadas. Só que desta vez foi um pouco mais detalhado. Eu parei de pensar no medo que tinha de ficar 'estimulada'. Senti que precisava de pelo menos um pouco de tempo para me acostumar a estar perto dela novamente. É verdade, nós realmente não tínhamos ficado separadas tanto tempo assim, mas todo segundo é uma eternidade quando sua esperança está se deteriorando. Eu acariciava seus cabelos, sorrindo brevemente. Continuei tentando formular teorias a respeito do motivo que a despertou a necessidade de me deixar, o melhor que eu podia pensar era aquele incidente no vestiário. E não podia culpá-la realmente, pois provavelmente teria me assustado tanto quanto ela. Mesmo assim, isso não parece muito com Bella.

Ela se esticava enquanto ia acordando, deixando escapar um grande suspiro. A luz azul cristalina que entrava pela janela descansava em sua pele fria. Eu puxei o cobertor até seu queixo, envolvendo os meus braços em torno dela sobre ele. Ela sorriu para os olhos dourados, beijando minha bochecha.

"Eu tive o melhor sonho", disse ela.

Segurei meu riso e se sentei na beira da cama, levando-a comigo. Ela se enrolou em meu colo, suspirando mais uma vez.

"Café-da-manhã?" perguntei, já habituada às suas necessidades humanas.

"Charlie provavelmente comeu toda a comida decente enquanto eu estava fora."

"Eu te levo para algum lugar, então." ofereci.

"Podemos ir até sua casa?"

Eu travei, não muito segura sobre isso. Eu podia ver que Edward e Emmet estariam caçando... mas Jasper ainda estaria em casa. Eu balancei minha cabeça, certa de que não estava pronta para assumir o risco.

"Nós provavelmente temos menos variedade do que você tem aqui. Venha, vamos ver o que tem lá embaixo. Aposto que podemos pensar em alguma coisa." Eu pisquei e levei-a do quarto, ainda embrulhada no cobertor felpudo. Ela estava aninhada em mim, sem piscar, enquanto eu descia as escadas. Fingi tropeçar em um dos degraus e desequilibrar com ela nos braços. Ela riu, mas sua pulsação ficou surpreendentemente normal.

"Alice, você fingindo ser desajeitada seria mais ou menos como eu tentando andar numa corda bamba..."

Eu tive que rir também.

Conseguimos encontrar os ingredientes certos para uma torrada francesa que ela comeu com um pouco de um suco de laranja que ainda havia na geladeira. Eu lavei os pratos quando ela terminou, afastado-a quando tentava ajudar. No final, ela veio por trás de mim e me puxou para o chão. Uma cadeira caiu e quase acertou a cabeça de Bella, mas foi facilmente capturada e reposicionada. Deitei por cima dela, seus braços macios me segurando tão firmemente quanto podiam. Parecia que uma boneca de papel estava tentando me segurar como refém, mas decidi continuar aquele jogo.

"O que você vai fazer comigo?" Eu perguntei com uma voz assustada, fingindo que tentava me libertar. Ela respondeu com um sorriso e voltou a ficar em cima de mim, prendendo meus pulsos no chão. Eu choraminguei e virei o rosto de forma dramática para não encará-la. Ela segurou meu queixo e puxou-o de volta, seu rosto a centímetros do meu. Meus olhos arregalavam enquanto os dela se estreitavam. Ela mostrou os dentes e fiquei surpresa em perceber o quão ameaçador parecia. Ainda humana, mas eu podia ver o potencial. Ela assobiou*, e ainda lutando contro um sorriso que quase pude ver, mergulhou a boca no meu pescoço, cravando seus dentes. Escondendo meu próprio sorriso, senti sua língua tomar o lugar onde antes os dentes tinham ocupado, subindo pelo meu pescoço e voltando até minha clavícula. Suas mãos deslizavam sob minha camisa, seu corpo apertando cada vez mais o meu. Seus dedos rastejavam sobre minha pele, fazendo-me arfar quando percebi que estava começando a ficar molhada. Desta vez eu realmente me libertei, tirando-a delicadamente de mim e levantando. Arrumei minha roupa e fui para a sala sentar em uma poltrona.

"Sinto muito", eu disse quando ela se juntou a mim, ainda confusa. "Eu só preciso de algum tempo."

Ela parecia insegura, mas assentiu com a cabeça, sentadando no sofá. Após um momento ela balançou a cabeça, cara ainda mais pálida que o normal.

"Não, me desculpe", ela sussurrou. "As coisas não seriam assim se não fosse por mim. E estraguei tudo e nem mesmo sei o porquê." Ouvi atentamente, vendo que ela estava prestes a dizer o que tinha acontecido lá no hotel, quando eu tinha saído para caçar.

"Não faz sentido nenhum. Um minuto eu estava lendo enquanto esperava você voltar, e então, de repente, senti que as coisas tinham mudado. Era como se alguém tivesse desligado um interruptor. Mas eu juro, Alice, tudo que eu disse para você era verdade. Eu realmente te amava- eu realmente te amo. Deus, eu simplesmente não sei o que me deu." Ela descansou a cabeça nas mãos, sacudindo-a repetidamente. Eu coloquei a mão em seu ombro.

"Foi por causa do que aconteceu no vestiário? Quando eu quase mordi você?" minha voz era baixa. Ela sacudiu a cabeça novamente.

"Eu pensei que fosse isso, parecia a coisa mais lógica, mas mesmo assim não faz sentido para mim."

Pensei por um momento. "O livro que estava lendo era deprimente ou algo assim?" Eu perguntei, sabendo que era um palpite bem fraco.

Ela balançou a cabeça.

Em seguida, outra idéia me apareceu.

"Em que lugar do quarto você estava quando eu saí?"

"Eu andei um pouco, mas fiquei lendo pela janela."

"A janela que pela qual eu saí?"

"Sim..." Sua resposta foi uma pergunta: 'E?'

Tentei me lembrar dos detalhes daquele dia, me inclinando para trás e para frente.

Então tudo pareceu claro.

"Bella, alguém foi até o quarto depois que eu já tinha saído? Uma empregada, outro hóspede, alguém?"

Ela fez uma pausa, considerando. "Não."

"Sem telefonemas?"

"Nenhum. Alice-?"

"Você viu alguém por perto do quarto, talvez no corredor ou no estacionamento?"

Ela hesitou e em seguida: "Bem, eu pensei ter visto alguém de fora da janela, mas estava muito longe. Poderia ter sido mais de uma pessoa, mas não estava prestando muita atenção."

"O que ela se parece?" Eu perguntei, na ponta de meu assento.

"Como você sabia que era uma garo-"

"Descreva-a Bella."

Ela mexia a camisola, tentando lembrar.

"Meio alta... roupas escuras... talvez loira".

"Pálida?"

Bella me encarou em confusão.

"Você não acha que Rosalie estava lá não é?"

Comecei a rir, mesmo a situação sendo bem séria. Me recompus rapidamente, balançando a cabeça. Bella continuou, ignorando minha gargalhada.

"Um... sim... claro, ela era. Por favor, me diga o que você está pensando, Alice."

"Bella", disse eu, indo sentar com ela no sofá. Eu suspirei profundamente, e falei com minha voz não tão pesada. "Em primeiro lugar, eu sou uma idiota." Eu ergui as sobrancelhas para minha própria estupidez. Ela começou a protestar, mas eu coloquei o dedo nos seus lábios. "Em segundo lugar, nada disso é culpa sua." Levantei-me e comecei a andar, sorrindo para a minha própria tolice. Era dolorosamente óbvio, e ainda assim tinha me escapado completamente.

"Alice?" Bella levantou também, parecendo preocupada.

"Você sabia que alguns vampiros têm os seus próprios talentos especiais?" Perguntei a ela. Ela olhou para mim sem expressão, mas concordou. Eu a envolvi em meus braços, levando-a de volta para o sofá.

"Depois que eu deixei no hotel, eu encontrei um desses vampiros. Ela é um guarda dos Volturi."

"Qual é a habilidade dela?"

"Alterar as relações."

Bella olhou para mim com horror.

"Seu nome é Chelsea. Ela deve ter me visto sair do quarto e ficado curiosa e..." não podia continuar.

"Mudou meus sentimentos por você?" Bella parecia atordoada.

"Eu acho que sim." Eu mordi meu lábio, pensando. "Eu me pergunto como ela fez. Você disse que ela estava longe, então, talvez, para isso ela não precisa tocar as pessoas para afetá-las. E eu falei com ela por um tempo, então é provável que ela precise se aproximar das duas pessoas do relacionamento para alterá-lo."

"Mas os seus sentimentos por mim não mudaram... porque-"

"Porque ela sabia que assim iria doer mais. Se ela nos deixasse indiferente uma a outra, isso não iria nos machucar realmente... Ela é o tipo que gosta de sair à procura de problemas. Talvez ela estivesse desapontada quando impedimos Edward de sair ao sol e queria me punir por isso..." essa declaração soou mais uma pergunta, mas parecia plausível.

"Então por que meus sentimentos por você voltaram agora?"

"Eu não sei. Talvez ela tenha de estar perto para que funcione". Dei de ombros. "Ou talvez ela tenha ficado entediada."

"Então..." Bella disse após alguns de momentos absorvendo o que tínhamos descoberto. "Ela me fez pensar que tudo aquilo... que não era real..."

"Exato".

"E se não fosse por ela, então tudo estaria normal..."

"Provavelmente, amor." Eu afaguei seus cabelos. Ela subiu no meu colo novamente e a apertei protetoramente.

"... É culpa dela que agora estou muito mais longe de me tornar uma vampira. Ela atrasou-"

"Foi apenas mais um dia, querida. Analisando por cima, isso poderia ter acabado muito pior." Eu disse de coração, mas realmente eu não conseguia imaginar isso. Aquela sensação de estar queimando por dentro, tal horror e rejeição, poderia ficar pior? Mas acabou, e agora ela estava em meus braços. Eu sabia que isso só iria nos deixar mais fortes. Voltei minha atenção para aquele desejo estampado no rosto simpático.

"Eu admito que eu me sentiria mais segura se transformasse você. Eu finalmente seria capaz de te abraçar sem a tentação do seu sangue, e você ficaria muito mais protegida... Ainda assim, se não for por você, faça por mim. Eu acho que você deve aproveitar mais algumas semanas, se não meses morando aqui, na sua casa, normalmente. Para dizer adeus, pelo menos... Lembre-se, há muito de um relacionamento que você não pode ter através de cartas." Na Itália, havíamos tentado imaginar uma maneira para que ela ainda pudesse manter contato com Charlie, para assegurá-lo de vez em quando que estava bem. Vê-lo pessoalmente ou falar ao telefone estava fora de cogitação, então nós decidimos que não havia mal algum em algumas cartas.

"Eu quero tanto ficar com você, não faz ideia..." ela sussurrou, envolvendo os braços na minha cintura.

"Nós estamos juntas. Nós estaremos juntos, não importa o quê. Eu só não quero que você perca um precioso tempo humano que ainda te resta".

Ela assentiu com a cabeça. "Acho que está certa. Eu odeio isso, mas duvido que ainda me reste alguma coisa a dizer"

"Correto". Baguncei seu cabelo e ela sorriu com a derrota.

"Mas você vai me transformar... Não só é um sonho e que a qualquer momento eu vou acordar?"

"Quando for a hora, vou imensamente feliz e disposta sugar toda a vida brilhante e miraculosa de suas lindas pequenas veias." Sorri alegremente* enquanto mergulhava em mais um beijo. Ela riu contra a minha boca e eu segurei minhas mãos em seus cabelos, puxando-a mais fundo para o beijo. Tudo parecia certo de novo. Eu estava bem, não precisei de tempo, como eu achei que precisaria. Eu poderia estar perto dela agora, senti-la... mas até que ela fosse como eu, tínhamos que ir com calma. Hmm, pensei, vai ser bem mais fácil de dizer do que fazer. Com o corpo dela colado no meu, aqueles seios perfeitos contra os meus...

Definitivamente, um desafio.